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terça-feira, 19 de março de 2013

Dos viciados em promessas e boas notícias ....

Helena Matos no Diário Económico.
Qual seria o futuro de um político que se apresentasse ao eleitorado dizendo que vamos empobrecer, que vivemos numa zona do mundo em declínio e que o grande desafio que temos pela frente é conseguir gerir este momento sem perder os valores...

essenciais da nossa cultura, preservando o que se considera essencial e minorando o sofrimento? Na melhor das hipóteses seria político por um dia, aquele em que fizera tais afirmações.

Viciámo-nos em promessas e boas notícias. Já nem temos palavras para a realidade: as dívidas chamam-se investimento, o vandalismo passou a alegado incidente, deixou de se reprovar, simplesmente não se transita, a prostituição tornou-se trabalho sexual. Como é próprio das sociedades decadentes perdemos o sentido de Estado e vamo-nos atomizando em tribos: temos os "filhos dos bairros" para designar os jovens nascidos nuns bairros que nos foram anunciados como a solução mágica da vida dos seus pais e agora são uma espécie de mundo sem regras para quem ali vive; as comunidades africanas esmagadoramente compostas por pessoas que não nasceram em África mas a quem não sabemos se se pode chamar negro; as "pessoas LGBT" como se não fôssemos todos, pessoas.

As palavras tiveram de se adaptar à susceptibilidade das tribos e por isso o sexo passou a género e os pais estão a caminho de ser reduzidos a progenitores. Cada acto é mais ou menos grave consoante a tribo que afecta e por isso o direito transformou-se num sub produto da etno-sociologia: temos a violência doméstica, violência de género, crimes de colarinho branco, violência em meio escolar. Na passada semana uns portugueses foram esfaqueados na Alemanha mas como a agressão não caiu no âmbito do crime de ódio logo passou ao rol da insignificância.

O Estado que havia de tomar conta de nós do berço à cova - agora até às cinzas porque os cemitérios são uma coisa antiga que nos lembra que existe morte - tornou-se num monstro ávido de dinheiro que esbulha o possível e o impossível a uma população que o seu intervencionismo reduziu à anomia. Ninguém é responsável por nada mas apenas o resultado de uma política de apoio ou de um acto de discriminação. A própria demografia passou a ser confundida com os abonos de família.

Todos os dias mentimos e nos mentimos para tornarmos aceitável hoje o que ontem condenávamos: uma intervenção como a que agora foi feita no Chipre era dita impossível na UE, campeã tão campeã dos direitos que não há semana em que não legisle sobre o bem-estar das galinhas e dos porcos.
Pois o que era impossível tornou-se possível e a UE, essa estrutura tão democrática que não pode ser votada, continuará a impor os seus critérios de democracia às suiniculturas e às "questões de género" na composição dos conselhos de administração das empresas, enquanto os seus políticos garantem hoje que não é possível o que já sabem que vai acontecer amanhã.

Mas se alguém se pensa apresentar a votos dizendo isto não levará nem os votos da sua família. Se calhar nem o seu próprio voto. Porque nós somos como os amantes que no tango suplicam: "Ay/ abrázame esta noche/ aunque no tengas ganas/ prefiero que me mientas".

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