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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Empreendedorismo

Ora bem. O preço dos combustíveis está de tal forma pelas ruas da amargura que já ninguém que viva a 100Km de Espanha abastece em Portugal. Os veículos pesados que fazem trajectos internacionais muito menos abastecem cá.

Este facto trás vantagens competitivas a Portugal porque, por um lado, permite baixar os custos de produção e trabalho que quem pode recorrer à referida possibilidade e, por outro, retira ao fisco receita que já não poderá gastar. Estando os gastos do estado, neste momento, entalados entre minguantes receitas fiscais  e a tenaz do FMI, as notícias não são más de todo. Pode finalmente sufocar-se o monstro até que a lepra faça o seu trabalho.

E pode ajudar-se à festa.



Imagine-se que, em qualquer ponto do país, se entregaria o carro pela manhã, de depósito vazio, a uma transportadora de automóveis, antes de se ir trabalhar. O camião, transportando uns 10-12 carros, poderia, durante o dia, deslocar-se a Espanha, onde além de se abastecer, abasteceria os carros que transportaria. Seria uma coisa excelente e deixaria o ministério das finanças ainda mais mudo face ao FMI.

Mas pode ser melhor ainda.

A construção do aeroporto em Alcochete está em águas de bacalhau. Imagine-se que se instalaria, temporariamente nos referidos terrenos uma zona franca, sob controlo de Espanha que, para não ferir susceptibilidades de (reaccionário) nacionalismo, se poderia baptizar como, Zona Franca Alberto João Jardim. Bem, seria excelente. Poder-se-ia polvilhar a área com postos de abastecimento de combustível espanhol, naturalmente a preços de Espanha, suficientes para aumentar a competitividade de todo a zona da capital num raio de 100Km, e manteria os "negociadores" de Portugal na mesa do FMI ainda em mais absoluto silêncio. O estado, certamente, evitaria aceder à aquele espaço. A quantidade de automóveis que detém é de tal forma astronómica que garantiria a defesa dos tais 150.000 postos de trabalho que, certamente em gasolineiras genuinamente lusas, Sócrates prometeu e, naturalmente, cumpriu.

9 comentários:

Carmo da Rosa disse...

Pode saber-se a diferença de preço do carburante entre Espanha e Portugal?

LGF Lizard disse...

Esta malta só vai lá quando as empresas começarem a mudar-se para Espanha. Basta ir a Espanha, registar lá a empresa, arranjar uma morada e já está.

Bem feita a coisa, o fisco espanhol ganha uma pipa de massa e o fisco português fica a ver navios.

Os xuxas que paguem a crise.

José Gonsalo disse...

Rio d'Oiro:

Delicioso!


Carmo da Rosa:

Entre 25 a 30% a menos, para lá da praia à beira-mar estabelecida.

Carmo da Rosa disse...

José Gonsalo e RioDóiro,

Dei-me à pachorra de verificar os preços MÉDIOS de carburante praticados em Portugal e em Espanha (mais precisamente Badajoz – pertinho da fronteira para valer a pena a deslocação) e o resultado é o seguinte:

Portugal

95 = 1.572 €
98 = 1.659 €
Gasóleo = 1.391 €

Badajoz

95 = 1.367 €
98 = 1.466 €
Gasóleo = 1.290 €

Um exemplo.

O chaparro que ateste o depósito do seu carro com 80 litros de gasolina 95 em Évora, pagará 126 euros. É verdade que se o fizer em Badajoz, paga apenas 109 euros, mas para isso tem que se deslocar 128 km, onde gastará - partindo do princípio que o seu carro gasta 10 litros aos 100 – mais 12 l x € 1.367 = € 16.

Poupa 1 euro, o que não chega para pagar uma caña na ‘gasolinera’, mas pronto, fez um passeio muito giro...

RioD'oiro disse...

Impressão sua, caro CdR.

Quem se desloca 100Km para ir a Espanha rentabiliza a coisa fazendo também as compras dos produtos que em Espanha forem mais baratos. Alguns aproveitam para encher um jerrycazitos...

Imagine agora os que moram a 50Km.

Carmo da Rosa disse...

RioD’oiro disse: “Impressão sua, caro CdR.”

Impressão?

Não se trata aqui de impressões, mas sim de multiplicações! Só gostaria de saber se as contas estão mal feitas?

A certa altura você afirma: “já ninguém que viva a 100 km de Espanha se abastece em Portugal.” É evidente que se uma afirmação deste tipo não for baseada pelo menos nos preços dos carburantes dos dois países, uma pessoa que vive a 2200 km de Portugal fica só com impressões…

Pela mesma razão os peritos do FMI são obrigados a deslocarem-se pessoalmente a Portugal, porque o Eng. Sócrates só fornece impressões e eles querem números exactos e contas a bater certo…

RioD’oiro disse: “…rentabiliza a coisa fazendo também as compras dos produtos que em Espanha forem mais baratos..”

Sim, mas nesse caso também pode vender produtos em Espanha que em Portugal são mais baratos! E então nesse caso a diferença de preço do carburante dá para beber uma ‘caña y un bocadillo’ em Badajoz…

RioD'oiro disse...

Caro CdR,

"Não se trata aqui de impressões, mas sim de multiplicações!"

Quando for assim sugiro que tente por-se na pele de quem mora a 100Km do local onde a gasolina custa x% menos e tente imaginar o que faria se estivesse no lugar deles.

Já agora, introduza nesse exercício o factor jerrycan.

Há malta que vai passar o fim de semana ao Algarve, enche o depósito e mais uma 'reserva' (um dia apanhará uma multa por transportar combustível ...). Até já os presidentes de câmara se vieram queixar que não podiam lá ir, mas eu estou convencido que vão.

Olhe que o seu carro tem um consumo um bocadinho alto. O meu consome 30% menos, justamente a mesma margem da diferença de preços da gasosa. Infelizmente não leva 80 litros.

José Gonsalo disse...

Carmo da Rosa:

As contas que fez estariam certas se fosse exactamente assim. Há diferenças de revendedor para revendedor e as médias oficiais nem sempre coincidem com a realidade. Conheço quem viva na área que citou e os valores que eles referem são algo diferentes, pelo que nunca abastecem o depósito do lado de cá - além do que, como disse o Rio d'Oiro, aproveitam para fazer as compras do lado de lá.
É claro que também existem casos de postos de abastecimento do lado de cá que escapam à regra. Há umas semanas, a propósito do assunto, um dos canais de tv descobriu um, em Famalicão, que praticava preços muito mais baixos do que a média, os mais baixos de Portugal, próximos da média espanhola; e eu próprio, meses atrás, encontrei um, em Figueiró dos Vinhos (na área de Coimbra), onde os preços rondavam os mesmos valores.
Numa palavra, é o velho problema da validade da estatística como fundamento de um conhecimento verdadeiro...

Carmo da Rosa disse...

RioD’oiro disse: ”…a gasolina custa x% menos e tente imaginar o que faria se estivesse no lugar deles.”

Você ainda não percebeu que o problema do seu post inicial é precisamente a gasolina custar X. Isso é que me obrigou a vasculhar na internet e substituir o seu X por algo de mais consistente: uma média entre o preço de carburante mais alto e mais baixo praticado em Portugal.

Sem saber primeiro os preços exactos de ambos os países, é óbvio que não posso colocar-me no lugar de ninguém…

RioD’oiro disse: ” Há malta que vai passar o fim de semana ao Algarve, enche o depósito e mais uma 'reserva' (um dia apanhará uma multa por transportar combustível ...)..”

Problema fácil de resolver: nivelar os preços entre o Algarve e o resto do país…

RioD’oiro disse: ”Olhe que o seu carro tem um consumo um bocadinho alto.”

É bem possível, mas pelo preço que me custou e os anos que tem estou muito contente. De qualquer maneira, como você não apresentou dados concretos sobre consumo eu avancei com o MEU exemplo. Mas é evidente que há carros mais económicos, mas também os há que gastam muito mais…

José Gonsalo disse: ” As contas que fez estariam certas se fosse exactamente assim. Há diferenças de revendedor para revendedor e as médias oficiais nem sempre coincidem com a realidade.”

Que há diferenças de preço entre postos de abastecimento também eu sei! Por isso eu escrevi que se tratava de preços MÉDIOS de carburante praticados em Portugal. Peguei no preço mais alto, juntei-o ao preço mais baixo e dividi por dois – não estou a ver outra maneira de fazer a coisa, mas sou todo ouvidos…

Em relação a Espanha fiz a mesma operação, com a diferença que neste caso se trata da média dos preços praticados apenas em BADAJOZ – isso porque os espanhóis fornecem preços por região…

Mais uma vez, sem dados e exemplos concretos e controláveis é possível afirmar tudo e mais alguma coisa…