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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Do Socialismo Nosso Pai

Ligo para a Caixa Geral de Aposentações. Linha de atendimento. Um minuto ou mais de informação prévia. Sem utilidade de maior. Remetendo sempre, no final, para o sítio da CGA. Passamos para as opções. Um… não. Dois… não. Três… não. Quatro… não. Cinco… não. Seis… não. Sete… não. Oito… não. Nove para falar directamente com alguém. Nove.

“Devido ao elevado número de chamadas, a linha encontra-se indisponível. É favor tentar mais tarde. Para evitar custos telefónicos, desligaremos a sua chamada”.

De repente, fico com dúvidas sobre a minha capacidade auditiva!

Torno a ligar. Deixa-me cá escolher esta opção. Mais informação semi-inútil. Mas a CGA tem tudo no sítio. Em seguida: “Devido ao elevado número de chamadas, a linha encontra-se indisponível. É favor tentar mais tarde. Para evitar custos telefónicos, desligaremos a sua chamada”.

Ouvi bem??!

Ligo de novo. Agora vai ser esta. Lá vem a informação da treta. E a gravação, para reafirmar que a Caixa Geral de Aposentações tem o que é preciso no sítio devido. Depois: “Devido ao elevado número de chamadas, a linha encontra-se indisponível. É favor tentar mais tarde. Para evitar custos telefónicos, desligaremos a sua chamada”.

Sim, ouvi.

Ouvi.

Ouvi. Ouvi.

E tornei a ouvir no dia seguinte.

E...

Uma vez que não existe qualquer indicação em como a chamada seja grátis, isto só pode significar que os serviços (o que neste país assim é chamado) do Estado determinam, a bem do cidadão, o que este deve gastar em chamadas telefónicas com o Estado. Que o Estado cuida de mim como se cuida de uma criança. Paternalmente. Ensinando-me brandamente, com o seu exemplo, que não devo insistir em falar com quem não está interessado e só na aparência quer ouvir-me. Que devo antes poupar esse dinheiro para comprar uma carcacinha no dia seguinte. Que é mais prudente e mais assisado desistir de confrontar quem é mais poderoso do que eu.

O Estado português, com José Sócrates como timoneiro e Teixeira dos Santos como negreiro, assume uma tarefa pedagógica inestimável: a de domesticar o português. Deste modo, o mesmo processo com que aumenta a receita através dos impostos e reduz a despesa através da diminuição ou a extinção dos serviços justificativos da sua existência, serve-lhe para definir e me avisar do alcance dos grilhões e do chicote de que dispõe. Com a bestialidade de que só um autêntico matarruano é capaz de sacar das entranhas.

Pois que outro, senão um vero labrego, seria capaz de ser tão arrogantemente esfarrapado nas suas razões? Quem, senão um habitante dos bidonvilles da política, seria capaz de lançar mão de semelhante pobreza argumentativa? A quem, senão a um mendigo do espírito, seria capaz de sequer passar pela cabeça uma tal indigência ameaçadora?

A quem, senão aos actuais supremos coveiros do que resta deste país?

2 comentários:

Streetwarrior disse...

<nesta estou contigo em todas as afirmações.
Bem dizido Gonsalo

Unknown disse...

O caminho da servidão.
Hayek descreveu perfeitamente como este tipo de situações são o efeito perverso mas sempre certo do chamado "progressismo", daqueles que querem construir a "sociedade perfeita".
As "repúblicas da virtude" redundam sempre nisto...e muito pior.