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domingo, 19 de julho de 2009

Juro que é verdade!


A 100m de onde moro, uma igreja. No prédio ao lado, uma família angolana. É a época das festas tradicionais em honra de Nossa Senhora e, talvez para compensar a crise de vocações, o sino toca até à exaustão durante horas, como se anunciasse a peste ou a guerra, impedindo-me de trabalhar, ler, ouvir música ou sequer de ver um filme. Os cães, enervados, ladram, aumentando a confusão. Quando o sino se cala, a partir da janela escancarada dos angolanos a rua é varrida, durante outras tantas horas, por uma enorme ventania de uma coisa minimal-repetitiva-étnico-urbana, de um qualquer Tony Carreira africano-à la page. Se me atrever a sugerir-lhes que baixem o volume ou que fechem a janela (já experimentei o "para bom entendedor", pondo Beethoven e Bach à compita com o Tony, mas surtiu efeito apenas durante algum tempo) ou a falar-lhes de regras de convivência civilizada, serei visto como racista e segregacionista. Quanto a fazer o mesmo discurso ao padre, isso, está bem de ver, nem pensar! Olha a liberdade de expressão das crenças, a tradição e sei lá que mais!
A 300m, a sede local do PCP que me enche a caixa do correio com propaganda pré-eleitoral, pode ser que a consciência se me ilumine com as eternas virtudes da classe. A 200m, vizinhos militantes do PS e candidatos à Junta de Freguesia que, além de também contribuírem para o regurgitamento da dita caixa, me inundam os ouvidos com conversas de boa vizinhança político-partidária quando me apanham no café. Café onde uma advogada minha conhecida, militante do CDS e candidata aos mesmos pelouros, faz discretamente o seu trabalho sempre que me vê. Isto, para não falar de um outro vizinho de longa data e de um amigo de infância, pouco menos do que vizinho, ambos candidatos pelo BE.
No preciso momento em que escrevo, no adro da igreja entoa-se “Hossana!”, ao mesmo tempo que, do outro lado, soam tambores a rufar e gaitas-de-foles, vindos de um espectáculo a que assiste o actual e futuro candidato a presidente da Câmara, do PSD!
Ninguém tem pena de mim??!!

3 comentários:

RioDoiro disse...

Experimente colocar uma sirene no telhado e depois explique que se trata de música mesmo muito minimal e mesmo muito repetitiva ... mas de extraordinária afinação.

Unknown disse...

Não se queixe, JG. Tal como o descreve, você é o centro de um mundo.
Aproveite!

José Gonsalo disse...

Lidador:
Só me estou a queixar do barulho que, nesta altura, com a conjugação simultânea extraordinária da totalidade dos factores, vai prolongar-se, de certeza, até Outubro, com esta intensidade!
Do resto, não. O resto é precioso e, quase sempre, hilariante.