Tenho andado a seguir obsessivamente, na RTP 1, a série “Depois do Adeus”, que decorre no tempo do PREC e se foca numa família de retornados.
Reconheço a retórica, as situações, as imagens, e até me reconheço a mim próprio, no adolescente retornado.
Eu era aquele rapaz. Tinha aquela idade, sentia aquela raiva, aquela revolta, o bullying e a hostilidade permanente.
Vivi o drama de não ter onde morar, de a minha mãe não ter emprego, de estar em casa de familiares, de esperar as malas que nunca vieram, das filas no IARN, de ver tudo negro à minha frente, de o ano escolar estar já no 2º período e eu em casa, sem conseguir sequer provar que tinha feito em Malange, o 4º ano do liceu.
Felizmente a minha família acolheu-me bem e nunca me fez sentir a mais.
Felizmente sempre fui mais de bater do que de levar e algumas refregas bem sucedidas acabaram rapidamente com as tentativas de bullying.
Felizmente em algumas encruzilhadas da vida a sorte e a boa vontade de algumas pessoas, puseram-me no caminho certo.
Somos (também) o que vivemos.
O meu anticomunismo (primário, secundário, terciário, wathever...) busca raízes nesse tempo. Muito antes de ser racional e cerebral, foi epidérmico. Começou por assentar na percepção vívida e vivida de que aquela gente, ao serviço de utopias delirantes, não hesitou um segundo em sacrificar-me, e a centenas de milhares como eu, no altar da sua megalomania.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
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