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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Calças despidas


Sobre as repurcussões do artigo publicado no jornal Sueco Aftonbladet, artigo esse que acusa as IDF de ter morto Palestinianos com o intuito de traficar os seus órgãos, é conveniente ler este pequeno artigo de Zvi Mazel, antigo Embaixador de Israel na Suécia (entre 2002 e 2004).


O artigo do Aftonbladet, vindo de onde vem, acaba por não surpreender: os países Nórdicos têm-nos habituado, nos últimos anos, a posições Governamentais, artigos de jornais e manifestações de rua bastante peculiares. Se o fenómeno se cingisse, no continente Europeu, a esta região, as coisas até nem seriam assim tão más; porém, observam-se situações semelhantes um pouco por toda a Europa sem que, no entanto, se chegue ao patamar da situação observada no países Nórdicos, países sobejamente adorados e venerados um pouco por toda a Europa pelo seu grande desenvolvimento, pela forma como a Sociedade está organizada, pela política económica, etc.

No meu entender não se pode dissociar as posições dos países Nórdicos a nível internacional, caracterizados por uma política mole e surpreendente em relação aos países Muçulmanos e aos de influência Comunista e por uma dura crítica ao capitalismo Norte-Americano, ao conservadorismo social deste último país e às actuações deste na política internacional, da forma como a sociedade está montada na Escandinávia. É inútil avançar com os pontos, a coisa percebe-se perfeitamente, só não vê quem não quer.

A adoração do resto da Europa pela Suécia pode levar a políticas de aproximação da União Europeia a posições levadas a cabo por esse mesmo país e pelos países Nórdicos, tendência essa que já existe de forma natural em muitos países da Europa, tanto pelas conquistas sociais da Suécia (adoração na Península Ibérica), quer pelo anti-Americanismo (tradicionalmente Francês), quer pelo anti-Semitismo (presente em muitos países do Leste Europeu), quer pela Islamização (a acontecer na Holanda e na Bélgica), quer pela necessidade de ver as coisas por outro prisma, prisma esse que não pode nem deve ser Americano.

A Europa baixa as calças porque ela mesmo quer; há quem se insurja, como Wilders na Holanda, mas, se este conseguir alguma coisa, todos se uniram facilmente contra ele. Nos Estados Unidos a Sociedade mantém-se alerta e em cima do Presidente (ver queda acentuada e generalizada de Barack Obama nas sondagens), não vá este subitamente querer baixas as calças também.

Em Israel o artigo foi recebido com alvoroço. Netanyahu exigiu que o Governo Sueco se demarcasse da posição do jornal (algo que a Dinamarca fez aquando das publicações das caricaturas de Maomé, quando os países Muçulmanos pediam um pedido de desculpa formal) e circulam pedidos de boicotes ao IKEA pela internet. Não, não se queimou a Embaixada da Suécia, não se declarou guerra à Social-Democracia Sueca nem se ameaçou o autor do artigo de morte...

A Suécia, depois do incidente do armamento apanhado com as FARC e dos incidentes da Taça Davis, volta a dar outra vez que falar.

26 comentários:

ml disse...

Sabe, RB, eu gosto de ler o que escreve e respeito a sua opinião. Não porque esteja de acordo na maioria das ocasiões, mas porque ganho sempre em ler quem tem o discernimento de afirmar ‘em meu entender’, ‘segundo o meu ponto de vista’. Porque na verdade verdadinha, o reconhecimento de que a nossa opinião não passa disso mesmo, subjectiva e tão falível como qq outra, é para mim garantia da confiança que merece quem o afirma. Mesmo que eu não concorde – o que acontece quase sempre - não é um bate-boca vazio com um robô que repete sempre o mesmo texto pobre independentemente dos factos.

E para não me ficar só pelos elogios, ou antes, talvez continuando com os elogios, sei lá, acho que apesar de o RB ter entrado aqui com o espírito e léxico cruzadista que caracteriza o ambiente geral, foi mudando de tom. Diz o mesmo, aquilo que pensa e com a mesma convicção, mas com a inteligência de quem já não parece sentir necessidade de se afirmar através da hostilidade e do vocabulário colorido.

Posto isto, e como sei que o que digo é capaz de não ser muito abonatório para si aqui nos fiéis, pode espernear à vontade e dizer-me cobras e lagartos que eu não me vou chatear com isso.


Embora concorde com algumas das suas afirmações, são pacíficas, não concordo com a ideia geral do post. Teria algumas objecções de fundo a fazer, mas não me apetece, estou de férias. Não vou é deixar de comentar aquilo a que achei mais piada.


países sobejamente adorados e venerados um pouco por toda a Europa
A adoração do resto da Europa pela Suécia


Sabe, RB, eu sou aquilo a que pode chamar, se lhe apetecer, ‘patriota’, ‘nacionalista’, o que quer que se diga de quem se habituou a respeitar e admirar a casa dos outros, que adoro visitar uma e outra e outra vez, mas a colocar a sua sempre em primeiro lugar, aceitando os activos e os passivos da história. Já sei que com as fantasias do ‘deixem o mercado actuar’, ‘o mercado é omnisciente’ as opiniões tendem a diluir-se nos cifrões e as pessoas a deixarem de ser cidadãos para passarem a consumidores, mas eu não vou por aí.

Por isso penso que é no mínimo bizarro que quem idolatra obsessivamente o sol-da-terra2, defende acriticamente os seus crimes e a brutalidade do seu aliado mais directo, ache estranho que europeus apoiem europeus em vez de ‘baixarem as calças’ a tudo o que lhes cheira a poder. E arranje sempre uma maneira qualquer de dar a volta ao texto de modo a hostilizar e ridicularizar o que de melhor a Europa foi conseguindo e que superou tudo o que até agora tinha sido feito no mundo.

Achei tb graça ao embaixador israelita, verberar a falta de liberdade de imprensa na Suécia – haja Deus e tino! – e acabar a defender a intervenção do estado na imprensa, caso se trate de opiniões pouco simpáticas para com Israel.
Como dizem os brasileiros, este nem se enxerga.

Renato Bento disse...

"Posto isto, e como sei que o que digo é capaz de não ser muito abonatório para si aqui nos fiéis, pode espernear à vontade e dizer-me cobras e lagartos que eu não me vou chatear com isso."

Cara ml, desde já agradeço as suas palavras. Ganhamos todos uns com os outros, escusamos ser cinicos, e a mim convém-me muito ganhar e aprender com quem é mais velho, com quem anda aqui há mais tempo do que eu.

Nunca vi hostilidade aqui no Fiel, e ela não é promovida por qualquer um dos membros, tanto quanto sei. Não há hostilidade, não há censura e, da minha parte, tantos mais quanto se juntarem à discussão melhor. Apesar das discordâncias, em maior número que as concordâncias, a ml favorece e de que maneira este blog..

Daí que comece a discordar já desta frase, uma vez que aqui no Fiel não existem purgas, perseguições religiosas ou qualquer outro tipo de intolerância. Daí possuírmos caixa de comentários, onde os utilizadores até podem comentar de forma anónima.

"Já sei que com as fantasias do ‘deixem o mercado actuar’, ‘o mercado é omnisciente’ as opiniões tendem a diluir-se nos cifrões e as pessoas a deixarem de ser cidadãos para passarem a consumidores, mas eu não vou por aí."

A esquerda "humanitarista" tem esta tendência de brincar, de fazer gozo com as terminologias económicas que não vão ao encontro das suas posições na matéria. O que é certo é que sempre que, a nível económico, os cidadãos deixaram de ser tratados como consumidores com opinião e direito à escolha, sendo o Estado a dizer-lhes o que consumir, como consumir e o que produzir, as coisas redundaram para o fracasso económico e, necessariamente, para o totalitarismo e violação de direitos e liberdades individuais. Exemplos na história são coisas que não faltam, e sabê-los-à melhor que eu.

Já reparou que esta esquerda estatista e anti-capitalista, apesar de ser tão humanitarista, preocupada, bela e "justa", perde e sempre perdeu aos pontos com os tubarões capitalistas nos resultados e nas consequências das suas políticas? Isso é que é o curioso no meio disto tudo.

Portanto se a terminologia existe é para se utilizar e se, ainda por cima, o estudo económico dá resultado, acho muito bem que se utilize. E, repare, são termos muito menos ofensivos que "ditadura do proletariado", "redistribuição das terras", "destruição do grande capital", etc.

"Por isso penso que é no mínimo bizarro que quem idolatra obsessivamente o sol-da-terra2, defende acriticamente os seus crimes e a brutalidade do seu aliado mais directo, ache estranho que europeus apoiem europeus em vez de ‘baixarem as calças’ a tudo o que lhes cheira a poder."

A mim não me cheira nada a poder. Não trabalho nem para a CIA, nem para a Mossad, nem para qualquer organismo estatal. Não idolatro ninguém, apenas não critico e não bato nas coisas só porque elas deveriam ser como eu penso que elas deveriam ser. Os exercicios moralistas de crítica para mim valem zero.

Eu não defendo, eu estudo, abordo e critico. Se a CIA me passar a pagar 10000 euros por mês isso sim, passo a defender alguém, alguma causa. As causas são vossas, não nossas...

"o que de melhor a Europa foi conseguindo e que superou tudo o que até agora tinha sido feito no mundo."

Em que áreas, por exemplo? Em quê, por exemplo? Sozinho ou com a ajuda de alguém?

ml disse...

Nunca vi hostilidade aqui no Fiel

E pensa que eu estava à espera que dissesse ‘sim, senhor, tem razão?’ Nem eu queria isso, balhamedeus. De qq modo, não é assunto que me motive por aí além, falei apenas para mostrar o contraste entre aquilo que esteve prestes a ser como blogueiro e o que me parece ter conseguido evitar em prol da sua credibilidade. Pelo menos para mim, claro.

Mesmo assim, e como contraponto aos seus olhos esbulhados de inocência, procure um ou dois posts e comentários em que o Carmo da Rosa fala dos ‘encontros de Testemunhas de Jeová’ ou coisa que o valha, e onde ele resume em poucas palavras o que me daria um certo trabalho a procurar.


O que é certo é que sempre que, a nível económico, os cidadãos deixaram de ser tratados como consumidores

Bem, RB, quer-me parecer que pensa que a humanidade nasceu ontem ou quando muito anteontem, e que antes da invenção do ‘discurso do mercado’ andávamos por aí a rastejar sem perceber bem onde nos situarmos na escala divina.
Já levamos muitos milénios, consumimos desde o início dos séculos e dos caçadores-recolectores, conseguimos sobreviver como seres humanos até muito recentemente termos sido carimbados de 'consumidores', e a categoria criada se ter transformado em sinónimo de 'gente'.

E claramente não percebeu quando falei em cidadãos e consumidores. É que o conceito ‘cidadão’ implica tudo o que diz respeito ao humano, e não o reduz a tão pouco. Tem que convir que existe muito mais em nós do que um porta-moedas, sei lá. Ser caracterizado pela única faceta que convém a teorias económicas transitórias, porque historicamente datadas, por muito benfazejas que sejam, não ofende só as religiões mas o simples bom senso.


Os exercicios moralistas de crítica para mim valem zero.
As causas são vossas, não nossas...


Sim? E o seu post é o quê? E os seus posts a tentar demonstrar as poucas qualidades de quem não entende a luz do mundo, são o quê? Simples comentários sobre alternativas igualmente válidas para as sociedades humanas?
Olhe, basta ler esta sua afirmação, [os termos económicos] são termos muito menos ofensivos que "ditadura do proletariado", "redistribuição das terras", "destruição do grande capital", etc. para se ver que a sua noção de ‘causas’ e ‘exercícios moralistas’ não condiz exactamente com o seu discurso.
Meu caro RB, ligando este post com os comentários do Carmo da Rosa num outro post mais lá atrás, a maior parte do vocabulário e das construções frásicas que usamos raras vezes são meramente denotativas (não queria dizer palavrões, mas acho que entende), são também representações das nossas emoções e do nosso universo de valores. Morais e outros.
Mas deixemos estes assuntos para não irritar o Carmo da Rosa.


Em que áreas, por exemplo? Em quê, por exemplo?

Por acaso não estava mesmo à espera que apesar de tudo não lhe ocorresse o progresso do desenvolvimento humano (já sei que isso são miudezas lá para as UNESCOs e PNUDs se entreterem) - a saúde, a educação, os benefícios económicos (para poder consumir, sei lá) –, a mudança radical que isso representou para a vida de milhões de europeus no séc. XX e que transformou muitos países nas sociedades de maior bem-estar no mundo.
Coisa pouca e lateral, claro. Mais vale um bom gastador do que um ser saudável. E se ainda por cima for razoavelmente feliz, isso é péssimo, todos sabemos como os neuróticos dão óptimos consumidores compulsivos.

Somos realmente defensores de causas, não defendemos é a mesma.

Renato Bento disse...

"‘discurso do mercado’ andávamos por aí a rastejar sem perceber bem onde nos situarmos na escala divina."

Não, mas perto.

"e que transformou muitos países nas sociedades de maior bem-estar no mundo."

Bem-Estar? Não será isto terminologia económica?

Carmo da Rosa disse...

Pois eu RB, também gosto de ler o que você escreve, e é evidente que respeito a sua opinião. Não porque esteja sempre de acordo, mas porque o admiro, porque me lembro que quando tinha a sua idade andava a jogar ao peão, à bola, ao trinca-cevada, a roubar fruta, a atirar pedras para o bairro das quatrocentas, tudo menos cogitações acerca de anti-americanismo e países nórdicos. Bem, sobre os países nórdicos sempre apareciam na altura umas revistas que obrigava a gente a cogitar de vez em quando umas coisitas, mas prefiro não entrar em detalhes...

@ RB: «...os países Nórdicos têm-nos habituado, nos últimos anos, a posições Governamentais, artigos de jornais e manifestações de rua bastante peculiares. »

Nos países nórdicos também foram publicados as caricaturas de Maomé; nos países nórdicos foram feitos os filmes Submission e Fitna; no país nórdico onde vivo grande parte da população resiste ao Islão votando em Wilders!

@ RB: «...países Nórdicos, países sobejamente adorados e venerados um pouco por toda a Europa pelo seu grande desenvolvimento, pela forma como a Sociedade está organizada, pela política económica, etc.»

Adorados e venerados! E com razão, por enquanto não estou muito bem a ver uma alternativa.

@ RB: «....não se pode dissociar as posições dos países Nórdicos a nível internacional, caracterizados por uma política mole e surpreendente em relação aos países Muçulmanos e aos de influência Comunista e por uma dura crítica ao capitalismo Norte-Americano, ao conservadorismo social deste último país e às actuações deste na política internacional, da forma como a sociedade está montada na Escandinávia.»

Política mole sim, em relação ao Islão e ao comunismo, sobretudo quando a esquerda está no poder, porque acreditam que esta é a forma de lidar com esta gente. O dilema Chamberlain versus Churchill. Se fazem críticas ao capitalismo, é compreensível que façam ao Norte-Americano, porque o capitalismo deles é um bocadinho melhor. É capitalismo com face humana. Os nórdicos criticam, e com razão, o sistema de saúde americano, que realmente não é digno do país mais rico do mundo. E criticam os maluquinhos que na TV dizem que só quem acredita em Deus todo poderoso é qu’é gente. E também os ainda mais maluquinhos que dizem que o sistema de saúde dos países nórdicos é uma invenção soviética, ou que a Holanda inteira está drogada... Que grande pedrada!

@ RB: «...tanto pelas conquistas sociais da Suécia (adoração na Península Ibérica), quer pelo anti-Americanismo (tradicionalmente Francês), quer pelo anti-Semitismo (presente em muitos países do Leste Europeu), quer pela Islamização (a acontecer na Holanda e na Bélgica), »

Não estou seguro que o tradicional anti-americanismo francês seja algo ideológico – isto é discutível! – para mim não passa de dor de cotovelo, talvez por causa das anedotas que os americanos contam sobre os franceses. Anúncio para venda de arma em França, “Como nova, nunca foi utilizada, só caiu uma vez ao chão”. De qualquer maneira, anti-americanismo é algo que não existe em quantidade industrial nos países nórdicos.

Talvez haja mais anti-francesismo - os holandeses quando querem dizer ‘trabalho mal feito’, ‘às três pancadas’ dizem que é ‘trabalho à francesa’. (Curioso, os franceses para o mesmo conceito dizem ‘travail d’arabe’...).

O anti-semitismo dos países do leste é realmente um problema, quanto a mim é patológico, mas não vão à bola do Islão e nada têm contra os americanos – valha-nos isso.

Ricardo, a Holanda e a Bélgica ainda não estão islamizadas, mas estou de acordo consigo, não é preciso chegar ao extremo do Califado para existirem enormes problemas sociais. É melhor prevenir do que remediar.

Renato Bento disse...

Caro Carmo,

Será a Holanda um país Nórdico? Não creio que seja e, se for, peço já desculpa pela minha precipitação, uma vez que procurava referir-me aos países da Escandinávia + Dinamarca e Islândia...

"Adorados e venerados! E com razão, por enquanto não estou muito bem a ver uma alternativa."

Não entendi. Pode dizer porquê? Porque razão a velha e boa Europa histórica há-de adorar as suas congéneres do Escandinavas?

"Se fazem críticas ao capitalismo, é compreensível que façam ao Norte-Americano, porque o capitalismo deles é um bocadinho melhor."

Criticam muito mais que os pontos que o Carmo colocou na mesa. E criticam não por os Estados Unidos terem um capitalismo um bocadinho melhor, mas sim por terem um capitalismo um bocadão pior. Por isso, pelo "unilateralismo", pela "arrogância", pela "ignorância", etc, etc.

"Não estou seguro que o tradicional anti-americanismo francês seja algo ideológico – isto é discutível!"

O anti-Americanismo Francês deriva de duas escolas: da esquerda de Sartre à direita Gaullista. E ambas são bastante ideológicas. Mas sim, tem razão, o anti-Americanismo Francês é motivado pela dor de cotovelo, et vive la France, país que continua e continuará com a mania que fez História.

"mas não vão à bola do Islão e nada têm contra os americanos – valha-nos isso."

De facto, os países que hoje mais se mostram pro-Americanos são aqueles que sofreram na pele. Curioso...

"a Holanda e a Bélgica ainda não estão islamizadas, mas estou de acordo consigo, não é preciso chegar ao extremo do Califado para existirem enormes problemas sociais. É melhor prevenir do que remediar."

Pois não. Estão em processo de... Ainda este Verão, durante uma viagem que fiz pela Europa, estive na Holanda e a coisa confirmou-se...

o holandês voador disse...

Tudo indica que a notícia do "Aftonbladet" foi o que se chama, em linguagem jornalística, um "canard". Independentemente da "boutade", uma coisa é a opinião de um jornalista/jornal e outra é a opinião do governo sueco. O governo israelita pode não gostar do teor do artigo e considerá-lo ofensivo, mas não pode exigir ao governo sueco que interfira na linha editorial do jornal.
A única vez que isso aconteceu, foi em 2006, quando a secretária dos negócios estrangeiros (Laila Freivalds) mandou encerrar um "site" sueco por causa dos cartoons dinamarqueses, o que lhe custou o lugar.
Também não é verdade que o governo dinamarquês interferiu no caso dos "cartoons", como se viu pela recente reacção dos países muçulmanos à nomeação do secretário-geral da NATO, Rasmussen, à época primeiro-ministro dinamarquês.
Não é de esperar que o actual governo sueco (Bild e Reinfeldt) sigam uma linha diferente, pois uma coisa é a liberdade de imprensa e outra é a posição oficial dos estados.
Já sobre a "adoração" dos países ibéricos (e não só) pela Suécia e restantes países nórdicos, é fácil de compreender: esta é a região do globo, juntamente com o Canadá e o Japão, com os melhores índices de desenvolvimento humano como é facilmente constatável (ver os "rankings" do PNUD dos últimos vinte anos) e onde continua a existir o estado de protecção social mais avançado do Mundo. Quem não gostaria de ter os mesmos benefícios?

Renato Bento disse...

"Também não é verdade que o governo dinamarquês interferiu no caso dos "cartoons", como se viu pela recente reacção dos países muçulmanos à nomeação do secretário-geral da NATO, Rasmussen, à época primeiro-ministro dinamarquês."

Eu não disse que o PM Rasmussen tinha interferido no caso. Apenas disse que o Governo se demarcou publicamente da posição do jornal, algo que é verdade e sabido, apesar de ter afirmado que na Dinamarca existe liberdade de expressão. Foi esta mesma atitude que os Israelitas requeriram do executivo Sueco, algo que não aconteceu, por motivos óbvios.

"pois uma coisa é a liberdade de imprensa e outra é a posição oficial dos estados."

Correcto e afirmativo. Cada um na sua esfera, mas a pressão é muita, tanto da opinião pública como da imprensa. O resultado tem estado à vista. Ou não se lembra da reacção, ou falta dela, do Governo Sueco aos acontecimentos de Malmo, quando um jogo da equipa Israelita de ténis foi cancelado por ameaças à integridade fisica dos atletas?

Renato Bento disse...

Passo a citar:

"Numa declaração publicada no website do jornal Jyllands-Posten, o editor chefe, Carston Juste, explica que "apesar de não violarem qualquer lei Dinamarquesa, os cartoons ofenderam indubitavelmente inúmeros Muçulmanos, aos quais pretendemos apresentar o nosso pedido de desculpa"

(...)

"Em entrevista televisiva, Fogh Rasmussen disse estar feliz pelo pedido de desculpas do jornal ter sido aceite. "É nossa obrigação fazermos o possível e o impossível para retomarmos o diálogo e reerguer a amizade que caracterizou sempre o relacionamento entre a Dinamarca e o Mundo Muçulmano"

(...)

"Gostaria de enfatizar o facto de que o governo Dinamarquês condena todo e qualquer vocabulário, acto ou indício que pretenda demonizar grupos, tendo por base os seus antecedentes religiosos ou étnicos".

Renato Bento disse...

Curioso a diferença entre os casos; Curiosa as repurcussões num e noutro caso; Curiosa as palminhas de Rasmussen ao pedido de desculpas; Curiosas as suas declarações aquando da tomada de posse como Secretário-Geral da NATO...

Muita coisa curiosa junta. Tirem-se as ilacções.

Carmo da Rosa disse...

@ o holandês voador: «...Já sobre a "adoração" dos países ibéricos (e não só) pela Suécia e restantes países nórdicos, é fácil de compreender:»

Isto é preocupante, desta vez estou de acordo com absolutamente tudo o que disseste, mesmo as vírgulas! Só queria fazer lembrar algo, um pequeno detalhe. A adoração dos ibéricos pela Suécia não tem somente a ver com índices de desenvolvimento humano e protecção social pá! Tens a certeza que não te esqueceste de nada? Pronto, dou-te uma pista: tem também a ver com desenvolvimento...

Sérgio Pinto disse...

Belo raciocínio, Ricardo. Só não baixam as calças os governos fazem o que você gostaria que fosse feito. Porque, claro, a sua posição é a única certa e a sua visão absolutamente imparcial.

ml disse...

E criticam não por os Estados Unidos terem um capitalismo um bocadinho melhor

E percebeu um bocadinho mal, o que o Carmo da Rosa diz é que os países nórdicos é que têm um capitalismo um bocadinho melhor, de rosto humano.


Mas sim, tem razão, o anti-Americanismo Francês é motivado pela dor de cotovelo

Eu gosto é destas certezas. O De Gaulle era mesmo um grande invejoso.


Não, mas perto.

É o que eu desconfiava. Está mesmo convencido de que Homero é um mito e que a civilização começou com o Hayek.

Já viu as portas da Babilónia? Um deslumbramento.

o holandês voador disse...

CdR:
O "desenvolvimento" sueco, pois claro! Como não me lembrei eu disso...
Mas, atenção, as coisas estão sempre ligadas, como sabemos; não há "desenvolvimento" sem desenvolvimento, certo?

Renato Bento disse...

"E percebeu um bocadinho mal, o que o Carmo da Rosa diz é que os países nórdicos é que têm um capitalismo um bocadinho melhor, de rosto humano."

De facto, não entendi assim. Deve ser por ter um rosto humano que os Abba, Bjorn Borg, Ingmar Bergman e o próprio dono do IKEA (este último vive na Suíça) deram todos à soleta, com as contas atrás, como é óbvio.

Eu compreendo-os: ninguém quer ficar sem os frutos do seu trabalho...

"O De Gaulle era mesmo um grande invejoso."

Tem razão: construiu uma Constituição à sua imagem e, quando perdeu um referendeco foi-se embora, amuado...

Sérgio Pinto disse...

De facto, não entendi assim. Deve ser por ter um rosto humano que os Abba, Bjorn Borg, Ingmar Bergman e o próprio dono do IKEA (este último vive na Suíça) deram todos à soleta, com as contas atrás, como é óbvio.

Eu compreendo-os: ninguém quer ficar sem os frutos do seu trabalho...


Que argumentação portentosa. Handpicking de exemplos que pretensamente confirmam a sua ideia inicial. Experimente comprar um livro de estatística.

Carmo da Rosa disse...

Ricardo,

A Holanda efectivamente não é um país escandinavo, mas é, e não só geograficamente, um país nórdico. POrque há muitas mais semelhanças do que diferenças entre a Holanda, Suécia, Noruega e Dinamarca.

@ RB: «Não entendi. Pode dizer porquê? Porque razão a velha e boa Europa histórica há-de adorar as suas congéneres do Escandinavas?»

Bem, eu tenho cá as minhas razões pessoais para adorar as escandinavas, mas a velha Europa histórica (o resto quer você dizer?) deveria seguir o exemplo dos países nórdicos nem que não fosse pela boa organização e qualidade de vida. E pelo aquilo que o meu amigo muito esquerdista holandês voador já aqui disse, e ele é um entendido em escandinavas, mas só de esquerda...

O capitalismo dos países nórdicos é melhor que o dos EUA, disse eu. É claro que isto é absurdo! Melhores são apenas os resultados obtidos para os seus habitantes pelo sistema capitalista dos países nórdicos. Ambos os sistemas têm prós e contras, mas é indiscutível que nos países nórdicos há menos pobres e os pobres são menos pobres que nos EU. Também os ricos são menos ricos.

Resumindo, a qualidade de vida é superior nos países nórdicos. Também é verdade que países mais pequenos são mais fáceis de governar – veja-se a diferença Portugal vs Brasil –, mas por outro lado os EU estão divididos em Estados com bastante autonomia.

@ RB: «O anti-Americanismo Francês deriva de duas escolas: da esquerda de Sartre à direita Gaullista. E ambas são bastante ideológicas.»

OK. Mas se o anti-americanismo francês deriva do esquerdismo ideológico de Sartre, isso significa que não é diferente do anti-americanismo dos outros países europeus, que também tiveram os seus Sartres. Por exemplo, as maluqueiras maoístas do Sartre estavam na altura muito na moda na Europa Ocidental. Na Holanda o grande propagandista da Revolução Cultural Chinesa era o internacionalmente famoso cineasta Joris Ivens, a quem o igualmente cineasta Theo van Gogh tinha um pó de morte, e com razão.

Creio que o Gaulismo é o orgulho ferido da velha aristocracia pobre. Os alemães também sofrem um pouco deste mal, mas são mais discretos. Num documentário em que se desmascarava as fantasmagóricas teorias da conspiração sobre o ataque às Torres Gémeas, um jornalista (belga!) perguntou ao chefe da redacção do Der Spiegel porque razão tantos alemães acreditam nestas patranhas? O redactor: ‘porque os alemães de esquerda não conseguem suportar a ideia de terem sido libertados por um preto do Wisconsin a mastigar pastilha elástica.’

Gerhard Schröder, o antigo Chanceler alemão numa comparação entre a CEE e os EUA disse ‘somos todos pequenos, só os franceses é que ainda não estão ao corrente’.

Por enquanto quem melhor me explicou o que é, e como nasceu, o anti-americanismo é Ian Buruma – ver aqui http://fiel-inimigo.blogspot.com/2008/11/paralisia-moral-da-esquerda.html - que a 7.11.2008 disse no Público: ‘Sem esta extraordinária república, que representa o pior e o melhor do nosso sofredor mundo ocidental, ficaríamos todos em muito piores condições.’

Esteve na Holanda e não me veio visitar? Nunca mais lhe falo...

Renato Bento disse...

"geograficamente, um país nórdico. POrque há muitas mais semelhanças do que diferenças entre a Holanda, Suécia, Noruega e Dinamarca."

"The Nordic countries make up a region in Northern Europe and the North Atlantic (called Norden in the Scandinavian languages) which consists of Denmark, Finland, Iceland, Norway and Sweden and their associated territories which include the Faroe Islands, Greenland and Åland."

"eu tenho cá as minhas razões pessoais para adorar as escandinavas."

Haha.

"Ambos os sistemas têm prós e contras, mas é indiscutível que nos países nórdicos há menos pobres e os pobres são menos pobres que nos EU."

Sobre este assunto, creio que já li algo do Luís Oliveira, há algum tempo. Um estudo de uns Suecos, que demonstra que isso não é assim tão verdade... Encontrei isto na net, mas creio que não era isto: http://www.heritage.org/Research/Welfare/bg1713.cfm

"A typical American categorized as poor has good condition housing. Most have at least two rooms per person and more space than middle-class people in Paris, London, Vienna, Athens, and other cities throughout Europe. Over three quarters have a car and a third of poor Americans have two cars. Poor Americans have air conditioning, a refrigerator, a stove, a clothes washer and dryer, and a microwave oven, two color televisions, cable or satellite TV reception, a VCR or DVD player, and a stereo."

"Melhores são apenas os resultados obtidos para os seus habitantes pelo sistema capitalista dos países nórdicos"

Curioso que os Norte-Americanos julguem exactamente o oposto. E não só os ricos...

"‘somos todos pequenos, só os franceses é que ainda não estão ao corrente´"

Grande frase do Schroeder. Não tenho um livro de citações como o Carmo, mas se tivesse esta tinha entrada directa.

"Esteve na Holanda e não me veio visitar? Nunca mais lhe falo..."

Foi falha minha caro Carmo. De qualquer das formas, só tive aí 3 dias, em Amesterdão. A saída de Portugal foi apressada, pelo que nem me recordei de vir ao Fiel falar consigo.

Carmo da Rosa disse...

"The Nordic countries make up a region....”

RB,

Eu queria apenas frisar que há mais semelhanças (economicamente, socialmente, culturalmente) entre a Holanda e a Dinamarca, do que entre a Holanda e a Bélgica por exemplo. Apesar dos belgas flamengos falarem a mesma língua que os seus vizinhos a norte.

"A typical American categorized as poor has good condition housing....”

Pronto, não nos vamos zangar, mas eu pura e simplesmente não acredito. Acabei há pouco tempo de ler um livrinho sobre os EU escrito por um jornalista holandês que reside nos EU, que conhece bem os EU, gosta muito dos EU, disse publicamente que se pudesse votar nas últimas eleições votaria em McCain e não em Obama, e no entanto a qualidade de vida que retrata dos EU não é comparável a da Holanda.

”Grande frase do Schroeder. Não tenho um livro de citações como o Carmo, mas se tivesse esta tinha entrada directa.”

Sim, mas para ser sincero gosto mais da outra frase, a do jornalista do Der Spiegel. Não tenho livro de citações. Quando vejo algo que me agrada faço copy paste.

”só tive aí 3 dias, em Amesterdão.”

Isso dá para escrever um post do camandro com detalhes fantásticos! Os seus pais lêem o Fiel? Em caso positivo cuidado com os detalhes, ou então diga que fui eu...

Renato Bento disse...

"Isso dá para escrever um post do camandro com detalhes fantásticos! Os seus pais lêem o Fiel? Em caso positivo cuidado com os detalhes, ou então diga que fui eu..."

É melhor ser prudente. Não sei se leem mas sei que sabem que eu escrevo, tal como muitos amigos. Saberem o que andei a fazer na Europa por 30 dias não seria muito abonatório para mim.

Carmo da Rosa disse...

RB,

Conta o que viu, o que lhe agradou, o que não gostou, o que estranhou - UM GRANDE POST man.

P.S. O que andou a fazer também conta mas diz que fui eu...

ml disse...

disse publicamente que se pudesse votar nas últimas eleições votaria em McCain e não em Obama

E é mais digno de crédito que vota em McCain do que quem vota em Obama?

Lá está, adoro esta lógica.

Carmo da Rosa disse...

@ ml: «E é mais digno de crédito que vota em McCain do que quem vota em Obama?»

Não. Eu votaria no Obama. Apenas acrescentei o facto para colocar politicamente o bicho, para me precaver contra: ‘mas ele diz isto ou aquilo dos EU porque é de esquerda...’.

É uma lógica simples, talvez por isso a adora!

ml disse...

Não, eu tenho outra interpretação ainda mais simples.

Carmo da Rosa disse...

E qual é então?

PS Ainda está acordada a estas horas?

É verdade que aqui é uma hora mais tarde, mas eu estou c'os copos e não me apetece dormir.

ml disse...

Isto aqui em casa é tudo pessoal da noite, quando pode. A partir de amanhã já pia mais fino para alguns.