Pés de Barro

Na sequência da queda do Governo de Romano Prodi, em Itália, foram marcadas eleições para Abril. As sondagens dão à coligação de Berlusconi uma margem de 15 pontos percentuais acima da coligação do Governo. Prodi já declarou que não vai encabeçar a candidatura da esquerda.

Há menos de dois anos, Prodi ganhou as eleições a Berlusconi por uma margem 0.06% dos votos. Mas esta pequena margem esteve na razão inversa da satisfação incontida do eurocentrismo e da esquerda radical pela vitória obtida.

Prodi tinha sido durante cinco anos o presidente da muito poderosa e pouco democrática Comissão Europeia. Para os eurocentristas, a vitória de Prodi significava a vitória dos neo-aristocratas da Europa e a promessa da indiscutibilidade do sistema num dos mais importantes países da EU e logo pelas mãos do seu paladino mais referenciado. Para a esquerda radical, apesar de ela própria nada ter ganho, significava a derrota da direita, coisa que chega e sobra para preencher as almas pequenas e estreitas dos militântes.

Agora o governo de Prodi cai porque dois pequenos partidos da coligação lhe retiram o apoio no Senado, a par da demissão do Ministro da Justiça ocorrida de modo tumultuoso e em termos pouco honrosos para Prodi.

Em menos de dois anos, Romano Prodi e o seu Governo eurocentrista de esquerda demonstraram ser um desastre absoluto. Prodi prometeu solenemente que os impostos iriam baixar. No entanto, não só aumentou os impostos (onde é que já vimos isto?) como criou ainda vários outros. Prodi prometeu uma postura humana e responsável perante o problema da imigração cladestina, contrariando o comportamento oposto que a esquerda atribuía a Berlusconi. Aquilo que conseguiu foi agravar os fluxos migratórios para Itália onde a imigração clandestina e a legalização cega de imigrantes conduziu à insustentabilidade política e social da questão.

O gigante, afinal, tinha pés de barro.

Aqueles que há dois anos tanto se vangloriaram com a vitória de Prodi (e a derrota de Berlusconi) hoje calam-se perante a sua queda e sobretudo o seu enorme fracasso governativo. Há que reconhecer, no entanto, que esta é a melhor forma de não evidenciar nem analisar o assunto. E enquanto continuar a fluir dinheiro dos impostos pagos no Norte da Europa para alimentar a eurocracia, o circo promete não levantar arraiais.