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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Uma Estória para a História ou Talvez Não


Imaginemos as personagens seguintes de uma estória:
-um tio;
-um sobrinho;
-um primeiro inglês;
-um segundo inglês;
-um presidente de câmara;
-uma procuradora;
-a polícia inglesa.

Agora, a estória propriamente dita.

Em 2005 a procuradora recebe uma carta anónima dizendo que houve irregularidades com o licenciamento de uma construção em Alcochete. O assunto envolve o tio, o sobrinho, os dois ingleses e o presidente da Câmara.

A procuradora envia uma carta rogatória para Inglaterra na tentativa de obter esclarecimentos. Não obtém esclarecimentos e o assunto fica parado. Fica parado durante 3 (três) anos.

No final de 2008 a polícia inglesa envia uma carta rogatória à procuradora por causa dos mesmos tio, sobrinho, dois ingleses e presidente de Câmara. A polícia inglesa quer saber qual o destino dado em Portugal a quatro milhões de euros que saíram de Inglaterra destinados ao pagamento da tal construção e respetivos subornos. Estes factos, segundo a polícia inglesa, ocorreram em 2002.

A procuradora diz: “Ah, já se m’alembra, é aquele processo que tenho ali parado há 3 (três) anos, desde 2005”.

Mas não é só a procuradora que fica com a memória avivada. O tio também, e de repente lembra-se que, antes da construção, o primeiro inglês lhe tinha telefonado queixando-se de que estavam a pedir quatro milhões de euros para facilitar o licenciamento do empreendimento. O tio disse que não podia ser, que aquilo era muito dinheiro, que ia falar com o sobrinho que era ministro. O sobrinho respondeu-lhe que também achava que não podia ser, que aquilo era muito dinheiro, que o melhor era irem lá falar com ele, que era ministro.

E parece que foram. Só que o sobrinho e o presidente da Câmara dizem agora que o tio é mentiroso, que não é verdade que o primeiro inglês tenha estado na tal reunião. Segundo eles, quem esteve na reunião foram o sobrinho, o presidente da câmara, e o segundo inglês. Não se percebe muito bem qual a diferença, mas avancemos.

O sobrinho é ministro do ambiente num governo que está demissionário. Como o tempo urgia, o tal empreendimento foi licenciado e autorizado em tempo record. Para isso foi também necessário fazer uma lei, também em tempo record, que legalizou o licenciamento ilegal efectuado alguns dias antes. Simplex. A tal lei acabou por ter de ser anulada depois, já que contrariava normas da União Europeia, só que nessa altura já a construção estava acabada e em uso.

Tudo isto foi em 2002. Estamos agora em 2009, e a procuradora acha que o tio é suspeito mas o sobrinho, não.
Para a procuradora o tio é suspeito porque está elencado na lista de suspeitos da polícia inglesa. Mas para a mesma procuradora o sobrinho, que agora é primeiro ministro, não é suspeito, apesar de estar na mesma lista onde está o tio, apesar ter assinado as autorizações no ministério do ambiente, e apesar de ter assinado a lei que tornava legal a autorização anterior.

Conclusão: Portugal é “porreiro, pá”.

Ainda não se conhece o final desta estória. Uma coisa é certa: Ou esta estória é apenas mais uma estória, como foi o processo UGT, a Emáudio, o primeiro processo ‘Casa Pia’ (não o atual, mas o anterior que prescreveu por completo), os sobreiros; ou então esta estória vai passar à História.

A minha bola de cristal, que costuma antecipar corretamente umas coisas, desta vez recusa-se a predizer o futuro. É esperar para ver.

12 comentários:

Anónimo disse...

O simples facto de se referir 'é esperar para ver' já constitui uma grande maldade, uma vez que é óbvio que o nephew nada tem a ver com o caso anglo-luso!
Como sabemos?
Porque um sobrinho, por definição parental, não é um tio, nem mesmo um cunhado e muito menos um avô.
Ou um primo, um genro, um padrinho e evidentemente que não uma nora.
Tá percebido ou tendes que meter explicador?

Ignácio de Loyola
Frei Torquemada

(Figuras históricas q.b.)

Unknown disse...

Eu não sou profeta, mas profetizo que depois das "forças ocultas" de que se queixa o ministro, não tardarão a vir ao de cima furiosas queixas contra a "arrogância" inglesa, à mistura com velhas histórias do ultimato e isso.

Anónimo disse...

Os comentários aos postes costumam ser mais que muitos.
Neste há só 2, apesar de o assunto ser momentoso.
Isto não deixa de ser um bocado intrigante.
Ou será apenas uma manifestação de prudente civismo uma vez que como dizem os mais sensatos à justiça o que é da justiça, à política o que é da política?
Interrogo-me, um tudo nada perplexo no entanto.

CIDADÃO EXEMPLAR

Anónimo disse...

O cidadão exemplar, que me perdoe, mas eu acho que é porque o assunto desperta medo.
Existe cada vez mais medo no país.

Arminda

RioDoiro disse...

CIDADÃO EXEMPLAR:

"Neste há só 2, apesar de o assunto ser momentoso."

... o problema é que o ruído é tanto que é o sinal é abafado.

Não me surpreende nada que uma boa parte se fique pela guerra de comadres. A Felgueiras foi massacrada pelo PS e depois condenada por ter largado cascas de pevide na via pública. O Isaltino, ... por onde anda o processo? A malta do PS insiste em promover o Passos Coelho para lixar a Manela. O Pacheco, afinfa abundantemente os relés do PS na comunicação social. A máquina de "relações públicas" do PS encarniçou-se e puxa todos os cordéis ao mesmo tempo.

Nem a PGR sabe estar sossegada.

Pelo que leio e me parecem ser dados, até que se consiga apanhar o rasto do taco é tudo ruído.

Claro que não faltam e-mails com referências a Pinóquio e outros mimos, mas isso faz parte do ruído. É, aliás, uma boa táctica de defesa.

Claro que o nosso 1º, um dos mais insignes inventores da realidade (como Paulo Portas) nos podia poupar à vociferação. Mas está-lhe na massa do sangue.

.

Anónimo disse...

Vejo razão no que diz Arminda.
Fracos com os fortes, fortes com os fracos, defendendo a todo o custo os privilégios vindos dos tempos de Salazar, eis o retrato perfeito do sistema judicial.
Ele é o concro que está a destruir o pouco de democracia que ainda existe.
A classe política vive com eles em mancebia. Disse num debate na têvê um ex-director da PJ, membro da magistratura, que uma mão lava a outra e ambas lavam o rosto.
Há pertinencia nessa afirmação.
É essa a raiz do medo que cresce entre os portugueses.

BERNARDO NUNES CORREIA

Anónimo disse...

Isto está-se a tornar bonito. Um tipo num orgão de comunicação e diz-se do PS e afirma temos de ir para a rua como na fonte luminosa e salvar a honra de Sócrates como fez o Soares.
Salvam a honra se calhar batendo nas pessoas, como faz o Chavez e se algum pia está arranjado?
A da fonte luminosa foi justa, era um desagravo contra os que queriam ditadura, este agora é um simples caso de polícia, os tribunais que resolvam.
Se isto não é um apelo à cedição então não sei o que seja.
Senhor Presidente tem de vir a capítulo e dar a sua palavra,as cabeças esquentadas do Ps querem de novo molho e por esta amostra estão dispostos a tudo para justificar o seu menino de ouro.

Meira

Anónimo disse...

Também Bil Clinton começou por negar e no entanto.....
era Verdade!!!!!!!!!!!!!!Pois.

Pedro SIlva

Anónimo disse...

Se for eu a ostentar sinais exteriores de riqueza, com a minha parca reforma, de certeza que fisco, Pj, e mais não sei quantos, vão-me cair em cima para investigar!
Então o "cavalheiro" compra andares de luxo a pronto pagamento apenas com o ordenado de "engenheiro" (?), e após os factos já tornados públicos, ainda há quem o defenda?
Nos USA o Governador que tentou leiloar o lugar de senador deixado vago por Obama, apesar da investigação estar a correr nos tribunais e não em banho-maria por ordem de uma qualquer procuradora, o mesmo já foi demitido do cargo pelos seus pares!
Haja decoro, vergonha e bom-senso!

Joaquim Ribeiro

Anónimo disse...

A declaração às TVs de que o caso Freeport é um assunto de Estado, feita pelo Sr. Presidente da República, não pode deixar de mergulhar-nos em estupefacção.
Adensando mais os contornos de estranheza deste assunto.
Porquê assunto de Estado? Por nele estar referido o nome civil de um primeiro-ministro?
Mas desde quando é que uma investigação de semelhante "affaire", numa sociedade de Direito, constitui assunto de Estado?
Por assunto de Estado usa designar-se, seja em diplomacia seja noutros meios oficiais, um qualquer caso que arraste proeminência quer do Estado quer dos mecanismos ou segredos (matéria reservada) que a ele estão ligados. É isto que nos diz a legislação específica.
Ora, estando nele citado o sr. Primeiro-ministro, não como primeiro ministro mas apenas como ex-ministro do Ambiente dum governo que já passou há considerável tempo e que conforme a srª procuradora insistiu veementemente, nem sequer é suspeito, não se entende muito bem a expressão do Sr. Presidente da República, alto magistrado que conhece certamente a Lei e sua letra.
Um outro detalhe para que chamo a vossa atenção, é este: foi enviada uma carta rogatória, apontando para a conveniencia de escrutinar as contas do sr. engº José Sócrates. Todavia, a srª procuradora disse repetidamente que o referido senhor não era suspeito. Poderá inferir-se que nada vai ser escrutinado? Mais que não seja para tranquilizar os cidadãos, clarificando a certeza de que tudo está bem, radicando a certezxa de que temos à frente do governo uma pessoa indubitavelmente séria?
Como disse no início, as perplexidades avolumam-se.

MANUEL CALDEIRA, Castelo Branco

RioDoiro disse...

Manuel Caldeira:

"A declaração às TVs de que o caso Freeport é um assunto de Estado, feita pelo Sr. Presidente da República, não pode deixar de mergulhar-nos em estupefacção."

Pareceu-me que Cavaco recorreu ao termo 'assuntos de estado' da mesma forma que, despreocupadamente, qualquer outra pessoa o usaria.

O que me parece de fazer soar campainhas é o pormenor do custo da casa de Sócrates.

Um emigrante, isento de cisa, compra uma casa por 70.000 contos. Dois outros inquilinos, compram por 50.000.

Sócrates proclama que todos temos que pagar impostos e, nesse sentido, atiça os bulldogs do Ministérios das Finanças. Depois fica-se a saber que ele 'comprou' uma casa por menos 20.000 contos que um vizinho?

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Anónimo disse...

"- Falaste no grande Tibério, Ha-Nozri? Diz-me, falaste ou...não falaste? - disse Pilatos arrastando a pergunta e enviando ao manietado um olhar que continha uma sugestão muda.
Ha-Nozri baixou a cabeça ligeiramente, sem responder.
- Que a escolta abandone o balcão - gritou Pilatos numa voz terrível - Este é um assunto de Estado!"

Mikail Bulgakov, Margarita e o Mestre

I(NI)MIGO RUMOR