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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

RAMADÃO II



O correspondente em Marrocos do jornal holandês NRC, Gert van Langendonck, escreveu no NRC de sábado passado um interessante artigo intitulado “combater as imposições do Ramadão com um copo de vinho na mão."

Ibtissame Lachgar, uma psicóloga de 34 anos enche de novo o seu copo de rosé num bar de Rabat : “é preciso aproveitar agora enquanto se pode”. No dia seguinte começa o Ramadão e em Marrocos durante este período é só permitido vender álcool a estrangeiros… Que durante o ano inteiro seja proibido vender álcool a muçulmanos – uma proibição que é constantemente transgredida – não se fala no assunto por comodidade, isto é uma das muitas incongruências da sociedade marroquina que tanto irrita a psicóloga Lachgar…

“As pessoas pensam que eu sou contra o Islão, mas não é verdade. Apenas quero que as pessoas acabem com a mania de meter o Islão em tudo. Refiro-me a pessoas que me perguntam na rua se rezo cinco vezes por dia, ou se jejuo durante o Ramadão… Trata-se de assuntos pessoais que não lhes dizem respeito. Eu tampouco lhes pergunto que cor de cuecas é que trazem vestidas…”

Para defender os direitos individuais na sua terra Lachgar criou juntamente com a jornalista Zineb El Rhazoui a organização MALI (Mouvement Alternatif pour les Libertés Individuelles). No verão passado esta organização provocou um enorme escândalo ao querer organizar um piquenique em pleno Ramadão em Mohammedia, uma pequena cidade costeira 20 km a norte de Casablanca. Objectivo: a abolição do decreto-lei 222 que ameaça com 6 meses de prisão todo aquele que “de forma demonstrativa” não respeite o jejum do Ramadão.

Não se chegou a vias de facto porque a polícia se antecipou e estava na estação do comboio à espera da chegada da meia-dúzia de activistas. Nos dias que se seguiram cinco activistas foram interrogados e a iniciativa foi condenada por todos os partidos políticos. “Fomos ameaçados de morte, a imprensa iniciou uma campanha de ódio contra nós. A coisa estava feia”, afirma Lachgar.

Este verão toda a gente queria saber – da imprensa marroquina até à TV por satélite Al Arabyia – se MALI iria organizar outra vez uma manifestação durante o Ramadão. Mas mais uma vez a polícia foi mais rápida: quando em Maio deste ano os activistas da MALI quiseram fazer uma acção de protesto contra a intimidação sexual das mulheres foram todos presos antes mesmo de desenrolarem os cartazes. Depois deste acontecimento Najib Chaouki, um jornalista de 31 anos e militante da MALI da primeira hora, abandonou o movimento. “Eu já no ano passado tinha a impressão que a nossa estratégia estava errada”, diz ele. “Era manifestar por manifestar. Para mudar as mentalidades é preciso abordar as pessoas, e para isso é preciso tempo.”

A psicóloga Lachgar é demasiadamente impaciente para este tipo de atitude. “Fico pior que estuporada quando as pessoas me dizem: ‘Tu sabes bem que isto é Marrocos!’ Se nos EUA ou em França as pessoas tivessem a mesma atitude ainda hoje as mulheres não teriam direito de voto e os homossexuais não seriam protegidos.”

Segundo a mãe de Lachgar ela tem o azar de viver num país que é precisamente cada vez mais conservador. “A minha mãe, que de resto jejua durante o Ramadão, diz-me constantemente que seria preferível eu ter vivido no tempo em que ela era jovem. Ela andava na rua de mini-saia e ninguém estranhava.”

É muito difícil dizer quantas pessoas há hoje em Marrocos do género da psicóloga Lachgar ou do jornalista Chaouki, mas é evidente que nem todas as pessoas vêem o Ramadão como uma festa. Os marroquinos que financeiramente o podem fazer, partem de férias nesta altura. Como Karim, um professor catedrático de 43 anos. “Nos anos setenta podia-se comer à vontade na cidade universitária; hoje em dia isso é impensável”, diz-nos Karim pouco antes de partir para França. Mas diz mais: “Tenho amigos que escondem ao pessoal doméstico o facto que não jejuarem durante o Ramadão. É a consequência da islamização.”

6 comentários:

Anónimo disse...

Tenho a impressão de que irei gostar mais da saga III do ramadão. Fico expectante.

Anónimo disse...

Durante o Ramadão…

Um muçulmano durante o período do Ramadão, senta-se junto a um alentejano no voo Lisboa-Funchal.

Quando o avião descola começam a servir as bebidas aos passageiros.

O alentejano pede um tinto de Borba…

A hospedeira pergunta ao muçulmano se quer beber alguma coisa.

Responde o muçulmano com ar ofendido:

- Prefiro ser raptado e violado por uma dezena de prostitutas da Babilónia antes que uma gota de álcool toque os meus lábios!

Ouvindo isto o alentejano engasgando-se, devolve o copo de tinto à hospedeira e diz:

Não sabia que se podia escolher!!

Anónimo disse...

Mais do que expectante, há uma legião de leitores que não dorme à espera da continuação dos 200 postes anteriores.

RioD'oiro disse...

Excelente anedota, caro anónimo.

EJSantos disse...

E excelente post, caro Carmo.

Anónimo disse...

Não há nada como os amigos para nos levantar o ânimo, ah rosa?!