No Blasfémias:
«Chumbar» ou «reprovar» um aluno no sistema de ensino público português chama-se «reter», e só pode acontecer mediante certos esotéricos «pressupostos», onde não figuram a capacidade do aluno, a sua aplicação ao estudo, a vontade de aprender e aquilo que ele sabe ou não sabe, mas uma «avaliação extraordinária» da dramática circunstância de repetir o ano, e, pasme-se!, a autorização do progenitor da jovem vítima da maldade recalcada dos professores que o querem prejudicar. A escola pública portuguesa, filha dilecta do Émile de Rousseau, não conhece nem distingue competências, nem o mérito, nem o esforço de uns e a displicência de outros. Para os nossos discípulos do Maio de 68, versão light à Roger Waters do «Hey! Teacher! Leave them kids alone!», «não há rapazes maus», como bem lembrava o saudoso Padre Américo. Nivelar classificando por baixo, ou nem sequer classificar coisa alguma, é o paradigma da nossa escola, onde reprovar é palavra proibida e obrigar a aprender quem ainda não aprendeu pode ser um trauma socialmente insuportável. O esforço de transformar décadas e décadas de facilitismo, entretanto convertido em cultura estabelecida, não é para um ministro, nem para um governo, nem sequer para uma legislatura. Ainda assim, boa sorte a Nuno Crato e a Passos Coelho. Por algum lado é preciso começar e esperemos que eles não deixem de o fazer.
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