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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Legionários de Abril


Na sua crónica de anteontem, dia 5, no PÚBLICO, Vasco Pulido Valente, referindo-se a uma biografia de Salazar escrita por Filipe Ribeiro de Menezes, doutorado em Dublin e professor numa universidade irlandesa, diz a dado passo:

«(…) vale a pena ler esta longa e minuciosa história do homem que governou, sem sombra nem rival, gerações sobre gerações de portugueses e conseguiu criar uma cultura política que hoje ainda pesa - e pesa muito - na democracia que temos. O próprio facto de Ribeiro de Menezes ser um “estrangeirado” ajuda a sentir isso.

Para quem viveu sob Salazar (…) o que falta nesta biografia é, naturalmente, a atmosfera do regime. Porque não existia uma ditadura, existiam milhares. Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência. A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos “salazares”, que, como o outro, exerciam uma autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar. A deferência - se não o respeito - por quem mandava era universal; e essa educação na humildade (e muitas vezes no vexame) fazia um povo obediente, curvado, obsequioso, que se continua a ver por aí, na sua vidinha, aplaudindo os poderes do dia e sempre partidário da “mão forte” que “mete a canalha na ordem”.

(…) o mundo moderno desorganizou o Portugal manso e miserável que ele com tanta devoção construíra. O preço que pagámos pela ditadura desse provinciano mesquinho é incalculável».

Já, pelo meu lado, disse eu aqui, uma vez, salvo erro em resposta a um comentário, salvo erro da ml, que tive familiares directos, oficiais das forças armadas, próximos do regime salazarista. Um dos quais era, em simultâneo, membro da Legião Portuguesa, o que fez com que eu houvesse tido contacto com tão distinta instituição desde a infância.

A Legião, conjunto de indivíduos que se alistavam voluntariamente (à excepção dos funcionários públicos, obrigados a pertencer-lhe) para defenderem a sagrada tríade Deus, Pátria e Família, era o que se poderia chamar a cereja em cima do bolinho estrumeiro que foi o Estado Novo. Formada, como seria de esperar, pela mais heterogénea mistura de muitas e desvairadas gentes, na sua composição era, no entanto, facilmente detectável a predominância de três grandes grupos.

Um deles era, naturalmente, constituído pelos poucos ideólogos do regime (se é que este teve, alguma vez, verdadeiros ideólogos, e não somente, à boa maneira lusa, umas quantas cabeças em que se amalgamavam umas quantas teorias, digeridas mais ou menos apressada ou distraidamente…), por altos dignatários, empresários que desejavam estar nas boas graças da “situação” para melhor poderem singrar ou obter favores e facilidades, e por militares que, na sua maioria, procuravam apenas visibilidade pública, nacional ou meramente local, com vista a “mostrarem serviço” ou para afagarem o ego à conta das paradas (era este último, aliás, o caso desse meu familiar, de resto, bem considerado pelo pessoal da Oposição da época e que sempre se escusou a qualquer denúncia). A este nível, a Legião Portuguesa nunca foi além de inocuidade.

Um segundo, bastante menos inofensivo, era composto por bandos de rufias e arruaceiros, chefiados por filhos-de-família de algumas famílias dominantes, com aspirações a gangster de Chicago de perfil mussoliniano. Esses bandos faziam surtidas regulares no Bairro Alto e nos restantes locais tradicionais de Lisboa e não só (como se vê, o Bairro Alto tem muitas histórias para contar que não apenas as de hoje…), onde as suas pulsões agressivas ganhavam livre curso, com recurso à moca, à navalha ou à pistola, no louvável e másculo objectivo de arrasar qualquer veleidade dos traidores à pátria em levantarem a voz, perturbarem a ordem pública ou fazerem-se à garina (ou ao ragazzo) que lhes estivesse debaixo d’olho. Além do que sempre haveria uns despojozitos sobrantes para o pessoal “menor” - e também, de vez em quando, para o “maior”…

O terceiro, porém, era talvez o pior, o mais sinistro, pelo que o compunha de felliniano no desconchavo e na abjecção, com um cheirinho a Hyeronimus Bosch. Refiro-me ao legionário do estrato mais baixo, o que não era nosso vizinho, e que vivia em pequenas unidades de defesa do território, coordenadas por um responsável. Não fazendo parte das forças armadas ou policiais regulares, esse habitante dos tugúrios que eram, pomposamente, designados por quartéis, tinha, contudo, neles a camarata, o quarto ou o lar remansoso, onde o esperavam a mulher e a prole (se os houvesse), ao fim de uma jornada de trabalho em qualquer instituição ou empresa, não se distinguindo em nada, à primeira vista, de qualquer dos seus concidadãos.

E quem eram tais eleitos de Salazar, esse grande filho do pai Manholas, esse grande conhecedor da natureza humana no seu pior, que ele cobria até tão longe com a sua asa protectora? Na sua grande maioria, gente que tivera problemas com a justiça, escroques, pequenos vigaristas, larápios de terceira categoria, carteiristas, pervertidos de vária índole, que, ao declararem-se fiéis servidores do regime, assim se escapavam à alçada daquela. Quase todos analfabetos ou ainda menos e embrutecidos pelo excesso de álcool, com um Q.I. claramente reduzido, no meio dos quais se acoitava, com frequência, um qualquer indivíduo de horizontes ligeiramente mais vastos, o qual, por ter conseguido absorver acriticamente (pois ele queria lá criticar fosse o que fosse, queria era safar-se da alhada em que se havia metido…) alguns dos conceitos da cartilha do regime, servia de mestre aos restantes, debitando-os face a um friso de olhos esbugalhados e bocas entreabertas, ofegantes no esforço de decorar o que lhes garantia a protecção e a sobrevivência imediatas. Era isto a Legião real, filha do país real: algo que, de tão grotesco, quase se juraria ser irreal.

O militar, meu familiar directo, a que me referi, uma espécie de segundo avô da minha infância e adolescência, costumava levar-me com ele quando se deslocava a esses quartéis, em especial a um deles, deixando-me a brincar com os filhos de quem lá vivia enquanto tratava dos seus assuntos, o que me permitiu conhecer bem umas quantas dessas famílias bem como muitos dos restantes membros daquela unidade de “Escolhidos da Nação”. Identificava-os, portanto, no decorrer das duas “eleições” que se realizaram antes do 25 de Abril, circulando anonimamente entre os votantes, na missão que lhes incumbia de escutar as conversas, de “marcar” algum opositor mais afoito para posteriores represálias de todo o tipo, desde a prisão por dá cá aquela palha até às dificuldades burocráticas a colocar ao pedido de uma simples licença para obras ou para ser proprietário de um… isqueiro. Identificava-os também, em diversos locais de trabalho, como empregados de mesa, em cafés e restaurantes, em bombas de gasolina, cobradores de bilhetes …. Cumprimentava-os e, um pouco mais à frente, já fora do alcance de ouvidos e olhos suspeitos, avisava os meus amigos, simpatizantes do PC ou do que seria, mais tarde, a UDP, para que não se “alargassem” à frente daquele tipo. Porque, nessa altura, já eu, pela minha parte, esfriara as relações com o meu familiar, em conformidade com as veras e determinadas convicções de um jovem dos sixties que se prezava , reforçadas pelas leituras que fizera de uns quantos filósofos. E, embora não-marxista, dado que as perspectivas materialistas-dialécticas sempre me pareceram falhas de fundamentos reais (em parte na mesma linha em que Sartre as criticou, vim mais tarde a sabê-lo), sendo a oposição predominante a da esquerda era aí que, naturalmente, se situavam muitas das minhas amizades, as quais, aliás, conservo até hoje.

Identificava-os também o meu pai, que vinha connosco frequentemente. Identificava-os como o operário que, na empresa onde ele trabalhava, no decorrer de uma greve do operariado, atirara uma mão-cheia de dejectos a uma fotografia, pendurada numa parede, do “venerando Américo Thomaz”, desse modo incitando os seus companheiros à rebelião… e assim provocando a prisão imediata, pela PIDE, dos seus responsáveis, quando se desencadeava a violência. Identificava-os como dois pacatos clientes ocasionais da tasca onde ele almoçava diariamente com os colegas, em mesas partilhadas à vez com quem ia chegando. E dava um pontapé por baixo da mesa a esses mesmos colegas, para lhes dar a entender que deveriam manter-se calados, quando um dos dois recém-chegados se retirava, aparentemente indignado com a apatia dos presentes face a algumas observações politicamente contestatárias que fizera “casualmente”, deixando o outro à escuta das reacções ao “incidente”.

E chegou o dia 25 de Abril de 1974.

E, como disse Sophia de Mello Breyner, “o grande drama desta revolução é a sua falta de preparação cultural”.

Porque não se consegue alfabetizar um país de um dia para o outro. E porque não basta aprender a ler, são precisos anos para alargar horizontes a partir do que se aprende, confrontar ideias, encontrar as contradições e os pontos fracos daquilo que, inicialmente, nos parecia indiscutível, descobrir caminhos onde, antes, nos parecia não existir nada ou ser algo sem sombra de mistério. Tudo isso para, finalmente, se poder começar a alinhavar críticas fundamentadas, saber escolher de novo, o mesmo ou outra coisa, por vezes sua oposta, descortinar o que ainda ninguém viu ou que alguns, esquecidos ou ignorados, já haviam visto. Platão exprimiu tudo isto muito bem, dizendo que ninguém é filósofo antes dos cinquenta anos. Pois.

É um facto, contudo, que, quanto mais analfabeto, mais desconfiado. E que, quanto mais desconfiado mais incapaz de considerar outras perspectivas, por não se ter elementos de referência. Quanto mais analfabeto, mais a diversidade de ideias se afigura não promessa, mas perigo de vida. O círculo fecha-se: quanto mais analfabeto mais analfabeto se pode vir a ser. Raramente um analfabeto tem real vontade de aprender. Ser analfabeto mantém-lhe estabilidade na vida. Pelo menos, é o que ele julga. Por isso é que, num país de analfabetos, tão poucos quiseram ou se esforçaram por aprender a ler. Deixaram isso para os mais novos. “Burro velho não aprende línguas” não é uma expressão de desistência do aprender, é uma expressão de não desejar aprender por se se desconfiar dos efeitos desconcertantes que pode ter o que se aprende em quem aprende.

A atitude dos pais, em geral, porém, influencia grandemente a dos filhos, por continuidade ou por oposição. E se os pais foram escravos da preguiça mental e dos horizontes culturais com que o regime de Salazar lhes insuflou as cabeças, as dos filhos foram insufladas pelo pronto-a-debitar partidário, o qual raramente chega a ser sequer ideológico. Portugal derivou, a mesquinhez e os rancores vingativos da aldeia para a cidade, da sociedade recreativa para o partido, dos de uma cor para os de outra cor. Raros querem pensar, quase todos vivem de odiar. E um país de ódios e interesses calados não vive, mata toda a vida que nele procura medrar. Corrompe-a. E morre disso.

É aqui que adquire sentido o que diz Vasco Pulido Valente, quando refere que o preço que pagámos pela mesquinhez provinciana de Salazar é incalculável. É aqui que se compreende, 36 anos depois da Primavera de 1974, a existência e a acção da “esmagadora maioria” dos “comentadores” que circulam anonimamente por este blog. Como se a Revolução contasse, ela própria, agora com os seus legionários, os filhos dos eunucos a que se refere uma canção de José Afonso, complementando a dos vampiros. Como se a República educasse os seus filhos numa Legião neo-analfabeta partidária e deles fizesse os Legionários de Abril, com fundamentos ideológicos generalistas instituídos e activados pelo Ministério da Educação.

P.S. - Antes determinar, abro um parêntesis para honrar a memória desse meu familiar, que foi um dos principais responsáveis pela minha formação humana, alguém por cuja recordação nutro um carinho tão grande como aquele que ele sempre revelou por mim. Voltei a ver o que ele, de facto, representara e representava para mim alguns anos depois, ainda antes da sua morte, quando a experiência e as vicissitudes que a mudança de regime trouxe consigo me alargaram a concepção de existência. E se não me espantara que Otelo Saraiva de Carvalho, com escândalo de alguns, houvesse, também ele, referido publicamente, no decorrer de uma entrevista, em pleno PREC, a amizade que lhe tinha, passei, contudo, a compreender, ainda melhor, os motivos que o tinham levado a fazê-lo.

Uma vez mais, não tive tempo para rever o texto, que me foi sugerido pela leitura do de Pulido Valente.

Uma vez mais, até daqui a três dias.

35 comentários:

Anónimo disse...

Este descendente ou parente de BUFO é realmente único. Viva ELE, abaixo Portugal.

José Gonsalo disse...

Caro anónimo:
Tive ocasião de vir aqui por uns momentos, antes de sexta-feira. Agradeço-lhe imenso o seu comentário. Não conseguiria encontrar melhor ilustração para o que escrevi.
Até sempre.

Carmo da Rosa disse...

José Gonsalo, ultimamente está em plena forma, mais um excelente texto e.....corajoso. Voltarei mais tarde para comentar.

Anónimo disse...

Excelente! irrepreensível 5*

o holandês voador disse...

Gonsalo,
Não se percebe lá muito bem o que é que a capa do disco do José Afonso tem a ver com o título do "post". Mas Viena também não tinha nada a ver com o fundamentalismo islâmico, não é verdade?
De resto, gostei do texto.

Anónimo disse...

Não tem de quê. Como portuguesito, cabe-me dar VIVAS a tão ilustre Supra-sumo. Pena que espremido dê em nada...

confraria_da_alfarroba sociedade de irresponsabilidade e limitada disse...

ou se lê ou não se lê.
quando se lê, (e se se sabe ler) percebe-se.
quando não se lê, não conta.
quando se lê pela metade, (ou não se sabe ler) é difícil perceber as ilustrações... :)

anónimo mortinho de espanto disse...

Estou dividido: ou isto é o Saramago ao contrário, para muito melhor;
ou é o contrário do Saramago, para melhor ainda.
Belo retrato de boa parte do Burralho.
Tocante e emocionante.

Anónimo disse...

Começo por lhe dizer que o meu irmão foi impedido de entrar no Liceu Camões (1960) pelo reitor, porque levava umas calças remendadas - e os meus pais não tinham dinheiro para lhe dar outras. Foi chumbado no mesmo Liceu (1962), pela professora de Inglês e Português, a pretexto de que o filho de um carvoeiro e duma doméstica já tinha estudos a mais, e por isso não tinha nada que andar no liceu.

Não tendo eu nenhuma simpatia pelo Salazar, tenho simpatia pela verdade, pela isenção e pela análise fria. Mas, ao contrário do seu texto anterior este, é de tal miséria intelectual que, nem parece escrito pela mesma pessoa.

O que é um provinciano?
Está a empregar o conceito como sinónimo de atrasado mental ou ignorante? E por comparação com que estadista do actual regime?
É que o Salazar não era nem uma coisa nem outra. Não se doutorou ao Domingo, não tirou o curso num tempo em que as passagens de ano se faziam por quotas, nem por ser filho de alguém particularmente importante... O trabalho académico que produziu fala - ainda hoje - por si.
Indiscutivelmente não roubou. Não favoreceu a família, ou confrades mafiosos da opus dei, opus gay, ou maçons...
Não era racista, antes pelo contrário! Há discursos seus a fazer apelo expresso aos casamentos entre os portugueses da Metrópole e os das Colónias.
Não era tarado sexual, pedófilo, ou homossexual (nos dias que correm isto parece ser defeito).
Não esbanjava e espatifava o dinheiro dos contribuintes (nem o dele). Não gastava o que não tinha.
Não fazia ostentação na política, nem se passeava pelo estrangeiro com direito a montar tartarugas nas Seicheles, rodeado de uma comitiva de umas dezenas de bajuladores, todos a esfolarem o dinheiro do pagode.
Foi o único dos governantes europeus a devolver aos americanos o empréstimo concedido a Portugal a seguir a II GG! Havia de ser hoje...
Era coerente. Não disse bem dos americanos e depois disse mal (ou vice-versa). Não dizia mal dos comunistas, para depois dizer bem porque precisava de ganhar uma eleição.
Era um fascista? Há vários académicos que defendem a tese contrária.
O Mário Soares - e a pandilha de xuxalistas, comunistas, psd's e cds's que se seguiu - não se poderia expressar livremente no regime que tutelava. E qual era o mal? Perdia-se alguma coisa?
Drogava o povo com futebol? O regime de hoje injecta o povo com futebol.
Havia presos políticos? E então? Muitos deles, hoje, deviam estar na cadeia por serem criminosos, e andam à solta, e ainda são pais da Pátria!...
Sabe quantos presos (delito comum mais políticos) existiam em Portugal no dia 25 de Abril de 1974? Menos de 1200. Hoje para uma população sensivelmente igual quantos são? 12.000? fora os que não cabem lá dentro, e os que lá deviam estar.
À data, o regime não prestava por comparação com que regimes? Zero de África. Zero da América do Sul, Central e do Norte. Zero da Ásia. Sobra a Europa. Mas que países da Europa? E como é que todos estes regimes tratavam os opositores políticos?

Nota especial sobre a França, que continua a ser - ainda hoje - uma potência colonial, facto para o qual a opinião pública internacional (seja lá ela o que for) se está positivamente nas tintas!

Anónimo disse...

Os portugueses tinham de emigrar para viver melhor? E hoje?!?

Falta a guerra colonial! Uma guerra em que o número de soldados mortos é esmagadoramente superior ao número dos (cagarolas) desertores, verdade que este regime procura - a qualquer preço - inverter. A guerra era má por comparação a quê? À desgraça que se seguiu? Mas quantos países é que estiveram em guerra durante e depois da nossa guerra colonial? A coisa chega ao cúmulo de até ex-colónias terem entrado em guerras coloniais ou neo-coloniais (Cuba). Quem é que não foi colonialista e não tenta, ainda hoje, sê-lo?
E os combatentes nativos das ex-colónias e a forma como este regime os tratou? Mete asco... O Salazar tratou-os todos como eram: como portugueses.

Inspire-se, distancie-se. Imagine-se historiador daqui a 1000 anos, e escreva algo sobre o Estado Novo; diga mal, diga bem, diga o que entender, mas faça-o com classe, no sentido em Michelangelo Antonioni a representou na cena inicial do filme Identificazione di una donna.

Obrigado pelo espaço.

AM

Anónimo disse...

Fazer apologias argumentativas e/ou comparativas de regimes políticos são no mínimo exorcizantes para quem as faz ou promove. È sempre bom culpabilizar algo ou alguém quando nem tudo é bom ou nos corre mal a vida.
È evidente que no imediato qualquer pequena diferença em relação ao passado próximo pode ser ou não relevante; diferenças mais positivas ou mais negativas. De igual modo e a nível individual cada um, daqueles que já tiveram vivências em regimes temporalmente próximos, mas politicamente distintos, faz apreciações díspares, muitas vezes em função do seu actual enquadramento sociológico-cultural.
Daqui a 1000 anos a mesquinhez das questões deixa de ser relevante, passando a contar sobretudo e comparativamente se a humanidade regrediu ou não na sua evolução e se vive ou não melhor. Se me perguntarem, se prefiro viver no presente ou ter vivido no tempo do D. Afonso Henriques, não tenho dúvidas quanto à minha resposta. Mas se me perguntarem se prefiro a democracia Portuguesa actual ou o tempo da outra Senhora, fico dividido por muitos aspectos comparativamente positivos e muitos outros comparativamente negativos. Ficar apenas atado à crítica não resolve nada. O que conta é o empenho que individualmente e colectivamente se faz para que a humanidade continue o seu caminho evolutivo.

Carmo da Rosa disse...

@ AM: “o meu irmão foi impedido de entrar no Liceu porque levava umas calças remendadas. Foi chumbado no mesmo Liceu, pela professora de Inglês e Português, a pretexto de que o filho de um carvoeiro e duma doméstica”

Mesmo que isto seja verdade, é insólito e não é representativo da política do governo de Salazar: impedir a entrada a um aluno por ter as calças remendadas (mais facilmente proibiam a entrada a um aluno por ter os cabelos à ‘bitla’); reprovar um aluno porque os pais são de condição modesta…

”Não tendo eu nenhuma simpatia pelo Salazar, tenho simpatia pela verdade, pela isenção e pela análise fria.”

Pois, mas é tecnicamente possível ter simpatia pela verdade, pela isenção, pela análise fria e por Salazar!!!

”O que é um provinciano?
Está a empregar o conceito como sinónimo de atrasado mental ou ignorante?”


Não é preciso ser atrasado mental ou ignorante para ser um provinciano! Acho que devia consultar um bom dicionário (digo isto sem qualquer tipo de cinismo ou arrogância), certificando-se ao mesmo tempo do significado exacto da palavra, antes de tentar provar que Salazar não era provinciano porque….. assim e assado.

[Vou-lhe dar um exemplo de PROVINCIANO. Um amigo meu que vive em Vila Nova de Gaia era (ainda é, mas devido ao seu provincianismo galopante já é menos um bocadinho!) de longe o mais inteligente e mais culto do meu círculo de amigos de infância, mas quando me vem visitar à Holanda não o posso levar a um bom restaurante! Porque o energúmeno, como é terrivelmente provinciano, só gosta de comida tradicional portuguesa, e de preferência só as receitas da mãe e da avó Mila.]

” O trabalho académico que produziu fala - ainda hoje - por si. Não favoreceu a família, ou confrades mafiosos da opus dei, opus gay, ou maçons...”

Trabalho académico! Tem algum título em mente? Quanto ao resto, tem toda a razão, ao contrário dos actuais governantes não era corrupto. Não era não senhora.

”Não era racista, antes pelo contrário! Há discursos seus a fazer apelo expresso aos casamentos entre os portugueses da Metrópole e os das Colónias.”

Sim, mas a promoção de casamentos mistos não tinha nada a ver com a defesa de uma ideia multiculturalista. Fazia simplesmente parte da política colonial: casar com as ‘portuguesas’ escurinhas das colónias – de preferência com quinze aninhos…

” Não era tarado sexual, pedófilo, ou homossexual (nos dias que correm isto parece [NÃO] ser defeito).”

Eu sempre pensei que o Salazar além de provinciano fosse um puritano, até ao dia em que o escritor português Rentes de Carvalho me abriu os olhos: Salazar, além de andar metido com a jornalista belga Christine Garnier, que aliás escreveu um livro sobre ele, Férias com Salazar, parece que também dava umas quecas com as esposas de pretendentes a embaixadores ou outros postos interessantes. E fazia ele muito bem, quecas só se perdem as que caem no chão…

” Foi o único dos governantes europeus a devolver aos americanos o empréstimo concedido a Portugal a seguir a II GG!”

Refere-se ao Plan Marshal? Portugal também foi dos países europeus que recebeu menos, o que se compreende dada a ‘participação’ na guerra. Mas tem a certeza que Portugal foi o único que devolveu o empréstimo?

”Era um fascista? Há vários académicos que defendem a tese contrária.
O Mário Soares - e a pandilha de xuxalistas, comunistas, psd's e cds's que se seguiu - não se poderia expressar livremente no regime que tutelava. E qual era o mal? Perdia-se alguma coisa?”


Fascista é exagero. O Mário Soares pode ter muitos defeitos mas ao contrário de Salazar foi sempre um democrata. No momento em que Mário Soares ou outro político qualquer não se puder expressar livremente está tudo perdido, perde-se a LIBERDADE DE EXPRESSÃO.

Anónimo disse...

...mesquinhices especulativas do diz que disse e da minha é maior que a tua...mas a minha pequenina é mais trabalhora que a tua... Em suma: ridículo.

RioD'oiro disse...

"impedido de entrar no Liceu Camões (1960) pelo reitor, porque levava umas calças remendadas"

Numa boa parte das escolas seria hoje pelo menos ostracizado pelos 'colegas' se não levasse calças rotas.

"Foi chumbado no mesmo Liceu (1962)"

Andou lá dois anos e aprendeu provavelmente mais do que hoje em 5. Mas hoje não seria só ele a não aprender, porque ninguém aprende praticamente nada. Enfim, uma das "conquistas" de Abril.

EJSantos disse...

Completamente of topic, mas interessante:

Surpreendente
"The Jews have lived an existence that is much harder than ours. There is nothing that compares to the Holocaust."



Se me pedissem para identificar o autor da frase acima, eu nunca teria acertado. Jeffrey Goldberg, da The Atlantic, foi convidado para ir a Cuba conversar com Fidel Castro (sim, o verdadeiro) sobre um artigo que escreveu na revista sobre o Irão e Israel. A frase que cito é de Fidel, e o objectivo é pedagógico: explicar a Ahmadinejad a difícil história do anti-semitismo, o seu carácter excepcional face a todos os outros povos, e de como é preciso compreender os judeus para obter a paz. A entrevista é mesmo surpreendente, e acreditem que este é só um dos aspectos mais fascinantes. Castro está preocupado com o rumo dos acontecimentos no Médio Oriente, particularmente com a escalada para um eventual conflito aberto. O mais interessante é que, pesem embora as culpas do grande Satã americano e do seu aliado regional, Israel, Castro aponta baterias ao Irão, denunciando a ignorância destes em relação ao problema judaico de insegurança. E claro, reconhece o direito inequívoco de existência de Israel. É a reinvenção do mito, aos 84 anos.

In http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/

RioD'oiro disse...

Caro EJSantos, Fidel passou-se:

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1658525

Ou se passou ou teve mais tempo para pensar. Faz lembrar aquela rábula do Herman pela qual Manoel Oliveira achava que os seus filmes eram muito bons ... por causa dos óculos ... um dia olhou sem óculos e descobriu ...

EJSantos disse...

"Ou se passou ou teve mais tempo para pensar."

Caro RioD'Oiro, voto na 2.ª opção.

Anónimo disse...

O gonçalito ainda não voltou para ver o que fizeram ao seu inteligentérrimo post? É só grafittis.

Streetwarrior disse...

Em relação ao artigo...
Acho que é uma boa analise daquilo que o nosso povo era e muitos daqueles que ainda hoje pululam por aí, a "trabalhar" para as máfias reinantes que são alguns dos nossos governantes.

Mas acho que os nossos governantes,principalmente a maioria da Abrilada que ainda hoje se perpétua no poder,são os maiores culpados.
Já Salazar se queixava da falta de elites pensantes no seu tempo e que tinha que fazer tudo Sozinho.
Hoje,aqueles que muito lutaram contra o modelo de sociedade anterior,deveriam ter motivado a esse mesmo abrir de horizontes que fala,no entanto, os únicos horizontes que continuam a abrir, são o dos bolsos deles e dos amigos,portanto,o povo não é assim tão culpado.
A ordem social de uma maneira ou de outra é aquela a que os governantes se empenham em criar e sejamos sinceros,hoje em dia muitas coisas podem ter mudado mas outras, tais como o clientelismo, a corrupção e muitas outras, também vieram ocupar muitos males que com o tempo foram purgados.
Todos os modelos de sociedade têm as suas ovelhas ranhosas.
Nuno

Carmo da Rosa disse...

Street, eh pá, o teu melhor comentário até agora. Tenho fé que de aqui até ao Natal temos um warrior (um Lidador) da corda...

Streetwarrior disse...

Camo disse...

"" Street, eh pá, o teu melhor comentário até agora. Tenho fé que de aqui até ao Natal temos um warrior (um Lidador) da corda...""

Ser do Contra só por ser,é das maiores formas de ignorância que conheço,quem o faz,não merece qualquer credibilização possivel

Streetwarrior disse...

Era suposto ter escrito, "credibilidade " em vez de credibilização...Só depois de enviar e reler,reparei na bacorada.

Nuno

Carmo da Rosa disse...

@ Streetwarrior: "Ser do Contra só por ser, é das maiores formas de ignorância que conheço,"

Ora bem, mais 10 pontos para o nosso Warrior...

papillon disse...

sem querer colocar em causa a qualidade(ou a falta dela) dos textos, o nivel de prepotencia, pedantismo, arrogancia pseudo intelectualóide dos users deste blog é o q mais salta a vista de um recem chegado...

tanta citação de frases de nomes pomposos, engenharia da palavra, mandarem-me a merda da forma mais intelectualóide possivel... pfff... vivem com a cabeça enfiada na peida...

newsflash:
quem ainda está convencido de que a esquerda é verdadeira alternativa de poder a direita, e vice versa, é no minimo inocente. nas democracias ocidentais existem dois tipos de ideologias. os partidos com possibilidade de acesso ao poder, e todos os outros. os "outros" sao os mais ferozes defensores ideologicos, na esperança de conseguirem convencer certas mentes mais radicais, já os partidos de poder, lacaios das politicas da UE, qdo esta os manda meter postes de iluminação nas estradas, divertem-se com a ideia de mandarem alguma coisa por a UE os ter deixado escolher a côr das lampadas.

mas vou continuar a ler, os textos sao sem duvida interessantes, facciosos ou nao, valem a pena...

Streetwarrior disse...

Carmo disse...
"" para o nosso Warrior... ""

O nosso? Foda-se...ao que isto chegou.
Apenas por manifestar alguma concordância, não implica abdicar da minha independência.
...Calma aí que não somos companheiros de bancada !
LOL
Nuno

Carmo da Rosa disse...

@ papillon: ”sem querer colocar em causa a qualidade (ou a falta dela) dos textos,…”

Cara Borboleta, como eu percebo o seu ‘cri de coeur’. Não quer fazer o mais difícil, o que dá trabalho: arranjar argumentos para colocar em causa a qualidade dos textos. Opta pelo fácil: dizer apenas o que lhe salta à vista…

A mim salta-me à vista que o seu ‘newsflash’ apesar de um cisquinho redutor, tem um nadinha de verdade, e a metáfora das lâmpadas roça o brilhante…

Mas por favor continue…

streetwarrior ”O nosso? Foda-se...ao que isto chegou.”

Eh pá, era só uma força de expressão! Para ser mesmo um dos nossos ainda falta fazer a prova:

entrar numa sexta-feira na mesquita de Lisboa com o cabelo à Wilders, os Versos Satânicos debaixo do braço e um porco ibérico à trela… e exclamar Allah u Akbar!

RioD'oiro disse...

"entrar numa sexta-feira na mesquita de Lisboa com o cabelo à Wilders, os Versos Satânicos debaixo do braço e um porco ibérico à trela… e exclamar Allah u Akbar!"

Se ele fizesse isso atá as muçulmanas lhe fariam streeptease (para não falar das virgens).

:)))))

papillon disse...

@carmo da rosa
nao era critica nem hipocrisia, disse apenas o q pensava daquilo q vi. mas o blog e os users no geral, do q vi, dão para no minimo trocar ideias com espinha dorsal, o q hoje em dia, dado o estado de bovinidade geral da nação, já nao é nada mau...

ate ja vos meti nos favoritos :)

cumps


...e o nome papillon vem do filme...

Streetwarrior disse...

"entrar numa sexta-feira na mesquita de Lisboa com o cabelo à Wilders, os Versos Satânicos debaixo do braço e um porco ibérico à trela… e exclamar Allah u Akbar!"

Só se for comigo á festa do Avante beber uns canecos e depois quando o Sec Geral do PcP estiver a discursar,começar a gritar chamando-lhe aldrabão, lunático e que tudo aquilo não passa de Esquerdalha Estúpida .

È preciso provas em video...olhe que eu trabalho ao lado da mesquita!

Nuno

Carmo da Rosa disse...

"começar a gritar chamando-lhe aldrabão, lunático"

Apenas gritar insultos sem previamente ter sido convidado para falar é contra a minha maneira de ser...

Comer umas bifanas e, depois de beber uns canecos, pedir a Rita Rato em casamento é o máximo - não vou mais longe...

RioD'oiro disse...

"Só se for comigo á festa do Avante beber uns canecos e depois quando o Sec Geral do PcP estiver a discursar,começar a gritar chamando-lhe aldrabão, lunático e que tudo aquilo não passa de Esquerdalha Estúpida ."

Mas, oh Streetwarrior. Você está a contrapor com algo equivalente. Dito de outra forma está a bater em si próprio.

Claro que ir a uma mesquita dá trolha e claro que a um comício do PCP dá trolha. São coisas equivalentes.

Streetwarrior disse...

Rio D´oiro

Não faça confusões...
Tal como não vai comigo há mesquita,eu também iria apreciar " ao largo " a minha revanche.

Antes que me cole qualquer rótulo, eu não me identifico nem á direita nem á esquerda,identifico-me com a justiça e as medidas certas que devem ser aplicadas nas certas ocasiões.

A minha politica não tem cor,tem valores.
Podem não se encaixar nos seus horizontes,mas isso é outra conversa.

P.s -Agora um segredinho só para nós que ninguém está a ouvir...( muito baixinho )Eu não uso nenhum piercing mas também não tenho nada contra quem tem.

LOL

Nuno

RioD'oiro disse...

Streetwarrior:

"Não faça confusões...
Tal como não vai comigo há mesquita,eu também iria apreciar " ao largo " a minha revanche."

Não percebo esta frase, muito embora possa ser problema meu.

"Antes que me cole qualquer rótulo, eu não me identifico nem á direita nem á esquerda,identifico-me com a justiça e as medidas certas que devem ser aplicadas nas certas ocasiões."

O que você pensa de si próprio só a si diz respeito.

"A minha politica não tem cor,tem valores."

Sim. Tá bem.

Havia um gajo que era capaz de fazer tudo. Um dia um amigo dele estava a magicar o que havia de lhe pedir para o atrapalhar quando foi acometido de um peido. E não perdeu tempo e pediu ao habilidoso: "pinta-o de verde".

Tá a ver o que se perde por você achar que a sua política não tem cor.

"Podem não se encaixar nos seus horizontes,mas isso é outra conversa."

Já lhe disse que o que você acha de si próprio é consigo.

"P.s -Agora um segredinho só para nós que ninguém está a ouvir...( muito baixinho )Eu não uso nenhum piercing mas também não tenho nada contra quem tem."

Ainda bem, porque pode então experimentar este:

http://images03.olx.pt/ui/8/80/88/1279983930_106667288_1-Fotos-de--Algemas-de-Bola-de-Ferro-Medieval-para-Pe-1279983930.jpg

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Streetwarrior disse...

Rio D Óiro disse..

"" Ainda bem, porque pode então experimentar este:

http://images03.olx.pt/ui/8/80/88/1279983930_106667288_1-Fotos-de--Algemas-de-Bola-de-Ferro-Medieval-para-Pe-1279983930.jpg ""

È a confiança ?? LOL

RioD'oiro disse...

De confiança. Depois de o colocar ao pescoço pode atirar-se ao rio. Mas verifique primeiro se o rio é fundo, para não bater com a cabeça no fundo.