A propósito deste poste sobre "Um violino no telhado", um dos mais fanatizados teóricos da conspiração da blogosfera nacional, aterrou aqui , com o mais recente produto da pesca à linha que usa para justificar e racionalizar a sua doentia paranóia: um excerto de um texto de Eça de Queirós em que, acredita o escriba, o famoso escritor carimba a tese da conspiração judaica.
A falácia é conhecida: acredita-se em algo e, para justificar a "racionalidade" da crença, o crente esfalfa-se numa contínua busca por frases e textos que, a seu ver, "demonstram" que tem razão e que não é doido.
Aproveita apenas o que lhe interessa, e ignora olimpicamente tudo o que desmente a sua "tese". Daí a falácia.
Um exemplo:
Na frase, "Nossa Senhora apareceu numa azinheira, garante um louco que andava no local", o crente usará apenas a 1ª parte da frase para justificar que "é verdade".
A parte do louco, não lhe interessa e por isso corta-a cerce.
O texto de Eça, de que o nosso comentador paranóico transcreveu uma pequena parte, além de conter inúmeros conceitos que nos revelam o que o autor efectivamente pensa do asssunto, e pelos quais o escriba Diogo, curiosamente passou como por vinha vindimada, não acaba ali.
Prossegue com este trecho que resume tudo e explica porque razão houve, há e sempre haverá tantos diogos neste mundo, turbas completamente imbecilizadas, que necessitam de narrativas simplificadoras e acreditam saber o que mais ninguém sabe.
"Na Meia Idade, todas as vezes que o excesso dos males públicos, a peste ou a fome desesperava as populações; todas as vezes que o homem escravizado, esmagado e explorado mostrava sinais de revolta, a Igreja e o príncipe apressavam-se a dizer-lhe: «Bem vemos, tu sofres! Mas a culpa é tua. E que o judeu matou Nosso Senhor e tu ainda não castigaste suficientemente o judeu.»
A populaça então atirava-se aos judeus: degolava, assava, esquartejava, fazia-se uma grande orgia de suplícios; depois, saciada, a turba reentrava na treva da sua miséria a esperar a recompensa do Senhor.
Isto nunca falhava. Sempre que a Igreja, que a feudalidade, se sentia ameaçada por uma plebe desesperada de canga dolorosa – desviava o golpe de si e dirigia-o contra o judeu.
Quando a besta popular mostrava sede de sangue –servia-se à canalha sangue israelita.[...]
Portanto, à falta de uma guerra, o príncipe de Bismarck distrai a atenção do alemão esfomeado – apontando-lhe para o judeu enriquecido. Não alude naturalmente à morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas fala nos milhões do judeu e no poder da sinagoga. "
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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Crise. Recessão. Depressão. Agora é que vai ser: os EUA vão entrar pelo cano e nós atrás deles. Talvez para a próxima. Para já, e pelo trigé...
22 comentários:
Os fundamentalismos sempre deram maus resultados. E houve periodos da história europeia de um grande fanatismo. Como se não bastasse, o clero insistia na ideia que os judeus mataram Jesus, culpando os judeus, seus contemporâneos, de um crime que nunca cometeram.
O que estranho é ainda haver um anti-semitismo tão entranhado. Ah, já me esquecia, hoje em dia ninguém confessa abertamente que odeia judeus. Agora é mais fino dizer que se é anti-sionista.
Quanto mais mudam as coisas mais elas ficam na mesma?
"os judeus mataram Jesus"
Que, por acaso, tb era judeu.
É óbvio que Eça não era, nunca foi, anti-semita e zurze violentamente os que ressuscitam, passados tantos séculos, razões artificiais para a justificar leis manuelinas antijudaicas. Criticava algumas práticas e características de vários grupos sociais, as suas grandezas e debilidades, mas nunca foi anti nenhum desses grupos. Lúcido e racional, apenas.
Nesses artigos que escreveu para a ‘Gazeta de Notícias’ do Rio de Janeiro o que pretende mostrar é que o anti-semitismo anacrónico, ressuscitado pelas classes conservadoras e ao qual Bismark fez vista grossa por conveniência política, era uma reacção a Karl Marx e outros socialistas judeus, que ameaçavam os interesses daqueles que encabeçavam a onda anti-judaica.
Além disso, este movimento é organizado pela burguesia, e as classes conservadoras da Alemanha são muito jurídicas para não aprovarem, no segredo do seu pensamento, o suplício de Jesus. Dada uma sociedade antiga e próspera, com a sua religião oficial, a sua moral oficial, a sua literatura oficial, o seu sacerdócio, o seu regime de propriedade, a sua aristocracia e o seu comércio, que se há-de fazer a um inspirado, a um revolucionário, que aparece seguido de uma plebe tumultuosa, pregando a destruição dessas instituições consagradas à fundação de uma nova ordem social sobre a ruína delas e, segundo a expressão legal, «excitando o ódio dos cidadãos contra o Governo»? Evidentemente puni-lo.
Pede-o a lei, a ordem, a razão de Estado, a salvação pública e os interesses conservadores. É justamente o que a Alemanha, com muita razão, faz aos seus socialistas, a Karl Marx e a Bebei. Ora, estes maus homens não querem fazer na Alemanha contemporânea uma revolução, decerto, mais radical que a que Jesus empreendeu no mundo semítico. É verdade que o Nazareno era um Deus: para nós, certamente, humanidade privilegiada, que o soubemos amar e compreender mas em Jerusalém, para o doutor do Templo, para a escriba da lei, para o mercador do bairro de David, para o proprietário das searas que ondulavam até Belém, para o centurião severo encarregado da ordem, Jesus era apenas um insurrecto.
Além de uma análise dos interesses em confronto, é um estudo interessantíssimo e actualíssimo sobre o trajecto das crenças religiosas, que começam como transformações e revoluções sociais e desembocam em religiões instaladas.
Muito bem, ml.
O bom senso, primeiro estranha-se e depois entranha-se, como Fernando Pessoa dizia da Coca-Cola.
Claro que quando Eça fala de Marx, fá-lo a partir do passado, por nem ele ser capaz de prever no que viria a desembocar tal religião.
O que Eça diz, nesse particular, não é de estranhar.
O que deveras se estranha é que, quase um século e meio depois, sabendo-se o que se sabe, haja crentes que, malgrado os factos, os sangrentos factos, by the way, continuam aferrados aos dogmas, ritos e mitos do marxismo e do socialismo.
Eça não sabia, mas os tontos sabem.
[É óbvio que Eça não era, nunca foi, anti-semita ]
Eça:
"O judeu hoje é um gordo. Traz a cabeça alta, tem a pança ostentosa e enche a rua. É necessário vê-los em Londres, em Berlim, ou em Viena: nas menores coisas, entrando em um café ou ocupando uma cadeira de teatro, têm um ar arrogante e ricaço, que escandaliza. A sua pompa espectaculosa de Salomões "parvenus" ofende o nosso gosto contemporâneo, que é sóbrio. Falam sempre alto, como em país vencido, e em um restaurante de Londres ou de Berlim nada há mais intolerável que a gralhada semítica. Cobrem-se de jóias, todos os arreios das carruagens são de ouro, e amam o luxo grosso. Tudo isto irrita."
Anti-semitismo boçal? Nada disso.
O Monolito, com as suas supremas capacidades divinatórias e interpretativas, falou.
Deixe-se de saloiices, qual bom senso qual carapuça. Tenho cá a impressão de que quem afirma que um filme não pode ser um pastelão só porque fala de judeus, não entende nada do que o que Eça escreveu. Porque se houve alguém crítico sobre a prática e comportamento social dos judeus foi ele, mas isso não o transforma num anti-semita, que não era. Se algum defeito não se lhe pode assacar é de ser amblíope.
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Olha, agora apareceu o binário, incapaz de distinguir a obra-prima do mestre da prima do mestre de obras. Ouvi esta há pouco, assentei-a num caderninho porque se ajusta que nem uma luva a alguns blogueiros daqui.
Ele podia ter críticas a fazer ao comportamento dos judeus como grupo social e fê-las. Isso faz dele anti alguém?
Eu tenho as mais sérias reservas ao seu tipo de mentalidade e (não)raciocínio. Será que sou anti-oliveirinha? Pretendo leis especiais que limitem a sua actuação? Exijo não o ver nos transportes públicos? Quero extingui-lo do convívio da sociedade onde vivo? Mostro racismo?
Esforce-se por treinar qualquer coisa de semelhante ao raciocínio e deixe de lado esses pietismos. É assim que se arregimentam as hordas de hoje em dia.
O olhe, para não ir sem uma luz.
Substituia, no texto que transcreveu, a palavra 'judeu' por 'novo-rico'.
Fácil, right?
ml, não perca a cabeça de cada vez que alguém lhe aponta as contradições óbvias em que constantemente incorre para manter a Coerência, o Nirvana dos obtusos. Tenha mais fair play!
Apesar de tudo, também concordo com o lidador, acho que evoluiu muito desde que andava enrolada com o diogo e o xatoo no homem das cidades.
Ah, e onde substituiu "judeu" por "novo rico", substitua "novo rico" por "cigano" ou "preto" e vai ver como o racismo instantaneamente se materializa.
[Ele podia ter críticas a fazer ao comportamento dos judeus como grupo social e fê-las. Isso faz dele anti alguém? ]
Tem razão, quando muito um anti-sionista.
[Será que sou anti-oliveirinha? Mostro racismo?]
O racismo é uma manifestação contra umas tais de supostas raças (que sabe-se hoje perfeitamnte que não existem), não contra indivíduos isolados.
Está a testar os meus conhecimentos? É uma casca de banana?
manter a Coerência, o Nirvana dos obtusos. Tenha mais fair play!
oliveirinha, sabe deus do que está a falar. Principamente na parte em que se considera 'avaliador' do antes e do depois.
Já viu ou leu alguma vez eu atacar os judeus? Ou outro grupo qualquer, para além dos comportamentos sociais e políticos que manifestam?
Lá vem outra vez a prima do mestre de obras.
Sim, e se substituir por 'ciganos' ou 'pretos' enquanto grupo social, o que é que muda? Estão isentos a críticas?
Só mesmo uma cabeça ping-pong concebe uma inibição dessas.
Aplicação nos exercícios, oliveirinha, aproveite as férias.
[Já viu ou leu alguma vez eu atacar os judeus? Ou outro grupo qualquer, para além dos comportamentos sociais e políticos que manifestam?
Lá vem outra vez a prima do mestre de obras.]
Claro, não confundir anti-semitismo com anti-sionismo. O antes e o depois, indeed.
[Já viu ou leu alguma vez eu atacar os judeus? Ou outro grupo qualquer, para além dos comportamentos sociais e políticos que manifestam?]
É exactamente isso que o Eça faz nesse extracto, só um oliveirinha consegue tresler o contrário.
O judeu é gordo, altivo, arrogante, ricaço, pomposo, ofensivo, fala alto, ri alto, e é ostentatório.
Uma fina análise social e política, em suma.
For the record, não considero que o Eça fosse um anti-semita, pelo menos não mais que os seus contemporâneos. Estava apenas a treinar um pouco a pesca à linha, para fazer jus ao título do post. O zeitgeist é tramado, por isso é que existe uma coisa chamada perspectiva histórica.
Há tempos, em julgamento, o conhecido Mário Machado referiu, tal como a ml, que nada o move contra os judeus, mas antes contra os que são sionistas, isto é, contra os que defendem a existência do estado de Israel.
Mário Machado é da chamada extrema-direita trauliteira, mas aqui revela uma subtileza notável, porque repete ipsis verbis a ideologia da chamada "esquerda moderna".
O que confirma que o “anti-sionismo” é apenas uma forma politicamente correcta de dizer o indizível.
A verbalização do anti-semitismo “racial” é hoje condenável. É o zeitgeist de que fala o LO.
Mas o anti-semitismo de raiz económica mais conhecido por anti-sionismo é, pelo contrário, uma doutrina com larga aceitação nos meios de esquerda.
É raro o esquerdista que não é "anti-sionista" ou, ainda com mais belo newspeak, "defensor da causa palestiniana"
Este anti-semitismo tem de facto profundas raízes na esquerda, do sec. XIX, que se indignava com o “feudalismo financeiro” atribuído a proeminentes homens de negócios de origem judaica .
Karl Marx, ele próprio um judeu, em “A questão judaica”, identificava o capitalista como o “verdadeiro judeu” , dizendo também que "a sociedade burguesa engendra constantemente o judeu em suas próprias entranhas".
O socialista Proudhon escrevia textos de grande hostilidade contra os “parasitas judeus”.
É com base nisto que a “esquerda moderna”, que se sente perfeitamente livre para invocar o velho demónio do anti-semitismo, agora convenientemente travestido.
A ML já percebeu que se pode perfeitamente ser anti-semita sem incorrer na condenação intelectual, moral e legal devida aos imbecis, aos canalhas e aos criminosos.
Basta reclamar-se de "anti-sionismo" e bravejar que se criticam "políticas".
De Israel, claro.
Já no Burkina, na ìndia, na Nova Zelândia, no Ruanda, e nos restantes cento e tais países, não há "políticas" a criticar. Excepto, é claro, se tiverem alguma coisa a ver com os "sionistas" ou os "neoliberais bushistas".
E, no entanto, o Eça diz:
Mas o pior ainda na Alemanha é o hábil plano com que (os judeus) fortificam a sua prosperidade e garantem o luxo, tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Alemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociais – a Bolsa e imprensa. Quase todas as grandes casas bancárias da Alemanha, quase todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacável. De modo que não só expulsa o alemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulência rutilante e o traz dependente pelo capital; mas, injúria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que há-de fazer, o que há-de pensar, como se há-de governar e com que se há-de bater!
Tudo isto ainda seria suportável se o judeu se fundisse com a raça indígena. Mas não. O mundo judeu conserva-se isolado, compacto, inacessível e impenetrável. As muralhas formidáveis do Templo de Salomão, que foram arrasadas, continuam a pôr em torno dele um obstáculo de cidadelas. Dentro de Berlim há uma verdadeira Jerusalém inexpugnável: aí se refugiam com o seu Deus, o seu livro, os seus costumes, o seu Sabbath, a sua língua, o seu orgulho, a sua secura, gozando o ouro e desprezando o cristão. Invadem a sociedade alemã, querem lá brilhar e dominar, mas não permitem que o alemão meta sequer o bico do sapato dentro da sociedade judaica.
Só casam entre si; entre si, ajudam-se regiamente, dando-se uns aos outros milhões – mas não favoreceriam com um troco um alemão esfomeado; e põem um orgulho, um coquetismo insolente em se diferençar do resto da nação em tudo, desde a maneira de pensar até à maneira de vestir. Naturalmente, um exclusivismo tão acentuado é interpretado como hostilidade – e pago com ódio.»
Diogo você já reparou que, enquanto as outras pessoas se munem de variado material para defender as suas teses, você limita-se a fazer copy paste da mesma citação?
Julgava-o um conspirador de maior traquejo.
RB:
"Julgava-o um conspirador de maior traquejo. "
Pois. O disco falhado tem fôlego que nunca mais acaba.
.
A mim faz-me lembrar o Bart Simpson a escrever no quadro no genérico dos Simpsons.
Meu caro binário, não se desdobre tanto. Não lhe ocorre um argumento inteligente assim à primeira? Então ponha as fraquezas ao seu serviço e aguarde uns minutos antes de responder. Ou vá tomando notas quando lhe ocorrer uma ideia brilhante. É capaz de levar algum tempo, mas sempre evita um discurso aos soluços. Digo eu, que por mim tanto faz. O caudal é o mesmo, lia-se é tudo de uma só vez.
Mas não tem mal, agora estou de férias e no intervalo de outras coisas até é divertido sentar-me aqui com o mata-moscas ao lado.
For the record, não considero que o Eça fosse um anti-semita
Ah, bom, fez bem emendar a mão, o papá não aprecia dissidências. Não vê como ele ficou feliz por eu não ter considerado o Eça anti-semita? Até me falou em bom senso e assim, e olhe que gostaria muito de lhe fazer a vontade, mas temo não ter sido eu a influenciar a opinião do Eça.
A ML já percebeu
Eu já percebi tudo isso e mais um par de botas, meu bom lid... estimadíssimo. Só ainda ando a tentar perceber o maquinismo que faz com que pessoas aparentemente triviais, com cabeça – suponho eu, sei lá – e tudo o mais que em princípio compõe o ser humano, a percam por dá cá aquela palha quando se trata dos Estados Unidos, Israel, judeus e assim. Distracção, talvez, pousam-na num lugar sossegado qualquer para pensar melhor e depois encontrá-la é o cabo dos trabalhos.
Felizmente na maior parte dos casos recuperam-na aparentemente em bom estado de conservação, só que tão danificada por dentro que a massa cinzenta já se esboroou.
Talvez na próxima encarnação as coisas corram melhor, quem sabe? Ou a clonagem, acho que mantém o aspecto mas o produto vem melhorado.
[fez bem emendar a mão]
A Coerência não é o meu forte.
[Não lhe ocorre um argumento inteligente assim à primeira?]
Cuidado não fique presa no papel pega-moscas.
Mata-moscas, oliveirinha, mata-moscas. Aquelas espátulas que fazem 'splash'.
A Coerência não é o meu forte.
Nem o fraco. Não existe, foi substituída pelo Respeitinho.
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