O Diogo, em mais uma das suas muito badaladas idiotices baseadas em sítios na Internet e livros obscuros que não se cansa de ler, voltou recentemente a lançar mais algumas das suas pérolas no Fiel Inimigo. Venero, desde já, o esforço heróico dos meus companheiros de blog, que parecem ter paciência para argumentar com o iluminado Diogo. Eu prefiro manter-me afastado desta maré de comentários intelectualmente degradantes por parte do Diogo, não vá eu ser contagiado com o bicho.
Prefiro, dada a desonestidade e fraqueza intelectual do Diogo, responder ao meu caro Eurico Moura, que recentemente também tem comentado no Fiel. Louve-se a participação, como é óbvio, aliás até lhe peço desculpa pelo facto de estar a dirigir-me a si neste post que começa a falar do iluminado Diogo. Acredite, não é qualquer tipo de comparação aquilo que estou a fazer.
Comecemos, pois:
"Que há um lobbie judeu, há"
Como bem referiu o Lidador, nada difere os lobbies Judaicos/Israelitas dos restantes lobbies à face da Terra. Estes lobbies, ao qual o caro Eurico se refere com um estranho desdém, são uma característica das Sociedades Modernas mais desenvolvidas, onde muitas vezes o Poder Político vai contra os interesses/objectivos de grupos de diversa índole. Estes, como forma de defesa e como forma de tentar alterar as premissas e actuações do Poder Político, emitem as denominadas pressões sobre o Poder Político, por forma a verem os seus objectivos atingidos.
Problema para mim são as sociedades sem lobbies e as sociedades onde os lobbies são menos transparentes, sendo de destacar neste último caso as sociedades Europeias. Porque o lobbie é a expressão da insatisfação de minorias e de grupos diversos, que se sentem injustiçados pelo poder político ou por outro qualquer poder que lhes incute ordens com as quais não concordam.
Falará com esse desdém o meu caro Eurico do lobbie sindical? Do lobbie ambiental? Do lobbie gay? Ou não os considera lobbies? Não concorda com o protesto? Acredita que o Estado manda e que nós devemos obedecer? E olhe que eu digo isto e estou longe de ser de esquerda.
"que há extremismo judeu"
Há extremismos de diversa índole, como mais uma vez lhe apontou o Lidador. A diferença é que uns extremismos cortam-nos a cabeça, outros fazem manifestações e pressionam o poder político de forma legal, eu bem sei que é chato, mas sempre é melhor do que nos cortarem a cabeça, não acha? Por isso, não se preocupe com o extremismo Judeu, algo que só existe de forma efectiva em Israel e nos Estados Unidos (aqui muito residual também), porque os Judeus foram alvo de extremismo na Europa e então têm de estar caladinhos...
Você veja que, até em Israel, os extremistas Judeus são impossibilitados de concorrer a eleições. Assim aconteceu com o Rabino Meir Kahane e com o seu partido político, o Kach. O que aconteceu a Kahane depois já nós sabemos: foi assassinado por um Egípcio nos Estados Unidos da América, um daqueles tipos que lhe falava acima, aqueles que cortam as cabeças...
"Parece-me que as posições aqui defendidas, sempre a favor de uma das facções do conflito, se aproximam de uma categoria ou de outra."
Olhe, eu religioso não sou; já de lobbie, creio que me apanhou. Ainda há dias formei um grupo de pressão do qual eu sou o único membro, chamemos-lhe RB pelo aumento da mesada, tendo em vista o aumento da minha mesada, fornecida pelo meu pai. Apesar dos meus grandes argumentos e dos subornos à minha mãe, a quem prometi limpar o quarto caso me ajudasse a pressionar o poder monetário cá de casa, não recebi nada. Mas ao menos não desatei aos cortes de cabeça...
"É muito fácil tomar posição nesta fase do conflito, ignorando décadas de opressão, de invasão territorial de sonegação de direitos a uma população existente no território antes de ele ser ocupado."
Permita-me discordar caro Eurico. É muito mais difícil tomar posição nesta fase do conflito, dado o conhecimento e estudo necessários para nos pronunciar-mos sobre ele. São mais de 4000 anos de história porra. Há 60 anos era mais fácil tomar uma posição, depois das atrocidades Nazis e antes de todas as Guerras travadas, ou estarei eu enganado?
Nunca irei ignorar milénios de opressão ao povo Judeu, esteja descansado. Nem tão pouco vou ignorar as décadas de opressão da Jordânia, do Egipto e da Síria aos "refugiados" Palestinianos, se era a isso que se referia. E muito menos vou ignorar quem em Israel é cidadão Israelita não Judeu e possui direitos que nunca possuíria caso vivesse num qualquer país muçulmano.
Essa história da invasão territorial confesso que não me entra. Não me entra, em primeiro lugar, porque o Sionismo é muito mais antigo que qualquer espécie de nacionalismo Palestino, algo que só surgiu efectivamente em oposição ao Sionismo e, mais concretamente, mais de dez anos depois da fundação do Estado de Israel; não me entra porque quem tem o direito de se queixar de invasão territorial é o Império Otomano ou o Império Britânico, e nós bem sabemos que este último não o vai fazer, não só porque autorizou a sua denominada invasão, a que eu chamo imigração motivada por perseguição, como também porque agora já não manda nos referidos territórios; não me entra porque a esmagadora maioria das terras foi negociada e comprada por Judeus aos habitantes árabes daquela região, que nunca se chamaram Palestinianos, até porque a Palestina nem existia enquanto Estado, sendo até a sua referência geográfica bastante ténue; não me entra porque, apesar de todas as perseguições, continuaram a viver Judeus por aquelas bandas durante 4000 anos; não me entra porque quem foi invadido e foi privado de direitos foram os Judeus (sendo escravizados), há muito tempo atrás, naquela área do Globo, onde já possuíam um Estado com Rei quando a Europa só teve isso muito tempo depois.
Já que fala em sonegação de direitos, reparo que não está indignado com a persistência das autoridades Jordanas em não atribuir cidadania Jordana aos denominados "refugiados" Palestinianos que habitam o país há mais de 50 anos. Reparo, da mesma forma, que você não repara que em Israel 1,5 milhões de árabes têm o direito de voto e, consequentemente, o direito de elegerem os seus representantes. E, mais curioso ainda, note que estes representantes adoptam posições bem anti-Sionistas, conseguindo mesmo assim, apesar daquilo que diz a Constituição (que não existe de facto), não ser ilegalizados, como o foi o Kach do Rabino Kahane. Mas afinal em Israel há direito e direitos, enquanto nos países Muçulmanos há a Sharia e há a negação dos direitos e da liberdade individual. Assim, sugiro que se preocupe com os direitos de quem não tem direitos, e não com os direitos de quem os tem.
Quanto à história da existência de população residente, creio que já frisei acima o que precisa entender sobre o assunto: não existia identidade nacional Palestiniana quando o Sionismo foi criado (1897, embora as pretensões dos Judeus fossem muito mais antigas), quando os Judeus começaram a imigrar e até mesmo quando o Estado de Israel foi criado. O território não foi ocupado como diz, a não ser que considere que os imigrantes Ucranianos estão a ocupar o nosso rico Portugal desde a década de 1990. É de frisar, aliás, que o relacionamento entre Judeus e os Árabes locais foi inicialmente bastante proveitoso para ambos; as coisas descambaram depois, com razões diversas que lhe posso explicar. E, pasme-se(!), até o relacionamento com os Estados vizinhos se afigurava positivo no início da imigração. Ou como justifica o acordo de Emir Faisal com Weizmann, em 1919?
"5- As justificações históricas invocadas pelos israelitas de direita e estrema-direita para ocupar aquele território baseiam-se num livro não histórico, a Bíblia, e portanto são de cariz religioso."
Discordo. São várias as justificações históricas, mas o que é mais importante é analisar o porquê da imigração. Os Judeus durante séculos cantaram o suposto regresso a Sião, onde as perseguições acabariam; Os Judeus tiveram um Estado naquela zona durante mais de um século de história, Estado esse que acabou pela força; Os Judeus são originários daquela zona do Globo e sempre foram maioria lá até à I e II Diáspora Judaica, sendo os árabes ainda não islamizados uma minoria; Os Judeus têm lá os seus lugares sagrados. Como é possível você negar a ligação histórica do povo Judeu àquelas terras? Já assinou a ficha de militante do Hamas?
Os Judeus não teriam necessidade de migrar para aquela zona, importunando os pobres árabes que por acaso até faziam negócios com eles, se não fóssemos nós Europeus a fazer as nossas judiarias...
"6- No seio da sociedade israelita são cada vez mais os que defendem um estado israelo-palestino. Corre muito sangue árabe nas veias de Israel."
Totalmente falso. São cada vez mais aqueles que defendem o Eretz Israel.
"Uma coisa eu sei: o elo mais forte tem sido Israel, apoiado pelo lobbie internacional da alta finança judia e pela poderosa comunidade judaica americana"
Uiiiiiiiiiiiiiii! Alô, Diogo?
"Mas o poder dos países Árabes vizinhos tem vindo a aumentar e a extravasar a região e o conflito tem aumentado o número de extremistas islâmicos."
Partilho a sua preocupação. Mas repare que uma análise mais crua da realidade tornam as coisas bem melhor para Israel, ainda para mais com um Irão nuclear. Os países vizinhos raramente se conseguíram unir para alguma coisa, só o conseguíram para atacar Israel, com os resultados catastróficos para eles que conhecemos. Como se isso não bastasse, o quadro internacional actual dá a Israel grandes vantagens nas relações com as elites políticas do Mundo Árabe e Muçulmano, apesar da necessidade que estes têm de agradar aos extremistas religiosos. Só assim se justifica a existência de um amigável Mubarak, de um amigável Erdogan (com alguns tiques, é certo), de um amigável Abdullah Hussein II da Jordânia e até de um amigável Rei Abdullah Aziz, que propôs a abertura do espaço aéreo Saudita aos caças Israelitas caso estes pretendessem bombardear as instalações nucleares Iranianas. E, repare, nem lhe falei dos Governos relativamente pró-Ocidentais do Iraque, do Afeganistão e do Paquistão. Os problemas dão-se com os extremistas religiosos, com os grupos terroristas e com as organizações criminosas, não com as elites políticas mais esclarecidas, que têm tendência para se ocidentalizar no futuro. São os prazeres mundanos...
"Quantos à boa vida dos palestinos em Israel, deve estar a gozar comigo, não? Vá dizer isso aos que vivem nos territórios ocupados."
Para lhe responder a isto, preciso que me defina territórios ocupados. Porém, vou supor que está a falar da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, sendo que a primeira já não está sob comando Israelita desde 2005 e sendo que a segunda possui já grande autonomia, sendo administrada pela OLP. Quanto a Jerusalém Oriental, não entra para as contas.
Os Árabes Israelitas têm condições de vida muito maiores em Israel do que qualquer árabe nos restantes países Árabes. Por aqui não se discute.
Quanto aos territórios ocupados, não tem que atribuir culpa a Israel, que aliás fornece água, alimentos e energia aos territórios e até abriu um corredor humanitário por altura da Operação Chumbo Endurecido. Como se isso não bastasse, parece que a economia da Cisjordânia vai crescer 7% este ano, dados os esforços das autoridades Israelitas para facilitar a circulação no território. As culpas do ainda baixo nível de vida das populações deve-se mais à incompetência e corrupção da elite política Palestiniana (tente ver as contas de Arafat na Suíça) do que aos Israelitas.
"Sempre ao lado dos mais fracos, que neste caso é o das populações que suportam um sofrimento crescente."
Muito bonito essas suas palavras. O que me tem a dizer sobre o Darfur então? Será que pensa mais naquilo que se passa no Darfur do que no que se passa em Israel, quando já morreram dezenas de milhar de pessoas no primeiro sem que o caso tenha tido a atenção que têm as já conhecidas "atrocidades" Israelitas? Será que se preocupa com os tâmiles no Sri Lanka? Será que se preocupava com os Curdos no regime de Saddam? Será que se preocupou com o número avultado de mortes que ocorreram no Congo no mesmo dia em que se iniciou a Operação Chumbo Endurecido ou, tal como a ONU, preocupou-se mais com um conflito direccionado e justificado no Médio Oriente? Será que se preocupa com os presos políticos Cubanos e Norte-Coreanos?
"A constituição e independência do estado de Israel, as guerras com a anexação de mais território e a criação de milhares de refugiados, criaram uma situação de reacendimento do ódio dos extremistas islâmicos, cada vez mais numerosos, com um fim imprevisível."
A velha história da anexação de território. Israel é atacado e é suposto reagir com falinhas mansas e sem infligir golpes nos adversários? É suposto sair de uma Guerra sem retirar os devidos dividendos estratégicos, políticos e territoriais, ainda para mais quando até à luz do Direito Internacional se considera justíssimo que um país atacado possa, em caso de vitória, anexar território?
Será que o Eurico nutre algum tipo de compaixão pelos refugiados Judeus expulsos dos países árabes em que viviam depois da criação do Estado de Israel? Será que o Eurico sabe que todas as terras sem as quais estes Judeus ficaram davam para fazer 5 Estados de Israel? Será que sabe que estes refugiados (cerca de 1 milhão e 100 mil) são mais do que os "refugiados" Palestinianos (cerca de 700000 em 1950), muitos dos quais nem o são, porque são filhos de refugiados e não verdadeiros refugiados, para além de que muitos saíram pelo próprio pé porque achavam que Israel ia ser esmagado na Guerra de Independência?
Não me parece que saiba. E sabe porque não me parece que saiba? Porque, para um conflito de tamanha natureza e complexidade, o caro Eurico fornece aos leitores do seu blog links da wikipedia para estes formarem opinião sobre o assunto, em vez de bibliografia clara e amplamente recomendada. Talvez por isso a sua posição seja tão débil neste assunto como afirma. Se quiser eu recomendo-lhe uns livros e, aí, voltaremos a falar.
8 comentários:
Uma resposta esmagadora, RB.
Vamos ver se o Eurico responde...ou se prefere, como é normal nos "defensores da causa palestinana", ignorar os argumentos e falar por cima com os slogans e os bordões que fazem a espuma do assunto.
O Diogo e o Eurico Moura levaram uma resposta à altura.
Eu parece-me que o Digo milita por dentro, o Eurico por distracção.
O Eurico resolveu recolocar o assunto dentro de portas (eu gosto de almoçar em casa dos amigos, como em minha casa):
http://portudo-e-pornada.blogspot.com/2009/10/israel-e-palestina.html
.
Bom texto RB. Tomei a liberdade de copiar para o meu mail, e remeter aos meus amigos (com referencia do autor e do blogue)
Cumprimrntos
Não respondo a cartas anónimas.
Cartas deverão ser dirigidas a eura00@gmail.com, como é público no meu perfil, e devidamente assinadas.
Todas terão resposta.
As minhas considerações sobre o assunto estão em http://portudo-e-pornada.blogspot.com/2009/11/carta-anonima.html
Só hoje tive oportunidade de ler o texto.
Excelente, sem mais.
"Não respondo a cartas anónimas."
E está no seu direito. Mas não acha que lhe fica um bocado mal, depois de tanto trabalho que tive em lhe efectivar algumas respostas?
Gostava de ouvir aquilo que me tem a dizer.
"Face escondida pela burca do pseudónimo e publicada sem necessidade, pois o meu email é publico, bem como o meu nome. Se de uma carta se tratasse seria fácil enviá-la."
Já percebi que você gosta de direitos, mas pelos vistos só de alguns.
"Não sou eu que o faço. A ONU tem dezenas de recomendações visando Israel."
Correctíssimo. E quantas é que tem visando Omar Al-Bashir? E quantos mortos causam/causaram um e outro?
"Não sei. Não fui lá ver."
Pois vá. Pode ser que aprenda alguma coisa.
Noto que foge com o rabo à seringa. Sempre é melhor do que, como refere o Lidador, vir com as ladaínhas do costume.
Excelente texto, claro e bem explicado - até eu percebo!
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