Ricardo Arroja escreve um pequeno e muito interessante post com três alternativas de saída da crise. Merecem que se discorra sobre elas e, já agora, tentar perceber se existem mais.
“Uma primeira que ninguém aceita: a saída do euro.”
Como dizia a outra “não negue à partida uma ciência que não conhece”. Só que no caso a “ciência” não é tarot mas antes a realidade despida da fé construtivista no ‘homo europeus’
A saída do euro não assume o dramatismo que vários sustentam e muitos mais temem. Consideremos o que se passa na Grã-Bretanha. Se a economia inglesa se vai aguentando menos mal, apesar de o governo trabalhista ter cometido erros afins aos dos governos do sul da Europa, tal facto fica a dever-se à forte desvalorização a que a libra tem estado sujeita. Essa desvalorização constitui um mecanismo económico que permite a compensação dos desajustamentos internos na competitividade do país. Se a libra estivesse atada ao euro-marco a situação seria bastante pior.
Pode contrapor-se que em caso de saída do Portugal do euro haveria uma forte fuga de capitais. Muito provavelmente, sim, no imediato haveria. No entanto essa fuga já está a ocorrer agora em passo lento mas a acelerar através da contínua saída de investidores e capital de um país moribundo, sobre-endividado e caro.
O que é efetivamente importante é que na eventualidade da saída da zona euro (por iniciativa própria ou por expulsão) a desvalorização consequente da nova moeda levaria ao reajustamento dos custos dos factores de produção internos que constituiria um contributo fundamental para reverter a situação atual tornando o país mais competitivo e atrativo ao investimento externo, potenciando o tão necessário aumento de exportações, dificultando a importação de bens de consumo (equilíbrio da balança de pagamentos) e adequado o preço do dinheiro à realidade económica interna.
Para os mais incrédulos é bom lembrar que a entrada de Portugal na zona euro contribuiu mais para a estagnação, marginalização e endividamento da economia do que para o crescimento real da produção interna. A estagnação do crescimento português que começou há mais de uma década não coincide apenas com o aumento sempre crescente do peso do Estado; coincide também com a entrada na zona euro. Pior, coincide inequivocamente com o endividamento das famílias que decorreu da disponibilização de moeda de ricos em país de pobres (com taxas ‘euro’, desfasadas da realidade económica portuguesa), conduzindo a níveis de consumo incompatíveis com a riqueza gerada internamente.
Por fim, deve notar-se que a maior parte das economias da OCDE não pertencem à U.E. e, em simultâneo, têm em geral melhor desempenho que a U.E. Há mais vida para além do euro.
"Uma segunda que poucos aceitam: uma verdadeira consolidação orçamental, que implicaria a redução significativa da despesa primária" [despesa direta do Estado, como por exemplo salários e aquisição de bens e serviços].
Inevitavelmente essa consolidação terá de acontecer e a tendência é que sejam cada vez mais os que entendem que é urgente porque quanto mais tarde for feita mais dolorosa será. Claro que esta consolidação é impossível com os atuais vendedores de banha-da-cobra que nos governam. Será preciso esperar pela boa-ventura de que os que vierem tomar conta do destroço após a fuga anunciada dos ratos mudarão de rota. E esta também é uma tragédia nacional, ter sempre de esperar pela sorte, pela boa-ventura de que os próximos sejam melhores que os anteriores, esperar sempre por Dom Sebastião. A parte boa é que lá muito de vez em quando ele aparece.
“E a terceira que, provavelmente, muitos estarão dispostos a aceitar: o recurso a empréstimos de outros membros da zona euro (táctica que, ao contrário do assistencialismo orçamental, não é proibida), mediante a cedência de soberania política aos países mais fortes da união monetária.”
Aqui Arroja equivoca-se duplamente. Em primeiro lugar, não se vislumbra como poderia um Estado-membro financiar diretamente outro Estado-membro. Além do mais, o financiamento do orçamento português (incluindo o pagamento de amortizações e juros) já hoje é conseguido essencialmente por recurso a empréstimos com origem em entidades financeiras de Estados-membros da U.E. Ora, dado o caminho do abismo que tem vindo a ser percorrido pelas contas públicas portuguesas, é sabido que estas entidades bancárias financiam o endividamento português com conhecimento e anuência por omissão das autoridades reguladoras representantes dos Governos dos países de origem dos empréstimos.
O segundo equívoco de Arroja é supor que a “cedência de soberania política aos países mais fortes da união monetária” pode ser uma contra partida. Na verdade, não pode. E não pode porque não se pode ceder o que está cedido, o que já não se tem. Portugal cedeu a sua soberania ao politburo da eurocracia ainda antes do Tratado de Lisboa.
Resta dizer que existe uma quarta alternativa que Arroja achou que nem merece referência; trata-se da alternativa keynesiana, a dos crentes em geral e beatos em particular nos milagres económicos de Santo Estado-Gordo: aumentar ainda mais o peso do Estado e o endividamento do país, “única forma de fazer a economia reagir e sair da crise” dizem (diziam?) eles, os crentes, em tiradas de fezada, por mais que seja óbvio que vai ser penoso conseguir pagar o que já se deve e respectivos juros e que o endividamento é uma das componentes principais da desgraça do país. Ou será que, afinal, esta já não é alternativa? E por falar nisso, o que têm agora a dizer uns moços que há seis meses andavam tão empenhados a defender a importância do aumento do investimento público e do endividamento e a pedir não duas mas cinco linhas de TGV’s para Portugal?
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
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2 comentários:
Paulo Porto:
Não tenha pressa. Eles já voltam... Eró que faltava, que não voltassem...
Mas há mais outra maneira de o fazer: limpar o País destes Políticos de Meia Tigela... Perdoem-me mas não a posso deixar passar despercebida.
Trata-se de uma mensagem dirigida a todos os portugueses interessados em mais justiça, mais transparência, mais exigência na dedicação e empenho na por parte dos Políticos Portugueses na construção de um país mais justo. Vamos Mudar a Politiquice em Portugal...
Numa época em que cada vez mais se fala na necessidade de avaliação de todos, o exemplo deve começar por cima, isto é, pelos próprios políticos, únicos "empregados" que devem servir o Povo Português, mas que decidem o seu próprio salário.
Vamos nós determinar quanto podem receber. Eles são nossos funcionários... E foram candidatos porque quiseram...
Por isso, está online uma petição que valerá a pena... Basta que os portugueses queiram que seja uma realidade... Não há mais lugar para ataque aos vencimentos dos políticos se esta petição morrer pelo caminho. Chegou a HORA DA VERDADE... Vamos colocar os políticos AO SERVIÇO DO PAÍS e não a SERVIREM-SE DO PAÍS.! Leiam... Petição Por Políticos Mais Responsáveis.
Se é contribuinte neste país e sente-se "assaltado" ou simplesmente "escandalizado" com o que se paga como salário e ajudas aos políticos? Vamos colocar uma ordem nisto... Que os que servem o povo sejam reconhecidos pelo que fazem... avaliados e como tal, merecedores do que recebem... Está uma petição on-line disponível.
Aqui fica o link da Ler a Petição . Por favor, leia a petição até ao fim... Cremos que vale a pena! Para assinar, existe um botão que abre a janela ou então, volte aqui e escolha Assinar a Petição “Por Políticos Mais Responsáveis”..
Este é um assunto diferente do tratado. Mas creio que merece ser divulgado... Perdoem-me este pequeno abuso...
Não Calarei A Minha Voz... Até Que O Teclado Se Rompa !
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