Passou o dia mundial contra a homofobia e eu, anti-homofóbico assumido, não me manifestei. Mais vale tarde do que nunca.
A homofobia, entendida como discriminação dos homossexuais, é um erro lamentável, um preconceito a combater. Um dos sinais de evolução de uma sociedade é a forma como integra os seus deficientes. Não tratamos mal os cegos, nem os deficientes motores, nem os disléxicos. Então, porque haveremos de tratar mal os homossexuais?
É claro que a homossexualidade tem características muito próprias que a destacam das outras deficiências. Aliás, em natural paralelo com a posição de destaque que a sida/aids tem entre as doenças. Homossexualidade e sida irrompem bem no centro do sexo e da morte – Eros e Thanatos – ambos carregados da mais profunda irracionalidade capaz de derrubar e impedir a capacidade de raciocínio do homo sapiens. Daí o preconceito exagerado, o medo do diferente, a rejeição dos portadores da deficiência ou da doença.
No entanto, a homossexualidade, como deficiência inata, deve ser colocada ao nível de tantas outras deficiências humanas. A este respeito, como a respeito de tudo o que é humano, a diversidade não tem limites e encontramos de tudo: deficientes renais, hipertensos, portadores de pacemaker, portadores de seis dedos na mesma mão, gente com pé chato, ou com uma perna mais comprida que a outra, surdos em variados graus, roncadores nocturnos de palato mole relaxadíssimo. Bem se vê, a homossexualidade é apenas mais uma entre tantas e tão diversas deficiências. Nada assim tão grave ou importante, tanto mais que não é uma doença contagiosa.
Poderia restar o preconceito contra a homossexualidade como deficiência adquirida, um comportamento que um indivíduo aceitou e refundiu nos seus circuitos cerebrais voluntária ou involuntariamente. Aqui caímos no domínio das taras e manias. Também neste campo a homossexualidade não deve ser ostracizada nem ser alvo de tratamento diferenciado. Se os maníaco-depressivos, os agorafóbicos, os hipocondríacos, os anuptafóbicos e aqueles que têm a mania da perseguição são aceites e vivem em harmonia com os demais, porque não hão de também ser aceites aqueles que adquiriram comportamentos homossexuais?
Para mais, quem sobre a face da Terra pode dizer que não tem uma deficiência para poder reclamar contra a deficiência do homossexual? Porque é que o um indivíduo daltónico há de achar que o um colega homossexual não tem o direito de partilhar o escritório com ele? Afinal, o homossexual consegue distinguir os sombreados verdes dos azuis nas células do Excel, coisa que o daltónico não consegue. E isto é assim, mesmo que o homossexual também seja daltónico porque, uma vez mais, não se passa nada de especial: é absolutamente comum os seres humanos acumularem deficiências.
A próxima vez que você pensar mal de um homossexual, pergunte a si mesmo se lhe parece bem que digam mal da sua hipermetropia ou da sua fobia a baratas. Depois, junte-se ao grupo daqueles que, como eu, são contra a homofobia.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
teste
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
-
Alguém me explica porque têm a GNR e a justiça(?) que meter o nariz para saber se quem trabalha na pastelaria lá está dentro ou não?
-
Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
10 comentários:
Seu grande fariseu!
Fariseu?
Aterrorizado!
Essa dos homosexuais terem uma deficiência não lembra ao careca!
Prevejo que vai arder no inferno do jugular.
Uma grande lição!Eu que julgava que deveria meter-se, como cura, um bago de piri no delicado anus do deficiente homossexual dei comigo a fazer mea culpa pr tão escabroso e tão pouco humanista pensamento
Anónimo,
"bagos de piripiri no delicado ânus"... não lhes dê ideias, olhe que eles sobrecarrgam ainda mais o organismo.
Um dia conseguirão cura para isto.
Não concordo com a argumentação, cada caso é um caso, cada deficiência deve ser analisada por mérito próprio e determinar se é algo prejudicial para o deficiente ou para os demais.
Não é por X e Y deficiências serem aceites, que tb se vai aceitar simplesmente a Z seja lá o que ela for e o riscos que traz consigo.
Como os esquizofrénicos benignos podem andar livremente pelas ruas então deixamos tb andar os psicopatas agressivos. Ter uma tara por sapatos é o mesmo que uma tara por disparar tiros para o ar no marquês de pombal?
Dito isto, homossexualidade como deficiência biológica no grande esquema das coisas é benigno (mau para a perpetuação da espécie, e como somos poucos toca la a aumentar ate sermos uns 20 biliões e depois damos tds uma grande festa), por isso meh... porque se da tanto relevo a isto?...
bob
Mas que postal tão politicamente incorrecto! Gostei. E deixei de ser homofóbico, esmagado por tão poderosos argumentos.
Grande comentário com forte base sociológica.Deixei de lado todos os meus preconceitos contra todos aqueles que sairam ou permanecem em seus respectivos closets. Resta somente em mim o preconceito contra gajos leitores de Saramago
Enviar um comentário