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domingo, 26 de abril de 2009

Da velha medição de crâneos no pós-modernismo


A revelação Susan Boyle levanta outra revelação que não podem passar em branco.

Muito meio de comunicação social, muito meio “artístico”, em particular do bom “povo” de esquerda, relaciona a veia artística de senhora à improbabilidade de qualidade no seu desempenho face à expectativa em função das ‘medidas’ que lhe tiram.

Regra geral relaciona-se a forma dela vestir, de se conduzir, a forma como se (ou não) penteia, a linha ‘parola’, ‘antiquada’, 'pré-moderna', enfim, relaciona-se o visual à improbabilidade dela ser ou não capaz de fazer o que faz.

Se a senhora tivesse argolas nos lábios, no umbigo, na língua, na vulva, subiria na tabela de probabilidade. Se usasse calças descaídas deixando brotar banhas acompanhadas de tatuagens, preencheria requisitos mais que suficientes para fazer parte dos eleitos.

Hoje, porque ela teria mudado de visual, a comunicação social anunciava, em tom de vitória, a adesão da senhora às teorias que fundamentaram o espanto. Talvez. Mas com ou sem a colaboração dela, a xenofobia anda à solta.

19 comentários:

Ricardo Ferreira disse...

Não percebi. O que é que a esquerda tem a ver com isto?

É a esquerda que diz que a senhora não saberia cantar porque é feia como um cacho???

A imaginação anda animada por aqui

EJSantos disse...

Gostei de ver o video no youtube. Quando a parola da aldeia entrou no palco toda a gente se riu. Quando abriu a boca para cantar, os verdadeiros parolos calaram-se e aplaudiram.
Caro Range-o Dente, não daria um enfase politico a este episodio, mas focou bem a parte do preconceito de que foi vitima esta senhora. Que sim, é feia e tem aspecto de simploria, mas tem uma voz excepcional.
Adorei.

Anónimo disse...

Muito bem, quanto á xenofobia dos "feios porcos e maus", nesta sociedade "ecologica, ultra saudável politicamente correcta e toda bonitinha".
Ao ver os videos da senhora em palco na primeira impressão foi o que mais me prendeu a atenção. As reacções tanto do publico xenófobo como até do juri são evidentes e analisadas acabam por ser bem tristes.
Só depois me dei ao trabalho de ouvir a sua espantosa voz e ver como apesar disso a senhora se borrifou para a "cambada de racistas" e foi ela mesmo em palco.

Carmo da Rosa disse...

Sim senhor, a revelação Susan Boyle revela realmente algo que Range-o-Dente não quis deixar em branco – e fez muito bem, só não estou de acordo com a conotação política da revelação. A Susan Boyle é aqui, na minha opinião, e como dizem os franceses, arrastada pelos cabelos para dentro da arena política!

Quem é que não se lembra dos cantores populares portugueses no tempo da outra senhora: Simone Oliveira, António Calvário, Artur Garcia, Madalena Iglésias et cetera. Tudo gente bonita segundo os cânones da época!

Certamente que do Minho ao Algarve outros haveria com (ainda) melhores vozes do que os acima citados, mas que fazer, as pessoas davam (e continuam a dar) muita importância ao visual, e as editoras de discos sabem que a aparência física é meio-caminho andado, é uma garantia de venda. Nada de racismos nem de política, apenas pragmatismo neo-liberal.

Neste capítulo nada mudou. Quando uma parte do público começou a enjoar de ver tanta gente bonita mas insossa, foram acrescentados outros factores que fazem aumentar as vendas de DVDês: escândalos na vida privada, uso de droga, cadastro criminal (gangsta rap), casamentos com jogadores de futebol famosos et cetera.

Na realidade deve-se ao movimento hippy - que quis quebrar com as regras demasiado rígidas dos anos 50 – e aos movimentos políticos de esquerda - com a mania de romantizar o povo - um visual diferente, em que a beleza física e a qualidade da voz têm agora que competir com o conteúdo da mensagem, ficando muitas das vezes a perder...

Só os verdadeiramente grandes escapam a estas mariquices passageiras: Jacques Brel, Georges Brassens, Suzana Rinaldi, Amália, Bob Dylan et cetera.

RioDoiro disse...

CdR:

"A Susan Boyle é aqui, na minha opinião, e como dizem os franceses, arrastada pelos cabelos para dentro da arena política! "

É verdade. Pelo menos por enquanto.

RioDoiro disse...

Mas, CdR, há um pormenor que não estou certo ter ficado claro.

As consequências da reacção inicial do público (em função da "figura" dela) e em função das suas qualidades vocais foi o que catapultou a senhora.

Mas continua-se a referir o caso adicionando os desenvolvimentos relativos à forma como a senhora se veste e penteia.

Pode, de facto, ser apenas a continuação da reacção primária xenófoba, mas pode, alternativamente, tratar-se de uma espécie de ajuste de contas. Como quem diz: afinal tínhamos razão, tanto mais que ela agora se juntou aos bons.

o holandês voador disse...

Parece que há para aqui algumas confusões:
1) Nem a Susan Boyle era propriamente uma estreante, nem nenhuma candidata àquele tipo de programas chega ao palco principal sem passar por uma audição prévia. Ou seja, o "espanto" do juri é forjado. Alguns deles já saberiam que ela cantava bem. Fizeram apenas o papel de surpreendidos para mostar ao público que até as "feias" tinham uma oportunidade (chama-se a isto discriminação positiva).
2) Falar de racismo ou de xenofia é errado. A Susan Boyle não é de um grupo étnico diferente. Ela até é ariana. Quanto muito, de outra nacionalidade. Isso não tem nada a ver com racismo ou xenofobia, mas com discriminação que é uma coisa diferente.
3) Ela canta bem, mas a cantar bem há milhares de pessoas. O que é invulgar é a sua aparência, não a sua voz. Por isso se tornou um fenómeno de moda. Se é passageiro ou não, o tempo o dirá...

RioDoiro disse...

"Fizeram apenas o papel de surpreendidos para mostar ao público que até as "feias" tinham uma oportunidade (chama-se a isto discriminação positiva)."

Demonstraram comportamente xenófobo. Caso contrário teriam percebido que não fazia qualquer sentido mostrarem-se surpreendidos. Ao mostrarem-se surpreendidos demonstram ter por ferramenta de raciocínio a ligação entre "feias" e incompetentes.

Não é discriminação positiva, é discriminação negativa seguida de tentativa torpe de a tornar positiva.

"Falar de racismo ou de xenofia é errado."

Não é. Quando escrevi inicialmente o artigo tinha abordado a coisa pelo lado da homofobia. Percebi a certa altura que a diferença homofobia/xenofobia era marginal. De qualquer forma, a xenofobia é igualmente imbecil quer se trate de outra "raça" quer de "feias".

Discriminação é diferente de xemofobia. Hummm. Já calculava.A primeira é Bushista, a segunda politicamente correcta nas circunstâncias apropriadas ....

"O que é invulgar é a sua aparência,"

Foi então aplaudida pela aparência ... Hmmm.

.

Carmo da Rosa disse...

range-o-dente: ”Mas continua-se a referir o caso adicionando os desenvolvimentos relativos à forma como a senhora se veste e penteia.”É normalíssimo que haja comentários à forma como a senhora se veste e se penteia! Ela está completamente a leste da 'scene', é uma ave rara, mas mesmo assim foi-lhe reconhecida talento, por isso, sinceramente, não vejo o que é que isto tenha a ver com racismo – como diz o holandês voador ela é britânica – nem sequer com discriminação...

Neste tipo de concursos, sobretudo na Inglaterra, mas também na Holanda, aparecem de vez em quando exemplares exóticos, atípicos do estilo da Susan Boyle, a única diferença é que ela tem uma voz extraordinária, e por isso ganhou o concurso. Aliás, creio lembrar-me que há uns atrás aconteceu o mesmo em Espanha, uma gorducha sem um visual prá frentex, mas com uma voz fantástica, que também ganhou um concurso do género.

Business as usual...

miguel disse...

Novidade é o facto de ser mulher porque o paul potts já havia mostrado que feio tambem canta.

Basicamente isto é so soundb~te

RioDoiro disse...

CdR:
Ela está completamente a leste da 'scene', é uma ave rara, mas mesmo assim foi-lhe reconhecida talento.

Ora bem, ter-lhe-há sido concedido o prémio por por ser uma ave rara?

Mas apesar disso foi-lhe reconhecido talento?

CdR, se a senhora tivesse uma dúzia de piercings a imagem dela não correria mundo como correu.

Caro CrR, houve um preconceito bem marcado e os mecanismos do preconceito foram exactamente os mesmos de um de cariz xenófobo, e houve um "emendar" que ainda cheirou mais a xenofobia. Não só houve como continua a haver.

Acha que se ela fosse preta, britânica, não haveria clamores de xenofobia?

RioDoiro disse...

CdR:
"Ela está completamente a leste da 'scene', é uma ave rara, mas mesmo assim foi-lhe reconhecida talento."

... faltaram as aspas.

RioDoiro disse...

CdR

"Quem é que não se lembra dos cantores populares portugueses no tempo da outra senhora: Simone Oliveira, António Calvário, Artur Garcia, Madalena Iglésias et cetera. Tudo gente bonita segundo os cânones da época!"

Só uma achecazita ...

Só anos depois de ouvir essa gente lhes pude enxergar a fronha. Nessa altura, para os meus lados, ouvia música apenas quem tinha telefonia e a pilhas e se as pudesse comprar (a telefonia e as pilhas). Televisão?

Podia ser gente bonita, mas, em primeiro lugar, cantavam bem.

E não era assim no país quase todo?

Será abusivo dizer que hoje vale mais a figura que a goela?

.

Anónimo disse...

Caro Ricardo Ferreira,
Quando a guerra fria estava ao rubro, os cartazes da esquerda com figuras humanas, nunca mostraram pessoas em cadeira de rodas, ou velhos de bengala...
Numa versão mais doméstica: a seguir ao 25 de Abril os murais que por aí apareceram idem idem, aspas aspas...
E ainda hoje, para a esquerda que se revê nesse regimes, na China e na Coreia do Norte também não aparecem velhs, feios e deficientes (de qualquer espécie) nos desfiles... Lembra-se das razões que levaram ao play back da menina nos Jogos Olímpicos?
Não tem mal a esquerda ter um ideal de beleza humana. Curiosamente os nazis também a tinham...

Carmo da Rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carmo da Rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carmo da Rosa disse...
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Carmo da Rosa disse...

@ Range:”Ora bem, ter-lhe-há sido concedido o prémio por por ser uma ave rara?”

Caro Range, não faço a mínima ideia. Mas consigo imaginar que uma bela voz aliada a um comportamento e visual completamente a leste pode ajudar à criação de um mito e, ‘last but not least’, à venda de discos e do programa...

@ Range: ”se a senhora tivesse uma dúzia de piercings a imagem dela não correria mundo como correu.”

Talvez. O insólito, o exótico é interessante... Os pearcings estão-se a tornar pirosos, e ainda bem!

@ Range: ”Acha que se ela fosse preta, britânica, não haveria clamores de xenofobia?”

Clamores de xenofobia da parte de quem?
E porque razão é que a senhora devia ser preta, não chega assim?

@ Range:”Podia ser gente bonita, mas, em primeiro lugar, cantavam bem.”

Sim, não discordo que cantassem bem, mas o que eu digo é que certamente existiria umas (ou uns) Susan Boyles espalhados entre o Minho e o Algarve com mais talento do que os nomes que eu citei, mas como não correspondiam à imagem exigida pelo público nacional da altura, ficaram na terra nas suas tarefas habituais...

@ Range:”Será abusivo dizer que hoje vale mais a figura que a goela?”

Na música ligeira dão mais importância à figura do que à goela, mas no
rock já não é bem assim... apesar de também haver umas gajas bem boas.

PS. Os códigos HTML estão a funcionar mal, retiram espaços!!!

RioDoiro disse...

CdR:

"completamente a leste pode ajudar à criação de um mito e, ‘last but not least’, à venda de discos e do programa..."

Por isso éla se terá, segundo as notícias, desviado para as bandas do 'mainstream'. Para vender menos.

"Os pearcings estão-se a tornar pirosos, e ainda bem!"

Já tremo de pensar no que se lhe seguirá.

"E porque razão é que a senhora devia ser preta, não chega assim?"

Todos os dias me cruzo com umas quantas pretas de fazer parar o trânsito nas ruas e parar nas veias.

"não correspondiam à imagem exigida pelo público nacional da altura,"

Na altura, como até bastante depois do 25 de Abril, havia alguma selecção por critérios de qualidade exercido pelas rádios nacionis e TV. A TV tinha muito pouca cobertura e havia poucos receptores. Os UHFs, os Zé Cabras, etc, não passavam. A vasta maioria dos que hoje são 'artistas' são substancialmente pior que então.

O público, à altura, exigia pouco. Já agora, muitos dos bons músicos (de goela ou não) de antes do 25 vde Abril, passaram as passas do Algarve porque foram quase sistematicamente conotados com o fasssismo. Imagine por quem.

Quando a Amália morreu e se falou na história do Panteão Nacional, os índios do PC desataram aos gritos acusando-a de ser fasssistoide. Foi preciso vir o Carlos Carvalhas esclarecer que ela antes de 25 de Abril tinha ajudado o PC para se calarem.

"mas no rock já não é bem assim..."

Era. Agora há equipamento 'afinador' de voz.