O leitor menos dado à exegese bloquista não terá ainda reparado, mas fica agora a saber que os dirigentes máximos do BE têm uma fonética própria que parece funcionar como sinal iniciático, mais ou menos do mesmo modo que a exibição do sudário de Che Guevara define a pertença a um certo e determinado grupo, pouco dado ao uso da parte nobre do cérebro.
Admito que não costumo dar às homilias do Dr. Louçã a importância que inegavelmente merecem no capítulo do entretenimento, mau hábito que me tem feito perder alguns dos mais significativos contributos para a causa do humor nacional.
Mas quando o Dr. Louçã fala de guerra, as minhas orelhas reagem de uma forma já minuciosamente explicada pelo Dr. Pavlov.
Não porque a contribuição do Dr. Louçã para o avanço desta área do conhecimento seja extraordinária, pese embora ser filho de um almirante do Estado Novo, mas pela poderosa vibração linguo-palatal que imprime ao vocábulo, arrastando os vibrantes “rrrrrr”, numa indignadíssima “guerrrrrrra”.
Ora isto é novo.
Quando o Dr. Louçã fala pacatamente da questãozinha do Darfur, a guerra não vibra por aí além.
Mas quando se refere por exemplo à “Cimeira da Guerrrra”, a “guerrrrra” reverbera numa prolongada vibração que comunica aos embasbacados fiéis o quanto o Dr. Louçã se indigna com tão horrífico assunto.
Ao notar o fenómeno, pensei que fosse apenas um sotaque regional, como os “bbb” do Norte ou os “xxx” da Beira Alta.
Mas depois reparei que a vibração linguo-palatal só era usada em certas circunstâncias, de especial gravidade, e percebi que havia ali algo de profundo e inovador, talvez até uma verdadeira fonética da indignação, susceptível de inflamar os fiéis e os fazer comungar nos êxtases colérico-místicos do Dr. Louçã.
Há dias ouvi uma homilia do Dr. Pureza, (fui apanhado no carro de um amigo e não quis parecer mal-educado mudando de estação) e eis senão quando, a propósito de já não sei que importantíssimo assunto, o Dr. Pureza, arremeteu com uma formidável “guerrrrra” que, na minha opinião de entendido, está perfeitamente à altura das “guerrrras” do Dr. Louçã, chegando mesmo a superá-las em momentos de virtuosa execução.
Há assunto para uma tese.
Os dirigentes do BE parecem usar a vibração linguo-palatal em assuntos “guerrrrreiros”, da mesma forma que o Operário Jerónimo imita as mudanças de tom características do saudoso Dr. Cunhal.
Trata-se portanto, não só de uma mera fonética da indignação, como erradamente pensei a princípio, mas também da marca inconfundível dos líderes. Eu, se fosse o Dr. Louçã, mantinha o Dr. Pureza em rédea curta e sempre debaixo de olho.
Pelo menos até à próxima purga.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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sábado, 10 de maio de 2008
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Alguém me explica porque têm a GNR e a justiça(?) que meter o nariz para saber se quem trabalha na pastelaria lá está dentro ou não?
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Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
9 comentários:
Sim; dá-me a ideia que o Serralheiro Jerónimo de Sousa quando fala (principalmente a discursar na Assembleia), fala para o povo de Esparta, catastróficamente e como se o fim dos dias se aproximasse! Imita o velho Cunhal, tal como Cunhal imitou Lenine.
Ainda há outros; como o diogo feio que quando dá entrevistas, a cada segundo pára e olha para a câmara, para ver provavelmente se está a ser filmado.
Mas; acima de tudo está a Odete Santos e a Joana Amaral; por maioria no Bloquo de Esquerda. Uma foi expulsa e é boa; a outra trabalha no mercado de Arroios.
"da mesma forma que o Operário Jerónimo imita as mudanças de tom características do saudoso Dr. Cunhal."
Clones.
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Não, não vou contrariá-lo nas suas pertinentes análises do Anacleto - é dele que fala, não é? Como sei que aprecia o rigor naquilo que diz mesmo nos pequenos detalhes, apenas pretendo contribuir para uma maior clareza deste post.
- O pai do dr. Anacleto não é almirante mas sim capitão-de-fragata. E já agora, não era um homem do Estado Novo, apenas um teimoso com mau feitio.
- Os 'rr' rolados do dr. Anacleto não são línguo-palatais mas sim apicais. Ou, vá lá, apico-alveolares.
Nomes chatos, compreendo, mas que se há-de fazer? Não é lá lá muito justo confundir os 'rr' do doutor Anacleto com o 'l' do lidador.
Bons olhos a ouvam, cara ml. Muito agradeço a sua prestimosa colaboração, embora fiqque sempre de pé atrás em aceitar assessorias técnicas de alguém que, apesar de dar lições de inglês aos americanos e chamar obsessivamente idiota a um americano formado em Yale e com um MBA em Harvard (coisa pouca, na sua galáctica escala de valores), escreve "regorgitar" referindo-se ao acto reflexo de bolçar.
Mas enfim, saúda-se a vontade de ajudar.
Quanto ao preciosismo apical, até onde a vista alcança, a ponta da língua faz parte de língua, pelo que me sinto autorizado a considerar "lintgual", um fonema apical.
Por outro lado, os indignados rrrrrr dos nossos amigo trotskistas, vão muito acima dos dentes e das gengivas. Vão mesmo até ao palato, como você pode comprovar, praticando, isto se tiver ambições políticas no interior da seita.
Quanto ao posto do pai do Dr Anacleto, não sei se chegou a almirante ou não, no 25 de Abril era Cap de Mar e Guerra, que é o posto imediatamente abaixo. Antes disso foi Cap de Fragata, 1º Tenente, etc. Os postos mudam com o tempo.
Mas era inequivocamente do Estado Novo, que era a designação oficial do regime que existia antes do 25 de Abril.
Não é um insulto, é um facto. De resto foram os capitães do Estaado Novo que fizeram o 25 de Abril.
Mas isso não interessa. Interessa é que o Dr Louçã, grande defensor da classe operária e essas coisas, nunca agarrou num torno. E grande crítico da América, do capitalismo e do "neoliberalismo", faz parte de uma associação americana de economistas, publica livros técnicos nos EUA e tratou de tirar a filha do fantástico ensino público,da igualdade de oportunidades e isso, e mandou-a estudar para os infernos neoliberais.
A propósito, já andou no barquito do Dr Louçã?
Usa-o para transportar operários, ou apenas para se render à sociedade de consumo, de vez em quando?
estimadíssimo lidador
escreve "regorgitar" referindo-se ao acto reflexo de bolçar.
Não deve estar a falar de mim com toda a certeza, é termo que não me lembro de alguma vez ter usado.
E se fosse a si não ia por esse caminho, corre o perigo de ficar encurralado. Não é que eu queira, o prezado lidador é que fornece continuamente combustível de qualidade.
E posto que considera sofrer de ‘fixação anal’ quem corrige os erros dos outros, não deixo de o relembrar que apesar de ligeiras melhoras, continua a apresentar sintomas dessa patologia antiga.
A classificação dos sons da língua portuguesa não é à vontade do freguês e, sem ofensa, o caríssimo lidador não tem pedigree para reclassificar os ‘rr’ do dr. Anacleto. São apicais, e por acaso essa pronúncia até é a mais antiga dentro do sistema português.
Se os seus ouvidos não o enganassem miseravelmente e a articulação subisse para lá dos alvéolos até ao palato, teríamos um chinês a tentar dizer ‘ridador’.
Quanto ao papá do doutor se, como afirma, em 25 de Abril de 1974 era capitão-de-mar-e-guerra, não se percebe como é que agora é simplesmente capitão-de-fragata. Que não fosse promovido, ainda vá que não vá, dado o papelão que fez – mas até nem chegou a isso, ele é que pediu de imediato para passar à reserva -, agora despromovido ao posto abaixo parece-me um tanto insólito. Mas vou ouvi-lo com toda a atenção a explicar-me isso.
As trafulhices habituais, apetecia-me dizer mas não digo.
Não duvido de que tem toda as condições para a continuar a ensinar-me a mim e a todos a hierarquia dos postos da armada. Entre isso e a recomendação de leituras, nem sei o que preferir.
Quanto ao resto, mais do mesmo. Tretas compiladas na sebenta e que tanto podem aparecer aqui como num post sobre biocombustíveis.
Bla, bla, bla, cara ml.
Faça com a língua aquilo que quiser que eu não me importo.
Mas, já que temos aqui uma adoradora dos evangelhos da IV Internacional que, a avaliar pelo que escreve, conhece profundamente os recessos bucais do Dr Louçã, incluindo as preciosas, pecularidades dos seus movimentos linguais, diga-me:
Acha que a poderosa e prolongada vibração dos rrrr, é uma fonética da indignação ou uma marca de estilo dos líderes da seita?
É isso que me interessa saber. A Ana Drago, por exemplo, embora fale pelos cotovelos, uma vez que não prolonga os rrrrrr da guerra, ou não se indiga o suficiente ou está conformada com o seu papel de galinha cacarejadora e não aspira ao estatuto de galifão do galinheiro.
Que acha?
Já viu que podemos ter aqui uma poderosa ferramenta de análise política no que toca à interpretação dos movimentos do BE?
Bom, não respondeu a nada, limitou-se ao palavreado habitual. Nem podia responder, é claro. É o que acontece aos fala-barato, acabam enrolados pelos próprios meios. Só os mais conhecedores têm artes para escapar, o que não é o caso.
Aguardo melhores assuntos, essas tretas nem cinco segundos merecem.
Até lá.
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