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terça-feira, 12 de julho de 2011

Se a Crise do Endividamento Europeu Fosse Um Tsunami



No horizonte, sobre o mar, avista-se uma estranha camada clara que não é imediatamente reconhecível. Alguém diz que é um tsunami e logo outros banhistas mais próximos se indignam com o alarmismo, outros nem sequer ligam.

As taxas de juro de colocação de dívida italiana e espanhola começam a subir mais rápido do que antes.

As agências de rating avisam que a Itália, a Espanha e a Bélgica no espaço de poucos meses podem transformar-se em super Grécias. Em consequência as agências de rating são alvo da indignação dos políticos e dos “fazedores” de opinião.



Estranhamente, a maré desce repentinamente e poucos minutos depois começa subir a uma velocidade superior à da descida. Não restam dúvidas, a camada branca sobre a superfície do mar, agora muito mais próxima, é um tsunami. Começa a fuga generalizada de quase todos os que estão na praia.

A Grécia deixa de ser capaz de financiar-se e entra em bancarrota: não amortiza a dívida vencida, não paga juros. Os credores e os avalistas viram costas à Grécia, a Grécia vira costas aos credores e aos avalistas. Cada um está por sua conta.

As taxas de juro de colocação de dívida espanhola e italiana alcançam níveis impensáveis há um par de semanas atrás; as circunstâncias indicam que a situação tende a agravar-se até à insustentabilidade. A Espanha e a Itália são definitivamente percepcionadas nos mercados financeiros internacionais como Super-Grécias, tal como as agências de rating tinham previsto.


A água irrompe terra adentro num arrastão imparável de destruição; entre os habitantes é o “salve-se quem puder”.

Os países com dívidas soberanas sustentáveis (Alemanha, Holanda, Finlândia, Áustria) tomam a decisão de cessar o financiamento do BCE. Sem financiamento e com taxas proibitivas nos mercados externos, resta a alternativa de o BCE imprimir ainda mais moeda para comprar a dívida dos países da periferia induzindo uma forte inflação na zona euro. Também esta alternativa é descartada.

A prorrogação unilateral ou a renegociação de novos prazos de pagamento das dívidas italiana e espanhola leva a que diversos bancos franceses e alemães entrem em colapso, o próprio BCE está tecnicamente falido.

Os governos nacionais com alguma capacidade de manobra financeira tratam de salvar os seus próprios bancos sem articulação entre si nem com o BCE.

Sem capacidade de financiamento externo ou de imprimir moeda, os países mais endividados repetem a tragédia grega: suspendem o serviço da dívida e fazem cortes profundos na despesa pública.


As águas começam a recuar arrastando agora milhares de objetos e corpos - vivos e mortos - no sentido oposto. O cenário é de destruição e desolação.

Os sistemas bancários nacionais entram em rotura por interrupção dos pagamentos dos devedores.

Os funcionários públicos têm grandes fatias do vencimento cortadas ou são despedidos. As reformas passam a ter teto máximo. A maior parte das prestações sociais é drasticamente reduzida ou cessa.

Milhões de pessoas são arrastadas para níveis de pobreza que nunca antes viveram. Nos países socialmente mais instáveis há violência nas ruas.


A Recontrução

Os países do centro da Europa instituem o Euro Novo que exclui as economias periféricas sobre-endividadas. Forma-se uma espécie de Liga Hanseática do século 21.

Excluídos do Euro Novo, os países periféricos são forçados a reintroduzir as moedas nacionais.
Os países do centro assumem as perdas sofridas pelos seus próprios bancos em empréstimos aos países periféricos naquilo que constitui uma efetiva anulação de dívida.

Os governos da zona do Euro Novo coordenam entre si a definição de políticas económicas comuns pelo que a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu estão, na prática, esvaziados de qualquer poder. O Tratado de Lisboa é letra morta. Durão Barroso demite-se mas não tem a quem apresentar a carta de demissão.


Depois da Tempestade Vem a Bonança

As economias periféricas ajustam a cotação das suas moedas próprias repondo níveis de competitividade que se tinham degradado durante anos seguidos em resultado da integração europeia. Lentamente, a atividade económica dá sinais de retoma

Alguns países adoptam normas constitucionais que fixam tetos ao endividamento do Estado.

A crise do endividamento europeu não afetou as economias emergentes que continuaram a crescer. Portanto, as economias europeias são agora mais competitivas e aumentam as exportações para a Ásia, Brasil e África. Ocorrem fluxos migratórios da Europa para os países emergentes. As praias gregas estão mais baratas que o Caribe e são frequentadas pelos novos-ricos chineses.

Ao fim de três anos, todas as economias periféricas estão com taxas de crescimento nunca vistas no período de permanência na zona do Euro Velho.

3 comentários:

RioD'oiro disse...

Excelente.

"Os países com dívidas soberanas sustentáveis (Alemanha, Holanda, Finlândia, Áustria) tomam a decisão de cessar o financiamento do BCE."

É caso para perguntar em que agências acreditarão estes países ... :) É que entretanto já as bussshistas terão sido "reguladas" e outras, "europeístas" terão sido criadas.

"Durão Barroso demite-se mas não tem a quem apresentar a carta de demissão."

Esta frase é deliciosa. Talvez ele, o "presidente" e a 'madama' possam entregar as cartas, em simultâneo, um ao outro.

RioD'oiro disse...

Em toda esta história há um calcanhar de Aquiles que mais tarde ou mais cedo virá à superfície e que os eurocratas nem querem ouvir falar: os referendos que não se fizeram e os que foram martelados até darem "certo".

O primeiro caso caso tora viscosa a defesa da correcção política do que foi assinado. O segundo justifica, calmamente, 'apenas' mais um referendo ... justificativo do afastamento.

José Gonsalo disse...

Excelente!