
No segundo caso, o défice é da responsabilidade do conjunto de decisões individuais e cujas consequências todos sofrerão mais ou menos na medida em que forem responsáveis. Mas há uma nuance, se houve uma corrida desmesurada ao crédito isso não se deveu só há ilusão de dinheiro fácil. Há também, no mundo ocidental, um dedinho de quem decide, por razões de "política económica", qual deve ser o preço do dinheiro. Estou a falar das instituições estatais que são os Bancos Centrais europeu e americano (em rigor são federais mas vai dar ao mesmo). Eles acharam que ter dinheiro barato é que era bom, segredo infalível para um boom económico. Esqueceram-se da lei da oferta e procura. Quando se mantém um preço artificialmente baixo isso resulta, mais cedo ou mais tarde, em escassez. Quando os Bancos Centrais se dão conta da falta de liquidez nos mercados financeiros tentam fazer o que o mercado teria feito uns bons anos antes: subir as taxas de juro para travar a procura (empréstimos) e estimular a oferta de moeda (depósitos). Como os que pediram emprestado responderam a um estímulo que nada tinha a ver com a realidade, quando esta bateu à porta já não havia nada a fazer. Incumprimentos, casas hipotecadas inundam o mercado, o preço das casas cai, fundos imobiliários e derivados colapsam. Não foi a ganância da finança (parece que oiço frei Louçã...). Dizer isso é como culpar a gravidade pela queda de um avião. Foi de quem achou que a lei da oferta e procura só interessa quando convém. Quem tem a ilusão de ser a afável mão no leme das nossas vidas. O défice externo também está ligado ao dinheiro artificialmente barato. E só se vai resolver quando conseguirmos produzir o suficiente (crescimento do PIB) para cumprir as nossas obrigações financeiras e sustentar o estilo de vida que escolhermos. Mas isso até a minha rural avózinha percebe.
Há depois um "probleminha" com as regras de funcionamento do sistema financeiro de crédito, mas não vos vou assustar já com isso.
Mas há pelo menos mais um défice que a opinião pública parece estar a esquecer. O défice tarifário (que já vai quase em 2 mil milhões de euros). Em Portugal (e em Espanha também) a regulação é uma ficção. A ERSE é independente mas desde que faça a vontade do poder político. Sempre a realidade não convém aos agentes políticos eles logo tratam de usar a sua golden share. O preço dos combustíveis sobe a nível mundial? Há energias renováveis a preços astronómicos? há indmenizações a ex-monopolistas-porque-deixou-de-haver-monopólio-no-papel-mas-têm-de-continuar-a-receber-como-se-ainda-o-fossem (CMEC)? Não há problema! O Estado-papá dá um puxão de orelhas à ERSE e não deixa o preço subir... mas mantém as renováveis e os CMEC que são bem bonitos. Mete-se tudo num saco e quem vier a seguir que pague a conta. Este défice tarifário também devia ir para as contas do que ainda nos espera.
A questão não é saber se há vida para além do défice. É saber se haverá défice até ao fim da vida.
