Ninguém pode levar Sócrates a sério, a começar por ele próprio. Sócrates é o que for preciso ser para se manter no poder e nada mais. Entrincheirou-se há meses no país, cuja sorte, no seu discurso, confunde alucinadamente com a sua. Aquilo a que chama FMI, a ajuda externa menos a sua fantasmagoria, é, ou pareceria ser, a sua sentença de morte política. "Eu não estou disponível, da minha parte, para governar com o FMI", declarava o manhoso profissional como na história da raposa e das uvas, há coisa de uma semana. Se Sócrates tivesse uma quantidade infinitesimal de honra, deveria consequentemente afastar-se de moto próprio com a chegada do "FMI". Este fim-de-semana, antes, ou depois. Naturalmente que não o fará. Invocará, como de costume, a Pátria. Não há desonra, mentira e sem-vergonha que a Pátria - ele - não justifique. O que torna o combate político contra Sócrates uma provação quase intolerável é o facto de ele não recusar nenhum expediente, nenhuma mentira, nenhum recurso, nenhuma armadilha, nem mesmo a segurança do país, muito menos o seu prestígio, como munição. Levará tempo a acabar. Mas acabará certamente muito mal. Isto é mais do que um desejo. É a consequência lógica de confundir a sua sorte, condenada, com a do país, que ele condena a acompanhá-lo. A separação litigiosa vai custar-lhe a fortuna toda.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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segunda-feira, 28 de março de 2011
"Eu não estou disponível, da minha parte, para governar com o FMI"
No Cachimbo de Magritte, por Jorge Costa:
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