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Algumas dezenas de milhares de portugueses saíram ontem às ruas. Tanto
importa que fossem 10.000 como 100.000 ou dois milhões. Não tinham
razão, pois foram cúmplices. O que ontem aconteceu foi o protesto da
dita "classe média", a mesma que votou sempre pela "vida confortável",
que aplaudiu Cavaco, Guterres, Ferro Rodrigues e as fantasias sem pensar
nas consequências. Essas pessoas têm dores, passam por sofrimentos,
angústias e até desespero, mas não é o povo. O povo, na acepção
sociológica de classe de baixos rendimentos - isto é, o salário mínimo -
nunca saiu à rua. Tem vivido do banco alimentar e da caridade das
ONG's, de associações católicas e até da Jerónimo Martins, tão atacada
por todos, mas que garante 60% do total de contribuições que assistem as
vítimas da fome.
Ontem, cantaram a Vila Morena e o Povo Unido Jamais Será Vencido. Sei
que custa perder o sentido da vida e os mitos, mas há que abrir os olhos
e ter um mínimo de lucidez. Afinal, não se ouviu uma ideia. Não têm
qualquer ideia de como sair da situação. O governo tem feito o que se
deveria ter feito há vinte ou trinta anos. Mas não, ninguém quis saber.
Queriam "viver bem", queriam ser "europeus". Isso acabou. A crise pode
ser boa conselheira. O governo que comece a pensar num plano de resgate
económico, não se atenha às finanças e dê exemplo, começando por atacar
os vergonhosos privilégios da matulagem que vive do sistema. A "classe
média" que pense, mas proponha saídas. Afinal, com tanto "intelectual" e
tanto "quadro", só se limitam a pedir direitos. Os direitos estão na
lei, mas mais importante que os direitos de cidadania são os deveres,
que estão na ética. É só!
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