Teste

teste

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Mais sexo!


Quando deixamos que as crenças ideológicas nos filtrem o mundo, acabamos  por achar que é a ordem natural das coisas, aquilo que o  não é, esquecendo que a realidade é sempre mais poderosa do que a nossa capacidade para a narrar de acordo com a nossas certezas.
A argumentação do meu amigo Carmo da Rosa, é um exemplo claro de uma situação em que a ideologia lhe revela um mundo que é  o oposto daquele que efectivamente existe, no que toca às relações entre sexos e ao papel da sexualidade numa comunidade civilizada. Para além das tiradas engraçadas com que ele apimenta os seus textos, e que os tornam deliciosos, o que ele diz resume-se a uma colagem dos chavões de literatura progressista que vem do início  do século passado, como se a realidade nada tivesse desmentido.


No poste anterior referi-me à repressão vitoriana, um espartilho que tornou lógica e até simpática, a   reacção feminista.
Mas convém não esquecer que  a  austera moralidade vitoriana era já, ela mesma, um avanço na libertação da mulher. É verdade que a mulher passou a ser excessivamente idealizada, e viver num pedestal é uma situação que não agrada a ninguém, durante muito tempo. Mas, por outro lado, é melhor do que viver na sarjeta  onde viviam antes do upgrade vitoriano e onde, de resto, vivem, na generalidade dos países do 3º mundo, muçulmanos à cabeça. O feminismo que surgiu no natural processo dialético, era uma antítese que exigia essencialmente a igualdade de direitos, não o "sexo livre". Na verdade as feministas anti-vitorianas eram tão recatadas como as não feministas. E eram perfeitamente capazes de  perceber certas as vantagens que o espirito do tempo outorgava às mulheres.


Shakespeare e os autores do seu tempo, distinguiam naturalmente entre uma minoria de senhoras, as aristocratas, e uma larga maioria de mulheres. As senhoras não eram, por exemplo, susceptíveis de ser  espancadas pelos maridos, ao passo que, nas mulheres, isso era normal.
O que os vitorianos fizeram foi alargar a categoria das "senhoras" de modo que pudesse incorporar mulheres de outras classes sociais, que não apenas a nobreza. Os romances de Jane Austen, mostram-nos  isto. Em "Orgulho e Preconceito", Elizabeth Bennet,  rapariga de uma classe média baixa, comporta-se e é tratada como senhora, por Darcy, um nobre e rico  terratenente.
Esta foi, na altura, uma ideia revolucionária. Qualquer uma podia ser senhora  e qualquer um podia ser cavalheiro. Não dependia do nascimento, mas sim da educação e do aperfeiçoamento individual (ver por exemplo, Pigmalião, de Bernard Shaw, que deu origem ao filme My Fair Lady).
Uma das características do cavalheiro, era o respeito com que tratava as senhoras. controlando os impulsos naturais para as tratar como seres fracos e disponíveis, que era, e é, a forma como as mulheres sempre foram (e são)  tratadas em sociedades menos civilizadas.
Ainda hoje podemos observar alguns resquícios desse comportamento, quando alguém se levanta para dar o lugar a uma senhora, quando se segura na porta, etc. Trata-se de actos de deferência que as novas gerações têm manifesta dificuldade em compreender. Hoje, um rapaz levantar-se para dar lugar a uma rapariga, fará esbugalhar os olhos a esta e motivará cochichos e alguma risota dos seus pares.
O que é curioso é que tanto a rapariga como o rapaz ficariam felizes com o gesto. A rapariga porque é distinguida com uma atenção que a faz sentir-se importante, o rapaz porque se sente bem ao agradar à rapariga.
Ou sejam a realidade mostra  que se trata de uma situação satisfatória para ambos, (ainda estou para conhecer uma mulher que não goste de ser apreciada e um homem que não goste de agradar às mulheres)  mas a ideologia trabalha por cima e diz que, ao contrário do que parece,  esta situação é má para ambos e ofensiva para a mulher.


Qual a "norma" que substituiu  então este relacionamento "senhora-cavalheiro"?
Liberdade, confusão, desorientação, sob a capa da "igualdade".


O sexo é natural, nisso todos estamos de acordo. A espécie está cá, e essa é a prova.
Mas não é inocente, na realidade é menos inocente das relações humanas e é por isso que é guiado por regras de civilização.
 Para começar, o sexo ocasional não agrada à generalidade das mulheres,  tal como agrada à maioria dos homens e isso está plasmado em todos estudos sérios,  disponíveis.
O jogo do encontro que por vezes as televisões nos mostram, e no qual as mulheres se comportam de forma igual aos homens, é uma fantasia e está  viciado a favor dos homens.
Como já disse, a ideologia da "libertação sexual" foi sobretudo uma excelente táctica masculina. Isto porque, de um modo geral,  para o homem, o acto sexual representa uma mescla de prazer e poder, na qual a mulher desempenha o papel de objecto. As suas fantasias vão todas nesse sentido e o tipo de pornografia que aprecia é prova suficiente desta afirmação. As mulheres, incluindo as  feministas radicais, consideram que este tipo de pornografia as degrada já que, para elas,  o acto sexual  implica emoções humanas mais generalizadas e não há muitas mulheres dispostas a ir para a cama como objectos sexuais, ainda que o façam quando as circunstâncias o exigem. Como já expliquei, a biologia, ajuda a explicar estes comportamentos e preferências.


Ora a maneira progressista de pensar, que o CdR aqui tão bem ilustra, pretende desesperadamente fingir que tais diferenças não existem naturalmente,  que são coisas "culturais".
É esta mentalidade que cria o mito de mulher desinibida e moderna, que encara o sexo com a mesma calma e confiança que se presume aos seus homólogos masculinos.
É a irrealidade deste mito que dá gás ao feminismo radical, o feminismo antimacho, que leva a a que, por reacção, o próprio acto sexual seja visto como uma forma de opressão.
Repare-se que o conceito de "assédio sexual", surge exactamente na esteira desta igualdade. O CdR pergunta porque razão não pode simplesmente perguntar a uma mulher se quer ir dar uma queca. A resposta pode ser, e tem sido, cada vez mais, um processo criminal desencadeado pela mulher a quem é feita esta proposta tão "normal" e "igualitária".
Não é difícil perceber que as mulheres estão, através deste conceito, a pedir aos homens que se comportem como cavalheiros e não como vira-latas excitados. Mas as mulheres modernas não podem dizer isto de forma clara, porque a ideologia que o CdR aqui representa,  lhes garante que serem tratadas como senhoras é uma coisa odiosa e paternalista, uma afirmação de subalternização. Então, em vez disso, invocam o seu direito a não serem sujeitas a agressões  e insinuações sexuais.
O problema é que isto lança a confusão. Diz aos homens que devem tratar as mulheres com respeito e circunspecção  mas sem explicar porque razão a identidade sexual da mulher requer esse tratamento. Pois se somos iguais....


Na base remota desta ideologia esquizofrénica, está Freud que, nos seus primeiros ensaios, ensinou que as insatisfações sexuais têm origem em tabus e inibições culturalmente impostas. Muita gente fixou-se nisto e jamais leram as obras posteriores de Freud (particularmente "Mal-estar na Civilização"), nas quais ele dá o dito por não dito e defende que um certo grau de repressão sexual está na base da própria civilização, (é óbvio, basta lembrar que entre cães, por exemplo, não há qualquer restrição cultural) distinguindo entre repressão neurótica e repressão racional e social, distinção que a ideologia "progressista" dominante,  não tem capacidade para compreender.

19 comentários:

RioD'oiro disse...

Lidador:

"Hoje, um rapaz levantar-se para dar lugar a uma rapariga, fará esbugalhar os olhos a esta e motivará cochichos e alguma risota dos seus pares."

Esse carinho, agora maldito, propagou-se entretanto a uma boa parte das famílias, incluindo mulheres, no que respeita aos filhos. O carinho para com a prole resume-se a tralha, "direitos" e envio à escola para que ela o eduque.

São os modernos papás-chocadeira que se apresentam na escola para reclamar que os filhos não estão a "sair" bem educados.

Quando à estabilidade conjugal, nem vale a pena falar. O Partido Socialista legislou, aliás, o chamado casamento por quotas.

José Gonsalo disse...

Óptimo texto! Acrescentarei algo logo que possa.

Carmo da Rosa disse...

Lidador,

O problema é que você, e para lhe ser sincero estou admiradíssimo, nestas coisas de relações mulher-homem e engates julga que existe um padrão único! O seu padrão! O padrão português do século XVIII.

O mundo à sua volta parece não existir! Parece que depois de A Morgadinha dos Canaviais não leu mais nada! Parece que depois do último filme do Omar Sharif nunca mais foi ao cinema! Não percebe, ou não quer perceber, que as relações, o tipo de engate, o tipo de galã, tudo isso mudou… E tudo o que lhe é estranho - pelos visto é muita coisa! - resolve escudando-se na ideologia, na Escola de Frankfurt e no marxismo cultural…

Já para evitar levar com este tipo de teorias conspiratórias, é que lhe falei em casos concretos, compreensíveis e verificáveis como por exemplo uma rápida comparação entre os romances do Eça e os da Margarida Rebelo Pinto… Mas você fez de conta que não leu e continua a martelar de forma monótona na doutrina, na exegese como um marxista dos anos 70.

Eu sei que você é suficientemente inteligente, mas tem que usar de mais empatia para perceber um mundo que pelos vistos lhe é completamente estranho. Eu tenho amigas – ou até mesmo só colegas do squash - que me confessam as suas taras e os seus engates com a maior das naturalidades. É descabido, é completamente ridículo, fazer a corte a este tipo de mulheres com romantismos do tempo do Molière: princesa, os seus olhos fazem-me morrer de amor. É como querer caçar elefantes com uma pressão-de-ar…

E os exemplos que eu dei não são forçosamente pessoais, são exemplos válidos para os nossos tempos. A história da queca até foi ao contrário, foi uma amiga minha (portuguesa em Portugal) quem a certa altura, quando eu propus ir para casa (dela), me disse: ‘tu o que queres é dar uma queca?’ E eu não me pus a recitar Camões, apenas respondi ‘que sim’. É evidente - antes que você venha outra vez com a história dos canídeos - que a situação já estava tensa: nadávamos nus num riacho perto de casa dela… E como eu sou muito conservador, não gosto de trepadinhas no meio do mato ou dentro de carros, propus ir para dentro de casa…

Uma outra vez. Outra mulher. Também em Portugal. Passeava-mos de carro (dela) há umas horas sem itinerário específico quando ela me pergunta ‘tens vontade de comer alguma coisa’, e eu respondi que tinha vontade de a comer (a ela). Ela fartou-se rir com a minha franqueza e foi precisamente o que aconteceu a seguir, muito naturalmente e, mais uma vez, não foi preciso cantar a canção do infinito…

Carmo da Rosa disse...

Rio,

A malta nova que já não cede o lugar a pessoas idosas, é realmente reprovável, mas para mim, não responder a quem se deu ao trabalho de ler e comentar os seus postes, é também um sinal dos tempos…

Em relação à estabilidade conjugal e tendo em conta as deprimentes relações que vejo à minha volta, admira-me que haja tanta estabilidade! Mas já percebi a razão – a partilha dos móveis e a casa…

Unknown disse...

"Eu tenho amigas"

O que é curioso, CdR, é que você me acusa de fazer exactamente aquilo que não faço,mas você faz.
E que é, argumentar com casos pessoais, como se o ambiente que o rodeia, ou que você pensa rodeá-lo, fosse o mundo.
Repare, eu falei-lhe em estudos. Posso dar-lhes as referências, se quiser.
Disse-lhe que EM NENHUM LUGAR DO MUNDO, as mulheres , de um modo geral, têm a mesma atitude que os homens perante o sexo. Expliquei até quais as razões biológicas que subjazem a esta REALIDADE.

E você diz-me que tem umas amigas que não sei quê!

Faz lembrar um adepto do FCP, em pleno Estádio do Dragão, a dizer que não compreende como é possível o Benfica ter mais adeptos que o FCP,porque todos os seus amigos são do FCP e ali mesmo, no Estádio, não se vê um único benfiquista.

Mas, ó CDR, tire a prova real. Saia à rua, na liberalíssima Amesterdão, interpele as primeiras 100 gajas boas, atire-lhe a sua frase matadora e venha-me depois dar conta do resultado, isto, claro, se ainda estiver inteiro ou em liberdade.
E então, munidos de um real confronto entre a REALIDADE e aquilo que o CdR pensa ou gostaria que fosse a realidade, poderemos elocubrar.


Até lá, bolotas!

O padrão português, diz você.

Vá à Suécia, CdR. Vá à Noruega, e faça o mesmo teste.

E, já agora, talvez consiga explicar a razão pela qual Oslo tem uma taxa de violações absolutamente brutal.

Ah, e tal, o sexo livre, eu conheço uma que faz.

POis é...mas quando os filtros ideológicos não nos deixam ver além do umbigo, o mundo real pouco importa.

Unknown disse...

E, mais uma vez, confunde as coisas.

Quem falou em romantismos? Então você acha que tratar alguém com educação e consideração é "romantismo"?

Você acha mesmo que qualquer pessoa prefere ser tratada à mocada?

Creio que o seu problema é mesmo esse. Cristalizou numa narrativa ideológica e, como ela lhe transmite um mundo que não corresponde ao real, extrema os conceitos, para justificar a sua visão ideológica.

Vamos repetir:

Tratar alguém com respeito e consideração, é uma regra de CIVILIZAÇÃO, não uma sublimação da mocada nem romantismo bacoco.

No fim de contas, é assim que você age na sua vida, carago. Você não anda na rua a tratar mal as pessoas, você não se dirige a uma mulher com o nariz empinado e a cauda a abanar, atirando-lhe frases de estivador.
Você porta-se co, civilidade e educação. Com REGRAS!

Então porque razão age de uma maneira em concreto e acredita que, em abstracto, isso está mal?

Chiça, deixe lá a ideologia e olhe para as coisas COMO ELAS SÃO.

RioD'oiro disse...

CdR:

"não responder a quem se deu ao trabalho de ler e comentar os seus postes, é também um sinal dos tempos…"

É o que se deve fazer aos papás e às mamãs que reclamam que os filhos não estão a "sair" educados.

Claro que se pode mandá-las para o raio que as parta "informando" que educar é a obrigação deles. Isso sim, é um comentário.

Unknown disse...

Aí vai outra metáfora, porventura mais escatológica:

Largar gases é natural.

Mas isso não implica que se faça tal coisa em total liberdade, na presença de outras pessoas.
Porquê?
Por respeito, por consideração, por educação, por regras de civilização.

Ou comer com as mãos e mastigar com a boca aberta. Usar maneiras à mesa não é romantismo ou afectação vitoriana e arcaica. É justamente o contrário, é respeitar o outro, o que está na mesma mesa e que se pode sentir repugnado ( se já esteve à mesa com alguém que mastiga com a boca aberta ou que mexe nas coisas com os dedos a escorrer gordura, saberá exactamente a que me refiro)

Unknown disse...

E, já agora, que estamos em maré de casos pessoais, deixe-me dizer que passei a maior parte da minha vida rodeado de mulheres.
Na minha infância a partir dos meus 3 anos, em casa era eu e 3 mulheres ( mãe e duas irmãs).

A minha mãe tinha 6 irmãs e 1 irmão.
A família do meu pai, era, 8 irmãs e 3 irmãos e uma delas, a minha Tia Maria, era a verdadeira matriarca, a que mandava naquela gente toda.
Na minha família, eu sou o único homem.

Por isso, CdR, sempre vivi com mulheres, mulheres emancipadas e fortes, e posso-lhe garantir que a minha experiência está de acordo com os estudos.

Carmo da Rosa disse...

Lidador disse: ”O que é curioso, CdR, é que você me acusa de fazer exactamente aquilo que não faço, mas você faz. E que é, argumentar com casos pessoais….”

Ainda não o acusei de nada e nunca o faria por argumentar com casos pessoais – adoro casos pessoais! O que não gosto é de ideologia, lembra-me os meus tempos de marxista e discussões com maoístas muito chatos…

Lidador disse: ”…. como se o ambiente que o rodeia, ou que você pensa rodeá-lo, fosse o mundo.”

O mundo que me rodeia e que eu descrevi é real e faz parte do mundo actual onde vivo. A Morgadinha dos Canaviais faz parte de outro mundo, que só me rodeia em alguns livros que tenho na estante. MAIS UMA VEZ, vou fazer copy paste de um comentário anterior:

Por isso é que lhe falei em casos concretos, compreensíveis e verificáveis como por exemplo uma rápida comparação [da evolução relacional] entre os romances do Eça e os da Margarida Rebelo Pinto…

Para não discutir cada um para o seu lado, porque o Eça e a Margarida Rebelo Pinto fazem parte de um mundo comum, escrito numa língua e códigos comuns e retratam a realidade, que é diferente de época para época.

Carmo da Rosa disse...

Lidador disse: ” ó CDR, tire a prova real. Saia à rua, na liberalíssima Amesterdão.”

Foi precisamente o que eu fiz para lhe dar uma ideia da situação, do ambiente, da cor local quando lhe disse (copy paste):

Eu tenho amigas – ou até mesmo só colegas do squash - que me confessam as suas taras e os seus engates com a maior das naturalidades. É descabido, é completamente ridículo, fazer a corte a este tipo de mulheres com romantismos do tempo do Molière: princesa, os seus olhos fazem-me morrer de amor. É como querer caçar elefantes com uma pressão-de-ar…

A metáfora dos elefantes é inadequada e pensei agora numa outra, que retracta muito melhor as diferenças culturais e aquilo que quero dizer, apesar de muito antiguinha. Ramalho Ortigão na Holanda descrevendo o parlamento holandês no século XIX:

(…)Assim nas câmaras não há tribuna e não há oradores. Ninguém faz o que se chama – o discurso. Diz cada um do seu lugar o que tem a dizer, simplesmente, precisamente, rapidamente. [traduzido para a nossa discussão, isto significa sem cortesias nem cavalheirismos] Muitas vezes se procede apenas por perguntas e respostas. O país tiras as conclusões.
Todo o eleito do povo que se lembrasse de tratar dos interesses da nação pondo-se em pé no parlamento, colocando uma das mãos sobre coração, levantando os olhos ao céu e exclamando: Sr. Presidente, sob estas abóbadas, a minha débil voz, etc., [Declamar Camões no clube de squash!] seria, sem perda de tempo, amarrado e submetido pela assistência pública a um tratamento de alienado. [não lhe desejo a mesma sorte]
E o dique basta para produzir todos estes efeitos salutares. O dique é para o holandês a contingência eterna de ter juízo, ou de morrer inundado. [conseguir falar normalmente com este tipo de mulheres, ou passar por um extra-terrestre, um excêntrico que saltou de um romance da Jane Austen]

O que está em negrito fui eu que acrescentei, evidentemente.

Lidador disse: ”… interpele as primeiras 100 gajas boas, atire-lhe a sua frase matadora e venha-me depois dar conta do resultado, isto, claro, se ainda estiver inteiro ou em liberdade.”

Confesso que pelo menos humor não lhe falta, farto-me de rir. Mas qual frase matadora? Isso é o fantasma do latino (não é o seu) que julga que na liberalíssima Amesterdão é só chegar à primeira praça e exclamar, com sotaque alentejano:

- Mulheres chegueííí, aproveitem agora que os homens estão-se a acabar!

Não é assim que as coisas se passam, tem que haver um contexto, mas existem milhares de opções, de frases (matadoras) para cada contexto, e não obrigatoriamente a minha.

Lidador disse: ”… E, já agora, talvez consiga explicar a razão pela qual Oslo tem uma taxa de violações absolutamente brutal..”

Explico, mas vai-me obrigar a ser politicamente incorrecto. Dizem as más línguas, uns gajos xenófobos, islamófobos e de extrema-direita, que a enorme presença em Oslo de homens provenientes de países em que o sexo livre é muito reprimido, estão na origem destas violações! E parece que têm razão…

Carmo da Rosa disse...

Lidador disse: ”POis é...mas quando os filtros ideológicos não nos deixam ver além do umbigo, o mundo real pouco importa.”

Não conseguir ver além do umbigo acho grave. Porque quero sempre ver pézes (nus). Como dizia outrora um amigo meu em Gaia: este gajo é psicochispe… Referia-se ao meu fetiche dos pés. Mas olhe, a partir de um estudo científico diziam há dias na tv que o fetiche mais comum dos homens na Holanda são os pézes!!! Merda, e eu a pensar que era muito original…

Lidador disse: ”Quem falou em romantismos? Então você acha que tratar alguém com educação e consideração é "romantismo"?.”

Você. Cortesia e cavalheirismo é uma ideia romântica, que se vai perdendo à medida que as relações se tornam mais igualitárias e o sexo mais livre. A Luísa de O Primo Basílio, vai ser naturalmente diferente e abordada/engatada de forma diferente num romance da Guidinha Rebelo de Sousa.

Lidador disse: ”Você acha mesmo que qualquer pessoa prefere ser tratada à mocada?.”

Já respondi a isto anteriormente. Há um enorme leque de possibilidades entre tratar à mocada e floreados renascentistas. E quando debitei as minhas tais ditas cujas frases, estava a ser romântico – à minha maneira… Ah, e estava igualmente a ser CIVILIZADO e a tratar com CONSIDERAÇÃO. E mais, já dormi com amigas na cama sem lhes tocar, porque não queria aproveitar-me da situação. Mas como já foi há muito tempo, não sei bem se o fiz por civilização ou por timidez…

Mas nos últimos anos substituí a máxima “mulher de amigo meu é homem” por “mulher que me vai parar à cama e pese mais de 50 kg é peixe – come-se”.

Lidador disse: ”Largar gases é natural.”

Pode ser que seja, mas a evitar em certas ocasiões em que possam interferir com o libido.

Lidador disse: ”Ou comer com as mãos e mastigar com a boca aberta. Usar maneiras à mesa não é romantismo ou afectação vitoriana e arcaica. É justamente o contrário, é respeitar o outro, o que está na mesma mesa e que se pode sentir repugnado.”

Absolutamente de acordo. Assim como ter o cuidado de tomar banho e fazer a barba quando uma remota possibilidade de dar uma queca se apresenta.

Tenho um amigo em Gaia, que por sinal ERA muito porquinho graças a Deus – o irmão costumava dizer ‘nunca sei quando o meu irmão anda descalço ou com meias pretas!’ – mas costumava pentear-se antes de ir dormir! Segundo ele porque durante noite podia aparecer a Brigitte Bardot ou a Raquel Welch…

Unknown disse...

Ó CdR, acabou de malhar no ponto. Como disse, e muito bem, não é só chegar ali, e convidar a parceira para a queca. Como disse, e mto bem, há um contexto.
Ora os contextos têm as costas largas e quando a malta não sabe explicar lá muito bem porque razão uma coise é como é, debita assim umas vacuidades tipo, ah é o contexto e tal.

O que eu lhe tentei explicar, pelos vistos sem grande sucesso (é mais fácil fazer circular uma ideia à volta do mundo do que fazê-la penetrar nos escassos centímetros de osso de certas cabeças) é que aquilo a que você chama "contexto", deriva da indentidade sexual feminina, que não é igual à masculina. (Vem tudo da diferença entre XX e XY...)

E não adianta você tentar caricaturar aquilo que eu digo. Eu falei-lhe em sensibilidade, educação e cortesia, e você finge que isso é sinónimo de fórmulas e frases gongóricas do séc XIX.
Já lhe expliquei que não é, mas você, como o argumento não dá para mais, insiste na caricatura.

Não vale a pena. Eu nunca falei nisso, porque razão faz de conta que sim?

Acabou de reconhecer que a relação entre homens e mulheres não é igual à dos cães.
E invocou um "contexto". Pois agora trate de perceber que "contexto" é esse e depois de ter feito o trabalho, venha cá traduzir isso por miúdos.

Quanto a Oslo, muito bem. É porque há lá tipos que olham para as mulheres como se elas só fossem objectos sexuais. E como elas não são, e não vão na conversa do "sexo livre" (lá está, só serão convencidas pelo tal "contexto"), aquela malta age como o CdR apregoa.
Interpela a rapariga, presumo que com o mesmo tipo de frase matadora e perante a estranha recusa da feliz contemplada, aí vai disto.

O que me espanta é que o CdR, perante um tão claro exemplo, continue a achar que está a ver a coisa da forma correcta.



P.S. Francesco Alberoni, um sociólogo muito conhecido, com obras sobre amor, e enamoramento, etc, explica muito bem que a pornografia masculina tem sucesso entre os homens, porque é feita de acordo com as suas fantasias. E nessa pornografia, as mulheres ou são objectos ou máquinas sexuais, sempre prontas a abrir as pernas e a satisfazerem o parceiro.
O CdR parece pensar que o mundo real é como os filmes pronográficos.

Pelo contrário, explica o Alberoni, as mulheres não apreciam essa pornografia. A "pornografia" delas, envolve envolvimento romântico.

Unknown disse...

"E quando debitei as minhas tais ditas cujas frases, estava a ser romântico – à minha maneira"

Pois, mas é essa a questão. É que não é você que determina a maneira. É ela.
Você tem de usar a linguagem que ela permite e/ou aceita.

Tem de ir ao encontro dela e usar para com ela a linguagem própria que a convença.

O sucesso dos grandes sedutores vem exactamente daí. De falarem às mulheres na linguagem que elas gostam de ouvir, de usarem para com elas dos gestos que as sensibilizem.

E para a esmagadora maioria delas, aqui, na Holanda ou no Nepal, a abordagem brutal e canídea, não resulta, nem lhe agrada.

Cavalheirismo e cortesia é isso, meu caro. É empatia, é ser agradável, é seduzir.

Mas a sua prisão ideológica diz-lhe que isso é tratá-las como seres de 2ª categoria e ei-lo a inventar "contextos" para fazer justamente aquilo que diz que não se deve fazer, sem se sentir culpado.

Carmo da Rosa disse...

Lidador disse: ”Ó CdR, acabou de malhar no ponto. Como disse, e muito bem, não é só chegar ali, e convidar a parceira para a queca. Como disse, e mto bem, há um contexto.”

Poupe-me por favor as constantes repetições, leia com mais atenção o comentário às 05:42.

…. e convidar a parceira para a queca

Ó INCLEMÊNCIA, Ó MARTIRIO, Foi a parceira (e tinha os cromossomas todos certinhos) que me convidou para a queca! Sem rodeios, sem cortesia e sem poesia… E para a minha sensibilidade, isto é romantismo puro. Quando penso no assunto, e você a isso me obriga mais do que permite a força humana, fico tão romântico que tenho que ir a correr para a casa de banho para não sujar o ecrã do computador.

… não é só chegar ali

É claro que não é só chegar! Ao escrever UMA AMIGA, estou imediatamente a colocar a coisa num contexto (de amizade e conhecimento). Ou você quer ouvir detalhes sobre o que a gente dizia todos nuínhos a nadar no riacho? Para depois me acusar de indiscrição galopante influenciada por prisão ideológica! Ou para fins ainda mais piores maus...

E neste caso foi ela sim senhor que determinou o MOMENTO decisivo, mas não a MANEIRA. Mas sobretudo, nunca a MINHA maneira. Eu poderia ter recusado - caso estivesse na hora da bola. Mas no outro exemplo que dei, fui eu que determinei o MOMENTO decisivo, e ela era perfeitamente livre de dizer sim ou sopas. E eu nada poderia fazer contra, porque nesse dia tinha-me esquecido do cacete, teria que aceitar desportivamente a recusa.

O quê? Você já postou outra vez! Quer você dizer que isto que escrevi já está desactualizado? Isto já parece uma relação gay caneco!!!

PS Já estou há tempos para perguntar quem é aquela rapariga tão prendada da fotografia?

Unknown disse...

"É claro que não é só chegar! Ao escrever UMA AMIGA, estou imediatamente a colocar a coisa num contexto (de amizade e conhecimento)."

Ó tempora! Ó mores!

Mas é isso mesmo que lhe estou a dizer. Essa amizade, esse conhecimento, surgiram de quê, homem de Deus?
De convívio civilizado, de tratamento educado, de confiança que se foi ganhando.

No fundo, o CdR, em vez de ver a coisa como um processo, quer isolar o momento do truca truca.
Mas você normalmente não chega ao truca-truca, assim, como nos filmes pornográficos, com um estalar de dedos.
A generalidade das mulheres não vai nisso, desculpe lá, os estudos provam-no e pelos vistos a sua experiência tb.
Note que o contrário, já não é assim. A maioria dos homens é perfeitamente capaz de passar a vias de facto sem qualquer processo de sedução.

Ainda bem que, aos poucos, está a aceitar a realidade.

Pronto, se quer chamar "contexto" , ao modo como seduziu a senhora, está à vontade. Tenho já a certeza que não foi de chofre e à mocada, mas com conversa e simpatia.

Sim, e claro que foi ela que tomou a iniciativa. Na maioria das vezes é isso que acontece, apenas o fazem de forma a fazer-nos acreditar que somos nós.

Há tempos estava a almoçar com uma senhora de sangue azul, segundo ela diz, descendente de Nuno Alvares Pereira. Pelo menos tinha mais de 10 nomes...
E estava ela a dizer que as senhoras não se servem de vinho, à mesa, nem pedem. Então como bebem?-perguntei eu.
Sugerem ao cavalheiro que está ao lado, rematou ela.
Entendeu a coisa, CDR?

Elas sinalizam a sua disponibilidade porque sabem, pela sua propria natureza, que se forem muito ostensivas, podem assustar os machos menos confiantes.
Lá está, procedem com cortesia, procuram ir ao encontro das fantasias do macho.
E até fingem...

Carmo da Rosa disse...

Lidador,

com tantos artigos dedicados à minha pessoa, ainda por cima sempre sobre romantismo, sensibilidade e cortesia, não sei o que esta gente vai pensar?

Eh malta, aqui pára o baile, quero deixar bem expresso que não se trata de uma relação gay, isto aqui não é o ASPIRINA…

Lidador, você não é gay mas é muito mentirooooooosoooooo! (quando o for visitar vou-me queixar à sua mulher, lá se vai 20% do encanto renascentista)

Eu não falei em sucesso, isso foi você que inventou! E a frase não é ‘vamos lá dar uma queca’ mas ‘tu o que queres é dar uma queca’, e não foi por mim proferida! Isto com quecas não se brinca, temos que ser mais precisos.

Não o ACUSO de renascentista – não há nada de mal em ser-se renascentista, é o mesmo que usar laço em vez de gravata – digo apenas que a sua concepção na abordagem da fêmea, peço desculpa, das damas, já não se usa muito… é assim… como hei-de dizer… olhe, tem o charme discreto da burguesia do tempo do Senhor Eça de Queirós. Uf, acha que me safei com esta?

Lidador disse: Garante o CdR que se deve, a todo o custo, evitar abrir a porta a senhoras, dar-lhes precedência à entrada para o restaurante, oferecer-lhes presentes, etc, porque elas podem naturalmente suspeitar que lhes estamos a dar mocadas sublimadas na testa.

Mas eu não disse nada disto!

Não disse mas aproveito agora para dizer. Não se deve oferecer por exemplo flores espontaneamente às nossas mulheres. Sobretudo quando não estão habituadas a estas mariquices! Porque imediatamente vão pensar que queremos pedir dinheiro emprestado, ou que queremos passar o fim de semana com amigos nos copos, ou que temos um caso com a vizinha. Cuidado com as técnicas do Lidador, usar mas não abusar…

Lidador disse: O homem moderno, segundo a sofisticada bitola adiantada pelo nosso amigo CdR, é aquele que lhes salta ao caminho e as reclama, sem delongas e aborrecidos rituais, para uma queca; é aquele que sai à frente dela e deixa que a porta lhe acerte em cheio no nariz, é aquele que, deduz-se, se o barco estiver a afundar-se e só houver um lugar no salva-vidas, a empurra para a água e se salva ele, encolhendo os ombros e dizendo que é a igualdade e mais nada.

Não é bem isto mas quase. Eu no fim da frase não diria que “é a igualdade” mas “vai mas’é ter com o Leonardo di Caprio, ele que te salve”. No entanto fartei-me de rir e tenho pena que a coisa não se passe como você com tanto humor descreve…

PS gramei a brava a anedota com a senhora de sangue azul! Volto mais tarde a carga.

Renato Bento disse...

"Pode ser que seja, mas a evitar em certas ocasiões em que possam interferir com o libido."

Espectacular CdR.

Resta-me dizer que discordo dos dois. Sou de outra "geração"... E inclino-me a concordar com o CdR...

Carmo da Rosa disse...

RB disse: ” Resta-me dizer que discordo dos dois. Sou de outra "geração"..”

Pudera, é da geração do meu filho. Geração com um romantismo exacerbado, MAS DIFERENTE, e seguramente mais engraçado, como prova este grande poema de uma aluna de 16 aninhos:

Camões

"Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer"

Ah Camões,

Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas as páginas do Murcón
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.