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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O grande mal da Wikileaks…



"A supressão da privacidade é o objectivo fundamental do totalitarismo", diz-nos o famoso médico inglês Theodore Dalrymple, na melhor análise que li sobre o assunto e que foi aqui colocada em forma de link por Go_dot.


Nós não precisávamos da Wikileaks para nos dizer entre outras coisas que o presidente francês é um homem banal com tendências autoritárias, ou que Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano, gosta de dar umas quecas por fora. Também não é lá muito tranquilizador ver as nossas suspeitas confirmadas em mensagens da diplomacia americana, mas se eles tivessem dito algo completamente diferente a gente provavelmente não teria acreditado.

Depois dos primeiros tremores de prazer pela atrapalhação demonstrada pelos poderosos, um prazer semelhante a ver um homem majestosamente digno escorregar numa casca de banana, começa a avistar-se as verdadeiras consequências da maior revelação de documentos oficiais da história do mundo:

A Wikileaks vai muito mais longe do que apenas expor injustiças, ou supostas injustiças: está inconscientemente a trabalhar para o totalitarismo.

A estratégia que está por detrás da Wikileaks é que a vida devia ser um livro aberto, em que tudo aquilo que é dito ou feito seja imediatamente revelado a toda a gente, em que não haja acordo, acção, nem conversações secretas. Na visão fanaticamente puritana da Wikileaks, nem uma pessoa nem uma organização deve ter algo a esconder. Creio que não vale a pena perder tempo em argumentos contra uma visão tão infantil da vida.

A verdadeira consequência da Wikileaks vai ser profundamente e precisamente o contrário daquilo que queriam obter. Muito longe de um mundo mais transparente, vão provavelmente criar um muito mais reservado. O sigilo, ou melhor, a possibilidade de haver sigilo, não é o inimigo mas a condição prévia para haver franqueza.

A Wikileaks vai semear desconfiança e medo, na realidade paranóia; no futuro as pessoas terão grande relutância a exprimirem-se abertamente (….).

Isto pode vir a acontecer não apenas em ambiente de trabalho, mas também na esfera privada [temos o exemplo actual da Coreia do Norte, cdr]. Uma cortina de ferro poderia fechar-se, não apenas na Europa de Leste, mas no mundo inteiro. Um reino de virtude assumida seria imposto, em que as pessoas apenas dirão aquilo que não pensam, e só pensam aquilo que não estão dispostas a dizer.

A destruição da diferença entre o que é da esfera privada e o que é público sempre foi um dos grandes objectivos do totalitarismo. Abrir e ler os e-mails de outras pessoas não é diferente de abrir e ler as cartas que não nos são dirigidas. Na realidade, a Wikileaks assume o papel de censor do planeta, mas assumir este papel requer uma surpreendente grandiosidade moral e muita arrogância. Mesmo que algumas maldades sejam expostas, ou ventiladas algumas verdades, o fim não justifica os meios.

Theodore Dalrymple, a physician, is a contributing editor of City Journal, the Dietrich Weismann Fellow at the Manhattan Institute, and author of Not with a Bang but a Whimper and other books.

5 comentários:

EJSantos disse...

Na verdade há algo de sordido nesta história toda. O que a wikileaks faz é coscuvelhice informática e invasão de privacidade. Pode ser que algumas coisas verdadeiramente más venham à luz do dia (ex, relacionadas com narcotrafico). Mas de resto o que temos é um gigantesco lavar de roupa suja em público.

Assange quer se mostrar como um paladino da verdade, mas na verdade ele não passa de um escroque.

RioD'oiro disse...

EJSantos,

"(ex, relacionadas com narcotrafico)"

Já veio. Mete Chavez e Morales, a Guiné e Moçambique.

E de Kahora Bassa (com Portugal, é claro):

http://sic.sapo.pt/online/noticias/mundo/Presidente+mocambicano+tera+recebido+comissao+no+negocio+de+Cahora+Bassa+revela+WikiLeaks.htm?wbc_purpose=baMODEld%25252

.

RioD'oiro disse...

Este link é mais pequeno:

http://noticias.comunidade.com.pt/noticia.asp?id=69648&t

Streetwarrior disse...

http://www.youtube.com/watch?v=Gkt2w1M1hPE&feature=grec_index

Èpa, olhem-me só a arrogancia desta entrevista e desta entrivistadeira,preocupada com a liberdade politica no Irão e comparem-na a Wikileaks.

È 1 só rir...claro está que voces, não conseguiram ver nada de mais.

eheheh

Carmo da Rosa disse...

Streetwarrior disse: ”olhem-me só a arrogancia desta entrevista e desta entrivistadeira”

Realmente, a arrogância de entrevistar Ahmadinejad, o representante na Terra do décimo segundo imã, sem lenço nos cornos, que atrevimento! Street, se fosses tu davas-lhe duas lambadas – A LEEEEEEEEEEÃO….

Street, só duas perguntas: qual a relação entre a liberdade política no Irão e a Wikileaks?

E porque razão não respondes simplesmente, sim ou sopas se estás ou não de acordo com o post e porquê?

Afinal são três perguntas, tens alguma ideia quantos refugiados políticos iranianos vivem nos EUA e na Europa?