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sábado, 12 de março de 2011

A ESQUERDA, O POVO E A INTERNET...


Quando virem uma gaja assim nas revoltas árabes é que realmente vamos ter democracia…

Para a esquerda tradicional o povo é uma coisa vaga, mítica e infinitamente boa - mas só quando vota à esquerda ou quando não tem direito a opinião. Quando tem alguma, a esquerda reza para que seja a correcta, a única válida, a de esquerda. De outra forma não tem qualquer problema em acusar um povo inteiro de racismo ou fascismo…

Foi precisamente para evitar estes dissabores (opiniões populares incorrectas) que a esquerda criou as vanguardas, os Grandes Educadores, os que falam em nome do povo. E ao contrário do que pensam as más línguas de direita, isto nada tem a ver com poder, é apenas uma questão de evitar chatices e má-criações, porque de todas as formas o poder será sempre do povo, como por exemplo no caso do regime de Muamar Kaddafi…

Mas a reacção não dorme, e o raio dos americanos, com a ajuda da CIA mas sobretudo do Pentágono, lá conseguiram inventar uma coisa que iria tornar os Grandes Educadores supérfluos: A INTERNET. Digamos que a reacção criou uma verdadeira revolução e a partir de agora o povo já não precisa de exprimir a sua opinião através de um médium. O acesso é directo e sem restrições de raça, credo ou classe social. Além disso é simples, democrático, de borla e nem sequer é preciso ter canudo para mandar umas bocas…

E assim a Internet veio agravar ainda mais a atitude esquizofrénica que a esquerda sempre demonstrou em relação ao povo - uma relação de amor e de ódio. Por um lado os esquerdistas imitam certos aspectos exteriores do povo (capotes alentejanos, xales palestinos, boinas bascas, calças curdas), por outro mantêm sempre uma atitude paternalista e uma distância elitista. Em relação ao terceiro mundo verifica-se a mesma desordem mental: abandonam facilmente o povo à sua (pouca) sorte para se juntarem a ditaduras reaccionárias (Hamas, Hezbollah) e com hábitos medievais diametralmente opostos aos seus, à condição que estes digam mal do capitalismo, dos USA, de Israel, ou do Ocidente….

Esta situação é insuportável para as vanguardas de esquerda (já muito abaladas pela queda do muro) mas também para as ditaduras do mundo inteiro, que perderam o total controlo sobre a opinião popular devido à Internet. Um amigo de esquerda, que me parece não estar muito contente com esta situação, dizia-me há pouco: “deixa os blogs, que são opiniões avulso, sem responsabilidade científica”. Quer ele dizer que os problemas do povo são bem interessantes e servem perfeitamente propósitos políticos, mas o melhor é o povo calar a boca e deixar as opiniões ao partido (de preferência único), ou a quem lê livros (científicos)…

As grandes vítimas disto tudo não são o povo, mas sim os pobres dissidentes do terceiro mundo, aqueles que não se alimentam ideologicamente na culpa do Ocidente para todos os males deste mundo. São desterrados pelo seu povo, perseguidos por ditadores e desprezados pelas elites bem-pensantes e politicamente correctas do Ocidente. E a razão é simples: têm um discurso em que falam das virtudes do seu próprio povo, mas também dos seus defeitos. Um discurso que não encaixa na ideologia masoquista de que o branco, o burguês, o rico, o ocidental, só pode ter culpas…

Quando Eshan Jami, um jovem persa e vereador da câmara municipal de Voorburg (perto de Haia) quis fundar um comité para proteger ex-muçulmanos, como ele, o PvdA (Partido Trabalhista Social-Democrata), o seu partido, tentou primeiro dissuadi-lo, depois fez-lhe a vida negra até ele se demitir. O escritor marroquino Hafid Bouazza (um notório dissidente) escreveu na altura (no jornal diário Volkskrant) este comentário: "Neste caso o protegido não foi Jami, mas sim os muçulmanos. Estes últimos há muito tempo que passaram a ser os bons selvagens dos sociais-democratas, dito de outra maneira: os animas estão para Marianne Thieme*, assim como os muçulmanos para o PvdA. Uma perfeita pantalha para projectar carinho e infinita tolerância cultural. Uma perigosa forma de sentimentalismo."

* Marianne Thieme é a dirigente do Partido dos Animais, que tem uma pequena representação no parlamento holandês.

4 comentários:

Kruzes Kanhoto disse...

É um género de superioridade moral que afecta a malta da esquerdalha...

ablogando disse...

http://aperoladanet.blogspot.com/2011/03/mais-um-texto.html

Osório disse...

Belo texto. Achei piada ao seu amigo que diz que os blogues são para ignorar porque não têm base científica.
É uma característica muito típica da esquerda, que é a de ignorar o que quer que seja que não lhes agrade por... qualquer motivo. Se por acaso fosse possível os blogues emanarem de uma base puramente racional, sem que nenhuma conclusão se retirasse sem fundamentação científica (provas), e se os resultados não agradassem ao seu amigo, ele diria que os blogues são para ignorar porque não são a voz do povo simples, não têm "emoção" nem "chama".

Carmo da Rosa disse...

Osório disse: ”Achei piada ao seu amigo que diz que os blogues são para ignorar porque não têm base científica.”

Caro Osório,

O que ele diz nem é bem verdade, há muita qualidade (científica e outra) na Internet e em blogs. O problema é que na Internet há muita coisa, é um meio terrivelmente democrático e que permite a toda a gente de se exprimir – os bons e os maus.

No século dezanove só os aventureiros ricos e instruídos da alta burguesia viajavam. E nessa altura, a probabilidade de encontrar um Ramalho Ortigão em Amesterdão ou um Eça em Paris era bastante grande. Hoje em dia, juntamente com o Ramalho e o Eça, vêm a Amesterdão e a Paris milhares de saloios por dia que têm apenas uma ideia vaga que estão no estrangeiro…

Moral da história, creio que o meu amigo sofre de uma cisquinho de elitismo…