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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Se Israel tem, porque é que o Irão não pode ter?


Quando se aborda a questão do nuclear iraniano, é recorrente o argumento de que o Irão na posse da arma atómica, não será substancialmente diferente de outros países que também a têm, e surge quase sempre o argumento de que “se Israel tem, então o Irão também tem direito a ter”.

Há quem se questione mesmo se a preocupação com o Irão, não será um caso de “dois pesos e duas medidas”.

Há aqui questões políticas e jurídicas complexas e que não se deixam aprisionar em narrativas tão simplistas.

Politicamente falando, todos os estados soberanos reservam para si o direito de desenvolver programas nucleares para fins civis e militares. EUA, Rússia, China, Índia, etc., fazem-no. Israel não se sabe, porque mantém uma politica deliberada de “não confirmo nem desminto”, por razões estratégicas, mas presume-se que sim.

Há vários anos que, no quadro das Nações Unidas, se procura controlar estes programas, tendo como racional a ideia de que a proliferação tornará o mundo inseguro, pela multiplicação das possibilidades de erro, irracionalidade e escalada.

Nesse quadro, muitos países comprometeram-se voluntariamente com o Tratado de Não Proliferação. O Irão foi um deles. Tal como Portugal.

Assinar o TNP implica a expressa renúncia a programas militares e a aceitação de inspecções dos programas civis por parte da AIEA.

Ou seja, Portugal e o Irão podem ter um programa atómico, podem enriquecer urânio, mas têm de seguir os procedimentos e limitações decorrentes do tratado que assinaram.

O problema com o Irão, é que não está a fazer nada disso.

O Irão pode, a qualquer momento, dizer que não está mais limitado pelas cláusulas do NPT, retirar-se do tratado, e prosseguir com os seus programas de forma soberana.

Não o faz, porque quer manter-se na luz da legalidade e sabe que se dela se retirar antes de ter disponíveis vectores nucleares, será tratado como o vizinho perigoso da rua, e os vizinhos podem mexer-se para o impedir.

Em termos de Direito Internacional, existe um problema: o Irão, ao ocultar sistematicamente à AIEA, partes do seu programa nuclear, e ao colocar obstáculos às actividades de inspecção, violou e viola os compromissos que assinou,

Por isso é perfeitamente natural que se instale a suspeita de que as suas intenções não são claras. E é daí que brota o alarme e a mobilização de uma grande parte da comunidade internacional, perante aquilo que percebem naturalmente como uma ameaça à sua segurança.

No plano político a questão é incontornável: quais as razões pelas quais o Irão prossegue tais actividades e, especialmente, por que razão tenta ocultá-las?

A diferença entre o Irão e Israel (ou o Reino Unido), é que os poderes destes países não passam a vida a ameaçar outros países de que vão fazê-los “desaparecer do mapa”. São actores racionais.

A França está aqui perto, os seus aviões, submarinos e mísseis alcançam o local onde moro, e nem por isso me sinto preocupado. Na verdade Portugal está mais seguro pelo facto de países aliados terem armas destas.

Na inversa, não acredito que um iraquiano, um saudita, um egípcio, etc., se sinta mais seguro por ter como vizinho um Irão dotado de armas nucleares.

Pelo que se sabe, é justamente o contrário, de tal forma que até os sauditas, inimigos figadais de Israel, permitem discretamente que aviões israelitas sobrevoem o seu território, no caso de um ataque ao Irão.

O programa israelita é uma ameaça para os vizinhos? Alguns acreditam que sim e, no limite é-o mesmo, uma vez que Israel usará o seu arsenal se a sua sobrevivência estiver em causa, mas limitemo-nos aos factos: os belicosos vizinhos de Israel manifestam-se contra, obviamente, mas não com grande indignação, porque sabem que Israel é um actor racional, pelo que nem sequer tentaram iniciar uma corrida ao nuclear, para contrabalançar, coisa que já estão a fazer relativamente ao Irão.

Porquê? Pelas mesmas razões que levam a Alemanha a não criar um programa nuclear militar para equilibrar o inglês. Porque tanto a Alemanha como os vizinhos de Israel percebem tratar-se de programas defensivos, meras forças de dissuasão, que não se destinam a ser usadas, mas sim a dissuadir ataques.

Se o Irão preocupa, é porque é percebido como um estado revolucionário; porque sabemos que, quando dispuser de um guarda-chuva nuclear, o irá utilizar para incrementar o apoio a movimentos terroristas nos países vizinhos, sem temer sofrer retaliações; porque tememos que possa encaminhar para estes grupos, alguma dessa tecnologia; porque se trata de um governo repleto de fanáticos religiosos e não confiamos que gente desta seja capaz de gerir racionalmente uma situação de tensão; porque sabemos que os vizinhos irão, também eles, tentar dotar-se dos mesmos meios, numa imparável corrida ao nuclear que, mais tarde ou mais cedo, se descontrolará e terminará numa catástrofe global.

11 comentários:

José Gonsalo disse...

Bom texto.

Carmo da Rosa disse...

@ Lidador: «não acredito que um iraquiano, um saudita, um egípcio, etc., se sinta mais seguro por ter como vizinho um Irão dotado de armas nucleares.»

Melhor ainda, eu creio que nem os iranianos se sentem seguros depois de se terem hipoteticamente dotado de armas nucleares.

Excelente texto que explica muito bem e de forma clara uma questão complicada que muita gente se coloca.

(Pena que o lay-out, à excepção da fotografia que é bem adequada, não esteja à altura do texto, mas os militares são mesmo assim, oferecem colares de diamantes às namoradas embrulhados no pedaço de jornal em que acabaram de comer as castanhas! Hahaha)

Diogo disse...

E, no entanto, Israel tem sido o único país da zona a fazer chacinas sazonais.

Eurico Moura disse...

Pode interessar:
http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,658663,00.html

Anónimo disse...

O islão está estruturado de forma conflituosa e não reconhece nem é capaz de conviver com o outro, nem que o outro fosse um allah vivo.

Anónimo disse...

As chacinas sazonais são aquelas que depois se vem a verificar que no caso do Hezbolah morreram 52 duas crianças no edificio da onu onde havia 25 combatentes do dito cujo?
ou nas escolas destruidas em que a bomba aterra na rua da frente em cima dos lançadores de rockets?
Ou serão as bombas em mercados do Iraque?
Ahhhhh lembrei agora da chacina sazonal do israelita Sadam e do Bushista Ayatola durante 8 anos e tres milhoes de sazonados.
Ai o desejo do zicklon

RioDoiro disse...

"Ai o desejo do zicklon "

Começa, de facto, a torna-se difícil contornar a possibilidade da vontade ser essa, exactamente.

O tom socialista e anti-semita aponta para o zicklon.

Anónimo disse...

Bom texto Lidador. Sintetiza bem uma questão complicada.
ejsantos

LGF Lizard disse...

É claro que o Diogo está claramente desatento ao que se passa no resto do Médio Oriente.... é o que dá perder muito tempo com os "sionistas".

LGF Lizard disse...

Aliás, falando em judeus, o bondoso Diogo lembrou-se de publicar no seu blog (http://citadino.blogspot.com/) os Protocolos dos Sábios de Sião. Quando não se esperava que um anti-semita conseguisse descer tanto, eis que nos surpreende. Bem, a oeste nada de novo...

Anónimo disse...

TÁCTICAS ISLÂMICAS DE ONTEM... E DE HOJE


http://gladio.blogspot.com/2009/11/tacticas-islamicas-de-ontem-e-de-hoje.html