Ontem passou no Canal História uma excelente programa que rebateu ponto por ponto os mitos da teoria da conspiração do 9/11.
Já escrevi sobre isto no Triunfo dos Porcos e, curiosamente, com argumentos semelhantes.
Deixo aqui um post que escrevi há algum tempo:
A propósito dos atentados de 11 de Setembro de 2001, nos EUA, adiante referidos por “9/11”, têm sido avançadas diversas explicações, conhecidas genericamente como “teorias da conspiração”. Se algumas delas se podem logo classificar como delirantes, outras repousam em raciocínios aparentemente mais sólidos e são sustentadas por pessoas a quem se atribui alguma credibilidade académica.
Todas as teorias se apoiam nos mesmos factos, mas deles extrapolam conclusões contraditórias, o que constitui o primeiro indício revelador das falácias lógicas em que assentam.
Assim, a partir dos mesmos factos, umas concluem pela culpabilidade da Mossad, outras da Maçonaria, outras ainda dos chineses, passando pela extrema-direita, os Iluminatti, o lobi judaico, seres alienígenas, etc.
Trata-se de uma impossibilidade lógica que resulta de uma simples falácia:
-As “conclusões” das teorias da conspiração não decorrem dos factos mas, pelo contrário, são prévias a eles.
A teoria da conspiração mais mainstream, é do "inside job", que atribui a culpa à Administração americana, nela se incluindo toda a estrutura militar, industrial, económica, financeira, política e ideológica dos Estados Unidos da América. Esta tese, ela própria um corolário do “Blame América First”, tem variantes, desde as que tentam explicar todos os factos à luz da sua lógica interna, e que se socorrem para o efeito de um número crescente de especulações e suposições, às que desistem de qualquer coerência interna e se limitam a apontar os factos, sugerindo, mas nunca provando, que por detrás de todos eles está, de alguma forma que nunca é cabalmente explicada, a mão maligna do Governo americano.
Estas teses, começaram a circular em força com o livro “A Grande Mentira”, do francês Thierry Meyssan, um radical homossexual da extrema-esquerda francesa, que atribuiu os atentados a “forças internas” americanas interessadas em acabar com a democracia e instalar um regime militar visando a hegemonia mundial.
O livro teve grande sucesso nos meios da esquerda antiamericana europeia, e no mundo islâmico, tendo a Liga Árabe e o Conselho de Cooperação do Golfo, suportado economicamente a sua difusão.
O Presidente dos Emiratos Arabes Unidos chegou mesmo a oferecer 5000 cópias a líderes de opinião do mundo árabe e esta estranha empatia entre um homossexual da esquerda radical e gente cujos valores principais são a homofobia e o fascismo de índole religiosa, deveria merecer no mínimo um franzir do cenho. Isso não aconteceu e a razão pela qual tanta gente confiou cegamente nos óbvios disparates do Sr. Meyssan é um mistério que nos remete para os mecanismos da fé, uma vez que se trata de alguém sem qualquer competência técnica ou credibilidade ética.
Apoiante do corrupto Bernard Tapie, acusado de propaganda e desinformação por vários elementos de uma organização promotora da liberdade de expressão de que fazia parte, este activista, obcecado pelo ódio à América, não esteve em nenhum dos locais sobre os quais formulou as suas esotéricas as teses.
Não esteve nos EUA a seguir aos atentados, nem esteve também em Beslan, o que não o impediu de escrever que o Massacre de Beslan foi obra da…CIA!
Convém referir que a tese da conspiração dos “poderosos” não é nova, e tem sido recorrente nos EUA, a propósito de todos os acontecimentos importantes que marcaram a História americana, desde ao assassínio de Kennedy, ao desastre de Pearl Harbour, passando pela ida à Lua, o Maccartismo, o fenómeno dos OVNI, etc.
É tema aliás de uma pujante indústria cinematográfica e literária (XFiles, Matrix, Dan Brown, Dr Strangelove, etc.).
Todos os factos (TODOS!) suscitados pelos teóricos da conspiração têm explicações naturais, mais ou menos simples, mas isso não basta para os desmobilizar. Trata-se obviamente de pessoas com personalidades peculiares e com uma absoluta necessidade de reduzir a complexidade, os erros, o acaso, e as intenções do mundo real, à arrumação maniqueísta das suas próprias ideias.
Um exemplo:
A frase “Como é que podemos compreender a presente situação se não acreditarmos que homens altamente colocados no nosso governo estão concertados para nos conduzir ao desastre? Isto deve ser o produto de uma grande conspiração a uma escala inimaginável na história do homem [..].. (Estes) actos e decisões [...] não podem ser atribuidos à incompetência”, podia ter sido escrita por muitos teóricos da conspiração e de facto muitos deles se revêm inteiramente nela, como tive ocasião de constatar ao apresentá-la, sem lhe citar o autor, ao nosso inacreditável Diogo, conhecido na blogosfera pelas traduções que faz de artigos de negacionistas do Holocausto e outros exóticos e patológicos teóricos da conspiração.
Acontece que foi escrita pelo Senador McCarthy em 1951, o que revela o tipo de mentalidade paranóica que sustenta este tipo de teorias.
Quando mostrei isto ao Diogo, ele ganiu mas, como quem não tem vergonha não se envergonha, daí a momentos já estava a repetir a lengalenga de sempre.
It is quite gratifying to feel guilty if you haven't done anything wrong: how noble! (Hannah Arendt).
Teste
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sexta-feira, 12 de setembro de 2008
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5 comentários:
Cheguei aqui agora. Mas tenho um jantar marcado. Amanhã conversammos.
Ao ler este post sobre o 11/09 e sobre o Thierry Meyssan, chego à conclusão que, para ganhar muito dinheiro, não devo perder tempo e € com o euromilhões, mas inventar uma boa conspiração, de preferencia com pormenores hilariantes e bizarros...E quanto mais esquisitos, melhor!
Excelente post, Lidador.
Muito bom.
Congrats
ezequiel
Há uma guerra cultural contra a América e o mundo livre.
Essa guerra é feita por especialistas profissionais.
Estas teorias são mais um dos trabalhos desses especialistas.
Olavo de Carvalho explica melhor estas coisas.
Lidador, porque é que quatro aviões comerciais andaram a passear nos céus americanos, tempos infinitos, sem qualquer intervenção da Força Aérea?
Se você fosse um militar de patente despromovia-o a cabo. Consigo ao leme, e com a sua inteligência, até éramos invadidos por Andorra.
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