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quinta-feira, 7 de junho de 2012

"Havia qualquer coisa de reaccionário nesse progressismo"

No Ablogando:

Há que ouvir todo o programa porque é, musicalmente, muito importante.


Entretanto, aos 15:40:

- [TSF] A sua militância musical nunca se transformou em militância partidária efectiva?
- [Carlos Guerreiro] Acabou por ser enquanto militante do GAC. O GAC estava fortemente comprometido com a UDP, mas eu gostava era de música. Claro que para estar lá dentro eu tinha que saber o que estava a dizer e tinha que ter alguma consciência político-partidária se queria lá continuar. Era, digamos, o preço de lá estar. Não me senti nada mal, fez-me muito bem, fiquei a saber o que era o maoismo … tudo isso.
- Tinham sessões de critica e auto-crítica?
- Tinha-mos sessões de crítica e auto-crítica. Aquilo era uma coisa muito dura, nós não podíamos … estava-mos proibidos de falhar ao nível das ideologias.
- E o que era falhar?
- Era ter desvios de direita, quer dizer, a gente só sabia o que era desvios de direita …
- Lembra-se de algum desvio que tenha sido …
- Havia coisas graves, havia coisas gravíssimas, como por exemplo fumar cachimbo em frente às massas. Era tido como um desvio pequeno-burguês terrível porque as massas não fumavam cachimbo, assim como as mulheres também estavam proibidas de fumar em frente ao povo porque não era de bom tom as mulheres fumarem. Estava-mos em 74, tínhamos acabado de sair do fascismo, atenção.
- Havia qualquer coisa de reaccionário nesse progressismo. Nisso de fumar, por exemplo.
- Nós éramos regidos por uma coisa que se chamava moral proletária e a moral proletária tem muito de catolicismo … há valores que se tocam a esse nível se bem que os objectivos sejam completamente diferentes.
- Imagino que hoje faz parte daquele grupo a que genericamente se pode chamar os desencantados da revolução.
- Já fui mais. Agora comecei a assimilar isso tudo e já tudo isso me serve de lição. Já tudo isso me serve como lição de vida, como fazendo parte da minha formação e aprendi a não enjeitar nada do que fez parte da minha formação, sejam as coisas boas sejam as coisas más, tudo o que absorvemos nos enriquece.
- Tem algum tipo de nostalgia desses tempos?
- Não, nostalgia não tenho. O processo foi evoluindo, felizmente ao longo da minha vida de músico fui tendo sempre coisas que foram suplantando as anteriores, portanto nunca me [de]parei com … quem me dera voltar atrás, dantes é que era bom … Não. Antes foi bom e hoje continua a ser bom.

Em explendoroso portunhol, não deixem de ouvir a faixa "Salsa de Cabezón de Pisuerga", (aos 21 minutos) do novo disco Avis Rara, dos Gaiteiros de Lisboa.