A cunha é, em Portugal, uma instituição.
A cunha existe e é, quanto a mim, boa na iniciativa privada, má no estado.
A cunha pode aparecer por duas vias: pelo que precisa de alguém para trabalhar ou pelo que precisa de trabalhar.
Pela primeira via, alguém pergunta a alguém: conheces alguém para fazer isso? Pela segunda via: vê lá se me arranjas trabalho. Pela primeira via pode ser o próprio a tomar a iniciativa de propor mas as implicações subsequentes são as mesmas.
Num caso ou noutro e na iniciativa privada isto implica um jogo de responsabilidades. Quem pede a cunha não quer deixar ficar mal o amigo e, portanto, há que fazer pela vida. Quem alinha na cunha não quer ficar mal perante os seus superiores e, naturalmente, mantém-se ao desempenho de quem lá meteu.
Isto não é mau. Não é mau porque cada qual sabe o que está em jogo. Quem pede a cunha não quer que quem lha facultou lhe feche a porta na cara em caso de nova futura necessidade. Quem alinha nela tem a possibilidade de se fazer notar como alguém capaz de avaliar a capacidade de outros e caso futuramente as posições se invertam, ganha a hipótese de aceder a uma cunha junto de quem anteriormente ajudou.
Tudo isto funciona bem na iniciativa privada porque se sabe que se está a todo o momento a ser julgado e que há uma reputação a manter, a melhorar, enfim, a arriscar.
No bicho estatal a cunha funciona apenas até ao momento em que o pretendente lá mete o pé. A partir daí acabam-se as preocupações mútuas e, naturalmente, não permanece qualquer mecanismo de mútua responsabilidade. Se ‘der’ deu, se não ‘der’, … quartel-general em Abrantes.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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sexta-feira, 4 de março de 2011
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Alguém me explica porque têm a GNR e a justiça(?) que meter o nariz para saber se quem trabalha na pastelaria lá está dentro ou não?
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Um dos pilares do liberalismo e do mercado livre, é a constatação, colhida da prática, de que a concorrência, a livre formação dos preços, ...
2 comentários:
Exactamente. E não se trata apenas "de dar uma palavrinha" ou invocar um "favorzinho" para arranjar um emprego para a filha, o primo ou o amigo de longa data.
Atesto por experiência própria, em múltiplas ocasiões no âmbito do SNS, como conhecer um simples funcionário administrativo ou uma enfermeira pode significar largos meses de antecipação de uma consulta coisa que seria impossível por meios "normais".
Sim, nesse contexto é assim e é negativo.
O contexto em que a coisa se me apresenta é o contexto do primeiro emprego, quando a malta se queixa que só quem tem cunhas arranja emprego.
Se calhar no texto não se percebe bem.
Voltando à malta, a reacção à chamada de atenção para a responsabilidade mútua da relação cunha é de surpresa por nunca terem pensado nisso. A escola prepara muito pouco para o mundo real.
Tenho arranjado trabalho muitas vezes porque alguém se lembra de mim e sabe que pode contar comigo, e tenho arranjado trabalho a muita gente de quem me lembro quando me pedem ajuda para encontrar alguém.
É a vida, a real. Podia ser de outra forma, talvez. Mas quando preciso alguém apara ajudar algures e não conheço ninguém peço a quem me rodeia para dar uma dica. E fico à espera que essa dica dê o resultado que depreendo virá a ser válido de acordo com a impressão que tenho a quem peço ajuda.
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