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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Dez Anos Depois da Morte de Savimbi




Muitos de nós têm presente que, durante anos, a cleptocracia, a corrupção generalizada e o abuso do poder em Angola eram explicadas por um nome maldito: Jonas Savimbi; pois passam hoje 10 anos sobre a sua morte.


Em Fevereiro de 2002 Savimbi estava na província do Moxico, junto à fronteira com a Zâmbia, acompanhado por cerca de 300 guerrilheiros da UNITA divididos em três colunas sem recurso a comunicações rádio para evitar a deteção. O grupo especial do exército angolano que buscava Savimbi havia meses tinha finalmente informações exatas sobre a sua posição. No dia 22 de Fevereiro a coluna em que seguia Savimbi composta por cerca de 30 homens foi atacada.

O Estado-Maior do exército angolano declarou que Savimbi foi morto em combate, tal como os restantes guerrilheiros que o acompanhavam. Não é certo que tenha sido assim, mas talvez esta versão seja a que faz mais justiça à memória do irredento Savimbi, o “Mais Velho”, expressão honrosa que os ovimbundos lhe reservavam.


Com o fim da URSS, as ditaduras pró-soviéticas africanas imitam de modo próprio a transição do poder na Rússia. Em Angola a similitude é mais forte dada a existência de importantes jazidas petrolíferas em exploração e por explorar, num paralelo com a estruturação do poder em torno dos negócios do gás na nova Rússia. O MPLA mete o marxismo-leninismo no caixote do lixo da história; a distribuição de petrodólares pelas elites do regime passou a ser feita sem necessidade de explicações revolucionárias.

Vencida a ameaça soviética, a UNITA deixa de ter interesse militar para os EUA. Savimbi é convidado pelos membros da troika de observadores para Angola – EUA, Portugal e Rússia – a abandonar a luta armada contra o MPLA e a aceitar participar na suposta abertura democrática do regime. O convite a Savimbi era essencialmente a oferta de um lugar à mesa farta da pilhagem da riqueza do país. Todos, sem excepção, sabiam que se tratava de mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma. Uma eventual recusa da UNITA em aceitar o status quo teria consequências muito sérias dentro e fora de Angola.

Os temores do regime e dos interesses económicos internacionais que ele alimentava confirmaram-se. Desde os Acordos de Bicesse de 2001 até às eleições de Setembro de 2002, foi sendo cada dia mais evidente que Savimbi não iria aceitar o lugar que lhe tinham reservado no redesenho da cleptocracia angolana. Bem pelo contrário, Savimbi usava os comícios eleitorais e abertura dos meios de comunicação para denunciar e pôr em causa a riqueza e o fausto da elite do MPLA em contraste com a vida miserável da generalidade da população. Deixou claro que tal situação só era possível porque as petrolíferas negociavam com um governo corrupto e que a comunidade internacional fechava os olhos à situação.

É esta postura que definitivamente diferenciou Savimbi no panorama africano; nenhum outro líder guerrilheiro abdicou das benesses que o exercício do poder traz para prosseguir uma guerra de libertação.

A partir daqui Savimbi foi um homem condenado. A “abertura” democrática culmina com a fraude eleitoral de 29 e 30 de Setembro de 2002 sob o respaldo da ONU em que o MPLA foi declarado vencedor. Na sequência da recusa da UNITA em aceitar os resultados eleitorais, em 31 de Outubro, um mês depois das eleições, começa o Massacre de Luanda que se vai prolongar por Novembro. Na capital do país, os quadros políticos da UNITA são assassinados, a guarnição da UNITA é dizimada, os corpos dos soldados são amontoados e queimados nas ruas, cerca de 50 mil angolanos oriundos das etnias do sul de Angola que viviam em Luanda são chacinados. Savimbi escapa porque não está na cidade.

Este crime ocorreu diante dos olhos dos representantes da ONU que, se nada podiam fazer para o evitar, deveriam ter feito tudo para expor os acontecimentos terríveis e apontar responsáveis. O Governo português, envolvido formalmente na procura de uma solução democrática para Angola, nunca denunciou, nem procurou explicações, nem lamentou o Massacre de Luanda. Como é fácil induzir, o primeiro-ministro português à data era o inevitável Durão Barroso.


Após o Massacre de Luanda, a UNITA regressou à guerrilha, agora decapitada dos seus dirigentes políticos mais qualificados. Em 1993 a ONU decretou um embargo à venda de armas à UNITA. O poder económico do Governo do MPLA crescia e contava com os serviços dos russos que pilotavam os bombardeiros e dos mercenários portugueses e sul-africanos que poucos anos antes tinham estado do outro lado da barricada e conheciam bem o terreno e as forças da UNITA. Os operacionais da UNITA que desertavam de uma guerrilha sem possibilidade de vencer e ingressavam no Exército angolano foram também um contributo para o desequilíbrio de forças.

A UNITA deixou de ser uma ameaça militar mas continuou a fazer-se ouvir através das delegações internacionais. Para resolver esta questão, a ONU decretou novos embargos desta vez ao movimento de fundos dos representantes externos da UNITA. Este golpe na rede diplomática da organização debilitou definitivamente a capacidade de a UNITA denunciar a situação interna angolana.

Entre o regresso às matas e a morte de Savimbi passaram dez anos de lento e inexorável declínio da resistência armada angolana contra a ditadura e a plutocracia do MPLA. Ainda houve tempo para mais negociações, incluindo os protocolos de Lusaka. Por natureza ou teimosia, é possível que Savimbi não fosse capaz de distinguir derrota de rendição.

Tal como no caso do silêncio sobre o Massacre de Luanda, a ONU nunca condenou o Governo angolano pela tortura e bombardeamento indiscriminado de civis na zona de influência da UNITA, o que incluiu o uso de armas químicas.


Após a morte de Savimbi terminou o pouco que restava da guerra civil em Angola. A incorporação dos elementos históricos da UNITA na vida política angolana e acantonamento dos guerrilheiros representaram uma atitude de reconciliação do regime globalmente bem sucedida.

Passados dez anos sobre a morte de Savimbi o poder continua a ser detido por uma elite corrupta e cleptocrática estruturada em torno José Eduardo dos Santos que exerce o cargo de Presidente há 33 (trinta e três) anos. O resultado das únicas eleições entretanto realizadas (2008) assemelha-se a um “remake” de outros totalitarismos: o partido do Governo ganhou com 80% dos votos.

Mas nem tudo ficou igual, alguma coisa mudou; nos meios de comunicação social internacionais, sobretudo nos portugueses, deixou de haver bode expiatório e relativismo moral para explicar a cleptocracia, a corrupção e a miséria generalizada em Angola, tão ou mais gritantes hoje do que antes da morte de Savimbi.


Se algum dia houver Liberdade em Angola, Savimbi terá uma estátua em Luanda.

5 comentários:

Streetwarrior disse...

Entretanto, a cleptoccracia Angolana, vai investindo os Petrodollares em Portugal, os que denunciam algo são afastados e todos continuam a assobiar para o lado como se tudo tivesse bem.
Pobres Angolanos, muito caminho ainda têm pela frente.
Os Filhos de J.E.S serão os Próximos embaixadores da Democracia Angolana.

João Pereira da Silva disse...

Apresentar Savimbi como um herói é desconhecer o homem que foi e o que significou para Angola. O seu desaparecimento foi o que sucedeu de melhor para Angola nos últimos 20 anos.

Carmo da Rosa disse...

Streetwarrior disse: ”a cleptoccracia Angolana, vai investindo os Petrodollares em Portugal”

E que mal há nisso? Deviam investir em Espanha?

Streetwarrior disse: ”Pobres Angolanos, muito caminho ainda têm pela frente.”

Mesmo muito caminho, com ou sem petróleo, com ou sem investimentos…


Paulo Porto,

Não me diga que os angolanos também tinham um Nelson Mandela mas mataram-no! Isto é uma tragédia bem cristã: “pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem…”

Paulo Porto disse...

@CDR
Não, Carmo, só lhe digo mesmo o que escrevi no post.

Streetwarrior disse...

Se deveriam investir em Espanha...não sei!
agora o que sei, é que tal como a dos Chineses, os Angolanos (A cleptocracia) não são lá muito democratas.
Ao que parece, já tombaram ai uns que por colocarem em causa coisas que se passam em Angola e provavelmente a Origem do Dinheiro dos investimentos ( BCP etc ) já foram encostados á Boxe.
Ora como o Vil metal rapidamente se torna Lei, não será muito dificil perceber a democracia e seu tratamento nas instituições onde os mesmos mandarem.
Mas com os Islamicos...o Carmo levanta objecções porque os mesmos destroem as democracias onde metem os pés com as suas Fatwas, com o capital Angolano, não será necessário fatwas...O Vil metal é senhor!sestrof