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quarta-feira, 9 de julho de 2008

FUTEBOL DEVIA SER O NOSSO IDEAL...


Sei muito bem que este texto está fora de horas. O Cristiano Ronaldo já foi operado, Wimbledon já terminou (e de que maneira!) e o Tour está a decorrer. Mas como já o tinha traduzido achei uma pena deitar fora e não publicar.

É da autoria de Ashin Ellian, um intelectual persa e professor de filosofia na universidade de Leiden. Quão diferente é esta sua visão sobre futebol da do nosso ex-seleccionador nacional, com as suas súplicas debalde à Virgem e orações em conjunto no balneário…

Que raio de jogo é este? Porque razão tanta gente, em todas as partes do mundo, se deixa emocionar pelo futebol? Que emoções provoca? Que condições cria nas relações entre pessoas?

Sou um amante de futebol. Antes mesmo de saber onde se situava a Holanda já eu gostava de futebol. Nesse tempo eu sabia quem era o Cruijff, mas não sabia precisamente onde ficava a Holanda. O eu no Irão torcer pela Argentina era a coisa mais natural deste mundo. Pessoalmente vejo nisto uma forma de cosmopolitismo sem o factor língua. Não precisava de saber espanhol ou neerlandês para entender os sentimentos do capitão argentino Mário Kempes ou do jogador holandês Johnny Rep. Porque razão ainda não me esqueci deste facto? Porque, para mim, este campeonato do mundo de 1978 foi o último que vi em paz, antes de rebentar a revolução de Khomeini.

Mas futebol vai além do simples cosmopolitismo. Futebol não é uma nova religião. Na realidade futebol tem uma forma de coesão e de fraternidade que a religião já não é capaz de despertar. Isto é pelo menos válido no que diz respeito à cristandade. O jogo une as pessoas e, apesar de futebol ser algo técnico, continua a ser um mistério. A sorte e a fatalidade têm um papel preponderante. Futebol enaltece e humilha. É fraternidade sem Deus.

Tão pouco é o ser humano o paradigma. Não podemos esquecer a bola. Não é a vontade mas sim uma combinação de acontecimentos o ponto fulcral. Visto que todas as nações que jogam futebol querem alguma vez obter a vitória - ser campeãs. Mas a bola, essa coisa misteriosa, não a concede a toda a gente. Ninguém, até mesmo o grande Cruijff, é capaz de nos dizer quando e como um país se pode tornar campeão. Tudo isto me lembra uma tragédia grega, mas numa versão moderna: uma tragédia sem derrame de sangue. O vencedor de hoje pode ser o derrotado de amanhã.

Futebol une as pessoas. Por exemplo, a selecção holandesa é, como a própria sociedade, uma comunidade multirracial e pluriforme. Hengelaar é originário do Suriname, Afellay e Boulahrouz são de origem marroquina. Será que eles falam sobre este assunto? Não. Têm actividades relacionadas com as suas origens religiosas ou culturais? Não. São positivamente discriminados? Não. São vistos como exemplos oriundos de bairros problemáticos? Não. São subsidiados pelo Estado Providência? Não, não e não. Pura e simplesmente jogam bem à bola e conhecem as regras do jogo.

As regras do futebol não são baseadas na Sharia nem na cultura marroquina, nem tão pouco numa ou outra tradição do Suriname. As regras são universais e culturalmente e religiosamente neutrais. Os árbitros têm um uniforme e falam a linguagem futebolística. Não usam um lenço na cabeça, um solidéu na nuca, ou uma cruz ao peito. Apenas fazem cumprir as regras. Alguma vez Boulahrouz pediu ao seleccionador Van Basten se pode rezar por volta das 12 horas? Ou alguma vez exigiu um local de oração? Não, nunca o fez.

É holandês e um excelente jogador. Luta como um herói pela sua cor: Laranja. Religião é um assunto privado. A neutralidade do treinador, das regras e do equipamento faz com que pessoas de origens diferentes formem um grupo, um grupo capaz de suportar mesmo a tragédia. E por último, mas não o factor menos importante, temos o espectador. Também ele é neutral. O espectador vibra e chora com a equipa e não vê cores, origens ou religiões. Isto devia ser o nosso ideal. Um estado neutral com regras neutrais que faculta oportunidades a toda a gente.

6 comentários:

Diogo disse...

«este campeonato do mundo de 1978 foi o último que vi em paz, antes de rebentar a revolução de Khomeini»


Que bom! Um amigo do peito do Xá que foi lá posto pela CIA (ela admite-o publicamente).

Este fervor pelo futebol do sr. Ashin Ellian esconde os apitos dourados que ele conhece bem. «Um estado neutral com regras neutrais»? A Pérsia de Pahlevi? Valha-me Deus!

Carmo da Rosa disse...

Que Bom! Um amigo de peito de Khomeini, aqui colocado pela Santíssima Trindade: Alá, a Quarta-Internacional e o Esquerdalho Nacional…

Anónimo disse...

Ao Boulahrouz nunca perdoarei a canelada que ele deu a um jogador português no Mundial 2006...

Anónimo disse...

Ao Boulahrouz nunca perdoarei a canelada que ele deu a um jogador português no Mundial 2006...

Carmo da Rosa disse...

Caríssimo,

Dat slaat als een tang op een varken!!!

Quando o texto é acessível, é infalível, o Tuga não percebe, porque não está habituado. Tenho que começar a escrever como o Luis Camelo para ser tido em consideração… Mas trata-se de uma tradução, e como tu bem sabes, os holandeses (e os estrangeiros que cá vivem há muito tempo) tem o estranho hábito de escrever de forma simples, para que o maior número possível de pessoas entenda. Mas eu esqueço-me sempre que em Portugal é precisamente o contrário, quanto menos compreensível melhor…

Não se trata de caneladas, nem propriamente do Boulahrouz! Podes à vontade substituir o Boulahrouz pelo Affellay ou pelo De Jong - que por enquanto, que eu saiba, não deram caneladas em jogadores portugueses – que a essência da mensagem não se altera.

makunbeiro disse...

Benfica sempre