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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Pois é, José Gonsalo...


Pois é, José Gonsalo,

diz que quer arrumar o assunto de vez! Mas trata-se de uma informação ou de um ultimato? Mas se quiser arrumar o assunto só para o próximo Verão, também pode ser – não me incomoda absolutamente nada, pelo contrário, estou a achar esta troca de comentários muito divertida e é uma excelente distracção para o omnipresente futebol...

Mas porque carga de água sublinhou quatro parágrafos a azul? Você não vê que torna a coisa mais feia do que já é? Até fere a vista! E depois espeta uma linha inteira com pontos de interrogação! Nisto tem a quem sair caneco! o nosso camarada-presidente e o Rio fazem a mesma coisa: não dão qualquer importância à apresentação, é meia-bola e força, pelos vistos o que conta é debitar propaganda ideológica. Modernices...

Eu já na altura tinha lido perfeitamente o seu texto, não era preciso repetir a coisa com o raio do azul em cima, e continuo a ter precisamente a mesma opinião sobre este assunto. A resposta é precisamente a mesma:

O que aqui vai de raiva e ódio perante o simples facto de ser uma mulher a QUERER algo! E o ódio e a raiva, caro José Gonsalo, também se estendeu ao homem – li na altura mas depois passou-me – de quem você fez esta admirável descrição:


Pois é, mas o “troncho”, a “repelência vertebrada” sou também eu, é o meu vizinho, são os meus amigos da minha geração. Resumindo, todos aqueles que gostaram à brava do filme porque se identificam imediatamente com os personagens e com a humanidade nua e crua que a situação emana. Dito por outras palavras, somos realistas, já não sentimos uma grande necessidade de corresponder à imagem do machão latino, do Toni, do Zézé Camarinha. Mas sobretudo, já não nos identificamos com figuras do cinema do tempo e do género do Clark Gable, com aquele bigodinho - que faria o Carlinhos da Sé em plena Rua Escura exclamar aos gritos: ‘Ó BIGODE DE PISSA!’ - a quem bastava um olhar de soslaio para as mulheres em suspiros lhe caírem nos braços.

Caro José Gonsalo, não veja tantos filmes dos anos 50, ou melhor, faça como quiser mas esteja consciente que se trata de romantismo muito romantizado… As miradas mortais do Clark Gable já só fazem sonhar as nossas mães, coitadas, que, há falta de melhor, viveram a vida inteira de romantismo. As filhas, felizmente já mais realistas, acham essa atitude patética, e as netas, essas, estão representadas pela excelente actriz do filme brasileiro.

A sua falta de realismo ou pendão para romantizar, vê-se na descrição que faz da aldeia dos seus avós, onde, segundo o José Gonsalo, as relações homem-mulher são (em 80%) um oásis de harmonia e emancipação! Mas situa a aldeia modelo num deserto de opressão e tirania chamado Portugal do tempo da outra senhora!!! “Com as naturais — ao tempo — liberdades e restrições próprias de cada sexo.”, acrescenta você cauteloso.  Mas o problema é que as restrições eram muitas e não tinham só a ver com sexo, mas sim com quase tudo...

Vou-lhe dar apenas dois exemplos sem romantismos do bairro onde vivi em Vila Nova de Gaia nos anos 60, e que, acerca do comportamento ou do raio de acção das mulheres, são certamente sintomáticos para o país inteiro. Note que já não se trata do tempo dos seus avós,  nem de trabalhadores rurais e geograficamente isto passa-se em zona citadina muito perto da segunda cidade do país: Porto.

 Exemplo 1

No bairro (do Cedro) havia dois cafés, mas as mulheres não iam ao café de livre vontade nem sozinhas. A minha mãe, por exemplo, assim como muitas das mães dos meus amigos, nunca pôs os cotos no café! (A minha mãe apenas sabia pelo meu pai que havia dois cafés e que um deles era o sítio onde o filho, em vez de estudar, passava o tempo a jogar bilhar e matrecos). Ao Domingo à tarde havia uns homens que lá se deslocavam ao café (o Sr. Santos da drogaria e o Sr. Maia da mercearia por exemplo) acompanhados das suas respectivas esposas. Eles bebiam um fino (imperial para os mouros) e falavam de futebol; elas falavam ‘chiffon’ (como dizem os franceses) mas nunca bebiam álcool, isso parecia mal. Nos restantes dias da semana o café era só frequentado por homens, os únicos que tinham poder para tomar uma decisão tão drástica como ir ao café jogar dominó ou bilhar com os amigos - às mulheres nem lhes passava isso pela cabeça.

Caro José Gonsalo, tenho muita pena mas não consigo imaginar a sua avó paterna na sua aldeia modelo - que segundo você ‘nunca foi maltratada pelo seu avô e teve um papel bastante marcado e importante nas respectivas famílias’ – a fazer voluntariamente uma pequena pausa nas suas actividades rurais para ir sozinha à tasca beber um copo de três! Está enganado. Era o seu avô, você ainda era muito criança e não fazia a diferença...

Exemplo 2

Além dos dois cafés, havia ainda perto de minha casa o clube de futebol mais importante de Vila Nova de Gaia: o Vilanovense, nós dizíamos apenas “o Bila”. (Na minha infância um dos grandes guarda-redes do Vilanovense era o pai do famoso ex-jogador do Sporting, o Ricardo Sá Pinto. Curioso detalhe, o pai do Sá Pinto era ao mesmo tempo guarda-redes de futebol no ‘Bila’ e guarda-redes de andebol no F.C. do Porto).

Aos domingos à tarde, quando havia um jogo importante no Vilanovense, notava-se imediatamente um aumento de carros estacionados à volta do modesto estádio. Gente que vinha de Oliveira do Douro, Avintes, Candal, Coimbrões, etc. Dentro dos carros estacionados era muito frequente ver mulheres sozinhas a fazer croché enquanto os maridos viam o futebol no estádio! Talvez elas não gostassem muito de bola, mas de qualquer forma eles é que decidiam por elas: - ó filha, é melhor ficares aqui sossegadinha em vez de ires lá para dentro ouvir palavrões...

 Esta era a situação em Vila Nova de Gaia nos anos 60 – todos os meus amigos da minha geração confirmam, e alguns com um certo saudosismo… Caro José Gonsalo, por muito que enfeite o seu discurso com fraseado filosófico, sinceramente, não creio que em terra de mouros (a sul de Coimbra) a situação fosse muito diferente da de Vila Nova de Gaia. Hoje, o progresso, a emancipação, faz com que as novas mulheres tenham mais poder de decisão e ainda bem, nem sempre para si mas para os empregados de copa:

José Gonsalo: Isabel, queres ir à bola comigo?

 Isabel: Não pá, vais ter que ir sozinho que te lixas, porque a mim está-me a apetecer ir beber um caneco naquele bar que tem um empregado bem giro com quem tu estavas a falar o outro dia. Parece que é muito romântico e que não fode as mulheres na casa de banho – mas no nosso carro com os bancos para trás talvez funcione…

P.S. Sobre os militares noto a mesma atitude romântica, mas tem que ficar para outra vez porque a Santa Bolinha não perdoa…

1 comentário:

José Gonsalo disse...

"Pois é, José Gonsalo,

diz que quer arrumar o assunto de vez! Mas trata-se de uma informação ou de um ultimato?"

De uma informação.


"Pois é, mas o “troncho”, a “repelência vertebrada” sou também eu, é o meu vizinho, são os meus amigos da minha geração. Resumindo, todos aqueles que gostaram à brava do filme porque se identificam imediatamente com os personagens e com a humanidade nua e crua que a situação emana."

Lamento.


"Dito por outras palavras, somos realistas, já não sentimos uma grande necessidade de corresponder à imagem do machão latino, do Toni, do Zézé Camarinha. Mas sobretudo, já não nos identificamos com figuras do cinema do tempo e do género do Clark Gable, com aquele bigodinho - que faria o Carlinhos da Sé em plena Rua Escura exclamar aos gritos: ‘Ó BIGODE DE PISSA!’ - a quem bastava um olhar de soslaio para as mulheres em suspiros lhe caírem nos braços.

Caro José Gonsalo, não veja tantos filmes dos anos 50, ou melhor, faça como quiser mas esteja consciente que se trata de romantismo muito romantizado… As miradas mortais do Clark Gable já só fazem sonhar as nossas mães, coitadas, que, há falta de melhor, viveram a vida inteira de romantismo. As filhas, felizmente já mais realistas, acham essa atitude patética, e as netas, essas, estão representadas pela excelente actriz do filme brasileiro."

Tão ao lado quinté dói...!


"A sua falta de realismo ou pendão para romantizar, vê-se na descrição que faz da aldeia dos seus avós, onde, segundo o José Gonsalo, as relações homem-mulher são (em 80%) um oásis de harmonia e emancipação! Mas situa a aldeia modelo num deserto de opressão e tirania chamado Portugal do tempo da outra senhora!!! “Com as naturais — ao tempo — liberdades e restrições próprias de cada sexo.”, acrescenta você cauteloso. Mas o problema é que as restrições eram muitas e não tinham só a ver com sexo, mas sim com quase tudo..."

Outra vez?! Já são duas quinté doiem - e não é nada comigo, olha se fosse!

Carmo da Rosa, não há paciência. Eu, pelo menos, não tenho. Este foi um brinde de despedida e, garanto-lhe, não há mais.