Só hoje, e ainda à pressa, pude voltar para, pela minha parte, arrumar de vez o
assunto.
Dizia eu que o meu caro amigo não lê aquilo que eu escrevo,
que se limita a percorrer palavras e que… Mas escuso de adiantar mais, para já.
Ora repare naquilo que eu escrevi aqui e que é, afinal, o próprio objectivo do
que escrevera antes e do que procurei esclarecer ainda um pouco mais a seguir:
“De facto, aquilo não é uma pouca-vergonha,
é uma vergonha insuportável para qualquer animal. Porque aquela triste está reduzida a algo abaixo de
macaco, abaixo de cabra, abaixo de aranha, abaixo mesmo da feromona: ela já só
quer dentro dela a moca positivista, tal a degradação a que está sujeita; é tanto o seu desespero, que ela come raivosamente o
veneno que a mata. O orgasmo que ela exige não é terapêutico,
é o punhal da tristeza com que ela mata ambos, o “já que queres que assim
seja, assim será!”. Porque à pobre, nem
um ritual que qualquer outra fêmea curte, nem sequer a vigarice de uma
atençãozinha feita de porrada, lhe é dado! Não é de fazer chorar as pedras da
calçada, é de fazer explodir em lágrimas a Vida no planeta inteiro. Ela
suicida-se de solidão e de inumanidade e você diz: “Assim mesmo é que é, o
progresso que há no suicídio por tortura! O extraordinário humor que há neste
filme!”.
O que é de facto espantoso para mim,
aquilo que eu não compreendo de todo, é que se o filme fosse sobre a situação
inversa, se fosse dele a brutalidade verbal e física com que ela o trata, você,
como qualquer de nós, repugnar-se-ia com ela e falaria do asco que aquilo lhe
havia provocado (…)”
O que eu disse neste pedaço, se mais não houvesse (e há muito, mas mesmo muito mais, antes e depois dele), é que:
- o nojento exemplo de degradação humana que constitui o
apêndice conjugal que aquela mulher tem ao lado, a sujeita, pela frieza e pela
indiferença, a uma chantagem afectiva opressiva, inaceitável e condenável;
- a pobre, porque ainda goste dele ou já por mera vingança, assume
a situação pela negativa e, por isso, em vez de sair para a rua, trazer para o
quarto toda a gente que lhe apeteça e expulsá-lo de casa a pontapé depois de
ter gozado à grande e à brasileira à frente dele, insiste em exigir que ele lhe
dê “a queca”, numa atitude de verdadeiro suicídio a dois sob a forma de tortura
moral;
- o que está naquele filme é o resultado de uma situação de
decadência em que dois seres humanos caíram.
De outra maneira, que o problema não é, em nenhum momento,
que a mulher queira e tome a iniciativa no que respeita ao sexo, mas que haja sido levada a um tal ponto de humilhação que deseje, mesmo que por vingança,
sentir dentro dela um ser de tal modo abjecto. O problema não é, em momento
nenhum, ela querer sexo, mas o nível de indignidade e de tortura a que ele a
sujeita e que a faz querer, não sexo, mas o contrário daquilo que é o sexo ao
nível humano. E, se LER o que eu escrevi antes, a única coisa que encontrará é o
elogio do erotismo, EM QUE AMBOS PODEM QUERER O QUE MUITO BEM LHES APETECER E
QUANDO LHES APETECER. Mesmo de uma interpretação redutora e superficial do texto somente se concluiria a CONDENAÇÃO DO QUERER DO HOMEM ENQUANTO PROCURA SUBJUGAR O DA MULHER.
Diz o Carmo da Rosa que escrevo bem. Eu digo apenas que escrevo como quero e me apetece e que isso me basta. Sei, no entanto, que NINGUÉM que eu conheça ou que me deu conta de que acompanhou o que eu escrevi, repito NINGUÉM!, teve qualquer dúvida quanto ao sentido do que lá está, incluindo o sentido mais redutor e superficial. Nem me parece que alguém possa tê-la. Menos, pelos vistos, o Carmo da Rosa. Ora repare nesta pérola de comentário que fez aqui, no dia 20 de Maio, à 1:09:
José Gonsalo: ”De facto,
aquilo não é uma pouca-vergonha, é uma vergonha insuportável para qualquer
animal. Porque aquela triste está reduzida a algo abaixo de macaco, abaixo de
cabra, abaixo de aranha, abaixo mesmo da feromona: ela já só quer dentro dela a
moca positivista, tal a degradação a que está sujeita;.”
O que aqui vai de raiva e ódio perante o simples
facto de ser uma mulher a QUERER algo!!! José Gonsalo, não me leve a mal, mas
olhe que já vi destes textos escritos pelo Dr. Yusuf al-Qaradawi. Minto. Os
seus estão mais bem escritos.
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Carmo da Rosa, pretende convencer-me de que LEU o que eu disse?
Olhe, parafraseando-o, não me leve a mal, mas mesmo não sendo tão… desagradável
ao ponto de o comparar com alguém como o dr. Qaradawi, se o pretender, terei
que dizer-lhe que mente com os dentes todos. Nem neste nem o anterior conjunto
de textos que escrevi para lhe responder com seriedade, como, aliás, lhe fui apontando sempre. Porque, tal como o dr.
Qaradawi, nunca lhe tem interessado discutir, mas afirmar - afirmar a sua posição de iluminado face ao
indispensável contraponto de uma posição “blasfema”, mesmo que haja que inventá-la. E, para isso, não olhou a
meios, incluindo aqueles que, para quem está atento, fazem desconfiar da maturidade
do seu carácter pelo ridículo em que incorreu.
Caro Carmo da Rosa, mais do que descortês, porém, a sua
atitude é insultuosa, porque não apenas teve a indelicadeza de não querer ouvir
quem se lhe dirigiu de boa-fé como quis tornar-me em adereço do seu brilho de
pechisbeque. Peneiras, talvez, para me limitar a devolver aquilo que já vi numa sua resposta recente (4 de Junho, 12:15). Ou pior do que peneiras?
Foi por idêntica atitude, aliás, que, no decorrer da
“discussão” acerca do que seja um insulto, o Carmo da Rosa saltitou
permanentemente de tema para tema, procurando confundi-los para nos confundir,
a mim e ao José do Carmo. No último episódio desse saltaricanço desajeitado e tosco sacou d’A Vida de Brian e, apesar de se ter dito, redito, re-redito, e por aí fora, alternadamente (à
medida que o meu caro situava as coisas nesse tema ou passava para o da
subjectividade e imaturidade do insulto), que o que estava em questão não era
dessa natureza, tornou uma vez mais a algo que nunca nunca foi posto em causa, muito pelo
contrário: a liberdade de crítica - paródica
ou outra - às diferentes crenças. Pela
minha parte, não me c… por tomar viagra (ainda nunca tomei e, se o fizer,
espero que não me aconteça), mas c… a rir com o filme bem como com tudo o que até à
data vi dos bons e velhos Monthy.
Mas porque anda o Carmo da Rosa a fazer estas tristes
figuras, falando bravamente do que nunca existiu? Que motivos o levam a isso?
Não faço ideia, limito-me a registar que desde há muito que pouco encontro de
si que valha a pena ser lido. E que a maioria do que tem posto por aqui, desde
textos a comentários, é, em geral, desconchavado e agressivo para mim, para o
Rio d’Oiro, para o José do Carmo. Agressivo, é consigo, quem vai à guerra dá e
leva; mas desconchavado, apatetado, ridículo mesmo, não me parece que o próprio
Carmo da Rosa mereça dar-se isso. Merecido ou não, de qualquer maneira
tornou-se-me impossível e desgostante qualquer troca de palavras consigo.
E, para terminar, queria contar-lhe uma pequena história que
respeita à superfície da discussão entre si e o José do Carmo.
Lembro-me de, já há algum tempo, creio que pouco depois de
ter aceitado o convite para integrar o FI, me ter referido a um meu tio-avô,
oficial do exército, que integrou o corpo militar português na I Guerra. Teria
agora, caso ainda fosse vivo, mais de 120 anos. Perto da casa onde morava,
vivia um sargento que se reformou por limite de idade uns 20 anos antes dele e
que a minha infância encontrou já bastante velho, arrastando-se
pachorrentamente pelo jardim. Dele, contava o meu tio um episódio caricato, que
nos fazia rir, tal como a ele e a todo o quartel onde o meu tio prestou
serviço durante as últimas três décadas no activo. Abordado por um soldado que
dizia estar com um problema de pele no lábio, o homem terá retorquido: “Lábios? Você
tem é beiços! Lábios têm as senhoras dos senhores oficiais!”.
O sargento, que era a chacota disfarçada do quartel, entrara
na tropa nos anos finais do século XIX, já era sargento na I Guerra e de
sargento nunca passou. O meu tio, rindo, dizia dele que era uma besta como
nunca encontrou nos seus quase 50 anos de tropa (também ele se reformou por
limite de idade) e que nunca, a não ser a ele, ouvira uma expressão tão
condizente.
Nenhum dos meus amigos que cumpriram o serviço militar em
tempo de guerra, incluindo aqueles, comunistas, que não fugiram para o
estrangeiro, por dever ideológico (pela obrigação moral e revolucionária de
espalhar as ideias do internacionalismo proletário dentro das FA), nenhum
alguma vez me relatou algo desse tipo; antes, o seu testemunho sempre coincidiu
com o que lhe disse o José do Carmo - e eles,
tal como, na altura, eu próprio, éramos anti-militares, como não poderia deixar
de ser. Nem nunca encontrei quem -
familiares e amigos de familiares inclusive -
nas suas “histórias da tropa” incluísse alguma igual ou semelhante.
Todos, sem excepção, dizem o mesmo que o José do Carmo.
O Carmo da Rosa citou, portanto, uma piada que, por mais representativa da realidade que um dia se haja vivido nas FA (e eu tenho bastantes dúvidas), era já, há cem anos, isso mesmo: uma piada dentro das próprias FA, um exemplo do que, mesmo provindo de um único dos seus elementos, caracteriza a estupidez e a ignorância.Terá essa história do sargento que eu ainda conheci e em
cujas costas toda a gente se ria servido para caricaturar e distorcer o que
realmente se passa? Do mesmo modo que não conheço os motivos da sua atitude
também não pretendo pôr-me a especular sobre como a lenda anedótica do sargento,
de quem não me lembro já o nome, serviu para caracterizar a instituição militar
e quem a integra, com fins comerciais ou outros. Mas, para já, dou-lhe o mesmo
conselho que lhe deu o José do Carmo: não veja tantos filmes.
E cuide-se, Carmo da Rosa, cuide-se. Sinceramente.
4 comentários:
Bom texto, Gonsalo.
Mas temo que sejam margaritas ante porcus.
Já todos reparámos que não é possível situar o debate com o CdR, ao nível das ideias e que, de um modo geral, a sustentação que ele apresenta para as suas teses é bastante superficial.
Basicamente são slogans, ideias feitas e preconceitos.
Quanto ás questões militares, nada há a dizer. O CdR limita-se a debitar os habituais slogans, próprios de quem apenas conhece o assunto através do filtro do embrutecimento ideológico.
Nunca teve 500 homens sob o seu comando, nunca morreu ninguém sob as suas ordens, nunca obedeceu e quem nunca obedeceu, nunca soube mandar.
E note que eu até fiz carreira numa tropa em que os líderes são escolhidos pelos seus homens, num sistema de afinidades que garante que todos passaram pelos mesmos obstáculos e todos conhecem, no terreno, aqueles com quem vão trabalhar e com quem poderão ser chamados a lutar, a matar e a morrer.
Mas acha que pessoas como o CdR têm alguma noção disto?
É como explicar a terceira dimensão a um ser bidimensional.
Jose Gonsalo disse: ”Tão ao lado quinté dói...!.”
Dói dói. Eu sei que dói, mas que quer, você julgava – e o José Carmo idem - que a Internet era como o clube recreativo da vila, bastava acenar com canudos ou com feitos heróicos para os saloios se calarem! Mas não. Isso era antigamente meu caro amigo. Que chatice para si e para o José Carmo, a Internet alterou hábitos ancestrais para sempre. A Internet é uma instituição democrática ao serviço de todos, e como tal, é preciso ter consciência que a qualquer momento pode aparecer um tosco mais exigente que não se deixa intimidar facilmente: nem com insultos, nem com prepotência, nem mesmo com ameaças físicas! É preciso mais alguma coisita: argumentos sólidos, responder às questões e tratar as pessoas, mesmo as que não vivem em Cascais, mesmo as que não lêem filosofia, de igual para igual e com educação. Eu sei que isto custa, sobretudo para quem viveu a vida inteira numa sociedade piramidal (Deus, pátria e família) como a portuguesa. Mas que diabo, estou aqui para ajudar a malta, temos que ser uns para os outros…
Jose Gonsalo disse: ”Nenhum dos meus amigos que cumpriram o serviço militar em tempo de guerra, incluindo aqueles, comunistas, que não fugiram para o estrangeiro, por dever ideológico (pela obrigação moral e revolucionária de espalhar as ideias do internacionalismo proletário dentro das FA), nenhum alguma vez me relatou algo desse tipo; antes, o seu testemunho sempre coincidiu com o que lhe disse o José do Carmo - e eles, tal como, na altura, eu próprio, éramos anti-militares, como não poderia deixar de ser. Nem nunca encontrei quem - familiares e amigos de familiares inclusive - nas suas “histórias da tropa” incluísse alguma igual ou semelhante. Todos, sem excepção, dizem o mesmo que o José do Carmo.”
Pois, mas se me dá licença de falar também dos meus amigos (eu também tenho amigos, imagine você!), que também fizeram o serviço militar em Portugal e no Ultramar, e as duas principais razões que eles davam para o facto de não terem fugido para o estrangeiro eram: medo e separação da família. Nunca ninguém me falou em deveres ideológicos!
Mas a ideia que transmitiam sobre o exército nas suas histórias de tropa durante o período de recruta em Portugal, assim como em combate no Ultramar, era, apesar de um ou outro exaltar a camaradagem, algo diferente do modelo politicamente correcto que você e o José Carmo querem dar à viva força (talvez só para me chatear! Será?): uma espécie de Festival do Woodstock em que não havia hierarquia, todos abraçados uns aos outros, tudo numa boa de peace man… E sabe-se lá o que andavam a fazer tantos homens a dormir juntos em tendas tão apertadinhas?
continua a festa....
Mas de maneira nenhuma estas histórias de tropa, que eu ouvia deliciado dos mais velhos no café do Cedro, foram a razão da minha fuga para o estrangeiro. A razão foi outra. Porque eu, ao contrário de você, nem era nem nunca fui anti-militarista! Sempre gostei de andar aos tiros e sempre gostei de armas. A perspectiva de ir para África andar aos tiros não me assustava, pelo contrário, o espírito de aventura era aliciante. Outra coisa aliciante que os ex-militares contavam no café à malta mais nova, era que em África se podia comer pretas à vontade do freguês, mas aconselhavam-nos a escolher entre os 12 e os 15 anos. Confesso que nada disto me chocava! Ficaria chocadíssimo era se me viessem com uma conversa de rabetas do género: ai não, isso não é representativo do comportamento das Forças Armadas, os elementos do exército são treinados em cortesia e cavalheirismo e têm sempre a atenção de abrir a porta da cubata às senhoras locais pretas…
E mais, na altura em que tive de me apresentar à inspecção militar (coisa que não fiz porque nesse preciso momento atravessava a fronteira a salto em Chaves), de ideologia sabia apenas que o meu avô era anarco-sindicalista, que o meu pai era vagamente comunista, mas ambos eram contra o Salazar. Eu? Eu era apenas do Benfica e o meu herói chamava-se Eusébio da Silva Ferreira.
Por estas e por outras, meus caros Josés, tenham mais cuidado antes de abrir a boca, pensem duas vezes, deixem-se de merdas e de peneiras porque este rapaz jogou à bola com o Jorge Moinhos, que foi jogador do Vilanovense, FC do Porto, Benfica e fez parte da selecção nacional ao lado do Eusébio…
Caro Carmo da Rosa
Fico deleitado ao ler os teus escritos, não só pelo conteúdo mas também porque fiz e faço parte da comunidade cedrense.
Revejo-me em algumas das estórias que aqui relatas e relembro alguns dos amigos daquela época com os quais ainda vou convivendo sempre que possível: Peixoto, Lagoa, os manos Rufino (Rui "Galinha" e Zé "Pinóquio") o café Bossa Nova e a referência ao Sr. Santos, Pai do Frederico, ao Bairro das quatrocentas (onde morei de 1966 a 1979), etc.
Certamente até nos conhecemos, quem sabe... Havemos de aprofundar melhor isso.
De malta que foi para a holanda, do Cedro lembro-me apenas do "Sansão" e do já referido Peixoto, embora dali próximo me lembre do Taborda da Rua Soares dos Reis, do Fernando Bessa que foi com ele e morava nas traseiras do hospital velho e mais alguns da zona de Santo Ovídeo que foram sobretudo para França.
Permite-me apenas fazer uma correção - o Jorge Moinhos nunca jogou no FCPorto, mas sim, a seguir ao Vilanovense, no meu Boavista de onde se transferiu para o Benfica e foi à Selecção Nacional. Voltou uns anos mais tarde para o Boavista e dali foi acabar a carreira de jogador ao Espinho. Mais recentemente treinava os juniores do Boavista mas um problema grave de saúde terminou definitivamente com a sua carreira desportiva.
Um abraço do Miguel Vieira e até breve
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