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terça-feira, 11 de junho de 2013

Alberto Gonçalves dixit...





... aqui:

“Rigor mortis”

A nossa imprensa noticiou o homicídio, em Paris, de um "militante de extrema-esquerda" às mãos de um bando de "extrema-direita e neonazi". Os pormenores lexicais são todo um programa. Repare-se, para começar, que o jovem assassinado não teve direito a epíteto de "neoestalinista", "neomaoista" ou "neo-albanês": identificá-lo apenas como pertencente à "extrema-esquerda" basta e não compromete a inocência. Depois, note-se que os assassinos não mereceram a palavrinha "alegados", que costuma acompanhar casos de violência sempre que a violência é perpetrada por certos grupos. Por fim, apesar de tudo, sublinhe-se a especificidade das classificações, inexistente quando os criminosos partilham outras crenças, por regra omitidas nas notícias que tratam de outras vítimas, pelos vistos menos respeitáveis, e outras mortes, evidentemente menos interessantes.




(imagem obtida aqui)


O refúgio do liberalismo em Portugal

Há muito tempo que não vejo jogos de futebol. Há pouco que comecei a ver com frequência debates televisivos sobre futebol, do Trio de Ataque ao Prolongamento, de O Dia Seguinte ao Mais Futebol. São, como se diz que Coimbra foi, uma lição. Desde logo, sobre a capacidade humana de repetir oito a doze vezes por minuto a palavra "estrutura" enquanto sinónimo de direcção, organização ou hierarquia. Porém, o vago marxismo lexical termina aí: os debates principalmente revelam hordas de liberais, "neo" ou "ultra", que, para nosso azar, não existem nas demais dimensões do país.

No mundo dos comentadores da bola, as ideias dominantes que determinaram a corrente e desgraçada situação pátria encontram-se viradas do avesso. Lá, ninguém hesita em defender que o treinador X ou o jogador Z acabem sumariamente demitidos por incompetência. Ninguém estranha que os salários, mesmo que desmesurados, sejam proporcionais ao mérito. Ninguém culpa os ricos. Ninguém despreza a necessidade de exigência. Ninguém deixa de louvar os clubes que se governam com orçamentos equilibrados e minúsculos. Ninguém apoia a irresponsabilidade. Ninguém se lembra de incentivar o recurso ao crédito para investimentos ruinosos. Ninguém percebe as equipas com plantéis excedentários. Ninguém propõe a imposição da igualdade em detrimento da liberdade. Ninguém atribui às vitórias da Alemanha as causas da penúria indígena. Ninguém legitima a promoção da violência dentro e fora do campo. Ninguém abomina a concorrência. Etc.


Para alguns, entre os quais me incluo, o futebol pode não passar de um aborrecimento de hora e meia (mais uns minutos no caso do Benfica). Já a conversa em redor do futebol, à primeira e segunda vistas um aborrecimento maior, é, quando esmiuçada com detalhe, não só uma lição, insisto, mas um refúgio e um consolo perante o socialismo que contamina o resto da sociedade. O futebol não é socialista. Se não me obrigar a vê-lo, que Deus o proteja.




Antes a morte



Operático como de costume, Freitas do Amaral irrompeu a explicar que a crise vigente só é comparável à de 1383-85 e ao jugo Filipino, dado que está em causa a independência nacional. É lá com ele, que culpa a política alemã pelas agruras internas, além, claro, do Governo actual. O prof. Freitas não culpa qualquer governo anterior, incluindo aquele a que emprestou a portentosa lucidez e que, por acaso, apressou a descida de Portugal aos abismos como nenhum outro. Não admira. Após uma ausência de que ninguém dera conta, o prof. Freitas regressou recentemente à emissão regular do tipo de palpites que definem a sua natureza, talvez com esperança de se tornar "presidenciável" a médio prazo. Eu, que já vi de tudo, não digo nada, excepto que seria preferível perder a independência entretanto.

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