It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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quinta-feira, 10 de outubro de 2013
A "geração mais bem preparada de sempre"
Para além da ignorância pura e dura, há várias coisas que espantam:
1 - A risota perante o falhanço
2 - As desculpas esfarrapadas
3 - Não terem a noção do quanto pouco sabem
4 - Não terem vergonha de exporem a sua mediocridade
Depois, há perguntas que têm que ser feitas:
A - Que pensa esta gente fazer da vida?
B - Que filhos terá esta gente e que educação lhes dará?
C - Em que mundo pensa esta gente viver?
D - A que critérios recorrerá para decidir em quem votar?
E - Pensará esta gente que o mundo se lhes adaptará para que a sua ignorância se torne uma qualidade?
Para além do vídeo, temos esta coisa extraordinária:
Por André Barbosa e Tânia Pereirinha e imagem de Joana Mouta e Bruno Vaz
Enquanto Portugal se ri da auxiliar de acção médica concorrente da Casa dos Segredos, que julga que África é um país da América do Sul, a SÁBADO fez um teste básico a 100 alunos de universidades de Lisboa. Veja o vídeo do Vox Pop com as respostas mais curiosas.
Ana Amaro, de 18 anos, que frequenta a licenciatura com o mestrado integrado em Psicologia do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), está a fumar à porta da faculdade, em Alfama. Aceita participar no teste de cultura geral da SÁBADO (20 perguntas, divididas por dois questionários de 10, ambos com um grau de dificuldade mínimo), mas está mais preocupada em acabar o cigarro. À quinta questão (qual é a capital dos Estados Unidos?), começa a atrapalhar-se. “Estados Unidos...? A esta hora é muita mau”, queixa-se. Não são 7h, são 13h30, e os colegas começam a sair para o almoço. Mas Ana parece ter acordado há 10 minutos, suspeita que a própria confirma.
A partir daí, é sempre a cair.
Não sabe quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo, quem fundou a Microsoft, quem é Maria João Pires nem que instrumento toca. E não parece preocupada. Afinal, acabou de acordar.
“Não dei isso no 12.º ano”, “Cinema não é comigo”, “Não me dou bem com a literatura” – na arte de justificar a ignorância, os estudantes universitários inquiridos pela SÁBADO têm nota máxima. “Se perguntasse alguma coisa de psicologia, agora cultura geral...”, diz Janine Pinto, optando pela desculpa número um.
– Quem pintou o tecto da Capela Sistina?
– Ai, agora... Tudo o que tem a ver com capelas e igrejas não sei (desculpa número dois dos universitários).
– E quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo?
– Eh pá! Coisas com Jesus Cristo?! Sou fraca em religião ... (desculpa número três).
E se é que isto serve de desculpa, aqui vai a número quatro: Janine, tal como muitos outros inquiridos, não está num curso de Teologia, nem de Artes.
Mas Bruno Marques, 18 anos, no 1.º ano de Ciências da Cultura na Faculdade de Letras, escorrega num tema que deveria dominar.
– Quem é Manoel de Oliveira?
– Já ouvi falar, mas não sei quem é.
– Estás em Ciências da Cultura. Dás Cinema?
– Sim, algumas coisinhas, mas não sei...
Pedro Besugo, 18 anos, estreante no curso de Turismo da Lusófona, admite não saber qual é a capital de Itália. Perante a insistência da SÁBADO (“Então estás a tirar Turismo e não sabes?”), responde: “Será Florença?” Não é. Como também não é Veneza, nem Milão ou Nápoles, como outros responderam.
Não saber quem pintou a Capela Sistina ou Mona Lisa (um aluno responde Miguel Arcanjo; outro Leonardo di Caprio) é igualmente grave. Talvez não tanto como pensar que África é um país da América do Sul ou não fazer ideia do que é um alpendre. Mas Cátia Palhinhas, do reality show Casa dos Segredos2, autora destas e de outras respostas, que põem o público a rir, não frequenta o ensino superior – é auxiliar de acção médica e está a tirar o 12.º ano à noite no programa Novas Oportunidades.
Aos 22 anos, sonha tornar-se “conhecida e vencer na televisão”. Por isso, não está nada preocupada em saber qual o maior mamífero do mundo – “É o dinossauro!”, disse há umas semanas.
Há universitários que respondem “mamute” à mesma questão. Catarina, 20 anos, aluna de Psicologia do ISPA, fica na dúvida: “É o elefante. É o mamute. É o elefante. Acho que é o elefante. O elefante é de África e o mamute da Antárctida”.
Tal como Cátia, da Casa dos Segredos2, Daniela Rosário, de 20 anos, a frequentar o 1.º ano de Geografia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, entusiasma-se quando sabe que há uma câmara de filmar (pode ver algumas das respostas no site da SÁBADO). É a única em 100 entrevistados que não teme ver registados os seus disparates. Mas as coisas começam a correr mal assim que se fala em Capela Sistina: “É melhor nem pensar, nunca me dei bem com História.” Cinema também não é o seu forte. Questionada sobre quem protagonizou o filme O Padrinho, só se lembra de John. Já seria mau. Mas agrava-se: “É John qualquer coisa. John... Johnny English!”, diz, a rir-se.
Se Francis Ford Coppola tivesse convidado Rowan Atkinson, o famoso Mr. Bean e protagonista de Johnny English, para interpretar Don Vito Corleone na sua obra--prima de 1972, teria hoje um filme sobre a máfia italiana representado em mímica e com os diálogos resumidos a grunhidos. Ou uma película de acção descontrolada com Keanu Reeves ou Tom Cruise, como respondeu Soraia Correia, 19 anos, do 1.º ano de Psicologia do ISPA.
Ao longo de 100 entrevistas, conclui-se que as aparências iludem e as ideias preconcebidas também: as miúdas de óculos não são mais cultas do que os rapazes de aspecto alternativo, e a cultura geral de futuros engenheiros ou médicos não é mais escassa do que a de potenciais advogados, linguistas ou psicólogos. No fundo, os conhecimentos são idênticos.
Uma aluna do 2.º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, carregada de dossiês, não hesita em responder. Mas, minutos depois de ter terminado o questionário, volta atrás e exige que o seu nome não apareça na SÁBADO e que as suas fotografias sejam apagadas. Tem motivos para isso: não sabe o que é “a Capela Sistina nem o tecto”, nem quem é Maria João Pires; acha que Nova Iorque é a capital dos Estados Unidos; e dá um apelido alentejano à chanceler alemã: “Ai! Eu sei essa, eu sei essa. É qualquer coisa Mércola, Mértola, Mércola. O primeiro nome não sei.”
À porta desta faculdade, no Campo Mártires da Pátria, passa Alexander Weber, estudante alemão de Erasmus na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Depois de vários alunos terem respondido à pergunta “Quando se deu a revolução do 25 de Abril?” com os anos de 1973 e 1975, arriscamos perguntar o mesmo a um estrangeiro, que acerta logo nesta pergunta e em mais cinco.
Esta questão teve aquela que poderia receber o prémio da desculpa mais esfarrapada. António Lopes, no 2.º ano de Economia e Gestão da Universidade Católica, diz logo que não sabe em que ano foi o 25 de Abril. E justifica: “Estudei 15 anos numa escola inglesa.” Mas o facto é que vive em Portugal há 19 anos e não tem sequer ideia da década em que se registou um dos acontecimentos mais marcantes da História recente do país.
Pedro João, 30 anos, aluno do curso de Contabilidade e Auditoria, o mais velho a ser inquirido, alcança o recorde de respostas erradas: oito em 10. Só sabe o símbolo químico da água e quem é o Presidente dos Estados Unidos. Para este estudante, LOL, a sigla de laughing out loud, ou laugh out loud, que todos usam em conversas de mensagens instantâneas ou em SMS, significa “brincadeira”. Mas dá respostas piores:
– Quem é o presidente da Comissão Europeia?
– A francesa? Penso que é belga, a senhora...
Joana Costa, no 4.º ano de Psicologia Social, tem 25 anos. Responde a tudo com simpatia. Mas o inquérito corre-lhe pior do que a muitos alunos de 18 anos. Sobre quem escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo: “Gabriel García? Não... Tem a ver com a Bíblia. Eu não sou católica, sou ateia.” Quando informada sobre a resposta correcta, revela surpresa total: “Não foi o Saramago! Não foi, pois não?”
Já outra entrevista decorre e ainda Joana continua perto da equipa da SÁBADO a justificar-se: “Eh pá! Que horror! E eu que li quase tudo do Saramago. Li o Ricardo Reis... Pronto, pá, foi terrível.” Corada, continua a tentar explicar porque é que, no nome da chanceler alemã, não conseguiu passar de uma marca de chocolate: “Mars... Mars... Mars qualquer coisa.”
Só por uma vez a SÁBADO conseguiu antecipar que o teste ia correr bem: Miguel Borges, 21 anos, estudante de Psicologia, foi o único que questionou por que raio andava a SÁBADO a testar universitários. “Qual é o objectivo? É para dizerem que os estudantes são todos burros?”
Acertou em todas as perguntas e ainda indagou, com ar de entendido, não fosse haver rasteira: “Quem pintou a Mona Lisa? Ou quem pintou a Gioconda?” É a mesma coisa. Pena não haver pontos para premiar conhecimentos extra.
Igualmente bom foi o desempenho de Luís Pestana, 20 anos, no 2.º ano do mestrado de Relações Internacionais da Universidade Católica. As respostas fluíram--lhe com rapidez e em segundos passou com distinção no teste. Ele e Miguel fazem parte de um grupo de cinco alunos que acertaram em todas as respostas.
Depois, há aquelas questões que se acreditou que todos iriam responder correctamente, mas apareceu alguém que arruinou a percentagem. Miguel, 25 anos, no 3.º ano de Design, quando questionado sobre o nome do homem mais poderoso do mundo, foi peremptório: “É o Bush!”
Aos estudantes, nunca faltaram pistas. Ainda sobre Marlon Brando (a quem alguns chamaram Orlando e Al Capone), a SÁBADO chegou a propor um sinónimo para o apelido: “Ameno.” Não adiantou.
Nenhuma pergunta obteve respostas tão divertidas como a que tenta encontrar o autor de O Evangelho Segundo Jesus Cristo. “Ui, perguntas religiosas é que não dá, embora eu tenha estudado no Sagrado Coração de Maria e no São João de Brito”, tentou Francisco Neto, 19 anos, no 2.º ano de Economia da Universidade Católica.
Teresa Pereira, aluna do 3.º ano de Direito da mesma universidade, responde: “Calma, então temos o São João, São Marcos, São Lucas e São Mateus, agora dos quatro… Foi o São João!”
Inesperada foi também a resposta de Rita Silva, 21 anos, aluna do 3.º ano de Direito da Universidade Católica quando inquirida sobre “quem é o fundador da Microsoft”.
– É o senhor que morreu há pouco tempo... o Gill Bates.
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Alguém me explica porque têm a GNR e a justiça(?) que meter o nariz para saber se quem trabalha na pastelaria lá está dentro ou não?
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Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
1 comentário:
Muito legal seu blog. O post com informações bem interessantes. Vou visita-los com mais frequência. Caso tenha interesse, visite o nosso http://minervapop.com/.
Valeu,
Anselmo
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