Se observarmos com cuidado, podemos reparar que à medida que os seres humanos envelhecem vão ficando mais aquilo que já eram. Isto é, um homem de meia-idade complicado já era complicadinho quando era novo; um velho rabugento já tinha mau génio na meia-idade.
É o caso de Mário Soares. Na 3ª o DN publicou um artigo de opinião em que Soares comenta a o buraco fundo a que as políticas fiscal e de centralização socialistas estão a arrastar Portugal. O Eurostat classifica Portugal como o país em que as desigualdades sociais e a pobreza estão entre as maiores e foram as que mais se agravaram na UE.
Segundo Mário Soares, entre os culpados estão os inveitáveis Bush e Blair, como já se imaginava e ele nos repete sempre que pode. Soares nada diz acerca do facto de a política económica americana não ter nada de novo de há muitos anos, que é a mesma desde há vários presidentes para cá, incluindo o agora (mas só agora) iluminado Clinton.
A Esquerda tem este marcador genético distintivo, aquele que a faz sempre procurar um diabo externo a quem culpar pelos fracassos próprios e ainda se mostrar pedagoga.
Ora, Soares nem quer saber porque razão tantos países vão progredindo mais que Portugal, sejam eles europeus ou não, apesar de viverem no mesmo mundo em que Soares e Bush vivem ainda que separados por alguns fusos, horários e outros.
Outra pérola, Soares acha que a Europa se deve proteger do neo-liberalismo americano. Mais uma vez há coisas que ele não quer saber. Desde logo não quer saber que o neo-liberalismo americano fez e faz com que em cerca de 30 anos o PIB americano seja cerca de 1/3 mais elevado que a média europeia. Também não quer saber que é a mesma receita neo-liberal americana que faz com que as economias emergentes de países como o Brasil, a Índia, a China ou a Indonésia saiam da pobreza a que pareciam condenados.
Mas não é apenas isto. Soares ainda não reparou que a Europa segue o caminho do neo-liberalismo económico, ainda que amputado, deste o tempo em que Teacher ganhou as eleições na GB com um discurso anti-populista e anti-socialista. Acontece que, para desgraça da Europa a aparente conforto de Soares, o liberalismo económico à europeia caminha apenas sobre uma perna, já que a outra está paralisada pela carga fiscal elevadíssima que vai lentamente corroendo as vantagens económicas do continente. Mas é sobretudo definitivo que o tempo do keynesianismo, do visão do Estado motor da economia, está posta de lado. Mas Soares ficou-se pelas receitas dos tempos do pós-guerra. Não percebeu que caldos de galinha e 16 horas de cama por dia podem fazer bem a quem recupera de doenças graves, mas fazem muito mal à saúde de gente que se quer saudável.
Voltando ao horror que agora Soares tem à América, esse parece coisa que não tem cura. Isto porque é altamente improvável que os EUA voltem a ter na sua embaixada em Lisboa um Frank Carlucci que dê a MS palavras de coragem e apreço - e sabe-se lá que mais coisas - para que Soares volte a ser, como foi em tempos, o grande amigo português dos seus grandes amigos americanos.
De regresso ao pondo de partida, a esta coisa de nos irmos todos transformando com a idade em mais do que já éramos, bem se pode dizer que Mário Soares, que sempre teve mau génio e mau perder, está mais embirrento que nunca.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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1 comentário:
Com a idade é assim: alguns órgãos perdem volume, outros incham, outros não incham nem desincham mas perdem funcionalidades. E, se algum funciona bem, os outros pioram muito mais para compensar.
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