Os artigos que li em 2002 no Público e Expresso acerca da tragédia Pim Fortuyn eram francamente de pouca qualidade, mas justiça lhes seja feita, encontrei mais nuances na imprensa portuguesa do que pude ler na francesa. Comparando as referências ao assunto, os comentários do Le Monde eram aberrantes. Os franceses, como de costume, todos eles dominam a língua pátria até ao pretérito imperfeito do conjuntivo, citam com desenvoltura e orgulho os clássicos (deles), conhecem a história nacional em detalhe, mas fora das fronteiras do hexágono é o desconhecido, c’est l’Afrique. Precisamente a atitude que tanto criticam nos americanos…
Ora, isto não é muito grave, há coisas bem piores na vida, não tivessem os nossos jornalistas o hábito provinciano de repetir, por vezes literalmente, as asneiras da imprensa francesa.
O Jorge Almeida Fernandes, no Público do dia 19 de Maio de 2002, não é dos piores, até começa muito bem ao dizer: ‘que palavra usar para catalogar Fortuyn? extrema-direita? xenófobo Populista? reformador? Esta questão semântica tornou-se um assunto de estado.’ Depois cita o jornal holandês De Telegraaf: ‘é preciso rectificar no estrangeiro a ideia absurda de que Fortuyn e o seu grupo seriam comparáveis a Le Pen em França. (…) Um tal paralelo teria efeitos negativos sobre a imagem do nosso país no mundo.’
Um assunto de estado foi a utilização diária, durante a campanha eleitoral de 2002, de calúnia contra Pim Fortuyn pela parte dos seus adversários políticos baseada em referências demagógicas à II Grande-Guerra, colocando Fortuyn automaticamente no campo Nacional-Socialista.
Alguns exemplos: Bas Eenhoorn (VVD-direita liberal) comparou Pim Fortuyn com Mussolini. Thom de Graaf (D66-centro esquerda) citou o diário da Anne Frank, ‘aconselhando-a’ a preparar desde já um quarto para refúgio. Ad Melkert (PvdA-social democrata), diz num comício ‘vamos para a cama com o Wim Kok e acordamos de manhã com o Le Pen’. Paul Rosenmöller (GL-esquerda verde) preparava uma grande manifestação contra o racismo (ler Fortuyn) para o dia 11 de Maio que depois foi anulada devido à morte de Fortuyn no dia 6 do mesmo mês. De qualquer forma, mesmo Rosenmöller deu acto de presença, com carinha de sacristão arrependido, no funeral do ‘fascista’, como aliás todos os líderes políticos nacionais.
É claro que depois da morte do homem a maioria começou a dar o dito por não dito, alegando que 'realmente foram feitas certas acusações injustas, mas no calor do debate eleitoral às vezes dizemos coisas que depois nos arrependemos!'
Ora, o que a imprensa estrangeira na sua maioria publicou e a portuguesa copiou, foram realmente apenas os arrependimentos...
E a acusação de ele utilizar apenas chavões populistas, como dizia o Expresso, é difícil de defender, visto Fortuyn ter todas as suas cogitações políticas publicadas e com propostas de solução. Afirmar que as ideias de Fortuyn são meras fantasias, politicamente pouco viáveis, é lícito, mas trata-se de especulação gratuita enquanto as ideias dele não tomarem a forma de política governamental.
Um dos cavalos de batalha de Fortuyn era, segundo ele, o lastimável estado dos serviços de saúde pública na Holanda: enormes listas de espera para operações. Coisa pouco digna de um país tão rico. O governo admitia em parte o problema, e prometia soluções com uma generosa injecção de capital. Fortuyn respondia ‘nem um tostão. Primeiro sanear a má administração dos hospitais e depois veremos’. Durante um destes debates, afirmou, com os exageros que lhe eram peculiar, que as listas de espera da Senhora Borst (Ministra da Saúde) causaram mais mortos que os ataques suicidas às “Twin Towers”. Logo a seguir a imprensa do contra titulava em letras garrafais: FORTUYN COMPARA MINISTRA COM BIN LADEN.
Os políticos acima referidos usavam e abusavam desta comparação menos feliz de Fortuyn como defesa para as declarações que mais tarde se arrependeram. ‘Ele não nos poupava e a gente tinha de responder’. Picante detalhe, logo a seguir à morte de Fortuijn foi publicado um relatório do Ministério de Saúde sobre as listas de espera e segundo o relatório, uma das causas das listas de espera era a má administração dos hospitais: administradores a dar com um pau e especialistas sem ter que fazer devido a um ‘planning’ deficiente.
Sobre a questão islâmica, diz muito bem Jorge Almeida Fernandes: ‘O conceito de raça é estranho a Fortuyn. Ele fala de religião como cultura.’ E de qualquer forma o Islão estende-se a todas as raças. Ele realmente disse, num livro publicado em 1997 e intitulado A Islamização da Cultura Holandesa, que o Islão é uma cultura retrógrada, mas esta afirmação está relacionada com a situação actual do mundo islâmico.
Provavelmente ele nunca teria abordado o tema se isto não fosse (de longa data) um entrave à integração das minorias muçulmanas na sociedade holandesa, acarretando enormes problemas ligados, entre outros, à criminalidade juvenil e ao terrorismo.
Citar Jean Tillie, fazendo uma absurda ligação entre o 11 de Setembro e problemas relacionados com a emigração, parece-me a mim, misturar alhos com bugalhos. Com ou sem 11 de Setembro, a falência do modelo multicultural holandês, é, apesar dos milhões que custa ao estado por ano, desde longa data, o calcanhar de Aquiles do modelo dos polders.
A vitória de Fortuyn nas eleições municipais de Roterdão fez Jorge Almeida Fernandes exclamar: – ‘uma nova extrema-direita xenófoba conquista 34% dos votos da cidade mais multicultural da Holanda’. Ora, dos 34% votantes, um terço eram estrangeiros! Sobretudo estrangeiros com pequenos comércios, fartos de a toda à hora do dia serem roubados por outros estrangeiros.
Ora, isto não é muito grave, há coisas bem piores na vida, não tivessem os nossos jornalistas o hábito provinciano de repetir, por vezes literalmente, as asneiras da imprensa francesa.
O Jorge Almeida Fernandes, no Público do dia 19 de Maio de 2002, não é dos piores, até começa muito bem ao dizer: ‘que palavra usar para catalogar Fortuyn? extrema-direita? xenófobo Populista? reformador? Esta questão semântica tornou-se um assunto de estado.’ Depois cita o jornal holandês De Telegraaf: ‘é preciso rectificar no estrangeiro a ideia absurda de que Fortuyn e o seu grupo seriam comparáveis a Le Pen em França. (…) Um tal paralelo teria efeitos negativos sobre a imagem do nosso país no mundo.’
Um assunto de estado foi a utilização diária, durante a campanha eleitoral de 2002, de calúnia contra Pim Fortuyn pela parte dos seus adversários políticos baseada em referências demagógicas à II Grande-Guerra, colocando Fortuyn automaticamente no campo Nacional-Socialista.
Alguns exemplos: Bas Eenhoorn (VVD-direita liberal) comparou Pim Fortuyn com Mussolini. Thom de Graaf (D66-centro esquerda) citou o diário da Anne Frank, ‘aconselhando-a’ a preparar desde já um quarto para refúgio. Ad Melkert (PvdA-social democrata), diz num comício ‘vamos para a cama com o Wim Kok e acordamos de manhã com o Le Pen’. Paul Rosenmöller (GL-esquerda verde) preparava uma grande manifestação contra o racismo (ler Fortuyn) para o dia 11 de Maio que depois foi anulada devido à morte de Fortuyn no dia 6 do mesmo mês. De qualquer forma, mesmo Rosenmöller deu acto de presença, com carinha de sacristão arrependido, no funeral do ‘fascista’, como aliás todos os líderes políticos nacionais.
É claro que depois da morte do homem a maioria começou a dar o dito por não dito, alegando que 'realmente foram feitas certas acusações injustas, mas no calor do debate eleitoral às vezes dizemos coisas que depois nos arrependemos!'
Ora, o que a imprensa estrangeira na sua maioria publicou e a portuguesa copiou, foram realmente apenas os arrependimentos...
E a acusação de ele utilizar apenas chavões populistas, como dizia o Expresso, é difícil de defender, visto Fortuyn ter todas as suas cogitações políticas publicadas e com propostas de solução. Afirmar que as ideias de Fortuyn são meras fantasias, politicamente pouco viáveis, é lícito, mas trata-se de especulação gratuita enquanto as ideias dele não tomarem a forma de política governamental.
Um dos cavalos de batalha de Fortuyn era, segundo ele, o lastimável estado dos serviços de saúde pública na Holanda: enormes listas de espera para operações. Coisa pouco digna de um país tão rico. O governo admitia em parte o problema, e prometia soluções com uma generosa injecção de capital. Fortuyn respondia ‘nem um tostão. Primeiro sanear a má administração dos hospitais e depois veremos’. Durante um destes debates, afirmou, com os exageros que lhe eram peculiar, que as listas de espera da Senhora Borst (Ministra da Saúde) causaram mais mortos que os ataques suicidas às “Twin Towers”. Logo a seguir a imprensa do contra titulava em letras garrafais: FORTUYN COMPARA MINISTRA COM BIN LADEN.
Os políticos acima referidos usavam e abusavam desta comparação menos feliz de Fortuyn como defesa para as declarações que mais tarde se arrependeram. ‘Ele não nos poupava e a gente tinha de responder’. Picante detalhe, logo a seguir à morte de Fortuijn foi publicado um relatório do Ministério de Saúde sobre as listas de espera e segundo o relatório, uma das causas das listas de espera era a má administração dos hospitais: administradores a dar com um pau e especialistas sem ter que fazer devido a um ‘planning’ deficiente.
Sobre a questão islâmica, diz muito bem Jorge Almeida Fernandes: ‘O conceito de raça é estranho a Fortuyn. Ele fala de religião como cultura.’ E de qualquer forma o Islão estende-se a todas as raças. Ele realmente disse, num livro publicado em 1997 e intitulado A Islamização da Cultura Holandesa, que o Islão é uma cultura retrógrada, mas esta afirmação está relacionada com a situação actual do mundo islâmico.
Provavelmente ele nunca teria abordado o tema se isto não fosse (de longa data) um entrave à integração das minorias muçulmanas na sociedade holandesa, acarretando enormes problemas ligados, entre outros, à criminalidade juvenil e ao terrorismo.
Citar Jean Tillie, fazendo uma absurda ligação entre o 11 de Setembro e problemas relacionados com a emigração, parece-me a mim, misturar alhos com bugalhos. Com ou sem 11 de Setembro, a falência do modelo multicultural holandês, é, apesar dos milhões que custa ao estado por ano, desde longa data, o calcanhar de Aquiles do modelo dos polders.
A vitória de Fortuyn nas eleições municipais de Roterdão fez Jorge Almeida Fernandes exclamar: – ‘uma nova extrema-direita xenófoba conquista 34% dos votos da cidade mais multicultural da Holanda’. Ora, dos 34% votantes, um terço eram estrangeiros! Sobretudo estrangeiros com pequenos comércios, fartos de a toda à hora do dia serem roubados por outros estrangeiros.
5 comentários:
Pim F baralhava os bits à extrema esquerda.
Por um lado (penso que o lado de trás) era homossexual, o que o faria naturala aliado do nosso BE, por exemplo.
Mas depois tinha aqueles ideias "islamófobas" que não lhe permitiriam ir a Beirute com o Dr Miguel Portas em romagem de amizade ao Padre Nasralah.
Terá sido por isso que foi morto por um pacífico activista de extrema-esquerda?
Boa noite Carmo da Rosa.
Um regresso com um bom texto.
um destes dias vou aqui contar, se me permitirem, as minhas aventuras com antigos colegas de politica. Como sabe, sou ex-esquerda. E as recções de algumas pessoas de esquerda deixaram-me um tanto ou quanto surpreso.
Um abraço
Lidador:
‘Mas depois tinha aqueles ideias "islamófobas" que não lhe permitiriam ir a Beirute’
Nem a Beirute, nem a certos bairros cá da praça, mas não contente com o facto a extrema-esquerda achou por bem eliminar o homem…
Ejsantos:
‘vou aqui contar, se me permitirem, as minhas aventuras com antigos colegas de politica.’
Conte conte, eu pelo-me por este tipo de aventuras humanas.
Caro Carmo da Rosa, as minhas histórias não são à Indiana Jones, mas tem o seu interesse. COmeço por falar de um dos meus colegas de trabalho (chamarei de Carlos) também está a estudar à noite, e a tirar o mesmo curso que estou a tirar. Ambos somos defensores do Estado Laico, Democrático e de Direito. Também defendemos a economia de mercado. Também não temos grande pachorra para aturar as manias dos islamitas.
Bem, de vez em quando mando-lhe para o e-mail alguns textos. Em particular os textos do Lidador. Peço desculpa ao autor desses textos por o fazer, mas acho que esses textos têm que ser divulgados.
O bom do meu colega lê, e reencaminha-os. Um dos melhores textos do Lidador, sobre o Reddeker, remeti ao Carlos, com uma pequena dedicatória:
“Dedico este texto a todos os palermas que dizem que não há problemas com o Islão. Por esta razão deixei de ser de esquerda; recuso-me a pactuar com nazis disfarçados de religiosos. “
Deliciosa, não é? Verdade seja dita, estou a pedir polémica!
Bem, o meu colega leu o texto e reencaminhou para uma serei de amigos dele. Foram engraçadas as reacções. Um dos amigos dele, um jovem advogado bem instalado (e que começou a ser islamofobico quando, por razões profissionais, teve que lidar com eles) comentou: “o ejsantos é um pouco exagerado. È que os nazis eram muito bem organizados e eficientes. “ Esta resposta está toda ela repleta de um profundo sarcasmo!
Mas os amigos de esquerda de Carlos passaram-se da cabeça. As respostas foram “geniais”. Porque o ejsantos é um católico beato, que chora baba e ranho pelo Salazar, que é um xenófobo, que é um fascista, etc.
O meu colega Carlos e eu demos uma boa gargalhada com as reacções destes iluminados. E, claro está, o meu colega respondeu-lhes:
Informou os iluminados que eu detesto o Salazar. Que não sou beato. Que defendo o Estado Laico. Que não sou racista e detesto o PNR, etc, etc.
Depois ficamos a comentar o teor dos fabulosos argumentos dos nossos queridos amigos de esquerda. Nem um apresentou um único facto que contradissesse o texto apresentado. Todos, mas todos, atacaram-me com insultos e insinuações torpes.
E a isto se resume o brilhantismo intelectual da esquerda. Numa discussão limitam-se a atacar de uma forma vil e abjecta as pessoas que discordam deles.
Factos? Estatísticas? Dados históricos? O que é isso?- pergunta o bom “intelectual” de esquerda.
Enfim, esta é a estatura moral e intelectual da boa esquerda. COM gente assim não vamos longe.
Cumprimentos
[E a isto se resume o brilhantismo intelectual da esquerda. Numa discussão limitam-se a atacar de uma forma vil e abjecta as pessoas que discordam deles.
Factos? Estatísticas? Dados históricos? O que é isso?- pergunta o bom “intelectual” de esquerda.
Enfim, esta é a estatura moral e intelectual da boa esquerda. COM gente assim não vamos longe.]
Pois não. Excelente comentário.
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