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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Breivik e a Noruega


Começo por dizer que já li uma parte importante do manifesto de Breivik e concordo com quase toda (discordo bastante da parte sobre o feminismo) a análise que faz, relativamente ao marxismo cultural e à ameaça islamista.
Quanto ao racional da sua acção, eu não seria capaz de fazer aquilo que ele fez, nem acho que tenha atingido algum objectivo pretendido, mas o racional existe, num país onde o terrorismo anti-judeu tem sido galardoado com prémios Nobel (Arafat) e cujo governo esquerdista mantém normais relações com grupos terroristas como o Hamas.
Breivik, como todos os noruegueses, está imbuído de uma cultura, omnipresente no seu país, segundo a qual o acto terrorista é aceitável, e até o meio ideal para passar uma mensagem.
Como se chegou a isto?

A Noruega é, desde há alguns anos, um dos piores inimigos de Israel. A elite política, cultural, académica e mediática destila um claríssimo ódio pelos israelitas e um mais camuflado (mas que por vezes aflora) ódio pelos judeus.

O seu MNE, Jonas Gahr Støre, conhecido por defender o multiculturalismo entre cristãos e muçulmanos (mas não entre estes e os judeus), tem-se encontrado amigavelmente com Khaled Mashaal, líder do Hamas. Há tempos prefaciou até um livro de dois médicos noruegueses da extrema-esquerda, (Mads Gilbert e Erik Fosse) que estiveram no Hospital de Shifa (Gaza), durante a operação Cast Lead, no qual acusam os judeus de terem lançado a operação expressamente para matar mulheres e crianças. No mesmo livro não existe uma única menção ao facto de o QG do Hamas estar justamente situado nos andares inferiores do hospital, facto que não podia passar desapercebido aos noruegueses.

O mesmo MNE que, ainda há menos de 1 ano, se passeou por Damasco, patrocinando uma exibição de cartoons anti-israelitas de um artista norueguês.

O racional de Breivik para o ataque a Utoya, era o de que na ilha funcionava um campo de doutrinação, uma espécie de Hitler Jugend, ou Mocidade Portuguesa, no qual crianças e adolescentes eram endoutrinados no marxismo cultural e no ódio aos judeus.
Desconheço se isso era verdade, mas é um facto conhecido que no dia anterior ao massacre, o próprio MNE falou sobre o "muro" israelita, o "bloqueio ilegal" a Gaza, a "flotilha da liberdade" e outras pérolas do palavreado com o qual a esquerda europeia traveste e expressa o velho ódio ao judeu.

Há tempos, o autor de um excelente livro de filosofia, o norueguês Jostein Gaarder (O Mundo de Sofia), demonstrava perfeitamente a dimensão desse ódio ao fazer publicar no maior periódico norueguês um artigo de opinião onde comparava Israel aos taliban e sentenciava que Israel não tinha o direito de existir. O artigo provocou um aceso debate,no qual praticamente toda a elite norueguesa se perfilou na defesa de Gaarder.
É também suspeitada a enorme dimensão do apoio financeiro norueguês a grupos palestinianos e a NGO que lutam pela deslegitimização do estado de Israel.

Em resumo, num país que premeia o terrorismo, que apoia, ajuda e se passeia de braço dado com organizações terroristas, não é de estranhar que o acto terrorista pareça o melhor caminho a um norueguês descontente com a orientação da sua elite política.
Pois se essa elite ouve os terroristas por eles cometerem o acto terrorista, ouvi-lo-ia a ele, agora também um terrorista, poderá ter pensado Breivik.

E aqui é que acho que se enganou. A elite esquerdista norueguesa não o ouvirá, irá suprimir a sua mensagem e irá tornar ainda mais dificil, senão impossível, o debate sobre os reais problemas escalpelizados por Breivik.

6 comentários:

RioD'oiro disse...

... mas a elite norueguesa vai ter que pensar muito nele. Tendo ele escrito o que escreveu, de cada vez que resolverem botar sentença vão ter que se acautelar para não seguirem os seus escritos.

Evidentemente que isto funciona para os dois lados, mas a sombra dele vai por muito tempo permanecer.

Unknown disse...

Penso que não. O acto foi, para além de terrorista em si mesmo, errado sob o ponto de vista racional.
Na Noruega, o debate sobre a ameaça islâmica e sobre as alianças entre as extremas direita, esquerda e Islão, está doravante impossibilitado. Quem disser algo que Breivik tenha dito, será acusado de terrorista.
Foi um erro e é lamentável que Breivik não se tenha apercebido de que ele mesmo já estava contaminado com a cultura que condena.

RioD'oiro disse...

Lidador:

"Quem disser algo que Breivik tenha dito, será acusado de terrorista"

Pois. Mas de uma forma ou de outra Breivik transformou-se num marco e parece-me que isso vai dar-lhes substancial volta ao miolo. Passarão a vida a pensar nele, quer para acusar alguém de o seguir quer para evitar segui-lo. Ao mais pequeno descuido rebentará o verniz.

Os mortos não terão implicação directa a médio ou longo prazo na sociedade. Mas o manifesto pairará como uma sombra.

É claro que a Noruega pode desviar-se ainda mais para as bandas do Hamas & Ca. Mas isso aumentará a tensão à volta da sombra do manifesto.

Unknown disse...

Sim, reconhece-se que no próximo atentado islamista, e na própria evolução da Noruega, muitos irão olhar para o que lá vem escrito. O livro é, nesse aspecto, quase profético. E, a meu ver, o dificil é que as coisas não aconteçam como Breivik as descreve.

Carmo da Rosa disse...

Lidador disse: "Na Noruega, o debate sobre a ameaça islâmica e sobre as alianças entre as extremas direita, esquerda e Islão, está doravante impossibilitado."

Precisamente, e nos países limítrofes há uma clara tentativa da esquerda (mas não só) para dificultar ou limitar o debate à pala dos mortos de Utoya...

Anónimo disse...

Só quem não conhece a realidade do pensamento em que vive a sociedade norueguesa pode ficar surpreendido pelo conteúdo do manifesto deste norueguês.

Espero que algo distinto surja no pensar e actuar deste país, mas provavelmente estou a esperar demais.