Teste

teste

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Januário Torgal

A tropa tem um corpo de capelães.
Obrigados a vender o seu peixe num meio pouco dado a dúvidas existenciais, tiveram de se adaptar desenvolvendo um modus faciendi, que passa pelo mimetismo com os estereótipos da caserna, incluindo alguma copofonia compincha e vocabulários, digamos, pouco católicos.
E levam a água ao seu moinho, porque há momentos em que até os homens de barba rija se enfrentam com os desesperos da condição humana.
O corpo de capelães tem um General-Bispo, de seu nome Januário Torgal e ouvi-lo faz doer a alma.
De repente damos por nós na América do Sul, a ouvir os zurros de Leonardo Boff, ou os gemidos de além-túmulo, do fantasma do padre Ellacuria.
Ter a desdita de ouvir o General Bispo a debitar a sua leitura marxista da sociedade e do mundo, é como enfrentar a estupidez em estado puro.
Ele (ainda) acredita que o socialismo é a porta para o céu.
Veste solidéu e farda nº 1, mas esconde debaixo o Manifesto Comunista em versão chavista.
Para ele, a sociedade capitalista é o Diabo a erguer para o céu as pontas vermelhas do tridente, e Bush, além de cheirar a enxofre, tem cascos de bode.
Januário Torgal não tem dúvidas: a pobreza é filha do capitalismo e produto inevitável da maquinação cósmica de um grupo de tenebrosos neoliberais judeus e americanos.
É por isso que está sempre pronto a distribuir hóstias vermelhas e a fazer orgias asnáticas com marxossauros como Francisco Fanhais, Ilda Figueiredo, José Manuel Pureza, Miguel Portas, Rui Namorado Rosa, e outros, em petições indignadas contra americanos e israelitas, carregadas de frases tremendas como a “vasta ofensiva bélica de Israel e bombardeamentos de terror”, etc.

O General Bispo, disparata em público e em privado. Já estive com ele à mesa e fiquei aturdido pela noção avassaladora de estar a ouvir uma grafonola com o disco riscado algures na ranhura da teologia de libertação.
O que deveras espanta, é que ele acredita convictamente que é avant-garde e que tem ideias fantásticas, e ignora que a sua generosidade na asneira, e a sua mistura indigesta de espingardas, batinas, foices e martelos, nunca acabou bem.
As minhas utopias mais ousadas passam por um tinto Convento da Cartuxa ao jantar, prometido aqui pelo Carmo da Rosa, mas neste caso o espírito desejante eleva-se e acho que o mundo seria um lugar melhor se o General-Bispo fosse despromovido a Cabo – Sacristão, para que os seus dislates não contaminassem os pobres de espírito, merecedores talvez do Reino dos Céus, ou até das 70 virgens huris, mas não das ideias abstrusas do General Bispo.


(Publicado na edição de Dezembro da Revista Atlântico)

2 comentários:

RioDoiro disse...

"Ele (ainda) acredita que o socialismo é a porta para o céu."

As escolas estão cheias de gente com crenças equivalentes.

Na escola, a passagem pode não ser exactamente o socialismo. Há várias, algo turvas. Mas a crença num homem novo, perfeito, "educado" anda por ali.

A realidade do mundo impõe-se, mas o resultado é incerto. Sobretudo substancialmente inútil.

.

osátiro disse...

Sou católico e nunca fui muito concordante com esse bispo.
Mas o meio castrense tem muito mais afinidades com "as dúvidas existenciais" do que se afirma; exactamente porque convive com a morte e com a reflexão do sentido da vida...