"4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista"
para:
“4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem qualquer ideologia totalitária ou autoritária contrária ao Estado de Direito Democrático”.
por forma a incluír “o caso do Comunismo, não previsto no texto constitucional”, como é referido no preâmbulo.
As reacções no Campo de Tiro foram previsíveis. Jardim “não sabe do que fala” (DO); há uma “crescente onda de anti-comunismo” (como se isso fosse uma coisa má); outro cromo do cinco dias interroga-se inocentemente: “O que é uma ideologia totalitária?”. No quadrante libertário a preferência vai para a eliminação pura e simples do nº 4 do artigo em causa (péssima ideia).
Por mim acho muito boa a proposta do “Jardim” (nome pelo qual é referido normalmente o PSD Madeira). Há poucas coisas mais deprimentes do que pensar que vivemos num país onde 20% da população vota em partidos de extrema esquerda.
Em Portugal, o fascismo e o nazismo são condenados quase unanimemente (tirando meia dúzia de maluquinhos). As ideias comunistas, no entanto, continuam a ter plena aceitação, tanto na sua versão pura (leia-se estalinista) como nas suas várias variantes, nomeadamente a trotskysta. A “luta” anti-fascista continua a conferir uma aura de santidade (apesar dos “fachistas” serem mais raros que os adeptos do Belenenses e não existir um único regime fascista no planeta). O anti-comunismo, por seu lado, é mal visto e anti-democrático (!), não obstante o rol de vítimas mortais desta ideologia assassina continuar a engrossar diariamente.
É porque o nazismo “foi muito pior”, é o argumento. Hitler tentou exterminar raças inteiras. Nada é comparável ao Holocausto. Sem querer aqui entrar numa competição para determinar qual dos dois regimes totalitários é mais abominável ou matou mais gente (foi o comunismo), recordemos apenas o Holodomor, a grande fome de 1932, que poderá ter exterminado até 10 milhões de cidadãos soviéticos. Deve ter sido um ano mau, se calhar não conta...
Por que será que qualquer estudante de liceu (mesmo os que passam com 9 negativas) já ouviu falar do primeiro evento e quase nenhum fará a mínima ideia sobre o segundo?
Porque é que em vários países o negacionismo (a negação ou minimização dos crimes nazis) é proibida por lei, enquanto a negação dos crimes cometidos pelos comunistas é perfeitamente legal, assim como a exaltação da ideologia que lhes esteve na origem?
É que se for necessário comparar, não pode existir sombra de dúvida de que o comunismo foi muito pior que o nazismo.
- Durou muito mais tempo
- Causou muito mais vítimas
- A sua extensão geográfica foi (e continua a ser) muito maior
Para o bem das gerações futuras, para que reconheçam o totalitarismo independentemente da roupagem que venha a apresentar, é urgente rectificar este desequilíbrio gritante no que respeita ao julgamento histórico do comunismo vs fascismo/nazismo. É por isso que a proposta do PSD Madeira é de aplaudir.
É inaceitável que, passados que são vinte anos sobre a queda do Muro de Berlim, a propaganda e mistificação comunista continuem a ter aceitação em tão largas camadas da população. Os comunistas continuam a ser vistos por muitos como os que lutam pelos desfavorecidos e oprimidos, pela liberdade e pela paz.
Como é isto possível? Nos dias que correm, com toda a informação à distância de um click, está ao alcance de qualquer um saber os meios concretos que se escondem por trás da retórica: a abolição da propriedade privada e das liberdades individuais, a obliteração da individualidade e submissão à linha do partido, o extermínio de uma parte significativa da população (as “classes inimigas”, mesmo as fiéis!), a instauração de um regime ditatorial (“revolucionário” na língua de trapos dos “compagnons de route”), o apoio incondicional a estados criminosos, (encarnações da paz, bem estar das populações e justiça social, na imaginação dos tolinhos). E quando as coisas correm desastrosamente mal não é preciso dizer nada, já sabemos: não era o verdadeiro comunismo/socialismo.
Quem é que ainda papa estas bostadas? É possível distinguir actualmente três categorias genéricas de crentes no “homem novo” comunista: os intelectualmente desonestos, os ignorantes e os estúpidos. Percorrendo as caixas de comentários do Fiel Inimigo encontram-se bem representadas amostras das três classes. O conteúdo dos comentários, por seu turno, não augura nada de bom para o futuro.
54 comentários:
O facto deste assunto estar em cima da mesa por aqui e por ali e ter obrigado a esquerdalhada a saír da toca em azamboadas rosnadelas constitui uma das cada vez mais raras conquistas do 25 de Abril e do 25 de Novembro.
A liberdade está a passar por aqui:
http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/godinho-mareAlta.html
Aprend'a nadar, companheiro
aprend'a nadar, companheiro
que a maré sevai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta
Aprend'a nadar, companheiro
aprend'a nadar, companheiro
que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
http://omacacoqueriglobal.blogspot.com/2009/05/comunistas-da-raca-de-jesus-cristo.html
Houve um mercado de carne humana tanta era a fome. As crianças desapareciam sem deixar rasto: ninguém as perdia de vista. Foram comidas ... muitas ao pequeno-almoço.
Grande post.
Concordo inteiramente com o LO.
E de resto, há países na União Europeia onde o a exibição de símbolos comunistas ou a difusão de ideias comunistas é proibida.
De qq modo eu penso que a solução não é proibir a expressão de ideias. Isto faz lembrar o "crimepensar" do mundo orwelliano.
Devem, em minha opinião, ser permitidas todas as ideias, até ao momento em que a sua expressão não tenha efeitos sobre os direitos fundamentais dos indivíduos.
Por exemplo, estou-me nas tintas para que um tipo berre vivas a Hitler, a Bin Laden ou a Chavez.
Mas se essa sua expressão estiver na origem de actos criminosos, como agressões, assassínios ou vandalismo, então esse tipo deve ser punido e, vá lá, limitado na sua liberdade de expressão.
O Alberto João tem telhados de vidro, pois pertencia à União Nacional antes do 25 de Abril.
As ideologias não podem ser proibidas. Podem e devem ser proibidos todos os actos condenados por lei, que incitem à violência, etc.
Proibir o "comunismo" é tão idiota como proibir o "fascismo". As ideologias devem poder ser discutidas.
Ao contrário dos países de Leste, onde houve ditaduras comunistas, em Portugal o PCP nunca esteve explicitamente no poder.
Goste-se ao não do PCP (e eu não gosto) a verdade é que o Partido Comunista Português lutou contra o fascismo e teve uma quota parte não negligenciável no seu derrube. Que a extrema-direita nunca tenha tido grande expressão em Portugal, compreende-se, após 48 anos de ditadura.
O mais lógico seria alterar a frase da Constituição que faz alusão ao fascismo. Nesse sentido é uma frase datada que devia ser actualizada.
Os comunistas lutaram contra as ditaduras salazarista, fascista e nacional-socialista no sentido de as substituirem pela sua. De outra maneira, para imporem a sua concepção ideológica do que é bom para o povo, em contraposição ao que a extrema-direita pensa sobre o mesmo assunto. Acabaram por contribuir para a democracia, mas não por vontade sua.
Qual é, então, o mérito que lhes cabe ou o respeito que se deva ter por eles? Se tivesse sido ao contrário e fossem os nazis a haver contribuído, pela sua acção, para o derrube de um regime ditatorial comunista, para poderem estabelecer a sua, e, não o tivessem conseguido, deveriam merecer-nos o mesmo respeito histórico?
JG:
"Acabaram por contribuir para a democracia, mas não por vontade sua".
Essa é boa! Então foi por vontade de quem?
O que interessa é o que se passou, não o que gostaríamos que tivesse acontecido.
Estamos no campo das hipóteses; SE os comunistas,..SE os nazis...
A verdade é que a única ditadura do século XX, em Portugal, foi de direita e não de esquerda.
O PCP foi uma das poucas forças organizadas que durante décadas combateu o fascismo. Os presos e os torturados eram, entre outros, do PCP. Se era para lá pôr outra ditadura, ou não, é especulativo. Aliás, o Spínola, que não era propriamente um democrata, foi o primeiro a convidar o PCP para ocupar um lugar (ministro-sem-pasta) nos governos provisórios, logo após o 25 de Abril.
HV:
"Então foi por vontade de quem?"
De Eanes, entre outros. Já ouviu falar no 25 de Novembro?
A "luta" dos comunistas pela democracia, é mais um mito, uma boutade que, de tanto repetida, acaba por entrar nas cabeças menos informadas.
Em 1º lugar os comunistas não lutaram pela democracia. Lutaram pela "ditadura do proletariado", sob e égide do Partido, obviamente.
Em 2º lugar não tiveram qualquer intervenção no golpe de estado que pôs fim ao regime marcelista. Foram uns quantos militares, exclusivamente por questões de carreira e tão politizados como um quilo de cebolas.
Em 3º lugar, a intervenção comunista no período que se seguiu ao golpe, foi oportunista e consistiu em torpedear a democracia e tentar aposssar-se do poder pela força.
Em 4º lugar, quem de uma vez por todas recolocou Portugal nos eixos, e um piparote nas aspirações do Partido Comunista, foram outra vez os militares, nomeadamente a unidade a que eu pertenci, o Regimento de Comandos.
O resto é mito.
Holandês:
"O PCP foi uma das poucas forças organizadas que durante décadas combateu o fascismo."
Sem dúvida.
"Os presos e os torturados eram, entre outros, do PCP."
Naturalmente.
"Se era para lá pôr outra ditadura, ou não, é especulativo."
Quando é que o PC renunciou à revolução pela via da ditadura do proletariado? Onde é que o meu amigo estava, no período do PREC? Vá lá, não venha para si próprio com tretas, não faça verdades suas os malabarismos políticos alheios. Olhe que eu ouvi, out of record, com estes que a terra há-de comer, meias-palavras muito esclarecedoras de quem estava, nessa altura, no Comité Central. Tiveram que se conformar e encolher as garras, a contra-gosto.
De qualquer modo, não respondeu à minha questão: se tivesse sido ao contrário, isto é, se tivesse sido um partido fascista a derrubar uma ditadura de esquerda, você teria para com eles a mesma atitude e produziria o mesmo tipo de argumentação para justificar o seu direito a existir em democracia ou, pelo menos, considerá-los-ia como heróis?
Holandês:
Já agora, quanto ao Spínola: acha que alguém com um mínimo de tacto político, naquele período, negaria lugar num governo de transição a representantes de uma força política cuja lenda de resistência era tão forte como a do PCP? Dar-lhe um lugar de ministro, com ou sem pasta, não quer, no entanto, dizer que se estivesse cego para o que isso poderia representar. Não se esqueça que, do mesmo modo que Staline chamava ao PC chinês "comunistas de manteiga", também o "eurocomunismo" era considerado pelo PC como a total degenerescência burguesa dos princípios revolucionários. O PC sempre afirmou total fidelidade a Moscovo.
HV,
Digira esta e deixe de despejar palermics.
http://video.google.com/videoplay?docid=236350388217925590&ei=42BqStSiJ4vM-Aaaq7n8CA&q=zita+seabra
.
RD:
Independentemente do que possamos pensar do PCP, o 25 de Novembro só foi possível porque as forças militares de esquerda (que estavam em maioria e eram as mais bem equipadas) não quiseram entrar em confronto com as outras unidades militares para evitarem uma guerra civil.E a razão era simples: em Agosto de '75, Cunhal tinha sido chamado a Moscovo e sabia que não podia contar com os soviéticos, o que inviabilizava qualquer tipo de aventureirismo. A sublevação dos paraquedistas de Tancos (que dá origem ao contra-golpe do Eanes) é um movimento da extrema-esquerda que não tem nada a ver com o PCP. Leia, entre outras, as declarações do embaixador soviético da altura e os documentos do arquivo de Moscovo, publicados pelo Pacheco Pereira no seu blogue sobre "arquivos do comunismo". Está lá tudo. À excepção do quartel dos lanceiros da Ajuda, os comandos não encontraram resistência nenhuma nesse dia, o que explica a relativa facilidade com que controlaram a situação.
Isto são factos sobejamente conhecidos, que Vasco Lourenço confirmou ainda recentemente no livro que publicou. Ele diz, de resto, que o Eanes não teve o papel que lhe atribuem.
Lidador:
O 25 de Abril teve na sua génese uma reivindicação corporativa dos militares de carreira, mas o PCP era certamente uma das forças activas no MFA. Leia, entre outros, o livro do Otelo "Alvorada em Abril" onde ele explica bem quem era quem na preparação do golpe. Já lá estavam pessoas como o Vasco Gonçalves, o Rosa Coutinho, etc...que eram afectos ao PCP. Isto não são mitos, são factos.
Que o PC tentou destabilizar o processo no PREC, estamos de acordo. Como todas as outras forças partidárias, de resto. O que acontece é que, após o 25 de Abril, a única força organizada em Portugal era o PC que já existia como partido. Todos os outros partidos, à excepção do PS (e mesmo este só em 1973) nasceram em 1974. O que é que isto tem de mito? Nada. Era a situação na altura.
JG:
Obviamente que o PCP teve de encolher as garras a contra-gosto. Mas, quem é que diz o contrário? Respondendo à sua pergunta: no 25 de Abril existia uma ditadura fascista que foi derrubada e instaurada uma democracia. Ninguém falou em heróis. A distinção a fazer é entre ditadura e democracia, não entre esquerda e direita. Se, por hipótese académica, os nazis fizessem um golpe para depor uma ditadura e instaurar uma democracia, eu apoiava. Você acredita que isso era possível? Ora, não foi isso que se passou no 25 de Abril. Portanto eu tenho de analisar a situação em função do que aconteceu e não, como você faz, em função do que gostaria que acontecesse. Qualquer pessoa percebe isto.
HV
"Independentemente do que possamos pensar do PCP, o 25 de Novembro só foi possível porque as forças militares de esquerda (que estavam em maioria e eram as mais bem equipadas) não quiseram entrar em confronto com as outras unidades militares para evitarem uma guerra civil"
Caro HV, você parece uma beata tonta.
O 25 de Novembro só foi possível porque alguém o fez. Alguém avançou, alguém pôs o pescoço no cepo.
"e sabia que não podia contar com os soviéticos"
Foram os soviéticos que possibilitaram, portanto, o 25 de Novembro? Eram imensamente mais poderosos que as tropas de Eanes tal como você alega que seria poderosos os "de esquerda".
Não é claro para si que Cunhal queria resfascisar o país?
"Ele diz, de resto, que o Eanes não teve o papel que lhe atribuem. "
Pois não. Se calhar o 25 de Novembro nem existiu. Se calhar foi coisa executada-por-não-ser-executada pelos militares "de esquerda" para demonstrar a firme vontade de evitar uma guerra civil.
Vá lá rezar mais umas ladaínhas a santo Cunhal.
HV:
"Obviamente que o PCP teve de encolher as garras a contra-gosto."
Ms então não queria demonstrar querer evitar a guerra civil? Afinal foi obrigado?
"no 25 de Abril existia uma ditadura fascista que foi derrubada e instaurada uma democracia."
A democracia só foi claramente instalada pelo 25 de Novembro. Entre os 25s Cunhal e o PCP tudo fizeram para instalar uma ditadura 1000 vezes mais violenta que a de Salazar.
One é que algum PCP realizou no mundo algo que não resultasse numa sanguinária "sociedade mais justa"?
"Se, por hipótese académica, os nazis fizessem um golpe para depor uma ditadura e instaurar uma democracia, eu apoiava"
Pode até dizer-se que se não fosse o PCP nunca seria necessáro que a PIDE fosse tão aguerrida. Pela hipótese académica HV, a PIDE esteve do lado dos que lutavam contra a instauração, em Portugal, de uma "democracia" versão PCP: ditadura do proletariado, apropriação dos meios de produção, apropriação do país pelos porcos do costume.
O raciocínio do HV é demonstrativo do modo de pensar "in the box", que incapacita as pessoas de esquerda de encarar a realidade completa.
Perante uma situação dada, as pessoas ideologizadas à esquerda, apenas encaram factos que possam inscrever na sua visão conceptual.
Vamos a alguns factos:
No dia 24Nov75 o Diário de Notícias (José Saramago), apelava à insurreição militar.
O HV diz que Cunhal tinha sido chamado a Moscovo e patati patatá.
Vá aos arquivos e leia o DN desse dia.
Quanto às unidades, efectivamente nas vésperas do 25 de Novembro a contagem de espingardas parecia dar vantagem às forças antidemocráticas. Contavam com o COPCON, os Paraquedistas, os Fuzileiros, o RALIS, o Regimento de Polícia Militar (RPM), a Escola Prática de Artilharia (EPA), a Escola Prática de Administração Militar (EPAM), e uma miríade de unidades de duvidosa preparação, mas cuja massa crítica pode tornar-se decisiva. O Grupo Militar tinha como única força verdadeiramente pronta, fiável e flexível, os Comandos, com 4 companhias. Duas eram "convocadas" . Pessoal que tinha feito a guerra e que já estava na vida civil.Até um Comandante da TAP. Gente capaz, com experiênciade combate, disciplina, coragem, e que acertava ao 1º tiro. Os paraquedistas não tinham oficiais, muitos tinham sido "saneados" e os restantes abandonaram as unidades. A única unidade paraquedista em condições era o Batalhão do Ten Cor Almendra, acabado de regressar de Angola e que rapidamente se deslocou para a Cortegaça, fora da influencia da esquerda militar. O CopCon ainda os tentou cooptar, mas a CCmds 121 foi lá e pô-los a mexer. Às 03h30 do dia 25 de Novembro, à ordem do COPCON, as tropas paraquedistas sublevadas iniciaram o golpe, ocupando bases aéreas e outras instalações. A EPAM, reforçada com milícias esquerdistas, ocupa a RTP, e o RPM a Emissora Nacional. São cupadas as antenas de Porto Alto e Castanheira do Ribatejo. Forças de fuzileiros assumem a defesa do COPCON. O Regimento de Infantaria de Queluz recebe a missão de se preparar para atacar os Comandos, mas não obedece. À EPC é ordenado que varra as barricadas da CAP, mas tb não obedece. COPCON não controla todas as unidades, e as indecisas assobiam para o ar, para ver de que lado sopra o vento. Otelo hesita e não consegue ver cumpridas, as ordens lógicas que lhe permitiriam explorar o sucesso inicial. O tempo não corre a favor dos golpistas e percebe que vai haver resistência armada. No dia 25 o Grupo Militar organiza-se. O PR hesita em declarar o estado de sítio mas às 17h00, Ramalho Eanes, de pistola em punho, entra no gabinete de Costa Gomes e força-o a emitir tal declaração. O Grupo Militar instala-se e no Regimento de Comandos, e a partir das 18H00 emite as 1ªs ordens. -Ocupação das antenas de Castanheira do Ribatejo, deslocamento dos blindados de Estremoz para Porto Alto e Setúbal, deslocamento dos Esquadrões de Reconhecimento e de Carros de Combate da EPC para neutralizar o RALIS, conquista da 1ª Região Aérea (Monsanto) pelos Comandos, e desactivação das antenas da RTP aí instaladas. A 1ª acção decisiva é a dos Comandos, em Monsanto. O HV diz que não houve resistência, mas obviamente nunca esteve numa acção militar, nem conhece a psicologia dos combates. Jaime Neves, com 2 CCmds avançou pela rotunda de Monsanto, onde neutralizou um blindado dos revoltosos. Cercado o objectivo, Jaime Neves, de megafone em punho, deu 15 minutos aos paraquedistas para se renderem. Foi uma táctica de poker. Os paraquedistas, bem entrincheirados, poderiam opor grande resistência, mas Jaime Neves jogou na demonstração de força perante homens mal comandados e conseguiu os seus objectivos sem combater. Uma acção militar brilhante e o HV se quiser saber porquê, leia Lidell Hart. Às 21 H o capitão Duran Clemente, da EPAM, saiu do ar, sendo substituído por Danny Kay, a partir da RTP/Porto. Neste momento o golpe começa a falhar . E foi este momentum que levou o Batalhão de Fuzileiros nº 2 a recusar as ordens do COPCON, de avançar para Lisboa. Por volta das 22H00, o PCP anteviu o falhanço, e começou a demarcar-se para garantir a sobrevivência futura.
O resto já se sabe. O RPM aquartelava mais de 1000 homens, e um dos elementos do triunvirato comandante, o Major Mário Tomé, era um oficial com carisma e experiência de combate. Durante a madrugada os três Majores (Cuco Rosa, Campos Andrada e M.Tomé) recebem ordens para se apresentarem no Palácio de Belém, mas recusam obedecer. É então decidido o uso da força. A força de ataque (CCmds 112 e 113 e mais alguns elementos) avança ao alvorecer . A CCmds 112 desce a Ajuda, a 113 (-) progride a norte de Cavalaria 7, e o remanescente, com Jaime Neves à cabeça, sobe a Calçada da Ajuda e fecha a tenaz sobre o RPM. A intenção de Jaime Neves é repetir a táctica usada em Monsanto, mostrando grande aparato de modo a obter a rendição sem ter de passar as vias de facto. São 08H00. De Cavalaria 7 partem os primeiros tiros que matam o Furriel Pires Os Comandos fecham o cerco debaixo de fogo que provoca a morte do Tenente Comando Coimbra e do Aspirante Bagagem, do RPM. Um Grupo de Comandos entra pela Direcção da Arma de Cavalaria, colocando-se em posição de bater as casernas. Jaime Neves manda cessar-fogo e, numa Chaimite, chega à frente do RPM, ordenando a abertura dos portões. É preciso tê-los no sítio para fazer isto, meu caro. Não obtendo resposta arromba o portão e penetra no quartel. Os comandantes do RPM acagaçam-se e rendem-se a Jaime Neves. Convém salientar, tanto a liderança de Jaime Neves que, em circunstancias muito difíceis consegue travar o ímpeto combativo dos seus homens, como a do 2º Cmdt do Regimento de Comandos, Lobato Faria o qual, ao impedir a saída das Companhias que pretendiam “vingar” a morte dos camaradas, evita aquilo que poderia ter sido um verdadeiro banho de sangue.
@ macaco que ri: «O tipo de sociedade que têm prevalecido entre os macacos sapiens é a formação de grandes estados com uma chefia centralizada,»
Caro macaco, o tipo de sociedade que continua a prevalecer é a da má educação. É a de entrar sem bater à porta, é a de deixar apenas um link sem explicações, sem dizer de quem vem e do que se trata!!!
Excelente post e interessantíssima discussão. E se a discussão é interessante isto se deve – neste caso preciso ao Holandês Voador – à esquerda, que obriga os restantes a pensar e a procurar argumentos. Só não estou de acordo com a atitude do Range de desacreditar uma pessoa só porque é (ou se imagina ser) de esquerda, insultando-a de beata tonta e afirmando que só diz palermices!
Pela parte que me cabe ainda não ouvi assim muitas palermices do HV, ele apenas sublinha (com ou sem razão) aspectos diferentes, que podem ser calmamente debatidos com argumentos.
Outra coisa, eu conheço-o pessoalmente há muitos anos, há mesmo muitos anos, e posso aqui garantir que ele, como eu, fazia parte da juventude esquerdista desertora do exército colonial e refugiada no estrangeiro, mas NUNCA na vida foi do PCP - como eu, situava-se ainda mais à esquerda.
Mas foi um indivíduo que sempre esteve pronto a ajudar todos os refugiados políticos portugueses que apareciam em Amesterdão. Só por isso acho que nos devia merecer alguma consideração... Mas também pelo facto de animar a discussão neste blog, evitando que se torne uma seita estilo testemunhas de Jeová.
RD:
Não percebeu nada do que eu disse e, como é costume, responde ao lado. Dislexia?
Recapitulando: eu não faço ladaínhas a Cunhal. Limitei-me a ler diversa documentação dos Arquivos de Moscovo (publicada no "link" do blogue "Abrupto" do Pacheco Pereira) e as declarações do embaixador soviético à época, que confirmam uma reunião de Cunhal em Moscovo (Agosto de 1975) onde Bresnev não lhe teria dado o apoio que o PCP queria, uma vez que a URSS, não estava interessada em ter uma nova Cuba na Europa.
Segue-se uma reunião do CC do PCP em Vila-Franca de Xira, onde essa opinião seria discutida e que vai influenciar todo o período subsequente. Isto está documentado e parece-me importante para perceber o 25 de Novembro.
O que o Lidador diz mais abaixo não contradiz em nada o que eu afirmei. Confirma que as forças de esquerda (que eram maioritárias) não avançaram no 25 de Novembro. E ainda bem que não o fizeram, senão teria havido uma guerra civil.
De resto, que o PCP tentou controlar o processo em curso, é uma evidência. Toda a gente sabe disso. Até você...
Lidador:
O seu relatório militar é...um bom relatório militar. Gastou três "comentáriost" a confirmar o que eu tinha escrito em três linhas. Gabo-lhe a paciência. O pormenor mais delicioso é mesmo aquele do Eanes ter entrado de pistola na mão no gabinete do Costa Gomes! Imagino o Costa Gomes a tremer de medo...
Porque não referiu o pormenor do Melo Antunes, que negociou a neutralidade do PCP nos acontecimentos, em troca da participação deste partido no processo democrático? Também está documentado. Eu penso que estas negociatas de bastidores são bem mais importantes para perceber o 25 de Novembro do que a "bravura" dos Comandos que em caso de resistência real teriam muita dificuldade em ganhar a "guerra".
Mas, como eu escrevi acima, ainda bem que não houve confrontação e houve "pocker". Evitou-se a guerra civil.
HV, é verdade que não foi o PCP a decidir os movimentos golpistas. Tinha completado a sua missão internacionalista prioritária ( assegurar que as parcelas africanas, principalmente Angola, ficassem na esfera de influencia soviética) e estava justamente a regressar à prioridade interna.
Tentou cavalgar os acontecimentos, isso é óbvio. Elementos seus estiveram na vanguarda, como Saramago, isso tb é óbvio.
Como lhe expliquei, e isso está documentado, só 19 horas depois do inicio do golpe, e quando a derrota era já clara, é que o PCP se demarcou.
Fê-lo para sobreviver. Viver para lutar outro dia.
O ponto que queria que notasse, é que o PCP nunca lutou pela democracia. Nem pode. A democracia, tal como nós a entendemos, considerada "burguesa", o instrumento de domínio de uma classe, a burguesia, que tem de ser vencida pela classe operária.
O que,no ambito da crença, há-de acontecer algum dia.
Sim, podem-se fazer alianças informais com os comunistas, mas isso não quer dizer que eles queiram alcançar os mesmos objectivos.
Churchill e Estaline aliaram-se contra a Alemanha. Mas louvar Estaline por ter lutado pela democracia na Alemanha, será bastante ridículo.
E no entanto é disso que se trata quando se fala na luta do PCP pela "democracia".
Quanto aos Comandos, o HV não sabe do que fala.
Naquela altura não havia nenhuma força coesa e capaz de se opor em termos militares aos Comandos.
Havia forças mais numerosas, mas isso é quase irrelevante.
Porque pensa que 200 polícias de choque conseguem pôr em fuga milhares de manifestantes?
Acha que é uma questão de número, ou será outra coisa qualquer? Ora pense.
Pense por exemplo nos hoplitas das falanges gregas, que faziam frente e venciam exércitos 10 vezes mais numerosos. Ou nas legiões romanas.
De resto, todo o Norte estava preparado. Eu conheço pessoalmente pessoas que estavam por detrás do Movimento Maria da Fonte, do MDLP,da Igreja, etc.
Os comunistas iam ser massacrados,se a guerra civil rebentasse.
Eles sabiam bem que era assim...
HV:
"Se, por hipótese académica, os nazis fizessem um golpe para depor uma ditadura e instaurar uma democracia, eu apoiava. Você acredita que isso era possível?"
Não, claro que não apoiava... pela simples razão de que os nazis nunca o fariam para instaurar uma democracia, mas para impor a sua ditadura! Exactamente as razões pelas quais os comunistas sempre agiram.
O meu amigo fugiu, mais uma vez, à pergunta que lhe fiz: teria você a mesma consideração e respeito por um partido nazi que houvesse agido com as mesmas intenções políticas, as de instaurar uma outra ditadura, tal como fez o PCP? De facto, ela não só é simples e clara como facilmente respondível com um "sim" ou um "não". Não acredito, por isso, que não a tenha compreendido. Mas então, porque não o faz?
Holandês, deixe-me dizer-lho: o meu caro amigo não responde porque o que está subjacente a toda a sua argumentação é que a ditadura comunista é moralmente superior à fascista. Mais claramente, que a esquerda é moralmente superior à direita, que a esquerda, cometa ou não erros, visa sinceramente o bem do povo e a direita, não. Ou ainda que a visão unificadora da realidade a que se chama "de esquerda" é humanamente superior à da direita, mera conjugação de interesses individuais e sem nome. É claro que você não responde porque esse plano subjacente à argumentação é que é o decisivo na sua posição política e, por tabela, na auto-imagem com que se permite encarar e enfrentar o mundo. Você nunca poria a hipótese de ter o mesmo respeito, consideração e, muito menos, admiração por um partido de extrema-direita nem pelos seus militantes porque existe uma rejeição de base da sua parte a essa ideia, que o impede de analisar a frio a questão ou sequer de a levantar. A sua repugnância em considerar isso possível é, repito, a única coisa que o leva a não responder.
Para terminar, mais isto: disse que o Álvaro Cunhal levou uma nega de Moscovo quanto à possibilidade de se fazer em Portugal uma revolução comunista (como toda a gente sabe, isso desenvolveria um "aquecimento global" sem precedentes, com consequências imprevisíveis e os soviéticos não eram parvos). Mas porquê falar em nega, quando não haveria quiasquer intenções nesse sentido, por parte do PCP?
CdR:
“Só não estou de acordo com a atitude do Range de desacreditar uma pessoa só porque é (ou se imagina ser) de esquerda, insultando-a de beata tonta e afirmando que só diz palermices!”
É natural que não concorde. Parecendo-lhe um insulto, parece razoável conclui que o CdR não gosta de beatas tontas. Já somos dois.
“Pela parte que me cabe ainda não ouvi assim muitas palermices do HV,”
Vê, portanto, algumas. Se tal não desacredita dará crédito? Ou é coisa neutra? Neste caso, porque lhe parece que o apontar da palermice é, no meu cão, coisa feia?
“ele, como eu, fazia parte da juventude esquerdista desertora do exército colonial”
Da guerra que, caso houvesse força para tal, podia ter impedido que as antigas colónias tivessem vindo a cair na longa noite da “libertação” (amplas liberdades) de onde ainda não conseguiram sair nem se prevê que o venham a conseguir no futuro previsível?
Que tem de especial ser-se desertor? Há uma relação directa entre desertor e refugiado político?
Que as pessoas tendem a ajudar aqueles com quem se identificam percebe-se. Mas isso não tem, do meu ponto de vista, à priori, qualquer significado necessariamente positivo. A “conquista das mais amplas liberdades” nas ex colónias resultante da retirada de Portugal não parece permitir que, por si própria, a deserção ao combate fosse coisa positiva a não ser para a parte que, ao fim de todos estes anos, teve menos baixas, mesmo relativamente.
Evidentemente que a história é o que é, mas puxar para hoje aquilo que na altura era dado como certo é anacrónico.
Parece certo que Otelo Saraiva de Carvalho teve um papel determinante no 25 de Abril, mas já foi com muito boa vontade que se fechou os olhos à história das FP25. Se passar pela cabeça de Otelo defender hoje a actuação das FP não me parece que possa haver muita gente com doses suficientes de compreensão.
HV:
“Limitei-me a ler diversa documentação dos Arquivos de Moscovo (publicada no "link" do blogue "Abrupto" do Pacheco Pereira) e as declarações do embaixador soviético à época, que confirmam uma reunião de Cunhal em Moscovo (Agosto de 1975) onde Bresnev não lhe teria dado o apoio que o PCP queria, uma vez que a URSS, não estava interessada em ter uma nova Cuba na Europa.”
O caro HV exercitou o exercício do direito à leitura em público e foi abusivo, da minha parte, inferir que estava acometido de empatia com a prosa em causa. Tá bem.
Mas então explique lá. Um grupo de cidadãos projecta envenenar o abastecimento de água a uma cidade inteira. Face à possibilidade de levar com a GNR suspende a actividade. Para si, os ditos cidadão serão os heróis da história por terem evitado um banho de sangue. A GNR será um acidente de percurso. Será assim?
Volta Salazar, que tanta saudade deixaste nos nossos corações!
Caro Eurico Moura:
Se fala por si, não o invejo, mas isso é lá consigo.
Se ironiza, julgando falar pelos que escrevem neste blogue, a começar por mim, bem...!, é que nem no submarino acertou, foi mesmo na água! Será melhor ler menos apressadamente o que por aqui se vai dizendo.
Cumprimentos.
Lidador:
Eu não sei se os comandos estavam mais bem preparados. Admito que sim. Mas, a sua vitória foi facilitada pela não avanço das forças de esquerda. Eventualmente, se tivesse havido resistência, o país acabaria por dividir-se entre "Sul" e "Norte", o que explica a fuga de Mário Soares para o Porto. A "invencibilidade" dos comandos é outro mito. Os melhores exércitos do Mundo podem ser derrotados por guerrilhas mal armadas, como a história nos mostra todos os dias. Se os comandos foram os heróis que diz, porque é que a maioria dos portugueses comemoram o 25 de Abril e ignoram o 25 de Novembro? Provavelmente os militares de Abril, são mais bem vistos que os militares de Novembro...
JG:
Não queira pensar por mim, nem atribuir-me palavras que eu nunca escrevi. Eu sei que isso lhe custa, mas para mim uma ditadura é uma ditadura é uma ditadura. De direita ou de esquerda. Portanto, não há autoridade moral nenhuma nas ditaduras de esquerda. Veja lá se deixa de pensar em estereótipos. Ou imagina que eu, depois de quarenta anos a viver numa democracia avançada, queria uma ditadura comunista?
RD:
O seu exemplo da GNR é fácil de responder: eu nunca defendi a posição do PCP no PREC. Percebeu? Fácil, ahn?
" a sua vitória foi facilitada pela não avanço das forças de esquerda."
As "forças de esquerda" avançaram. Foram elas que deram inicio ao golpe. Foi do CopCon que saíram as ordens.
"Eventualmente, se tivesse havido resistência"
Houve resistencia. Morreram 3 militares. E havia vontade de lutar, por parte das "forças de esquerda". Só que um combate a sério não é como nos filmes...
" A "invencibilidade" dos comandos é outro mito"
Naquela altura, naquelas circunstancias, os Comandos eram a única força militar disciplinada e treinada. O resto eram bandos.
"Os melhores exércitos do Mundo podem ser derrotados por guerrilhas mal armadas como a história nos mostra todos os dias."
Não há um único caso, que eu saiba.Estou a falar em termos estritamente militares. As derrotas face a movimentos guerrilheiros são sempre de carácter estratégico e politico.
Tacticamente não é impossível, mas é tão provável como na próxima meia-hora cair-me um satélite em cima.
" porque é que a maioria dos portugueses comemoram o 25 de Abril e ignoram o 25 de Novembro?"
Pela mesma razão que a nossa Constituição nos mete a caminho do socialismo. Pela mesma razão que Portugal é o único país da Europa onde a esquerda dura tem 20% dos votos.
Pela mesma razão pela qual estamos no fundo do poço.
"Provavelmente os militares de Abril, são mais bem vistos que os militares de Novembro..."
Não sei...Jaime Neves foi militar de Abril e de Novembro.
Militares prestigiados como Eanes, Loureiro dos Santos, etc, foram militares de Novembro.
Salgueiro Maia foi militar de Abril e de Novembro ( comandou o Esquadrão de Carros que foi sobre o RALIS).
" imagina que eu, depois de quarenta anos a viver numa democracia avançada, queria uma ditadura comunista"
O José Gonsalo colocou bem a questão.
A esquerda nasceu da contestação à imperfeição social, e estriba-se no racionalismo, e na ideia de progresso. Sente-se moralmente superior, do lado "certo". A direita era "reaccionária", era contra o "progresso".
Mas na verdade quando no poder, a ideia bateu na realidade e não é difícil provar que o Estado cresceu e se fortaleceu à esquerda. Nenhuma monarquia absoluta hereditária se atreveu a decretar conscrições em massa, por exemplo.
E hoje veja a ironia...a esquerda coincide com a velha direita na análise dos individualismos e descreve tb o horror de milhões de indivíduos sós em competição com outros, expostos às crueldades do mercado e dos ciclos económicos.
A denuncia dos trusts levou a um trust estatal ainda maior. A caricatura do “capitalista” como o novo senhor feudal, levou ao super-burocrata. O trabalhador, esse faz a mesma coisa, apenas mudou de proprietário.
O poder dos planeadores ficou maior e concentrado, o que não protege os trabalhadores, nem os consumidores.
A esquerda lutou para libertar o indivíduo da servidão e exploração e acabou por torná-las mais fortes, sob a pata de uma burocracia impessoal e poderosa. O aumento do poder do estado levou a menos democracia
A utopia da libertação da humanidade converteu-se na distopia do totalitarismo e da escravidão
Sol e sombra...utopia e distopia.
Caro José Gonçalo. Tiro num barco de 3 canos!
Você foi rápido em reconhecer a ironia, portanto o meu tiro (desabafo) não foi na água.
Apetece-me, embora sem pachorra ao fim de um dia de 39º, de lhe perguntar em falsete, como faria Batista Bastos: onde você estava no 25 de Abril?
Eu estava na Guiné deportado para a guerra colonial, pelo regime que você acha que foi derrubado por um protesto corporativo dos militares.
Não fui, não era, não sou militante de nenhum partido. Penso pela minha cabeça e vivi os acontecimentos por dentro. Tenho uma visão histórica da humanidade e sei o que é matar seres humanos ou degradá-los de forma cruel. Estive aí.
O homem é capaz de grandes feitos e das maiores atrocidades. Em ditadura ou em democracia. Experimente fazer a contabilidade das vítimas do Iraque e da Palestina pelas mãos da democrática USA ou dos martirizados Israelitas. E se quiser recuar um pouco na história conte quantos sofreram os horrores da inquisição e das cruzadas.
Mas voltando ao meu comentário,quem você acha que derrubaria o regime do estado novo, sem serem os que o fizeram? Só aqueles que dele não gostavam e que estiveram dispostos a morrer por isso! Eram perigosos comunas? Tinham as mão sujas do sangue das vítimas do Estaline? Queriam mudar de ditadura? Meu caro, vê-se que leu a história mas não a entendeu.
Curiosamente Marx continua a ter razão. Embora fora de moda a luta de classes continua. Explorados dum lado e exploradores do outro. É o homem, na sua condição, dir-me-á. Claro, mas se ninguém tivesse lutado e morrido ainda hoje estávamos confortáveis com a escravatura.
A esquerdalhada, como aqui se lê amiúde, vive na ilusão que se pode mudar o mundo. Para melhor. Estarão enganados, muito provavelmente, pois são muitos os carneiros que defendem o lobo.
Lidador: "Mas na verdade quando no poder, a ideia bateu na realidade e não é difícil provar que o Estado cresceu e se fortaleceu à esquerda. Nenhuma monarquia absoluta hereditária se atreveu a decretar conscrições em massa, por exemplo."
Em cheio. Há uns dias atrás saquei da Net o livro de Orwel (1984), e remeti e todos os meus conhecidos e amigos (Recebeu-o, Carmo da Rosa?). Inclusive alguns comunistas.
Perguntei a um deles, boa pessoa, educado e inteligente, se gostou da prenda. Ele respondeu-me que não gostou muito. Que já leu o livro e disse-me "quero continuar a acreditar em utopias". So me apeteceu gritar: SOCORRO!
Caríssimo Eurico Moura:
Tentarei responder-lhe o melhor que puder, atendendo ao adiantado da hora e ao facto de ter compromissos já para daqui a bocado. Então lá vai:
"Apetece-me, embora sem pachorra ao fim de um dia de 39º, de lhe perguntar em falsete, como faria Batista Bastos: onde você estava no 25 de Abril?"
Aqui, em Lisboa. Tinha 24 anos.
"Eu estava na Guiné deportado para a guerra colonial, pelo regime (...)"
Eu, embora tivesse amigos na mesma situação em que o Eurico se encontrava, devido a acções "subversivas" na Faculdade, bem como outros, auto-exilados na Bélgica, na Holanda e em França e, por isso, a PIDE me escutasse os telefonemas, não fui apurado para o serviço militar. O regime que o enviou para a Guiné, estragou-me definitivamente a vida quando tinha apenas 4 anos, por razões que não interessa adiantar aqui e agora. Espero, por isso, que, de hoje em diante, quando ler o que escrevo, não julgue entrever no que digo qualquer tipo de simpatia ou contemplação por um regime que sempre jurei combater até ao momento em que morra. Você matou; eu quase morri. Faço-lhe justiça, dizendo que, mesmo assim, nesse aspecto, prefiro quase ter morrido do que ter que matar.
"(...) que você acha que foi derrubado por um protesto corporativo dos militares."
Não fui eu a dizê-lo, leu isso no comentário de outrem. Eu penso que houve uma série de factores concorrentes, incluindo as motivações corporativas. Sei alguma coisa do que digo, porque, na altura, tinha militares de carreira na minha família. Pró-Estado Novo, adianto-lhe.
"Não fui, não era, não sou militante de nenhum partido. Penso pela minha cabeça e vivi os acontecimentos por dentro. Tenho uma visão histórica da humanidade (...)"
Quanto a isso, estamos em igualdade de circunstâncias.
"(...) quem você acha que derrubaria o regime do estado novo, sem serem os que o fizeram? Só aqueles que dele não gostavam e que estiveram dispostos a morrer por isso!"
Só os que estiveram dispostos a morrer...?
"Eram perigosos comunas? Tinham as mão sujas do sangue das vítimas do Estaline? "
Repito: foram só esses?
"Queriam mudar de ditadura?"
Sim. De uma, obscurantista, para outra, iluminada. Pela verdadeira luz, a sua (deles).
"Meu caro, vê-se que leu a história mas não a entendeu. Curiosamente, Marx continua a ter razão."
Seguramente que não, tal como o Eurico a entende. E Marx, no meu ponto de vista, não tem razão. A minha crítica, quando o li pela primeira vez, aos 21 anos, em livros emprestados por um grande amigo meu (falecido pouco após o 25 de Abril), marxista, foi na direcção daquela que, mais tarde, vim a saber que Sartre também lhe tinha feito e que o levou a romper com o PC francês. Depois, levei-a bastante mais longe. Mas isso são outras conversas.
"A esquerdalhada, como aqui se lê amiúde, vive na ilusão que se pode mudar o mundo. Para melhor. Estarão enganados, muito provavelmente, pois são muitos os carneiros que defendem o lobo."
Não penso que as coisas possam ser vistas desse modo. Tendência a mudar o mundo temos nós todos, os não-carneiros, da esquerda à direita. E ninguém quer mudar nada para pior, seja lá a perspectiva em que esse pior possa ser entendido.
Às duas da manhã, porém, só me resta guardar isso para outro dia e prometer (mais um!) postzito para um destes dias. Olhe, entretanto vá lendo este que escrevi sobre o Salazar, aproveitando o balanço dado pelo Lidador.
Apareça por cá mais vezes, para irmos falando.
O sono (ou a senilidade?) é uma coisa muito triste!
Esqueci-me de pôr o endereço.
Aqui fica.
http://fiel-inimigo.blogspot.com/2009/06/adenda-salazar-o-fascismo-e-o-fassismo.html
Com Chavez avançando na America Central, Ping-Pong sobre a Coreia e o Japão, os persas sobre Israel e o Mundo árabe e os russos se associando aos alemães para tomar a Europa - tudo isso sob o olhar atônito da America paralisada pelo mega ataque especulativo contra o dolar e a desintegração de Obama (tudo que se omitiu sobre sua biografia começará a vir a tona agora, arrastando o páis para sua mais seria crise institucionla desde a fundação)acho que já deveríamos estar organizando a resistência clandestina porque tudo indica que ESTA BATALHA já perdemos.
Não vou dizer que li tudo de uma ponta a outra porque não é verdade, não tive pachorra para tanto, nem na verdade é preciso. E também não é preciso eu dizer porquê. Desde que li aqui há uns tempos que o Otelo e o PCP eram uma e a mesma coisa, bastam uns cálculos ligeiros para reconstituir o que não li. Sempre me fez confusão que haja quem abdique voluntariamente da história – do que realmente aconteceu – para confortar o ego, mas isso já não é comigo, apenas explica as atoardas factuais de todo o tipo que se vão lendo por aqui. Não lhes vou chamar… como direi… distopi... Não, não é isso! Ah, já sei, miopia.
O 25 de Novembro é assim como o caso República, podem aparecer mil testemunhos a dizer que o PCP nada teve a ver com o eclodir do processo, que não vale a pena. E o PCP no fundo nem deve desgostar, pelo menos fazem-no sentir que é o único considerado capaz de pôr qualquer coisa em marcha, sei lá.
Mas não devem os fiéis preocupar-se muito com os detalhes dos factos porque estão bem acompanhados na visão nebulosa do mundo. O Bulldozer Kissinger queria que Portugal funcionasse como ‘uma vacina’ para o resto da Europa, sem nunca ter entendido lá muito bem que entre o PCP e os partidos eurocomunistas a clivagem era grande – e essa grandeza ia a ponto de terem feito saber expressamente ao PCP que nunca apoiariam qualquer golpe, que nem lhes convinha, se por acaso estava a cogitar algum - e que a détente USA/URSS, que alimentava a guerra fria, fazia os soviéticos pensarem ene vezes antes de se meterem em trabalhos que sabiam condenados ao fracasso.
Até dá vontade de rir, mas foi a CIA quem amansou o Bulldozer, que o incontornável Carlucci afirmava pertencer à ‘ala direita da administração’ e não estar a ver bem a coisa (algumas pessoas deviam refrear-se antes de escrever memórias, escusavam de passar vergonhas para a posteridade).
Quanto ao nosso vinte e cincozinho de Novembro, pois já se sabe um bocadinho mais do que há 30 ou 20 anos, a pouco e pouco as coisas vão saltando e saindo do nevoeiro. Isto quando todos os protagonistas morrerem os baús abrem-se, haja fé em que as chaves não se percam.
A uma pergunta ainda ninguém respondeu, trinta e cinco anos depois ninguém se acusa: quem deu ordem aos páras para saírem? Pois é, é uma chatice. E porque se sublevaram os páras? Outra chatice. Eles, os que de vez em quando ainda testemunham por aqui e por ali, mantêm o que sempre disseram: para substituir o general Morais e Silva, que em Agosto era um fervoroso gonçalvista que queria dar uma porrada ao Jaime Neves por andar tresmalhado e três meses depois pretendia era acabar com a unidade paraquedista.
Enfim, o sr. General é capaz de saber, mas também é muito menino para não nos dizer. Eu, pelo menos, sei o que a Visão publicou há uns anos largos, e que vem na linha da lógica soviética à época:
O PCP não estava interessado em pirotecnia. Encontrei o Jaime Serra, dirigente desse partido, no dia 24 no COPCON pelo menos duas vezes. Disse-me que tinha ido pedir a Otelo que não se metesse em aventuras, para não fazer sair tropas, porque era muito perigoso. Libertava forças incontroláveis.
Será que o Otelo acatou o recado? Foi ele?
Eu é que não fui.
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Sr. Carmo, não se chateie, a amena cavaqueira entre testemunhas de Jeová é capaz de ser interessante de ler. Finalmente irei saber o que me reserva o juízo final.
Eu penso que houve uma série de factores concorrentes, incluindo as motivações corporativas. Sei alguma coisa do que digo, porque, na altura, tinha militares de carreira na minha família. Pró-Estado Novo, adianto-lhe.
Engraçado, eu quase que diria o mesmo, com duas muito ligeiras alterações, coisa pouca.
Eu sei que houve uma série de factores concorrentes, incluindo as motivações corporativas. Sei alguma coisa do que digo porque tenho militares de carreira na minha família. Ligados ao 25 de Abril, adianto-lhe.
@ Range: «Vê, portanto, algumas. Se tal não desacredita dará crédito? Ou é coisa neutra? Neste caso, porque lhe parece que o apontar da palermice é, no meu cão, coisa feia?»
Não vi nenhuma palermice, vi, como já tinha dito, apenas diferenças de acentuação – provavelmente devidas a diferenças de vivência e de mundivisão...
Apontar palermices (dos outros) é importante, já conotá-las a priori como sendo palermices (sem combater minimamente os argumentos) é coisa feia. Mas o pior é insultar outro apenas porque tem a desfaçatez de só estar 95% de acordo connosco! Isto lembra-me sempre o comportamento – sem nenhuma saudade – dos meus camaradas de esquerda no exílio...
Range, por 5% a mais, ou a menos, não vale a pena uma pessoa zangar-se com uma pessoa que ajuda animar a festa, uma pessoa que está disposta a discutir o excelente post com argumentos. É o que faz você não beber – beba homem que vai ver que nunca mais repara nos 5%, nem em 30%...
@ Range: «Da guerra que, caso houvesse força para tal, podia ter impedido que as antigas colónias tivessem vindo a cair na longa noite da “libertação” (amplas liberdades) de onde ainda não conseguiram sair nem se prevê que o venham a conseguir no futuro previsível?»
Posso deduzir de aqui que o facto das nossas Províncias Ultramarinas estarem no estado em que estão, se deve à minha pessoa ter desertado do exército colonial!
Peço desde já as minhas mais sinceras desculpas às províncias ultramarinas. Como atenuante poderia acrescentar que era ainda muito jovem na altura e que a informação no nosso país era bastante deficiente. De todas as formas nunca na altura ouvi ou li uma análise (nem do Spínola) afirmando que, caso eu (e outros) participassem na Guerra Colonial, a vida nas nossas Províncias Ultramarinas iria ser, 40 anos mais tarde, um mar de rosas...
@ Range: «Que tem de especial ser-se desertor? Há uma relação directa entre desertor e refugiado político? »
Ser desertor nada tem de especial, só chatices, caso o desertor fosse apanhado a atravessar a fronteira. Só há relação entre refugiado político e desertor no sentido em que uma deserção pode ser um acto ou uma declaração política, por exemplo, contra a guerra colonial.
Mas você tem razão, o desertor não é obrigatoriamente um refugiado político, por exemplo, e citando o meu caso pessoal, eu na altura não estava minimamente preocupado com a pátria ou com os quimbundos, apenas não queria que no quartel me cortassem o meu cabelo à Bitla...
"quem deu ordem aos páras para saírem"
As ordens saíram do CopCon.
Quem as deu? Certamente alguém que estava no CopCon, no momento em que foram dadas.
Era fácil dar ordens, dado o sistema que estava montado.
As ordens saíam por mensagem. Quem as recebe deve autenticá-las. Actualmente há um sistema codex que obriga, em determinado tipo de ordens, a abrir envelopes fechados e diariamente renovados.
O receptor recebe uma msg e apenas tem de a autenticar e verificar que ela vem de quem pode dar ordens.
O problema estava no CopCon, que era um caos, e muita gente pouco fiável tinha acesso ao Centro de Msg.
Qualquer um poderia ter dado a ordem. É tudo burocrático e impessoal.
O operador do teletipo limita-se a bater a msg que recebe manuscrita pelas vias normais e envia-a.
Quem viu o filma de Operação Valquíria, sobre a tentativa de assassinato de Hitler, pode ter uma ideia de como é fácil dar ordens a unidades militares, se se dominar um Centro de Mensagens.
Não, não deve ter sido Otelo. Por acaso conheço bastante bem um elemento que lá trabalhava (Tasso de Figueiredo), que não se descose, mas é comunista ferrenho e com até familiar de Rui Namorado, que penso, é ainda do Comité Central.
O Tasso foi um dos que mandou capturar pessoas com os mandados em branco que o Otelo tinha assinado.
Ainda está vivo. É coronel reformado.
Caro José Gonsalo. Antes do mais quero felicitá-lo pelo post do Salazar. Brilhante!
Sem dúvida que era um ditador tacanho, à portuguesa curto. Só que à sombra do regime gravitavam personagens bem sinistras e não tão tacanhas.
Não fui muito claro talvez: não matei. Servi de alvo em duas unidades quentes; Fulacunda e Farim. Aliás era quase sempre o que fazia a tropa macaca que guarnecia os quartéis de ocupação territorial na Guiné. As grandes ofensivas estavam a cargo da tropa especial. Depois lá consegui ludibriar o sistema e ocupar um cargo de chefia no Comando Chefe. Foi aí que aprendi imenso sobre a instituição militar e sobre a guerra em geral. Não gostei do que aprendi mas foi enriquecedor. Acredite que vi a revolução e o PREC com olhos bem esclarecidos...
Mas não alinho na visão maniqueísta dos maus comunas e dos bons democratas. Muitos democratas pós 25 estavam, antes, aninhados no regaço do regime que beneficiava a classe a que pertenciam. Outros, por ideologia ou por classe, acolhiam-se à força política mais organizada no combate à ditadura. Claro que o objectivo era a conquista do poder como o é, hoje, o de qualquer partido.
Num aspecto discordo, em absoluto, da sua opinião sobre os apetites generalizados de mudança. Todos resistimos à mudança. Mudar o mundo dos outros; tudo bem! Principalmente quando estamos na mó de cima. E mesmo quando estamos mal, temos medo da mudança. Pode piorar...
Não é por acaso que a democracia favorece as forças conservadoras e reformistas.
Vou voltar, sim. Tenho visto as posições aqui defendidas sobre o ambiente e, sabe-se lá porquê, virei dizer uns disparates. Pura diversão, pois cada um acredita no que lhe convém e só conhece aquilo em que acredita.
Efectivamente,
Gosto de aparências.
Aparentemente,
Sem moralizar...
Mas o pior é insultar outro apenas porque tem a desfaçatez de só estar 95% de acordo connosco
Sr. carmo, e se a desfaçatez chegar a 0% de acordo?
Pergunto apenas. Curiosidade, sei lá.
___________________________
Quem as deu? Certamente alguém que estava no CopCon, no momento em que foram dadas.
Prezado, o La Palice?
Eurico Moura:
Obrigado pelo seu apreço. Iremos falando em próximos posts.
ml:
Só um pormenor adicional: pró-Estado Novo... mas a quem (pelo menos) uma das figuras decisivas do 25 de Abril chamou publicamente "o meu grande amigo", já depois dessa data.
Até morrer, votou sempre CDS.
Quantas contradições aparentes, não é? Pois, a realidade é paradoxal. Querermos aplicar-lhe cegamente a doxa é deixar de a compreender.
(já estranhava não ter aparecido, caramba!)
ml:
Escrevi "contradições aparentes" só como recurso retórico, evidentemente. Você conhece-as tão bem como eu e nem a santa doxa do materialismo dialéctico lhes vale.
Até já.
Caro Gonsalo, apesar de a larga maioria dos meus amigos, seja de infância e juventude seja da fase adulta, serem de esquerdas variadas, tenho outros que não o são. Brincamos, metemo-nos uns com os outros, ora pelas argoladas das áreas ideológicas em que nos inserimos, ora pelas nossas próprias opções. Não queremos converter-nos uns aos outros, apenas gostamos de estar juntos e ironizar com ideias opostas. Temos demasiadas coisas em comum que prezamos para as estragarmos com questões secundárias à amizade.
O único sítio que até hoje conheci em que é pecado e ofensa pessoal pensar-se de modo diferente e que provoca de imediato reacções automáticas de defesa, é aqui o Fiel. Provavelmente há outros blogues igualmente... hummm... vulneráveis, mas deu-me para simpatias com este, que se há-de fazer?
@ ejsantos: «Há uns dias atrás saquei da Net o livro de Orwel (1984), e remeti e todos os meus conhecidos e amigos (Recebeu-o, Carmo da Rosa?).»
Recebi e agradeço... Então, para quando uma viagem aos Países Baixos, é sempre a descer, não custa nada...
@ Eurico Moura: «Servi de alvo em duas unidades quentes; Fulacunda e Farim. Aliás era quase sempre o que fazia a tropa macaca que guarnecia os quartéis de ocupação territorial na Guiné.»
Caro Eurico Moura, se esteve na Guiné então é provável que tenha conhecido um amigo meu que também ludibriou o sistema e conseguiu um lugar na Guiné que, segundo ele, ainda era mais melhor bom que o seu – vagomestre! Chama-se Paulo Taborda Barreto e é irmão do António, o que foi Ministro da Agricultura pelo PS.
@ ML: «Sr. carmo, e se a desfaçatez chegar a 0% de acordo?»
Bem, minha senhora, então trata-se de caso grave, e para estes casos a única solução é: auto-crítica perante um tribunal popular revolucionário, devidamente precedida de tortura para a pessoa em questão não dizer baboseiras burguesas durante o julgamento; uma eventual estadia numa psikucha também ajuda bastante nestes casos. Em Portugal isto poderia ser substituído pelo Campo Pequeno e finalmente uns anitos de Gulag....
Mas não esteja tão preocupada, 0% não é de maneira nenhuma o seu caso e além disso os socialistas são uns puritanos e parece que nunca violam mulheres presas...
HV:
A entrada em cena do Eurico Moura e a intervenção da ml, fez com que acabasse por me esquecer de lhe responder.
Você leu de novo mal o que eu disse. Caramba! Eu não escrevi (releia lá, por favor e com atenção, desta vez) em altura nenhuma que o meu amigo gostava de ou sequer aceitaria ditaduras. O que eu disse, note bem (e esperando que de uma vez por todas) é que o Holandês desculpabiliza com alguma facilidade e até certo ponto com algum respeito as tendências ditatoriais da esquerda, porque considera que, embora com excessos e mesmo desvios condenáveis, elas resultaram de um ideário superior ao da direita, em termos morais e humanos. E isto porque a esquerda se anuncia como um visando um ideário humanista, o do homem novo, socialmente justo e solidário, enquanto que a direita se estriba no individualismo dos "fortes", sendo presa de interesses obscuros. Assim, uma vez que essa sua convicção já não é, para si, objecto de dúvida, constituindo o ponto de partida dos seus argumentos, confere aos militantes da esquerda (ditatorial, os diferentes PCs), apesar de tudo, uma legitimidade ao nível da representatividade em democracia que recusa aos nazis e aos fascistas, por os considerar desprezíveis. O meu ponto de vista é que, de facto, nem uns nem outros o têm, muito embora, pessoalmente, me esteja nas tintas, porque penso que isso é tão secundário como o é o da institucionalizaçao do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Repito: estamos numa época de transição sem precedentes na história humana e os nossos padrões de compreensão das coisas sõa herdeiros de erros e precursores de outros. Se queremos melhorar, temos que os rever com o espírito muito mais liberto do que aquilo que temos. E nesse aspecto (a discussão irá continuar), isto é, quanto a preconceitos, a esquerda é muito mais perigosa.
O Lidador, aliás, deu muito bem o mote, quando escreveu uns comentários atrás:
"A esquerda nasceu da contestação à imperfeição social, e estriba-se no racionalismo, e na ideia de progresso. Sente-se moralmente superior, do lado "certo". A direita era "reaccionária", era contra o "progresso".
Mas na verdade quando no poder, a ideia bateu na realidade e não é difícil provar que o Estado cresceu e se fortaleceu à esquerda. Nenhuma monarquia absoluta hereditária se atreveu a decretar conscrições em massa, por exemplo."
Por agora, chega.
ml:
É. O Fiel Inimigo tem um charme muito próprio, confesse...
Carmo da Rosa. Na companhia que comandei em Farim não tive nenhum vagomestre com esse nome e no Comando Chefe, onde fui chefe da Secção de Informação Interna, não existia esse cargo.
Não sei porquê lembrei-me agora de Zeca Afonso travestido de paraquedista, patético, a imaginar Sierras Maestras a ser preso em Tancos, no dia 28 de Novembro de 1975.
Mas já passou. O ridículo não ficou para a história...
JG:
Se o JG pensa que eu "desculpo" as tendências dictatoriais de esquerda, quem sou eu para o contrariar? Só espero que não me exija uma "confissão de arrependimento". Eu sei que Portugal é um país conservador e católico, mas como deve calcular eu já dei para esse peditório há dezenas de anos.
"Nem Guru, nem gurizado", serve-lhe como resposta?
HV:
Se você tivesse percebido a fundo o que tem sido a minha posição nesta troca de ideias e, em geral, aqui, no Fiel Inimigo, já há muito tempo teria percebido também que a última coisa que me passaria pela cabeça, melhor dizendo, aquilo que jamais me passa pela ideia é que alguém peça desculpa por algo de que está, mesmo mentindo a si próprio, profundamente convicto. Basta-me que faça as contas que acha que deva fazer, perante si e perante os outros, e que aja conforme o que a sua consciência lhe dita. Nesse aspecto, tanto Sócrates como Nietzsche foram modelos para mim desde muito novo.
Viremos a página, portanto.
Bem, minha senhora, então trata-se de caso grave, e para estes casos a única solução é: auto-crítica perante um tribunal popular revolucionário,
Ok, sr. Carmo, os tribunais de opinião não me incomodam, só queria saber da viabilidade teórica de exprimir aqui ideias diametralmente opostas.
Mas não esteja tão preocupada, 0% não é de maneira nenhuma o seu caso
Não, nem tudo é divergência, afinal pertencemos à mesma classe taxionómica: a respiração, a alimentação, a apaixonação, a futebolação (para alguns), a telenovelização (para outros) representam 100% de concordância. O que nos divide é muito pouco, só as ideias. 5%?
os socialistas são uns puritanos e parece que nunca violam mulheres presas...
Não, eu dos socialistas não tenho medo, só do Sócrates que nos mata de aldrabices. Não é o único, mas os outros são inofensivos.
Mas do que não sabia – e até me cai o queixo aos pés – é que tinham mudado de... rota.
May god have pity on your soul.
_______________________________
Gonsalo
O Fiel Inimigo tem um charme muito próprio, confesse...
O suficiente. Vai ver que um dos atractivos é o estado de autodefesa permanente, sei lá.
Faz-me lembrar uma cena que um dia tive a sorte de ver (e fotografar, apesar do mau resultado), umas tantas leoas formarem em fracções de segundo um semicírculo perfeito à volta das crias só porque avistaram, lá muito ao longe no alto do morro, os pelitos da cabeça de um leão que aparentemente não estava nem aí.
Uma canseira, um mundo cheio de inimigos.
ML: "Provavelmente há outros blogues igualmente... hummm... vulneráveis, mas deu-me para simpatias com este, que se há-de fazer?"
Sim, já reparei que, lá no fundo, até simpatizas com os autores. Nem que seja para poderes discordar.
Carmo da Rosa: "Então, para quando uma viagem aos Países Baixos, é sempre a descer, não custa nada..."
Para um destes dias. Ontem soube que acabei o curso e tenho o diploma na mão. Liberto-me do stress dos exames e do encargo das propinas!
Só para que fique claro, também penso que não se devem proibir as ideias comunistas ou quaisquer outras.
Além de indesejável, seria tão inviável como proibir a estupidez.
@ ML: «Ok, sr. Carmo, os tribunais de opinião não me incomodam, só queria saber da viabilidade teórica de exprimir aqui ideias diametralmente opostas.»
A viabilidade até nova ordem tem sido total...
Os tribunais de opinião não a incomodam! Mas deviam, olhe que ainda vão incomodando muita gente. É deste incómodo que aqui em grande parte se fala – para mal dos meus pecados que gostaria de um pouco mais de ‘futebulação’, como você disse numa sua bela frase cheia de humor. Uma frase que o meu Guru, que também não faz outra coisa senão falar de incómodos, certamente não se envergonharia de utilizar num dos seus famosos vídeos.
May god have pity on your soul: quem mudou de rota? E para onde?
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