“Todo o inconveniente tem a sua vantagem” – trata-se de um dos vários aforismos de Johaan Cruijff que já fazem parte da memória colectiva do povo holandês. Outro exemplo famoso e mais a condizer com o filósofo da bola é “quem não chuta [à baliza] falha sempre”. Mas o primeiro é que o nos interessa agora, e, apoiados na filosofia cruijffiana, já houve por cá economistas que afirmaram que a desgraça (inconveniente!) que aconteceu ultimamente no Japão tem cinicamente mas objectivamente a vantagem de ir estimular a definhada economia nipónica…
O empobrecimento do nosso país não é, a curto prazo, um acontecimento tão trágico como o do Japão, mas é naturalmente também um enorme INCONVENIENTE para as nossas gentes. Mas será que tem alguma VANTAGEM?
Neste artigo do Lidador o inconveniente, o empobrecimento do país, é demonstrado por uma considerável redução do trânsito na cidade de Lisboa devido à subida do preço dos carburantes. Servindo-me deste exemplo, o aforismo de Cruijff tem, também neste caso, alguma razão de ser: há realmente também vantagem nesta situação. Certamente mais modesta que no Japão, mas não é de menosprezar.
Podemos imaginar que a médio prazo vai deixar de haver carros estacionados em cima dos passeios, ou em parques, ou mesmo no meio da rua como é costume em Lisboa. Um espectáculo degradante e pouco digno da capital do império que não é nada convidativo para atrair o turista. Consequentemente haverá também menos acidentes, menos poluição, e a malta vai acabar por perder a mania, que remédio, de pegar no carro para ir comprar tabaco a 500 metros de casa. Mais espaço na estrada para quem trabalha.
A média-burguesia, sobrecarregada de impostos, não mais poderá oferecer um automóvel aos filhos por dá cá aquela palha – como é costume na terra - ou seja, para estes se descolarem ao liceu durante a semana e para engatarem umas garinas ao fim de semana. Irremediavelmente, a pequena-burguesia também vai ter que poupar na gasolina, agora a um preço proibitivo, e isso fará com que os papás e as mamãs acabem com o hábito de levar diariamente os meninos de carro à escola. Para colmatar esta lacuna e para poupar mais uns tostões em transportes públicos (agora pela hora da morte) os pais vão, espero eu, comprar-lhes uma bicicleta…
Imaginem a bela paisagem citadina que se nos depara todas as manhãs na nossa linda Lisboa: pelotões de estudantes de mochila às costas a subir a Calçada de Carriche de bicicleta para chegar a horas à escola… Não será imediatamente mens sana, porque esta foi bastante debilitada pela educação inclusiva e a abolição dos exames, mas podemos esperar corpore sano a curto prazo: raparigas com pernas lindíssimas como as holandesas da fotografia. E no que diz respeito aos rapazes, tenho cá uma fezada que a médio prazo teremos mais uma vez, e já não é sem tempo, um Alves Barbosa e um Joaquim Agostinho a correr na Volta à França…
Há realmente bens que vêm por mal, mas como o ciclismo é o único desporto verdadeiramente cristão, creio que seria melhor afirmar que Deus escreve direito por linhas tortas…
O empobrecimento do nosso país não é, a curto prazo, um acontecimento tão trágico como o do Japão, mas é naturalmente também um enorme INCONVENIENTE para as nossas gentes. Mas será que tem alguma VANTAGEM?
Neste artigo do Lidador o inconveniente, o empobrecimento do país, é demonstrado por uma considerável redução do trânsito na cidade de Lisboa devido à subida do preço dos carburantes. Servindo-me deste exemplo, o aforismo de Cruijff tem, também neste caso, alguma razão de ser: há realmente também vantagem nesta situação. Certamente mais modesta que no Japão, mas não é de menosprezar.
Podemos imaginar que a médio prazo vai deixar de haver carros estacionados em cima dos passeios, ou em parques, ou mesmo no meio da rua como é costume em Lisboa. Um espectáculo degradante e pouco digno da capital do império que não é nada convidativo para atrair o turista. Consequentemente haverá também menos acidentes, menos poluição, e a malta vai acabar por perder a mania, que remédio, de pegar no carro para ir comprar tabaco a 500 metros de casa. Mais espaço na estrada para quem trabalha.
A média-burguesia, sobrecarregada de impostos, não mais poderá oferecer um automóvel aos filhos por dá cá aquela palha – como é costume na terra - ou seja, para estes se descolarem ao liceu durante a semana e para engatarem umas garinas ao fim de semana. Irremediavelmente, a pequena-burguesia também vai ter que poupar na gasolina, agora a um preço proibitivo, e isso fará com que os papás e as mamãs acabem com o hábito de levar diariamente os meninos de carro à escola. Para colmatar esta lacuna e para poupar mais uns tostões em transportes públicos (agora pela hora da morte) os pais vão, espero eu, comprar-lhes uma bicicleta…
Imaginem a bela paisagem citadina que se nos depara todas as manhãs na nossa linda Lisboa: pelotões de estudantes de mochila às costas a subir a Calçada de Carriche de bicicleta para chegar a horas à escola… Não será imediatamente mens sana, porque esta foi bastante debilitada pela educação inclusiva e a abolição dos exames, mas podemos esperar corpore sano a curto prazo: raparigas com pernas lindíssimas como as holandesas da fotografia. E no que diz respeito aos rapazes, tenho cá uma fezada que a médio prazo teremos mais uma vez, e já não é sem tempo, um Alves Barbosa e um Joaquim Agostinho a correr na Volta à França…
Há realmente bens que vêm por mal, mas como o ciclismo é o único desporto verdadeiramente cristão, creio que seria melhor afirmar que Deus escreve direito por linhas tortas…
2 comentários:
CdR, tenho andado pelas Africas profundas e estes cenários idílicos são comuns.
Basta ir ao Huambo e verá centenas, milhares de estudantes,de lata de Nido às costas (serve de mochila e serve de banco), a caminharem quilómetros por ruas sem trânsito.
Paraísos que, desculpe lá, são bem melhores quando os observamos com um pé na civilização.
Isto do "natural" é muito bonito, desde que tenhamos depois ar condicionado para refrescar, uma boa cama para dormir, telecomando, cerveja fresca e duche quente.
Eu aprecio, de vez em quando, dormir no Hotel Estrela, com colchão de sumapedra, mas porque sei que daí a pouco terei o conforto.
Lidador disse: ”Basta ir ao Huambo e verá centenas, milhares de estudantes..”
Para quê ir tão longe se os posso enxergar aqui, num raio de 200 km à volta da minha casa?
Lidador disse: ”Paraísos que, desculpe lá, são bem melhores quando os observamos com um pé na civilização.”
Ai que temos dramatização socialista!!! No meu exemplo, tanto o observante como o observado pertencem à mesma civilização, não há luta de classes…
Lidador disse: ”Isto do "natural" é muito bonito, desde que tenhamos depois ar condicionado para refrescar, uma boa cama para dormir, telecomando, cerveja fresca e duche quente.”
Está-me a querer dizer que é uma questão de prioridades? A nossa classe-média gasta a guita toda nos carros dos filhos e depois, coitados, já não têm dinheiro que chegue para comprar uma cama, telecomando, cerveja e um esquentador para tomar um banho com água quente?
Lidador disse: ”Eu aprecio, de vez em quando, dormir no Hotel Estrela, com colchão de sumapedra, mas porque sei que daí a pouco terei o conforto..”
Pois eu, que já dormi ao relento sem saber quando teria conforto -- mas também já o fiz sem necessidade aparente, por desporto e para mal dos meus pecados, acordando quase sempre mal disposto* --, exijo hoje em dia para dormir o máximo de conforto: cama de água.
* Por falar em dormir ao relento e má-disposição, lembrei-me agora de uma noite que passei no parque de campismo de Évora -- se tivesse armado tinha matado gente… É capaz de ser interessante para um próximo post, que é para a gente não estar sempre a marrar nas mesmas coisas, em questões ideológicas…
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