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sexta-feira, 16 de maio de 2008

Clima e esquerda assustadiça (ora)

A nova esquerda está razoavelmente enamorada de Gore, conveniente profeta do clima, e pouco discreto plagiador das teses nazis de Heidegger.
Apesar de ser americano, não porque tenha sido derrotado pelo tenebroso e estúpido Bush (estúpido por definição, claro, e não há licenciaturas e mestrados em Harvard e Yale que possam desmentir tal Verdade Revelada).
Ok, concedo que também será um bocadinho por isso.
Mas a verdadeira razão, a da Bayer, aquela que nem às paredes se confessa é que a teoria do “global warming”, (entretanto travestida em “climatic change”, logo que se descobriu que havia tantos locais a arrefecer como a aquecer e que a coisa tinha séculos pela frente), permite culpar o homem, esse belzebu, e, ó felicidade, o “capitalismo selvagem”
É a tábua de salvação da esquerda, órfã ideológica e reduzida às gesticulações do “contra” após o funeral do “socialismo real”.
As revelações do Jeremias do séc. XIX são um autêntico albergue espanhol. Dão para tudo, sobretudo para condenar a pérfida “globalização neoliberal”, vagamente responsável pelo crescimento sem precedentes da economia mundial e pelo facto de centenas de milhões de seres humanos terem descolado da pobreza absoluta, nomeadamente na Ásia.
Que não é só o Gore, rejubilam os rouxinóis. O IPCC carimba e o IPCC é grande, não há outro Deus que não o IPCC e Gore é o seu Profeta.
Os seus relatórios assentam em papers de milhares de especialistas e políticos.
Como eles são seleccionados, não se sabe bem, mas parece que a imparcialidade e o cepticismo científicos não são o critério prevalecente porque, enfim, não faz sentido recrutar ateus para difundir o evangelho.
Tantos “especialistas” por metro quadrado, tornam livre e irresponsável a asneira e o rigor fica um bocado para 2º plano, perante a paixão doutrinadora e a dinâmica do cardume.
Os crentes, esses não se preocupam com minudências do género de informar no 3º Relatório que o ano mais quente do séc. XX foi o de 1998, quando afinal parece que foi o de 1934, etc.
Enfim, peanuts!
O que conta é que a esquerda, desconcertada com o êxito da liberdade económica e da globalização, encontrou nesta bíblia um abrigo à medida, e uma nova “causa”, porque esta malta não funciona sem “causas” e convém de vez em quando disfarçar o antiamericanismo pavloviano por detrás do manto diáfano das "causas".
Assim, graças a uma ONU cada vez menos credível e a um profeta esperto que nem um alho, a esquerda tem nova bandeira, brande os punhos internacionalistas, e exige que sejam tomadas medidas para o nosso bem, medidas que nos vão ao bolso, que nos limitam a liberdade, que nos fazem reféns do medo e que exigem sobretudo uma “acção concertada”, novo eufemismo para a velha receita da planificação centralizada, menu habitual, que deu sempre pratos indigestos, mas desta vez com ingredientes de muito difícil desconstrução.
Quando se juntava ao prato coisas vagas como o “imperialismo”, o “grande capital”, o “neoliberalismo” e patati patatá, a malta olhava de esguelha, resmungava e ia até ao bar petiscar uns tremoços, emborcar um fino e ver o Benfica.
Agora não.
Agora, cada vez que chover demais ou de menos, fizer um frio de rachar ou uma caloraça tropical, lá está o dedinho do Gore a berrar que a culpa é do “climatic change”, logo do capitalismo, logo da globalização, logo do Bush, logo dos americanos.
Todos os caminhos vão dar a Roma, mas este é do caraças, porque não pode ser desmentido. Se aquecer, o Gore, dedinho espetado, a dizer “eu não vos dizia?”. Se não aquecer, o Gore aparece também a fazer cafuné na nossa cabeça, que vamos muito bem porque estamos a fazer o que ele mandou.
Se não podes com eles, junta-te a eles, parece ser a máxima de Sarkozy, que resolveu entrar no folclore, prestou a sua homenagem ao Profeta Gore, com fanfarras e luzes e, logo a seguir, garantiu que a França vai continuar a apostar cada vez mais no nuclear, coisa que o Gore acha mal, e a esquerda festiva e anti-tecnológica abomina.
Ou muito me engano, ou o capitalismo vai, não tarda muito, ganhar umas massas à conta desta nova bandeira folclórica tal como fez com o merchandising do Che.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom post de novo.
Eu acho que este "aquecimento" até é bom: as miúdas descascam-se mais um pouco e o homem logo aquece. É pena que este Maio vá tão frio: já vi melhores dias. De resto não faltam excelentes oportunidades de investigação para levar de novo a esquerda rumo à idade da pedra e à economia recolectora.

RioDoiro disse...

"De resto não faltam excelentes oportunidades de investigação para levar de novo a esquerda rumo à idade da pedra e à economia recolectora."

A esquerda não vai bem por esse caminho. Arranja uns quantos rebanhos* e põe-nos a 'recolectar' para ela.

....

* "excluidos"

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