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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Correr com os Gregos



É o título deste texto de Alberto Gonçalves, no DN, que transcrevo de seguida:

A Grécia entrou no euro com estatísticas falsificadas? O que importa é Aristóteles. A Grécia aumentou paródica e exponencialmente o funcionalismo público? O que importa é Platão. A Grécia torrou mundos e sobretudo fundos em aumentos salariais, subsídios e benesses diversas? O que importa é Homero. A Grécia aproveitou a integração europeia para, afinal, cometer uma imensa fraude e desgraçar-se no caminho? O que importa é Sócrates (o autêntico).


Nos últimos tempos, é impossível constatar a sepultura que os próprios gregos cavaram sem que os simpatizantes de semelhante desvario invoquem os pergaminhos civilizacionais do lugar. Grosso modo, o "argumento" é o seguinte: o comportamento do povo e dos políticos gregos não pode ser considerado patético nem perigoso na medida em que aquelas paragens foram o berço de inúmeros protagonistas da experiência ocidental. Segundo esta escola de pensamento, o passado ilustre de qualquer nação legitima as suas acções posteriores, perspectiva que, no limite, isenta os alemães da II Guerra e de Auschwitz à conta de Bach e Kant.


No mínimo, por maioria de razão, os alemães ficam automaticamente ilibados de deixarem a Grécia cumprir o seu miserável destino. Ao contrário do que a expectativa face às próximas eleições locais possa sugerir, a Grécia não tem grande escolha. A Alemanha e, se apreciarmos o formalismo, a Europa, sim.


Nas "legislativas" de Junho, a população vai teoricamente optar entre o Syriza e a Nova Democracia. O primeiro partido é uma agremiação da extrema-esquerda com um chefe folclórico e uma mensagem: só pagaremos o dinheiro que nos emprestaram se continuarem a emprestar-nos mais. Chamem-lhe ameaça, chantagem ou pura e simples declaração de guerra, a verdade é que o sr. Tsipras confia no medo da Europa (e da Alemanha) para, caso chegue ao governo, intensificar a farsa em que o seu país se transformou.


A Nova Democracia é, juntamente com o PASOK, defensora em teoria do estado actual das coisas. Por outras palavras, finge suportar a austeridade e confia no medo dos cidadãos para, caso forme governo, manter a farsa à espera não se percebe bem do quê.


Em suma, os radicais querem largar o euro por amor ao caos garantido, os moderados querem servir-se do euro na ilusão de uma cura mítica. A verdade é que enquanto poucos gregos advogam o abandono da moeda, quase nenhum reconhece a justiça dos sacrifícios a que o submeteram, uma mistura em constante iminência de explosão em Junho, Agosto ou Outubro. Na democracia ateniense não impera a sensatez: os resultados eleitorais apenas distinguirão os loucos dos apavorados. Se as sondagens iniciais acertarem e o Syriza vencer, o problema estará resolvido por natureza. Se o acerto couber às sondagens recentes, que atribuem a vitória à Nova Democracia, cabe à Europa (ou à Alemanha) resolver o problema e organizar na pacatez possível a saída da Grécia do euro e, escusado protelar, da UE.


Custos? Imensos, mas relativamente mensuráveis e, com sorte, controláveis. Já aguentar a Grécia a qualquer custo é uma loucura que não se mede nem controla. De loucuras basta a que converteu a livre circulação de pessoas e bens numa máquina produtora de "integração" política e monetária forçada a que os ingénuos chamam Europa e os malucos desejam "solidária". Aliás, correr com os gregos é menos uma fatalidade do que uma homenagem: além da filosofia, eles não inventaram o atletismo?

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