O frade e o salteador
Era uma vez um virtuoso frade, que morava num ermo. Um dia chegou junto dele um salteador dos caminhos, que lhe disse:
- Vós rogais a Deus por todos; rogai-lhe que me tire deste mau ofício; se não hei-de matar-vos.
E, indo-se dali, tornava a fazer o mesmo que de antes.
E outra vez tornava a procurar o frade, dizendo:
- Vós não quereis rogar a Deus por mim? Pois hei-de matar-vos.
Tantas vezes fez isto, que uma veio determinado para matar o padre, o qual lhe pediu:
- Já que me queres matar, tiremos primeiro ambos uma laje que tenho sobre a sepultura onde hei-de ficar. Lançar-me-ás assim lá dentro, sem muito trabalho.
O salteador concordou com a proposta do frade, e ambos foram erguer a laje. Porém, ao passo que o mau homem trabalhava quanto podia por erguê-la, assim o ermitão se esforçava para que ela não se erguesse. E, desta maneira, nunca mais a laje saía do seu lugar.
Atentou o salteador no caso e disse:
- Se vós não me ajudais, como posso eu erguê-la? Ainda que eu queira da minha parte, não o consigo, pois vós fazeis, da vossa, com que não aproveite o que faço...
Antes que passasse adiante, disse-lhe o bom frade:
- Vês, irmão? Que me presta a mim rogar a Deus por ti, pedindo que te afaste do pecado e do mau ofício que exerces, se tu não te queres afastar e estás, muito de propósito, perseverante nele?
- Vós rogais a Deus por todos; rogai-lhe que me tire deste mau ofício; se não hei-de matar-vos.
E, indo-se dali, tornava a fazer o mesmo que de antes.
E outra vez tornava a procurar o frade, dizendo:
- Vós não quereis rogar a Deus por mim? Pois hei-de matar-vos.
Tantas vezes fez isto, que uma veio determinado para matar o padre, o qual lhe pediu:
- Já que me queres matar, tiremos primeiro ambos uma laje que tenho sobre a sepultura onde hei-de ficar. Lançar-me-ás assim lá dentro, sem muito trabalho.
O salteador concordou com a proposta do frade, e ambos foram erguer a laje. Porém, ao passo que o mau homem trabalhava quanto podia por erguê-la, assim o ermitão se esforçava para que ela não se erguesse. E, desta maneira, nunca mais a laje saía do seu lugar.
Atentou o salteador no caso e disse:
- Se vós não me ajudais, como posso eu erguê-la? Ainda que eu queira da minha parte, não o consigo, pois vós fazeis, da vossa, com que não aproveite o que faço...
Antes que passasse adiante, disse-lhe o bom frade:
- Vês, irmão? Que me presta a mim rogar a Deus por ti, pedindo que te afaste do pecado e do mau ofício que exerces, se tu não te queres afastar e estás, muito de propósito, perseverante nele?
Gonçalo Fernandes Trancoso
1 comentário:
Ainda pensei que os miúdos, que o padre seviciava e mantinha presos na sua alcova, viessem em ajuda do salteador e que em conjunto esmagassem com a laje a cabeça do vigário.
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