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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pequena nota de passagem


O homem que criou o primeiro movimento ecológico em Portugal chama-se Afonso Cautela. Não estou a falar de um desconhecido, mas sim de um jornalista de grandes créditos que trabalhou em mais do que um jornal e escreveu diversos livros sobre questões ecológicas. Radical nas posições, de carácter nem sempre fácil, mas de uma honestidade a toda a prova nas suas convicções. Conheci-o por acaso, mantivemos o contacto durante algum tempo (a vida, depois, afastou-nos) e, embora não estivesse de acordo com o que ele afirmava, sempre nos respeitámos.
Quando nos encontrámos, no início da década de oitenta, o Partido Comunista diabolizava Cautela e os ecologistas, Cautela e os ecologistas odiavam o Partido Comunista. "O Partido" falava da Ecologia como uma forma de alienação dos jovens em relação à verdadeira luta, a luta pela Revolução Proletária, um artifício criado pelas manhas da burguesia, com o inevitável apoio da CIA, para desviar a juventude dos generosos impulsos revolucionários. Cautela e os seus amigos espumavam perante tanta difamação, hipocrisia e cegueira que redundavam nos mais diversos e permanentes boicotes à divulgação da mensagem e alertas da ecologia militante.
E, subitamente, na mesma altura, do nada surge em Portugal um Partido dos Verdes, composto por gente que NINGUÉM entre os ecologistas conhecia, que NUNCA participara em qualquer manifestação ou acção militante. Gente que se dizia próxima dos ideais da ditadura proletária, que propagandeava o PC como seu aliado natural. E que o PC, paternalmente, acolhia debaixo da sua asa eleitoral, capitalizando as "naturais preocupações da juventude com o meio ambiente, prejudicado pela feroz exploração capitalista".
O "Partido da Melancia" - verde por fora, vermelho por dentro (como, à época, foi designado, ironicamente, pelos órgãos de comunicação, tão parola tinha sido a manobra) aí continua, na missão para que foi criado e recebe apoio. Os ingénuos ecologistas, desorientados, foram neutralizados e engolidos por tudo aquilo que se sabe, como é destino de qualquer ingénuo.
Afonso Cautela, esse continua vivo.

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