Estou melindrado. Confesso-me fóbico e já conjecturo denúncia e perseguição política. Padeço, lamentosamente, de fobias várias e tremo ante a opinião pública e a opinião publicada. Quando subo três degraus no escadote tambem tremo, tremo pela vida, findado o sétimo ou o oitavo estou a pedir admissão na ala psiquiátrica do São João. Além do apelo intenso e desesperado pelo chão seguro dói me na alma que a fotofobia e a claustrofobia não tenham a aprovação no casarão da inteligência lusa. Não tenho, ufa, na minha caderneta de fobias – vá de retro satanás, cruz credo – a homofobia. Francamente, preferia ser judeu na Alemanha nazi do que homofóbico no Portugal rosa. Tal como um país comunista descobrisse que passeavam impunes nas suas ruas e avenidas, fascistas boçais, entre as fissuras e as cavidades do politicamente correcto e pela mão de campanhas publicitárias descobrimo-nos país de homofóbicos – gentinha soez que reage em choro ou em pancadaria na presença de um homosexual, transexual ou qualquer ente de sexualidade difusa. Urge levar o assunto ao parlamento, que os parlamentares discutam fundos, medidas e campanhas de prevenção e combate à homofobia sob o jugo do Ministério da Saúde. A homofobia é problema nacional – maleita grave e aparentemente infecciosa – há que conjurá-la até ao ultimo atomo e mantê-la aos portoes da pátria. Que os divãs encham-se de pacientes em busca de cura milagrosa e instantânea. Os casos mais graves, patifes sem remissão, que encaminhem-se para Caxias com internamentos de 3 a 9 anos. O tratamento deverá ser administrado talentosamente pelas associações de gays e lésbicas, demais ONG's interessadas e pelo BE. Sugiro, preocupado com a saúde dos enfermos, convívio apertado com calmeirão de 2 metros na cela, Barbra Streisand no plasma e Celine Dion nas colunas. O tratamento deverá ser intensivo e perene. Antes senis do que homofóbicos. De resto, aguardo vivamente que saiam directamente de Caxias para a parada festiva e colorida no Rossio. De preferência, devidamente fardados – com plumas, mini-saia curta, salto alto – e com as ideias impecavelmente arejadas.
Publicado na atlantico de dezembro. Lamentavelmente o artigo foi escrito numa biblioteca entre uma conversa e um relatorio. Perdeu em substancia ganhou em espontaneidade.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Caro D.L.M.:
O artigo pode ter perdido em substância (uma perda muito ligeira) mas, além do ganho em espontaneidade, contabilize-se
o enorme valor acrescentado de humor.
Na minha modesta opinião, falhou apenas a referência explícita ao fenómeno da heterofobia.
Cumprimentos
Caramba nao mereço os encomios. A heterofobia ainda vai merecer um post... um dia destes
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