Vasco Graça Moura, via Blasfémias:
Ninguém se lembra de ter visto, nos últimos anos, algumas figuras gradas de extracção socialista a chamarem a atenção do Governo de José Sócrates para as barbaridades que estavam a arrastar Portugal para o abismo e para a irresponsabilidade da governação. Deviam tê-lo feito pelo menos dia sim, dia não, mas não o fizeram.
O país ia-se arruinando, os portugueses iam resvalando para o beco sem saída em que se encontram hoje, o Governo ia garantindo exactamente o contrário daquilo que se estava a passar e dando provas de uma incompetência e de uma desfaçatez absolutamente clamorosas, mas esses vultos tão veneráveis abstinham-se de fazer a crónica dessa morte anunciada, não se mostravam grandemente impressionados com ela e sobretudo não sentiam o imperativo patriótico de porem cá para fora, preto no branco, numa guinada veemente e irrespondível, o que bem lhes podia ter ido na alma e pelos vistos não ia assim tanto.
Devo dizer que não fiquei nada impressionado com os apelos recentes e vibrantes de algumas dessas egrégias personagens, em favor da manutenção do satu quo ante em nome do mesmo interesse nacional que as terá remetido ao mutismo mais prudente sempre que a governação socialista dava mais um passo em frente para estatelar Portugal.
Sou levado a concluir que foram sensíveis, não ao descalabro a que a governação socialista acabou por conduzir o país, mas ao desmoronamento do PS enquanto partido de governo. Não lhes faz impressão nenhuma que Portugal esteja na merda por causa dos socialistas. O que os impressiona deveras é que o PS se arrisque a ficar na merda por causa de tudo o que fez. E então, então sim, apressam-se a invocar alvoroçadamente o interesse nacional, secundados por todo o bicho careta lá do clube que se sinta vocacionado para dar o dito por não dito e o mal feito por não feito e também, está claro, para fazer sistematicamente dos outros parvos.
Tal apelo surge todavia no ensejo menos adequado. Hoje, só faz sentido invocar o interesse nacional para esperar que o PS seja varrido impiedosamente de qualquer lugar de preponderância política e que a ignomínia da governação socialista fique bem à vista para a conveniente edificação das almas.
Os responsáveis por tudo isto e os seus porta-vozes já se começaram a esfalfar, a acusar desvairadamente os outros de terem criado um impasse irremediável para Portugal, a passar uma sórdida esponja de silêncio e manipulação sobre o que foi a actuação dos Governos socialistas desde 1996 e, em especial, desde 2005, a fazer esquecer que é ao PS e ao seu Governo que se devem coisas tão sugestivamente picantes como a crise, o aumento delirante dos impostos, o aperto asfixiante do cinto, a subida incomportável do custo de vida, o desemprego sem esperança, o fim da dignidade nacional.
Nessas virtuosas indignações da hipocrisia socialista, já se vê quanta gente do PS anda já por aí a desmultiplicar-se, na rádio, em blogues, um pouco por toda a parte e até aqui nos comentários aos artigos, a jogar na inversão e na distorção de todos os factos e de todos os princípios. Alguns ingénuos talvez deixem mesmo de se perguntar mas afinal que canalha é essa que se diz socialista, para sustentar o insustentável e defender o indefensável.
Já toda a gente percebeu que o país só sai desta se tiver uma verdadeira "ditadura da maioria", expressão que, como é sabido, causava calafrios democráticos ao dr. Soares. Amanhã, se nessa maioria entrasse o macabro PS que ele ajudou a fundar, tal conceito ficaria, apesar de tudo, esquecido entre as brumas da memória. E se, como é de esperar e de desejar, o PS for reduzido a cisco em eleições, não nos admiremos por assistirmos em breve à recuperação grandiloquente do chavão.
Já se percebeu que a Europa o que quer é que Portugal não faça mais ondas e volte a ser o bom aluno que os próceres socialistas escarneciam tão displicentemente. Deve recordar-se ao dr. Sampaio que, no estado de porcaria pantanosa a que isto chegou e que ele não denunciou a tempo, hélas!, afinal não há muito mais vida para além do orçamento. E mesmo a pouca que houver se vai pagar muito caro.
Eu, cá por mim, com a queda desta gente execrável, só posso exclamar: - Aleluia!
4 comentários:
Blasfémias disse: "Ninguém se lembra de ter visto, nos últimos anos, algumas figuras gradas de extracção socialista a chamarem a atenção do Governo de José Sócrates para as barbaridades que estavam a arrastar Portugal para o abismo"
Eu estou muito longe e mesmo assim consegui ver o António Barreto...
CdR, o António Barreto já se afastou do PS há duas décadas.
Fez o clássico trajecto das pessoas que crescem: começou no PCP e foi transitando para uma feroz oposição a tudo o que cheire a socialismo.
Dizer que ele é socialista é mais ou menos como dizer que o Durão Barroso é maoísta ou a Zita Seabra é estalinista.
Dito isto, note que eu acho que o Partido Socialista, como federador de uma esquerda moderada, é necessário. Deveria talvez chamar-se Partido Social-Democrata, mas o nosso espectro politico tem um erro de paralaxe e nada há a fazer.
Infelizmente está a suicidar-se, com o Sócrates a comandar a manada de bisontes que cavalgam para o precipício, deixando o caminho da esquerda aberto a estalinistas e trotskystas.
"Deveria talvez chamar-se Partido Social-Democrata, mas o nosso espectro politico tem um erro de paralaxe e nada há a fazer."
Eu também acho que sim, ou melhor, achava. Com Sócrates, o nome está bem dado.
Espero que se curem.
O-Lidador disse: ”já se afastou do PS há duas décadas.”
Mas isso não significa que se afastou do socialismo, ou melhor, da social-democracia…
O-Lidador disse: ”….começou no PCP e foi transitando.”
Tem a certeza que ele foi do PCP? Quando o conheci, e já foi há mais de duas décadas, ele dizia muito mal do PCP e estava ligado ao Soares. Logo a seguir foi Ministro da Agricultura pelo PS.
O-Lidador disse: ”Dizer que ele é socialista é mais ou menos como dizer que o Durão Barroso é maoísta.”
A diferença é enorme! O Durão Barroso foi maoísta em criança. Caneco, era um puto, não se pode amarrar as pessoas eternamente ao passado! O António Barreto quando o conheci e falei com ele, já era adulto e emancipado, tinha acabado de voltar da Suíça, era ministro e do Partido Socialista…
O-Lidador disse: ”Deveria talvez chamar-se Partido Social-Democrata,.”
Absolutamente de acordo, e o PSD tem apenas uns laivos de liberalismo com muito molho cristão à mistura…
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