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terça-feira, 20 de maio de 2008

Chavez e a Colômbia

Para além do anacronismo ideológico, do folclore e dos desbragamentos de Chavez, algo de mais profundo e antigo está a levedar na América do Sul, com epicentro na relação entre a Colômbia e a Venezuela.
A dissolução da Grande Colômbia, realidade nacional arquitectada por Simon Bolívar, reduziu a Colômbia às suas dimensões actuais e deixou em aberto os seus limites com a Venezuela.
Este magma histórico está sempre presente e o choque ideológico tende a aquecê-lo.
Temos assim um conflito entre um caudilho truculento e populista, que pretende “libertar os povos” do imperialismo, e conduzi-los a utopias ignaras que a história do sec XX já derrotou, e um líder conservador, aliado de Washington, e que tem uma visão mais pragmática e bastante menos escatológica do mundo.
O presidente colombiano tem boas credenciais. Conseguiu em poucos anos salvar a Colômbia do colapso para o qual deslizava por via de uma criminalidade rampante assente no narcotráfico e na indústria dos sequestros. Reduziu as FARC a um grupo anacrónico e acossado de narcoterroristas, e estendeu aos poucos a presença da lei e da ordem a todo o território; desmobilizou os paramilitares e, com a ajuda americana, criou um Exército profissional e eficaz

Para Chavez a Colômbia é algo muito difícil de digerir. A megalomania de Chavez e as suas ambições revolucionárias, são detidas logo na fronteira por um regime intratável e cujo poder é sólido e discreto. Daí à tentação de usar as FARC como instrumento de subversão e veículo de expansão ideológica, foi um passito de criança que Chavez deu sem hesitar, deslumbrado talvez pelo equivalente do seu aliado iraniano, relativamente ao Hezbolah, ao Hamas e a outros proxies.
Chavez está a jogar um jogo perigoso, e as recentes declarações de Interpol, provando para lá de toda a dúvida, o apoio de Caracas a uma organização terrorista e criminosa, pode ter sérias consequências financeiras para a Venezuela, economia completamente dependente do petróleo.
A economia é, de resto, o grande calcanhar de Aquiles de Chavez, como antes o foi para todos os utópicos em missão.
Tal como Mugabe, Chavez estabeleceu um regime socialista de preços controlados.
Provocou, como vem nos livros que Chavez nunca leu, um aumento astronómico do mercado negro e um lucrativo contrabando com os países fronteiriços. A produção petrolífera desce ininterruptamente desde há vários anos e o investimento estrangeiro atingiu níveis calamitosamente baixos.
Os venezuelanos não têm acesso aos produtos básicos e em certas zonas a popularidade de Chavez está a cair a pique, apesar da demagogia palavrosa com que satura os media.
Os colombianos riem-se e aproveitam. Um litro de gasolina, custa 4 cêntimos na parte venezuelana da fronteira e vende-se do outro lado a 80. O prejuízo é todo para Caracas, já que se trata de um preço subsidiado e o governo da Colômbia esfrega as mãos de contentamento, uma vez que cobra imposta sobre as vendas e na prática está a drenar para os seus cofres, dinheiro do baú chavista.
Segundo vários especialistas, milhões de litros de gasolina passam a preço de uva mijona, da Venezuela para a Colômbia e Chavez está de cabeça perdida com a situação.
Enfim, velhas guerras entre a estupidez e o pragmatismo.
Sinal dos tempos é o perfil subitamente baixo de Cuba, num gritante contraste com o folclore dos tempos de Fidel.

4 comentários:

RioDoiro disse...

E o 'nosso' Sócrates sentado na assembleia a contemplar a 'performance' em directo (TV) do artista?

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Luís Oliveira disse...

O RoD não gravou por acaso a entrevista do Mário Soares ao Huguito?

Teve algumas tiradas espectaculares, como quando, entre citações de Rosseau e Fidel, o homem se saiu com esta:

"Eu não acredito que na União Soviética tivesse havido socialismo. O verdadeiro socialismo está agora a ser construido na Venezuela"!

O Parque Jurássico não é ficção científica!

Carmo da Rosa disse...

Muito bom, elucidativo e de fácil compreensão este comentário para entender como é que estas coisas a nível da economia nacional funcionam…

‘Um litro de gasolina, custa 4 cêntimos na parte venezuelana da fronteira e vende-se do outro lado a 80.’
Outra coisa do que antigamente os rebuçados espanhóis de Badajoz…

RioDoiro disse...

LO:
"O RoD não gravou por acaso a entrevista do Mário Soares ao Huguito?"

Azar. Mas tenho uma outra, sobre outro assunto, que vai sair um dia destes.

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