Entre os ecos épicos das “revoluções” árabes, as imagens avassaladoras do cataclismo japonês e as peripécias socratinas que nos vão empurrando para a miséria socialista, um acontecimento de primeiríssima grandeza está a ser incubado no Bahrein, esse pequeno país empoleirado sobre imensas reservas de hidrocarbonetos, na linha da frente entre a Arábia Saudita e o Irão, na falha telúrica entre o sunismo e o xiismo.
Neste pequeno país neutral, onde a família real sunita dos Al-Khalifah reina há séculos sobre uma população de 700 000 pessoas, a maioria das quais imigrantes e com uma forte percentagem de xiitas, os grandes poderes da zona começam a mover os peões de um jogo que poderá não acabar bem.
As “revoluções” árabes, tão aclamadas por uma entusiástica quanto delirante intelligentsia ocidental, sempre disposta a projectar nos outros as suas próprias utopias infantis, estão a revelar, à medida que a poeira assenta, realidades nada condicentes com as elevadas expectativas dos progressistas de serviço: no Egipto tudo como dantes, um homem forte tomou o lugar de outro e veremos se as eleições não complicam ainda mais, trazendo para o poder os loucos de Alá, ; na Líbia, como eu próprio tinha previsto, tudo pior do que antes, com o mesmo louco no poder, mas agora enraivecido e disposto a tudo.
O que se passa no Golfo (Pérsico para uns, Arábico para outros), é um jogo muito mais perigoso. O Irão move os seus peões. Tem estado por detrás das revoltas, há dias projectou forças navais para o Mediterrâneo, e continua a fornecer, com a ajuda da Síria e da Turquia, armas cada vez mais sofisticadas aos seus proxies (ontem mesmo a marinha israelita capturou um navio vindo da Síria e da Turquia, carregado com mísseis anti-navio e toneladas de armas e munições iranianas).
A Arábia Saudita respondeu ontem, deslocando forças militares e policiais para o Bahrein onde está instalada, recorde-se, a 5ª Esquadra americana. Trata-se de um movimento de grande alcance. Revela que os sauditas já não confiam na determinação americana para fazer frente aos avanços iranianos e que estão dispostos a tudo para defenderem os seus interesses.
O problema não é o Bahrein, mas sim a própria Arábia Saudita a terra onde nasceu o Islão, onde não há lugar para qualquer outra religião, governada por uma casta corrupta e fechada à inovação e à modernidade dos costumes e dos valores.
A Arábia Saudita que, tal como o Irão, tem usado o dinheiro do petróleo para exportar para todo o mundo a sua versão fundamentalista do Islão.
O que se passa no Bahrein e no mundo muçulmano não é pois, como os tontos embebidos em pós-marxismo acreditam, uma luta de classes entre opressores e oprimidos, exploradores e explorados, democracia e autocracia. A realidade é outra e muito mais telúrica que o lirismo destas “explicações”.
É uma realidade determinada sobretudo pelos imperativos da geografia, da religião e da política.
É um jogo mortal cujos movimentos se estão a acelerar.
3 comentários:
Para a malta da Arábia Saudita e afins, os xiitas estão no topo da lista de inimigos.
Odeiam-se de morte.
Lidador,
excelente análise. E por muito que me custe a prometida garrafinha de vinho americano de Setúbal, bem melhor que as análises conspiratórias do meu amigo Streetwarrior...:)
LGF, no topo da lista está o Lidador, a minha pessoa e outros ateus. Depois vem a malta com religiões esquisitas, a seguir os povos do Livro (judeus e cristãos crentes) e então os xiitas. E isso porque continuam à espera do Mahdi (12º imã)! E os sunitas dizem que o último profeta que apareceu foi Maomé e acabou-se, já não há mais profetas para ninguém…
http://aperoladanet.blogspot.com/2011/03/uma-excelente-analise.html
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