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terça-feira, 4 de novembro de 2008

ENTREVISTA COM THEO VAN GOGH


Aqui vai, com dois dias de atraso (vistos e cunhas muito difíceis de conseguir), uma entrevista com Theo van Gogh especial do Paraíso para o FIEL INIMIGO.

Senhor van Gogh, Theo, para começar, posso tratá-lo por tu, ou…?

Nem pensar nisso. Trate-me como deve ser, por senhor. Nunca é demais manter certas distâncias em relação aos ratos da imprensa.
Para começar gostaria de lhe perguntar como é você veio parar ao Paraíso?
Para começar? Para começar você não devia repetir-se constantemente, sinto isso como uma facada na minha costela estilística, caso tenha percebido o toque, coisa que duvido tendo em conta a sua fraca introdução…
Pelos vistos o Paraíso não teve em si um efeito contemporizador? Tenha um pouco de paciência, é a minha primeira entrevista, você não é a pessoa mais fácil deste mundo e, sem querer engraxar, você era na minha modesta opinião o melhor entrevistador da Batávia e…
Da Batávia? É sempre enternecedor ver um estrangeiro ainda não muito bem integrado abusar deste tipo de figuras de estilo tão…. kitsch.
Hahahaha, é pá não faça essa cara, não queria ofender, o ‘enternecedor’ é no sentido literal do termo.
Tá bem, mas como sente a sua presença no Paraíso?
Agora você foi longe de mais! Mais uma pergunta a começar com ‘como sente’ e eu ponho-me nas putas: ouça lá, eu não sou treinador de futebol…
Peço imensa desculpa, não voltarei a repetir.
Desculpas aceites, mas você afinal ainda quer saber como é que eu aqui vim parar? Por isso é que está cá, não é? Depois da minha Ascensão alcancei a eternidade temporal, por outras palavras, tenho o tempo todo por minha conta. Mas não é certamente o seu caso, o meu amigo deve ser pago à hora, não é verdade? Então onde é que tínhamos ficado?
O Paraíso.
Ah sim o Paraíso. Você não vai acreditar, mas o profeta Maomé honrou-me com a sua aparição…
Que me diz?
Tal e qual como lhe estou a dizer, e aconteceu quando ainda me encontrava em Amesterdão, logo a seguir ao meu falecimento.
É inacreditável
Parece, não é? Mas Deus escreve direito por linhas tortas… Esta expressão é compreensível para si?
Sim sim, eu tive uma educação católica. E o que é que disse o Profeta?
Devagar, já lá vamos. Como você leu na imprensa, de manhã cedo tive aquela chatice com um maometano que se virou aos tiros e à facada a mim, e logo a seguir um encontro com o Profeta que me trouxe esta curta mas clara mensagem divina: ALÁ QUER RECEBER VOSSA SENHORIA NO PARAÍSO!!!
Dois enrraba-cabras no mesmo dia é mais do que um mortal pode suportar, não é verdade? O primeiro não sabia mesmo disparar porra, eu, com este corpanzil, não sou difícil de acertar. Quanto a mim o maometano estava sob influência de álcool.
Os nabos da polícia de Amesterdão, sob o fantástico comando do grande Ayatollah [Job Cohen] da sociedade multicultural, não disseram nada sobre este pormenor?
Que pormenor Sr. Van Gogh?
Hé pá, acorde lá homem! Se a polícia verificou se ele estava sob influência de álcool? Se o obrigaram a soprar no balão?
Não, tem piada, não li nem ouvi nada sobre o assunto! Mas você tirou logo uma brilhante conclusão: Job do your job…
Pronto, lá está você! Acha que lhe vai ser possível, durante o curto período que esta entrevista demora, observar alguma piedade para com a minha pessoa e guardar o seu humor de mau gosto para quando estiver na companhia dos seus compatriotas? Acho que não é necessário dizer-lhe que ainda estou convalescente – espiritualmente falando claro.
Sr. Van Gogh, que possível razão Alá poderia ter para lhe conceder a entrada aqui no Paraíso, no paraíso muçulmano?
Devo dizer que na altura também fiquei surpreendidíssimo: aconteceram muitas coisas num só dia, já parecia o filme Una Giornata Particolare do meu colega Etorre Scola. Peço desculpa mas tenho que arranjar algo que se fume: - Mohammed, não te importas de me trazer um pacote de Gauloises e um copo de Whisky, sem gelo?
Eh pá, você parece que ficou de boca aberta?
Esta gente é assim, sabem o que é hospitalidade, qualidades que há muito se perderam nas nossas terras. Voltando à sua pergunta: A minha estadia no paraíso muçulmano deve-se muito simplesmente ao facto de Alá der dado a devida apreciação ao livro cá do rapaz Allah Weet het Beter (Alá sabe sempre mais). Você ainda está sintonizado, consegue seguir a lógica dos eventos?
Não, mas continue a sua explicação.
O meu livrinho foi o segundo passaporte para o Paraíso. Não houve cá fastidiosas permanências em longas bichas nos Serviços de Estrangeiros, nem humilhantes cursos de cidadania, nem assistentes-sociais com aquele racismo típico de esquerda, quando tratam as pessoas de forma insuportavelmente paternalista. Nada disso. Fui por assim dizer cooptado pelo Profeta.
Mas, como todo o respeito, as suas duras críticas ao Islão, Submission, o seu filme juntamente com Ayaan Hirsi Ali, e as vezes que o Sr. disse e repetiu que o Islão era a quinta-coluna dos enraba-cabras?
Meu amigo, primeiro que tudo Submission é da Ayaan, eu fui apenas o realizador, se eu fosse o cenarista, acredite em mim, a coisa tinha sido bem mais polémica.
Mas o importante é que segundo Alá, todos os inconvenientes que você cita, estão baseados num mal-entendido, e nunca ninguém lá em baixo me explicou isto tão exactamente como Sua Divindade o fez aqui no Paraíso celeste, o beneficente, o misericordioso Alá. Nem Salman Rushdie, nem Tarik Ramadan, nem tão pouco o Bernard Lewis…
Bom. Aproveito a oportunidade para fazer um apelo aos muçulmanos de todo o mundo para que não interpretem as palavras de Alá de outra maneira do que aquela que aqui está escrita:

AS PALAVRAS DE ALÁ:

A conotação pejorativa dada por Theo van Gogh à expressão enraba-cabras deve-se ao facto de Theo não estar consciente da privilegiada situação em que a sua puberdade decorreu, livre da submissão de qualquer tipo de ortodoxia religiosa na Holanda dos anos 70, reconhecido como o período de maior liberdade sexual até hoje.

Ainda Alá:

Quão diferente é e sempre foi a situação dos jovens Norte-Africanos, debaixo do obscurantismo religioso em que sempre viveram? Em que tudo relacionado com sexo ou um mínimo de prazer é imediatamente proibido. Em que todas as mulheres comíveis estão fechadas a sete-chaves. Ou cobertas da cabeça aos pés. Ou imigraram. Prostitutas são raras e dispendiosas - de todas as maneiras muito além das possibilidades financeiras de jovens em idade escolar. Empregos de verão para os jovens poderem custear os prazeres da carne são a bem dizer inexistentes. Nesta situação degradante em que se encontram os meus discípulos, que fazer para refrear o libido?

FIM DAS PALAVRAS DE ALÁ

Sim, que fazer?
Masturbação, homossexualidade dissimulada, ou dar umas trancadas no gado mais pequeno!
Precisamente. Você conseguiu resumir muito bem as palavras de Alá: enrabar uma cabrinha é, bem vistas as coisas, não um insulto, como eu pensava, mas uma necessidade vital.
Apodera-se de mim um vago sentimento de que você, como latino com raízes rurais, está mais à vontade neste capítulo do que a minha pessoa?
Sim senhor, muito bem visto da sua parte. Para sua informação poderia até acrescentar mais uns exemplos típicos da minha infância no Norte de Portugal: pôr uma vitela recém-nascida a chupar, e com galinhas….
Peço desculpa. Eh pá poupe-me os detalhes. Essas porcarias com animais só suporto quando ditas por divindades, e além disso isso não é favorável para o meu libido, sobretudo neste momento em que tenho 72 virgens à minha disp…..
É verdade, quase que me esquecia de lhe perguntar algo sobre as virgens…
Ó Grande Alá, tem piedade de mim, lá fui eu levantar mais uma lebre. Já estava a estranhar: quando é que aparecerá a sacrossanta pergunta? Já percebi, os sul-europeus só suportam falar mais de cinco minutos de dois temas: futebol e gajas, e nesta ordem de interesse, não é?
Sr. Van Gogh, por favor, não vim cá para discutir consigo a predilecção sexual dos sul-europeus, é o número que me intriga! Porquê precisamente 72? E você tem que as utilizar todas?
Utilizar? Utiliza-se a retrete meu amigo. As mulheres amam-se. Voltando à vaca fria. É verdade que me puseram 72 virgens à disposição, mas uma pessoa com alguma decência dá duas virgens ao Profeta, como é da praxe num casino, à mesa da roleta: duas fichas para o croupier…
Tenho tantas perguntas para lhe fazer!
Veja lá, não vá o fecho da carcela das suas calças saltar e acertar-me num olho! Creio que ultimamente já tive a minha porção de lesões, não acha?
Eu só queria saber mais uma coisita sobre este assunto. Você tem que fazer amor com todas elas?
Não é para me gabar, mas no curto espaço de tempo que aqui estou já aviei - usando a terminologia que sei de antemão que terá a sua aprovação – 56 virgenzinhas.
É uma questão de bem mastigar para que a comida entre regul…….

[Sketsch do duo cómico muito famoso e originários de Haia Van Koten & De Bie,. Van Koten explica a De Bie que a sua potência sexual é devida a mastigar bem a comida que assim entra de forma regular no sangue]

Lá está você com as suas chico-espertisses! Por favor tenha um pouco mais de respeito pelo decorum e evite esse humor da bancada do clube de futebol da sua terra senão paro aqui mesmo.
Desculpe lá, sei que você é de Haia e pensei que apreciasse o vernáculo local.
Então pense também que já é a segunda vez que dou a entender não ser amante desse seu humor de arrivista.
Mais uma vez as minhas desculpas, não queria ser grosseiro! Mas acha que ainda lhe posso cravar um cigarro?
Faça o favor.
Muito obrigado. É fantástico que no Paraíso não haja restrições contra fumar, não acha?
Não vejo o interesse, toda esta gente tem a vida eterna garantida…
É lógico. Mas você poderia dizer algo mais acerca das virgens: que tipo de mulheres são, como se vestem, cobrem a cabeça com um véu, ou são obrigadas a vestir burka?
Já percebi que as minhas respostas vão ter que satisfazer a perversa curiosidade de um subconsciente vítima de uma educação católica numa ditadura do Sul da Europa. Bom, que seja pelas alminhas:
As virgens andam vestidas no Paraíso tal e qual eu as vesti em SUBMISSION: apenas com o hejab na cabeça. Ah, e sem os textos do Alcorão gravados nos divinais corpos, que é para não desviar muito a atenção da malta.
Tão sumariamente vestidas?
Já disse que sim. Alá é absolutamente contra o cobrir demasiado as suas obras primas, vê nisso um insulto à sua criação divina. Se Ele, com a Sua omnipotência tivesse decidido de outra maneira, as mulheres nasceriam enroladas numa burka, não acha?
Totalmente de acordo, é aliás bastante lógico.
O ‘tipo’ de mulheres, como você tão caricatamente diz: vou apenas dizer que se trata aqui verdadeiramente de um casting das mil-e-uma-noites. Minha Nossa-Senhora, todas elas aleijadinhas de boas! Digo-lhe sinceramente, se durante a minha permanência terrena eu alguma vez tivesse cruzado estas criaturas ao passear pelos canais de Amesterdão, eu convertia-me imediatamente ao Islão. Ai convertia convertia.
Alá há só um e Maomé é o seu Profeta.
Nem mais.
Muito obrigado pelo tempo que me concedeu.
Não tem de quê. Como é que se diz bedankt na sua língua, não é ‘abrigudo’?
Não, é ‘obrigado’...

2 comentários:

Unknown disse...

Fantástico. Este texto está perfeitamente à altura das Produções Fictícias.

Cdr, você tem de mudar de profissão.

Carmo da Rosa disse...

Obrigadinho. Mas agora não vou pensar em trabalho porque já sei que vou passar a noite a ver as eleições nos EU, e bem regadas com uns petiscos que já preparei de avanço.

A TV holandesa começou às 9 da noite e vai terminar às 9 da manhã, com entrevistas, debates, pequenas reportagens - a partir de Chicago e Nova Iorque...

Melhor que bola!