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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Conseguiremos viver para além do fim dos défices?

Finalmente se percebeu (quem quis perceber, claro) a enormidade dita por Jorge Sampaio por alturas da legislatura de Durão Barroso. Dizia ele que "Há vida para além do défice!". Hoje parece-me claro que isso denota tanto sentido de responsabilidade e sensibilidade quanto dizer para um doente oncológico que: "Há vida para além do cancro! Vamos mas é lá para fora mandar uma cigarrada."

Muito se tem falado de défices ultimamente mas políticos, media e comentadores insistem, embora com excepções (Campos e Cunha, és o meu herói!) em não distinguir entre o défice público do défice externo, que são problemas com diferentes naturezas. O primeiro deve-se ao facto de o Estado gastar muito mais do que arrecada e do que consegue pedir emprestado. O segundo acontece porque a economia consome e importa bens e serviços mais do que exporta e isso só se consegue fazer endividando-nos. Mas há duas diferenças óbvias o Estado gasta dinheiro que não lhe pertence, que não resultou do seu esforço e produtividade. Gasta o nosso dinheiro com a promessa de nos fornecer bens e serviços mas nem nós temos a possibilidade de dizer que não estamos interessados nem de instruir o Estado para onde devem ser canalizados os saques a que somos sujeitos. Se ao Estado lhe apetecer ir às putas em vez de gastar onde prometeu, resta-nos continuar a nossa vidinha que isso não é nada connosco.

No segundo caso, o défice é da responsabilidade do conjunto de decisões individuais e cujas consequências todos sofrerão mais ou menos na medida em que forem responsáveis. Mas há uma nuance, se houve uma corrida desmesurada ao crédito isso não se deveu só há ilusão de dinheiro fácil. Há também, no mundo ocidental, um dedinho de quem decide, por razões de "política económica", qual deve ser o preço do dinheiro. Estou a falar das instituições estatais que são os Bancos Centrais europeu e americano (em rigor são federais mas vai dar ao mesmo). Eles acharam que ter dinheiro barato é que era bom, segredo infalível para um boom económico. Esqueceram-se da lei da oferta e procura. Quando se mantém um preço artificialmente baixo isso resulta, mais cedo ou mais tarde, em escassez. Quando os Bancos Centrais se dão conta da falta de liquidez nos mercados financeiros tentam fazer o que o mercado teria feito uns bons anos antes: subir as taxas de juro para travar a procura (empréstimos) e estimular a oferta de moeda (depósitos). Como os que pediram emprestado responderam a um estímulo que nada tinha a ver com a realidade, quando esta bateu à porta já não havia nada a fazer. Incumprimentos, casas hipotecadas inundam o mercado, o preço das casas cai, fundos imobiliários e derivados colapsam. Não foi a ganância da finança (parece que oiço frei Louçã...). Dizer isso é como culpar a gravidade pela queda de um avião. Foi de quem achou que a lei da oferta e procura só interessa quando convém. Quem tem a ilusão de ser a afável mão no leme das nossas vidas. O défice externo também está ligado ao dinheiro artificialmente barato. E só se vai resolver quando conseguirmos produzir o suficiente (crescimento do PIB) para cumprir as nossas obrigações financeiras e sustentar o estilo de vida que escolhermos. Mas isso até a minha rural avózinha percebe.

Há depois um "probleminha" com as regras de funcionamento do sistema financeiro de crédito, mas não vos vou assustar já com isso.

Mas há pelo menos mais um défice que a opinião pública parece estar a esquecer. O défice tarifário (que já vai quase em 2 mil milhões de euros). Em Portugal (e em Espanha também) a regulação é uma ficção. A ERSE é independente mas desde que faça a vontade do poder político. Sempre a realidade não convém aos agentes políticos eles logo tratam de usar a sua golden share. O preço dos combustíveis sobe a nível mundial? Há energias renováveis a preços astronómicos? há indmenizações a ex-monopolistas-porque-deixou-de-haver-monopólio-no-papel-mas-têm-de-continuar-a-receber-como-se-ainda-o-fossem (CMEC)? Não há problema! O Estado-papá dá um puxão de orelhas à ERSE e não deixa o preço subir... mas mantém as renováveis e os CMEC que são bem bonitos. Mete-se tudo num saco e quem vier a seguir que pague a conta. Este défice tarifário também devia ir para as contas do que ainda nos espera.

A questão não é saber se há vida para além do défice. É saber se haverá défice até ao fim da vida.

2 comentários:

LGF Lizard disse...

Falam o mesmo que Hitler fez. Um multa de mil milhões aos judeus.

Anónimo disse...

Sempre considerei o Sampaio (em quem nunca votei), um perfeito pateta alegre.
Mas, a única coisa que me lembro que tenha dito e que valesse a pena ter dito é exactamente esta, "há vida para além do deficit"!
Estamos na situação que estamos, de joelhos perante o BCE como o António Borges disse porque nos colocamos de joelhos ao aderir ao Euro e a todos os disparates que a União Europeia é useira e vezeira!
Aparentemente vivemos numa era pós-democrática, numa era em que a democracia se encontra limitada por uma data de barreiras, barreiras estas que nos são impostas por estruturas, leis e regulamentos que nos asfixiam.
Isto, a continuar assim, acabará numa imensa explosão social, imensa e temo que sangrenta.